Coleta e manipulação das amostras para o diagnóstico microscópico das infecções parasitárias

Parasita

Amostra adequada

Detalhes da coleta

Comentários

Sangue

Babesia spp

Esfregaços espessos e finos, como para Plasmodium spp

Coletar como para Plasmodium spp.

Utilizar coloração de Wright ou de Giemsa.

A morfologia é semelhante à forma em anel do Plasmodium spp, mas sem pigmento e gametócitos. A presença de tétrades faz o diagnóstico de Babesia spp, mas não são frequentes.

Esfregaços de sangue espesso podem ser difíceis de interpretar e devem ser realizados apenas por um microscopista experiente.

Vermes de filária

Lâminas finas e espessas com 1 mL de sangue anticoagulado; se a primeira amostra for negativa, coletar 5–10 mL e concentrar por centrifugação ou filtração

Microfilárias de Wuchereria bancrofti e Brugia malayi: coletar o sangue entre 22:00 e 2:00 horas.

Loa loa, Dipetalonema perstans e Mansonella ozzardi: coletar sangue entre as 10:00 horas e as 18:00 horas.

Corar diretamente com Giemsa ou hematoxilina-eosina ou, para maior sensibilidade, após concentração em formol a 2% (técnica de Knott), ou após filtração por membrana Nucleopore.

Plasmodium spp

Lâminas finas e espessas de sangue capilar (isto é, da ponta do dedo ou do lóbulo da orelha, utilizando-se lanceta descartável) ou 5–10 mL de sangue fresco anticoagulado (preferencialmente em tubos de coleta com EDTA)

Coletar várias amostras na fase aguda da doença.

Preparo de esfregaços de sangue capilar ou anticoagulado dentro de 3 horas após coleta.

Utilizar coloração de Wright ou de Giemsa.

Assegurar-se de que as lâminas de vidro estão bem limpas.

Trypanosoma spp

Esfregaços finos de sangue capilar ou 5–6 mL de sangue anticoagulado

Coletar sangue capilar ou anticoagulado. Esfregaço em lâminas de vidro.

Várias técnicas de concentração são utilizadas para aumentar a sensibilidade.

Tripanossomas móveis são vistos em lâmina a fresco; são coradas por Giemsa (ou Field) para identificação em preparações fixas.

Medula óssea, outro tecido reticuloendotelial, ou líquido cefalorraquidiano

Leishmania spp (leishmaniose visceral)

Aspirados da medula óssea, baço, fígado, ou linfonodos ou esfregaços de amostras do creme leucocitário

Esfregaço em lâminas de vidro.

Corar com Giemsa, Wright-Giemsa ou hematoxilina-eosina.

Naegleria

Acanthamoeba

Balamuthia

Líquido cefalorraquidiano fresco

Utilizar técnica asséptica de coleta.

Exame das amostras o mais rápido possível.

Exame por microscopia óptica ou microscopia de contraste.

Os parasitas podem ser detectados pelos seus movimentos; podem crescer em culturas cultivados ou serem fixados e corados com Giemsa.

Rhodesiense

Trypanosoma brucei gambiense

Aspirados de linfonodos ou cancro

Líquido cefalorraquidiano fresco

Utilizar técnica asséptica de coleta.

Utilizar lâmina a fresco ou fixar e corar com Giemsa ou Field, antes ou após a centrifugação para identificar os parasitas móveis.

Aspirado duodenal ou biópsia de jejuno

Giardia spp

Cryptosporidium spp

Cystoisospora spp

Cyclospora spp

Microsporídia

Strongyloides spp

Aspirado duodenal ou amostra de biópsia jejunal

Examinar os aspirados imediatamente ou proceder a concentração e coloração. Fazer exame histopatológico das amostras de biópsia.

Utilizar exame a fresco do aspirado para identificar ovos ou larvas de Strongyloides. Várias colorações podem ser utilizadas para o diagnóstico (ver detalhes abaixo em Fezes).

A microscopia eletrônica de transmissão tem sido o principal método para detecção e identificação de espécies de microsporídios.

Biópsia retal

Schistosoma mansoni

Schistosoma japonicum

Amostra de biópsia retal do nível da dobra dorsal (válvula de Houston), a aproximadamente 9 cm do ânus

Fixação para exame histopatológico e compressão de um fragmento entre lâminas para aumentar a sensibilidade.

Diagnóstico da espécie é fundamentado na morfologia dos ovos.

Sigmoidoscopia (proctoscopia)

Entamoeba histolytica

Coleta de raspados frescos com uma cureta ou colher de Volkmann, um fragmento de mucosa retirado com um instrumento cirúrgico ou o aspirado da lesão obtido com uma pipeta de 1 mL com bulbo de borracha (os swabs com ponta de algodão não são satisfatórios)

Examinar a amostra imediatamente ou após a fixação e a coloração.

Utilizar exame a fresco ou lâminas coradas (p. ex., coloração com tricrômio) para detectar trofozoítos e cistos. Testar nas fezes o antígeno ou DNA da E. histolytica; esses testes são mais sensíveis e podem diferenciar E. histolytica de E. dispar e outras amebas não patogênicas.

Fezes

Cryptosporidium spp

Várias amostras de fezes frescas (≥ 3) coletadas diariamente ou em dias alternados

Refrigerar e examinar as amostras frescas de fezes ou preservar em formol ou outro fixador.

Manusear com cuidado; fezes a fresco e preservadas com dicromato são infecciosas.

O aspirado ou a biópsia duodenal podem ser diagnósticos.

Examinar amostras a fresco por microscopia óptica convencional, contraste de interferência diferencial e microscopia de imunofluorescência.

Corar amostras com coloração álcool-ácido resistente modificada ou safranina modificada. Ensaios para antígenos ou DNA fecais são mais sensíveis.

Cyclospora spp

Múltiplas amostras de fezes a fresco coletadas diariamente ou a cada dois dias

As amostras devem ser refrigeradas e examinadas a fresco ou congeladas, ou preservadas em formol a 10% ou dicromato de potássio a 2,5%. Diferentes exames laboratoriais exigem diferentes técnicas de preservação. Técnicas de concentração aumentam a sensibilidade.

Examinar amostras a fresco por microscopia óptica convencional, contraste de interferência diferencial em campo brilhante e de microscopia de fluorescência UV. Oocistos são autofluorescentes sob luz UV. Amostras fixas podem ser coradas com álcool-ácido resistente modificado ou safranina modificada. O ensaio de esporulação pode diferenciar a Cyclospora das algas verde-azuladas.

Ensaios para DNA nas fezes são específicos e mais sensíveis.

Cystoisospora spp

Múltiplas amostras de fezes a fresco coletadas diariamente ou a cada dois dias

Exame a fresco ou preservar em formol ou outro fixador. Técnicas de concentração aumentam a sensibilidade.

Oocistos podem ser visualizados em amostras a fresco por meio de microscopia de contraste de interferência diferencial em campo brilhante ou microscopia epifluorescente. Corar amostras fixas com álcool-ácido resistentemodificado. Quando o exame das fezes é negativo, o exame do aspirado duodenal ou de uma amostra de biópsia pode ser diagnóstico.

Entamoeba dispar

Entamoeba histolytica

Outras amebas

Múltiplas amostras de fezes frescas (≥ 3) coletadas pela manhã

Exame de amostras de fezes não formadas ou de diarreia dentro de 15 minutos.

Manter fezes formadas no refrigerador até o exame. Preservar em formol ou outro fixador.

Fazer exame a fresco e lâminas coradas permanentes (p. ex., coloração com tricrômio) e técnicas de concentração para cistos.

Deve-se testar nas fezes o antígeno ou DNA específico de E. histolytica, que é mais sensível e pode diferenciar E. histolytica de E. dispar e outras amebas não patogênicas.

Enterobius spp

Os ovos são obtidas na região perianal com fita de celofane e colocadas em lâmina de vidro

Coleta na área ao redor do ânus pela manhã, antes de evacuação intestinal ou banho.

Ovos de Enterobius ocasionalmente são vistos em amostras de fezes ou no teste de Papanicolau vaginal. Pode-se observar vermes adultos na região perianal ou na vagina.

Giardia spp

Várias amostras de fezes frescas (≥ 3), coletadas pela manhã em dias alternados

Examinar a fresco ou preservar em formol ou outro fixador. Os trofozoítos também podem ser detectados nos aspirados duodenais.

Examinar as amostras diretas e concentradas. Cistos geralmente são visualizados no exame direto de amostras a fresco e os trofozoítos são vistos em lâminas fixadas e coradas com tricrômio. Ensaios para antígenos ou DNA fecais são mais sensíveis.

Microsporídia

Múltiplas coletas de fezes, diariamente ou a cada dois dias

Biopsias de intestino delgado podem ser necessárias se as fezes forem negativas.

Amostras coradas por métodos cromotrópicos são utilizadas amplamente. Agentes quimiofluorescentes como calcoflúor branco (fluorocromo) podem também ser utilizados para identificação rápida.

Microscopia eletrônica é o método mais sensível e é utilizada para identificação da espécie.

Ensaios para DNA nas fezes ou nos tecidos estão disponíveis para algumas espécies.

Cestódeos (vermes em fita)

Nematódeos (vermes filiformes)

Ascaris

Ancilóstomos

Strongyloides

Trichuris

Trematódeos (vermes)

Outras

Fazer a coleta de várias amostras de fezes diariamente (até 7 podem ser necessárias para o Strongyloides)

Refrigerar a amostra e examinar a fresco, ou fixar em formol a 10% e concentrar utilizando sedimentação em formol-acetato de etila.

Nos casos de Strongyloides larvas ativas; com outros helmintos intestinais observamse os ovos.

Se as fezes são mantidas à temperatura ambiente, os ovos de ancilóstomos podem eclodir e liberar larvas que devem ser diferenciadas de larvas de Strongyloides.

Quando suspeita-se de Strongyloides e o exame direto é negativo, um ou mais dos seguintes exames de fezes especializados devem ser realizados; concentração de formalina-acetato de etila, recuperação das larvas pela técnica do funil de Baermann, cultura em papel filtro pelo método de Harada-Mori ou cultura em placa de ágar.

Escarro ou aspirado do trato respiratório

Paragonimus spp

Escarro a fresco

Examinar amostra o mais rápido possível ou preservar para exame posterior.

Técnicas de concentração podem ser necessárias. Ocasionalmente, são encontrados ovos no líquido pleural.

Strongyloides spp (hiperinfecção)

Escarro, qualquer material de aspirado, líquido obtido por BAL ou material de drenagem

Examinar a amostra o mais rápido possível ou preservar para exame posterior.

Larvas viáveis podem ser vistas nas amostras a fresco ou fixadas e coradas com Giemsa.

Biópsia pulmonar

Paragonimus spp

Biópsia pulmonar aberta ou percutânea guiada por fluoroscopia ou TC

Coletar e colocar em recipiente estéril com soro fisiológico estéril. Fixar e corar com coloração de Giemsa ou hematoxilina-eosina.

Pode-se identificar ovos e vermes adultos.

Pele

Leishmania spp (leishmaniose cutânea)

Biópsia de região não ulcerada da lesão preparados de imprint ou esfregaço de fragmentos de raspagem

Procurar amastigotas em preparações das bordas da lesão ou esfregaços corados com Giemsa e em amostras de biópsia coradas com hematoxilina-eosina.

Os amastigotas de Leishmania são morfologicamente indiferenciáveis dos de Trypanosoma cruzi. A Leishmania pode ser cultivada de biópsias de pele, mas seu crescimento in vitro pode levar semanas. Existem ensaios moleculares para o DNA de leishmania.

Onchocerca volvulus

Para pacientes infectados na África, utilizar fragmentos de pele das coxas, região glútea ou crista ilíaca

Para pacientes infectados na América Latina, utilizar fragmentos de pele da cabeça, da escápula, ou na região glútea

Para fragmentos de pele, desinfetar a pele com álcool, inserir agulha de calibre 25 sob a epiderme, elevá-la e fazer pequenos cortes de tecido com um bisturi ou lâmina de navalha, ou utilizar instrumento para biópsia esclerocorneana por saca-bocado. Não deve ocorrer sangramento. Examinar a fresco ou fixar em metanol e coloração de Giemsa ou hematoxilina-eosina.

Examinar na amostra suspensa em soro fisiológico as microfilárias móveis migrando nos fragmentos de pele. As microfilárias podem ser vistas em cortes de tecido.

Secreções ou biópsia urogenitais

Schistosoma haematobium, ocasionalmente S. japonicum

Urina fresca ou biópsia da bexiga urinária, especialmente a área ao redor do trígono

Tempo recomendado para coleta de urina: entre meio-dia e 15 h. A centrifugação aumenta a detecção.

Os ovos podem ser vistos em amostras a fresco da urina ou em amostras de biópsia de bexiga.

Trichomonas spp

Swabs estéreis de secreções vaginais, uretrais, ou prostáticas inseridos em um tubo com pequena quantidade de soro fisiológico estéril

Orientar as pacientes a não utilizar duchas vaginais por 3–4 dias antes da coleta de amostras.

Enviar amostras ao laboratório o mais rápido possível.

A identificação de organismos móveis por microscopia a fresco é a mais rápida. O anticorpo fluorescente direto para parasitas é mais sensível; a cultura é mais sensível, mas leva 3 a 7 dias. Testes de amplificação de ácido nucleico estão disponíveis.

BAL = lavado broncoalveolar; EDTA = ácido etileno diamina tetra-acético; UV = ultravioleta.