Distúrbios da tireoide na gestação

PorLara A. Friel, MD, PhD, University of Texas Health Medical School at Houston, McGovern Medical School
Revisado/Corrigido: out 2021 | modificado set 2022
Visão Educação para o paciente

    Os distúrbios da tireoide podem anteceder ou ocorrer durante a gestação. A gestação não modifica os sintomas do hipertireoidismo nem do hipotireoidismo.

    Os efeitos fetais variam de acordo com o distúrbio e os fármacos utilizados para o tratamento. Mas, geralmente, o hipertiroidismo não tratado ou tratado inadequadamente pode resultar em

    Hipotireoidismo não tratado pode causar

    • Deficits intelectuais na prole

    • Aborto

    As causas mais frequentes de hipotireoidismo materno são a tireoidite de Hashimoto e o tratamento para a doença de Graves.

    Caso a mulher apresente ou tenha apresentado distúrbio anterior da tireoide, a função tireoidiana deve ser monitorada de perto durante e após a gestação, tanto na mãe como no recém-nascido. Bócio e nódulos tireoidianos descobertos durante a gestação devem ser avaliados da maneira como são avaliados em outras pacientes (ver Abordagem à paciente com nódulo tireoidiano and Bócio não tóxico simples/diagnóstico).

    Doença de Graves

    A doença de Graves materna é monitorada clinicamente e com o emprego de T4 livre e de radioimunoensaios de alta sensibilidade para TSH (thyroid-stimulating hormone).

    O tratamento da doença de Graves durante a gestação varia. Normalmente, as gestantes recebem a dose mais baixa possível de propiltiouracila oral (50 a 100 mg, a cada 8 horas). A resposta terapêutica é avaliada a cada 3 a 4 semanas; então, a dose é modificada, se necessário. A propiltiouracila cruza a placenta, podendo causar bócio e hipotireoidismo no feto. O uso simultâneo de l-tiroxina ou l-tri-iodotironina é contraindicado, pois esses hormônios podem mascarar os efeitos da dosagem excessiva de propiltiouracila em gestantes, podendo resultar em hipotireoidismo no feto. Metimazol é uma alternativa à propiltiouracila. A doença de Graves geralmente melhora durante o 3º trimestre, quase sempre permitindo a redução da dose ou a descontinuação do fármaco.

    Embora muito incomum, em centros com cirurgiões experientes em cirurgia de tireoide, a tireoidectomia pode ser considerada no 2º trimestre depois que o tratamento medicamentoso restabelecer o eutireoidismo. Após a tireoidectomia, as mulheres recebem dose completa de L-tiroxina (0,15 a 0,2 mg, por via oral, uma vez ao dia), começando 24 horas após a cirurgia.

    O iodo radioativo (diagnóstico ou terapêutico) e soluções de iodeto são contraindicados durante a gestação, em razão dos efeitos adversos na glândula tireoide fetal. Betabloqueadores só são utilizados nos casos de tireotoxicose ou de sintomas maternos graves.

    Se as gestantes têm ou tiveram doença de Graves, hipertireoidismo fetal pode se desenvolver. Se essas mulheres estiverem clinicamente eutireoideas, hiper ou hipotireoidianas, as imunoglobulinas estimulantes da tireoide e bloqueadoras da tireoide (se presentes) cruzam a placenta. A função tireoidiana fetal reflete os níveis fetais dessas imunoglobulinas estimulantes e bloqueadoras. O hipertireoidismo pode provocar taquicardia fetal (> 160 bpm), restrição de crescimento fetal e bócio; raramente bócio leva a menor ingestão fetal, poli-hidrâmnio e trabalho de parto prematuro. A ultrassonografia é usada para avaliar o crescimento fetal, a glândula tireoide e o coração.

    Doença de Graves congênita

    Se a gestante utilizou propiltiouracila, a doença de Graves congênita no feto pode ser mascarada até 7 a 10 dias após o nascimento, quando o efeito do fármaco desaparece.

    Hipotireoidismo materno

    Mulheres com hipotireoidismo leve a moderado frequentemente apresentam ciclos menstruais normais, podendo assim engravidar.

    Durante a gestação, a dose usual de L-tiroxina é mantida. À medida que a gestação progride, pode ser necessário um ajuste mínimo da dose, idealmente com base nos níveis de TSH após algumas semanas.

    Se o hipotireoidismo é diagnosticado inicialmente durante a gestação, inicia-se a L-tiroxina; as dosagem baseia-se no peso. Normalmente, as gestantes exigem uma dose mais alta do que as mulheres não grávidas.

    Tireoidite de Hashimoto

    A resposta imunitária supressiva materna durante a gestação geralmente atenua a tireoidite de Hashimoto; entretanto, às vezes se desenvolvem hipo e hipertireoidismo que exigem tratamento.

    Tireoidite aguda (subaguda)

    Comum durante a gestação, a tireoidite aguda geralmente produz bócio sensível durante ou após infecção respiratória. O hipertireoidismo transitório e sintomático, com níveis elevados de T4, pode ocorrer, normalmente resultando em confusão diagnóstica com doença de Graves.

    Em geral, o tratamento é desnecessário.

    Disfunção tireoidiana materna pós-parto

    A disfunção hipo ou hipertireoidiana ocorre em 4 a 7% das mulheres durante os primeiros 6 meses após o parto. A incidência parece ser mais alta em gestantes com:

    • Bócio

    • Tireoidite de Hashimoto

    • História familiar significativa de distúrbios tireoidianos autoimunes

    • Diabetes mellitus tipo 1 (dependente de insulina)

    Nas mulheres com qualquer um desses fatores de risco, os níveis de TSH e T4 livre devem ser checados no 1º trimestre e após o parto. A disfunção é geralmente transitória, mas pode necessitar de tratamento. Após o parto, a doença de Graves pode recorrer transitoriamente ou de maneira persistente.

    Tireoidite indolor, com hipertireoidismo transitório, é um distúrbio pós-parto, recentemente reconhecida e provavelmente autoimune. Ocorre de modo abrupto nas primeiras semanas após o parto, resultando em captação baixa de iodo e caracterizando-se por infiltração linfocitária. O diagnóstico baseia-se nos sintomas, testes de função tireoidiana e exclusão de outras condições. Essa distúrbio pode persistir recorrer transitoriamente, ou progredir.

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