Náuseas e vômitos no início da gestação

PorEmily E. Bunce, MD, Wake Forest School of Medicine;
Robert P. Heine, MD, Wake Forest School of Medicine
Revisado/Corrigido: jul 2023
Visão Educação para o paciente

Náuseas e vômitos acometem 80% das gestantes. Os sintomas são mais comuns e mais intensos durante o 1º trimestre. Náuseas e vômitos na gestação são comumente chamados de êmese gravídica ("enjoo matinal"), mas náuseas, vômitos ou ambos podem ocorrer em qualquer ponto durante o dia. Os sintomas variam de brandos a graves (hiperêmese gravídica).

Hiperêmese gravídica é a presença de vômitos persistentes, induzidos pela gestação, que causam desidratação significativa, geralmente com anormalidades de eletrólitos, cetose e perda ponderal.

Fisiopatologia

A fisiopatologia das náuseas e dos vômitos no início da gestação é desconhecida, apesar de haver um papel provável de fatores metabólicos, psicológicos, endócrinos e índice glicêmico. O estrógeno pode contribuir, pois as concentrações de estrogênio são elevadas em pacientes com hiperêmese gravídica.

Etiologia

As causas mais comuns de náuseas e vômitos simples durante o início da gestação (ver tabela Algumas causas de náuseas e vômitos no início da gestação) são

  • Náuseas e vômitos na gestação (mais comum)

  • Hiperêmese gravídica

  • Gastrenterite

Ocasionalmente, as preparações de vitaminas pré-natais com ferro causam náuseas. Raramente, vômitos intensos e persistentes resultam de mola hidatiforme.

Vômitos podem resultar, também, de várias doenças não obstétricas. As causas comuns de abdome agudo (p. ex., apendicite, colecistite) podem ocorrer durante a gestação e ser acompanhadas de vômitos, porém a queixa principal é tipicamente dor, e não vômito. De forma semelhante, algumas doenças do sistema nervoso central (p. ex., enxaqueca, hemorragias do sistema nervoso central e aumento de pressão intracraniana, meningite) podem ser acompanhadas de vômitos, porém a cefaleia ou outros sintomas neurológicos são tipicamente a queixa principal.

Tabela

Avaliação

A avaliação das pacientes com náuseas e vômitos durante a gestação precoce visa excluir causas graves ou potencialmente fatais de náuseas e vômitos. Náuseas e vômitos de gestação (náuseas e vômitos não complicados) e hiperêmese gravídica são diagnósticos de exclusão.

História

História da doença atual deve observar, particularmente, o seguinte:

  • Data prevista para o parto (e se isso se baseia na última menstruação ou ultrassonografia)

  • Quaisquer fatores de risco por complicações obstétricas e testes anteriores ou complicações durante a gestação atual

  • Início e duração dos vômitos

  • Fatores exacerbantes e atenuantes

  • Frequência (intermitente ou persistente)

  • Tipo (p. ex., com sangue, aquoso, bilioso) e quantidade de êmese

Os sintomas associados importantes incluem diarreia, constipação intestinal e dor abdominal. Havendo dor, a localização, a irradiação e a gravidade devem ser investigadas. O examinador também deve perguntar quais os efeitos sociais dos sintomas na paciente e em sua família (p. ex., se ela consegue trabalhar ou tomar conta dos filhos).

A revisão dos sistemas deve averiguar sintomas de causas não obstétricas de náuseas e vômitos, incluindo febre ou calafrios, particularmente se acompanhados de dores nos flancos ou sintomas miccionais (uma infecção do trato urinário ou pielonefrite) e sintomas neurológicos, como cefaleia, fraqueza, deficits focais e confusão (enxaqueca ou hemorragia do sistema nervoso central).

A história clínica contém perguntas sobre náuseas matinais ou hiperêmese em gestaçãoes anteriores. A história pregressa de cirurgias deve incluir perguntas sobre qualquer cirurgia abdominal anterior, que poderiam predispor a paciente à obstrução mecânica do intestino.

Revisam-se os fármacos em uso pela paciente para avaliar sua possível contribuição (p. ex., componentes contendo ferro, terapia hormonal) e segurança desses fármacos durante a gestação.

Exame físico

A avaliação das pacientes durante a gestação deve incluir avaliação pré-natal de rotina para verificar o estado da gestante e do feto, incluindo

  • Avaliação dos sinais vitais maternos

  • Exame abdominal para altura uterina

  • Às vezes, exame pélvico

  • Avaliação do estado fetal com ausculta da frequência cardíaca fetal

  • Às vezes, ultrassonografia pélvica (dependendo dos sintomas e da idade gestacional)

O exame é iniciado com a revisão dos sinais vitais para verificar febre, taquicardia e pressão arterial anormal (muito baixa ou muito elevada).

Realiza-se uma avaliação geral para buscar sinais de toxicidade (p. ex., letargia, confusão, agitação). Realiza-se exame físico completo, incluindo o exame pélvico, para verificar achados sugestivos de causas graves ou potencialmente fatais de náuseas e vômitos (ver tabela Achados relevantes no exame físico em uma gestante com vômitos).

Tabela

Sinais de alerta

Os achados a seguir são particularmente preocupantes:

  • Ausência de movimentos ou batimentos cardíacos fetais

  • Sinais de desidratação (p. ex., hipotensão ortostática, taquicardia)

  • Exame neurológico anormal

  • Febre

  • Êmese sanguinolenta ou biliosa

  • Dor abdominal

  • Sintomas persistentes ou agravados

Interpretação dos achados

É importante diferenciar vômitos relacionados à gestação daqueles associados a outras causas. As manifestações clínicas ajudam (ver tabela Algumas causas de náuseas e vômitos no início da gestação).

É mais provável que os vômitos sejam decorrentes da gestação se

  • Os sintomas começam durante o 1º trimestre.

  • Os sintomas persistem ou recorrem ao longo de vários dias a semanas.

  • Na ausência de dor abdominal.

  • Na ausência de sinais ou sintomas de envolvimento de outros sistemas de órgãos.

Se os vômitos relacionados à gestação forem intensos (isto é, frequentes, prolongados ou acompanhados de desidratação), deve-se considerar o diagnóstico de hiperêmese gravídica e mola hidatiforme.

Deve-se suspeitar de causas não obstétricas de náuseas se os sintomas

  • Começarem depois do 1º trimestre

  • Forem acompanhados de dor abdominal, diarreia ou ambos

Dor abdominal pode sugerir abdome agudo. Sinais meníngeos e anormalidades neurológicas, ou ambos, sugerem causas neurológicas.

Exames

Pacientes com vômitos significativos, sinais de desidratação, ou ambos, geralmente necessitam realizar exames. Se houver suspeita de hiperêmese gravídica, dosam-se as cetonas urinárias; se os sintomas forem particularmente graves ou persistentes, medem-se os eletrólitos séricos.

Se os batimentos cardíacos fetais não forem claramente audíveis ou detectados pelo sonar fetal, deve-se realizar ultrassonografia pélvica para avaliar o estado do feto e excluir mola hidatiforme.

Outros exames são realizados com base na suspeita clínica de doenças não obstétricas (ver tabela Algumas causas de náuseas e vômitos no início da gestação).

Tratamento

Náuseas e vômitos induzidos pela gestação são aliviados em alguns pacientes instruindo-os a beber ou comer com frequência (5 ou 6 pequenas refeições/dia) e/ou ingerir apenas alimentos leves (p. ex., bolachas cracker, dieta BRAT [bananas, arroz, purê de maçã e torradas)]. Comer antes de sair da cama pela manhã pode ajudar.

Se houver suspeita de desidratação (p. ex., em razão de hiperêmese gravídica), é realizada a administração IV de 1 a 2 L de soro fisiológico normal ou Ringer lactato, e a correção de quaisquer anormalidades eletrolíticas identificadas.

Depois da reanimação hídrica inicial, pode-se adicionar glicose IV ao líquido de manutenção se a ingestão oral permanecer limitada. Antes da administração de dextrose, deve-se administrar tiamina, 100 mg, IV, para prevenir a encefalopatia de Wernicke.

Pode-se usar certos fármacos (ver tabela Fármacos sugeridos para náuseas e vômitos durante o início da gestação) para aliviar náuseas e vômitos durante o 1º trimestre sem evidências de efeitos adversos sobre o feto.

Raramente, a perda ponderal continua e os sintomas persistem apesar do tratamento. Nesses casos, pode-se considerar nutrição enteral por sonda nasogástrica ou nasoduodenal. Catéteres centrais de inserção periférica estão associados a altas taxas de infecção e tromboembolia na gestação e devem ser evitados (1, 2).

Tabela

A vitamina B6 é utilizada como monoterapia; outros medicamentos são acrescentadas se os sintomas não forem aliviados. Pode-se administrar doxilamina de liberação prolongada mais piridoxina para mulheres que não respondem ao tratamento inicial.

Gengibre (p. ex., cápsulas de gengibre 250 mg por via oral, 3 ou 4 vezes ao dia, pirulitos de gengibre), acupuntura, adesivos antienjoo e hipnose podem ajudar, assim como a troca de vitaminas pré-natais por mastigáveis infantis com folato.

Referências sobre o tratamento

  1. 1. Holmgren C, M Aagaard-Tillery KM, Silver RM, et al: Hyperemesis in pregnancy: An evaluation of treatment strategies with maternal and neonatal outcomes. Am J Obstet Gynecol 198 (1):56.e1–4, 2008. doi: 10.1016/j.ajog.2007.06.004

  2. 2. Cape AV, Mogensen KM, Robinson MK, Carusi DA: Peripherally inserted central catheter (PICC) complications during pregnancy. JPEN J Parenter Enteral Nutr 38 (5):595–601, 2014. doi: 10.1177/0148607113489994

Pontos-chave

  • Náuseas e vômitos durante a gestação são geralmente autolimitados e respondem a modificações alimentares.

  • A hiperêmese gravídica é menos comum, porém é grave, ocasionando desidratação, cetose e perda ponderal.

  • Considerar causas não obstétricas de náuseas e vômitos.

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