Leishmaniose

PorChelsea Marie, PhD, University of Virginia;
William A. Petri, Jr, MD, PhD, University of Virginia School of Medicine
Reviewed ByChristina A. Muzny, MD, MSPH, Division of Infectious Diseases, University of Alabama at Birmingham
Revisado/Corrigido: modificado set. 2025
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Visão Educação para o paciente

Leishmaniose é uma infecção causada por uma espécie de Leishmania. As manifestações incluem síndromes viscerais, cutâneas e da mucosa. A leishmaniose cutânea causa lesões cutâneas crônicas que variam de nódulos a grandes úlceras, podendo persistir por meses ou anos, mas que acabam cicatrizando com formação de cicatriz. A leishmaniose mucocutânea afeta tecidos nasofaríngeos e pode provocar mutilação total do nariz e do palato. A leishmaniose visceral provoca febre irregular, hepatosplenomegalia, pancitopenia e hipergamaglobulinemia policlonal, com alta mortalidade em pacientes sem tratamento. O diagnóstico é feito pela demonstração de parasitas em amostras ou culturas e, cada vez mais, por ensaios baseados em PCR (polymerase chain reaction) em centros de referência. Sorologia pode ser útil no diagnóstico da leishmaniose visceral. Utiliza-se a miltefosina oral no tratamento das três síndromes. O tratamento da leishmaniose mucosa é feito com anfotericina B lipossomal e antimoniais pentavalentes; azóis podem ser utilizados dependendo da espécie de Leishmania, e a cirurgia reconstrutiva pode ser necessária em casos graves. O tratamento da leishmaniose visceral é com anfotericina B lipossomal, dependendo das espécies infectantes de Leishmania e da área geográfica de aquisição. Há uma variedade de tratamentos tópicos e sistêmicos disponível para leishmaniose cutânea dependendo das espécies causadoras e manifestações clínicas. As alternativas incluem azóis orais, desoxicolato de anfotericina B ou antimoniais pentavalentes (estibogluconato de sódio ou antimoniato de meglumina) se a doença foi adquirida em áreas onde é provável que as espécies de Leishmania sejam suscetíveis.

A leishmaniose humana é causada por cerca de 21 das 30 espécies de Leishmania, morfologicamente indistinguíveis entre si, mas diferenciáveis por métodos laboratoriais (1).

A leishmaniose não é uma doença rara. Estima-se a incidência anual global entre 700.000 e 1 milhão de novos casos. Habitação precária, saneamento doméstico inadequado, desnutrição e migração ou deslocamento de hospedeiros não imunes para áreas endêmicas são fatores de risco importantes para o desenvolvimento da infecção (2).

Os promastigotas de Leishmania são transmitidos aos hospedeiros vertebrados por flebótomos (Phlebotomus [Velho Mundo], Lutzomyia [Novo Mundo]). Os flebótomos vetores adquirem infecção ao sugar o sangue de humanos ou animais infectados. Raramente a infecção pode ser transmitida congenitamente, sexualmente, por transfusão de sangue ou pelo uso compartilhado de agulhas (e acidentes com agulhas).

Reservatórios animais variam com as espécies de Leishmania e localização geográfica, e incluem cães, outros caninos, roedores e outros animais (ver também Sand Flies of Animals). No subcontinente indiano, os seres humanos são os reservatórios da L. donovani.

Referências gerais

  1. 1. CDC: Leishmaniose. Accessed March 24, 2025.

  2. 2. World Health Organization (WHO): Leishmaniasis. Accessed February 12, 2025.

Fisiopatologia da leishmaniose

O primeiro passo no ciclo de vida é a infecção de um hospedeiro humano após inoculação por uma fêmea de flebotomíneo; promastigotas extracelulares são injetadas na corrente sanguínea e fagocitadas por macrófagos do hospedeiro. Dentro dessas células, elas se transformam em amastigotas.

Os amastigotas podem permanecer localizados na pele ou se disseminar para a mucosa da nasofaringe ou para medula óssea, baço, fígado e, algumas vezes, para outros órgãos, resultando nas 3 principais apresentações clínicas da leishmaniose:

  • Cutânea

  • Mucocutânea

  • Visceral

Leishmaniose cutânea

A leishmaniose cutânea é a forma mais comumente diagnosticada de leishmaniose. Também é conhecida como úlcera oriental ou tropical, furúnculo de Delhi ou de Aleppo, uta, úlcera do chiclero ou bouba da floresta. As principais espécies causadoras são:

  • L. major, L. aethiopica, e L. tropica no sul da Europa, Ásia e África

  • Complexo L. mexicana (L. mexicana, L. amazonensis, e L. venezuelensis) no México e nas Américas Central e do Sul

  • Subgênero Viannia (L. braziliensis, L. guyanensis, L. panamensis e L. peruviana) na América Central e do Sul

Ocorreram casos entre militares dos Estados Unidos servindo no Iraque e no Afeganistão e entre viajantes para regiões endêmicas nas Américas Central e do Sul, em Israel e em outros locais. Raramente, a L. braziliensis espalham-se de maneira ampla na pele causando leishmaniose cutânea disseminada.

L. donovani geralmente causa leishmaniose visceral no subcontinente indiano, mas também causa leishmaniose cutânea no Sri Lanka.

Raramente, L. infantum pode causar leishmaniose cutânea no hemisfério ocidental.

Leishmaniose da mucosa

A leishmaniose mucosa (leishmaniose mucocutânea, espúndia) é causada principalmente pelo subgênero Viannia, mas ocasionalmente por outras espécies de Leishmania. A leishmaniose mucosa é mais comumente encontrada ao sul e oeste da bacia amazônica, especificamente em partes da Bolívia, Peru e Brasil. 

Considera-se que parasitas se disseminam da lesão inicial na pele através dos vasos linfáticos e do sangue para os tecidos nasofaríngeos.

Os sinais e sintomas da leishmaniose na mucosa tipicamente desenvolvem-se meses a anos depois do aparecimento da lesão cutânea.

Leishmaniose visceral

Leishmaniose visceral (calazar; febre Dum Dum) é tipicamente causada por L. donovani ou L. infantum (também chamada L. chagasi na América Latina) e ocorre na Índia, África (em particular no Sudão), Ásia Central, bacia do Mediterrâneo, Américas do Sul e Central e, algumas vezes, na China. A maioria dos casos ocorre no nordeste da Índia.

Os parasitas se disseminam do local da picada na pele para linfonodos, baço, fígado e medula óssea, causando sintomas sistêmicos.

Infecções subclínicas são comuns; somente uma minoria de pessoas infectadas desenvolve doença visceral progressiva. A infecção sintomática por L. infantum é mais comum nas crianças do que nos adultos.

A leishmaniose visceral é uma infecção oportunista que ocorre em pacientes com infecção avançada pelo HIV ou outras formas de imunocomprometimento.

Sinais e sintomas da leishmaniose

Na leishmaniose cutânea, uma lesão de pele bem demarcada se desenvolve no local da picada do flebótomo, geralmente dentro de várias semanas a meses. Várias lesões podem ocorrer após múltiplas picadas infectantes ou por disseminação generalizada. Sua aparência varia. Em geral, a lesão inicial é uma pápula ou uma placa nodular que aumenta lentamente, ulcera-se no centro e desenvolve uma borda eritematosa elevada, onde os parasitas intracelulares se concentram. Úlceras são tipicamente indolores e não provocam qualquer sintoma sistêmico, a menos que estejam infectadas secundariamente. Lesões de leishmaniose cicatrizam de forma espontânea após meses, mas podem persistir durante anos. Frequentemente, produzem cicatrizes atróficas, resultando em cicatriz deprimida semelhante a uma queimadura.

Linfadenopatia ou linfangite podem ocorrer.

A evolução da doença depende das espécies de Leishmania infectantes e do estado imune do hospedeiro.

Leishmaniose cutânea difusa, uma síndrome rara, resulta em lesões cutâneas nodulares disseminadas semelhantes à hanseníase lepromatosa. Resulta de anergia mediada por células (falta de resposta imunológica do hospedeiro) ao organismo.

Leishmaniose mucosa, também chamada leishmaniose mucocutânea, causada por espécies do subgênero Viannia normalmente começa com uma ou mais úlceras cutâneas primárias. A disseminação para a mucosa via vasos linfáticos e corrente sanguínea provavelmente ocorre precocemente na infecção.

As lesões cutâneas cicatrizam espontaneamente; contudo, as lesões progressivas da mucosa podem não se tornar evidentes por meses ou anos. Tipicamente, pacientes têm congestão nasal, epistaxe, secreção e dor. Ao longo do tempo, a infecção pode evoluir, resultando em mutilação importante do nariz, palato, faringe oral ou face.

Na leishmaniose visceral, as manifestações clínicas geralmente se desenvolvem de forma gradual, semanas a meses após a inoculação do parasita, mas podem ser agudas. Ocorrem febre irregular, hepatosplenomegalia, pancitopenia e hipergamaglobulinemia policlonal com uma razão albumina:globulina invertida. Em alguns pacientes, há picos de temperatura duas vezes ao dia. Pode ocorrer transaminite. Raramente ocorrem lesões cutâneas. Alguns pacientes podem apresentar febre, anorexia, diarreia e mal-estar.

Emagrecimento e morte ocorrem dentro de meses a anos em pacientes com infecções progressivas. Pacientes com infecções assintomáticas, autolimitadas e que sobrevivem (após sucesso terapêutico) são resistentes a ataques adicionais, a menos que a imunidade celular esteja comprometida (p. ex., pela infecção avançada por HIV). Pode ocorrer recidiva anos depois da infecção inicial.

Leishmaniose dérmica pós-calazar (LCPC) pode se desenvolver após o tratamento da leishmaniose visceral em pacientes na África Oriental (Sudão, Etiópia, Quênia) e na Índia, Nepal e Bangladesh (1). É caracterizada por lesões cutâneas achatadas ou nodulares que contêm muitos parasitas.

Em pacientes do leste da África, as lesões surgem dentro de 3 a 6 meses após o tratamento e desaparecem espontaneamente em alguns meses a um ano. Em pacientes da Índia e países adjacentes, as lesões cutâneas geralmente se desenvolvem 2 a 7 anos após o término do tratamento e podem perdurar por vários anos. Acredita-se que as lesões por LCPC sejam um reservatório para a propagação da infecção nessas regiões.

Referência sobre sinais e sintomas

  1. 1. Kumar P, Chatterjee M, Das NK. Post Kala-Azar Dermal Leishmaniasis: Clinical Features and Differential Diagnosis. Indian J Dermatol. 2021;66(1):24-33. doi:10.4103/ijd.IJD_602_20

Diagnóstico da leishmaniose

  • Microscopia óptica de amostras de tecido coradas por Wright-Giemsa ou Giemsa, impressões teciduais ou aspirados

  • Testes laboratoriais, incluindo testes sorológicos (títulos de anticorpos) para leishmaniose visceral

  • Cultura (meios especiais necessários)

  • Ensaios baseados na reação em cadeia da polimerase (PCR)

Deve-se suspeitar de leishmaniose em qualquer paciente com lesões cutâneas crônicas características e histórico de exposição, ou seja, viagem para ou imigração de uma área endêmica.

Pode-se diferenciar os organismos que causam leishmaniose cutânea simples daqueles capazes de provocar leishmaniose mucocutânea com base na área geográfica da aquisição, sondas específicas de DNA ou análise da cultura dos parasitas.

Espécimes de biópsia de lesões podem ser examinados histologicamente para identificar a presença de amastigotas de Leishmania e avaliar a resposta inflamatória. A avaliação é geralmente realizada por microscopia óptica de amostras de tecido coradas com Wright-Giemsa ou Giemsa (1). A imunohistoquímica de antígenos leishmaniais pode ser demonstrada em amostras de tecido e é um adjuvante útil para o diagnóstico.

Testes sorológicos podem ajudar a diagnosticar leishmaniose visceral; títulos altos de anticorpos contra um antígeno recombinante leishmanial (rk39) estão presentes em pacientes imunocompetentes com leishmaniose visceral. Contudo, os anticorpos podem estar ausentes nos pacientes com coinfecção por HIV ou outras condições imunocomprometedoras. Testes sorológicos para anticorpos antileishmaniais não distinguem entre infecções ativas e quiescentes porque não são sensíveis ou específicos e não são úteis no diagnóstico da leishmaniose cutânea (1). Testes de anticorpos são mais úteis na detecção da leishmaniose visceral. Além disso, podem ser observadas pancitopenia, hipergamaglobulinemia com proteína total elevada e relação albumina:globulina reduzida em pacientes com leishmaniose visceral (1).

Ensaios baseados em PCR de aspirados da medula óssea, baço ou linfonodos ajudam a diagnosticar a leishmaniose visceral. Em casos de leishmaniose cutânea, ensaios de PCR podem ser realizados em biópsias por punção, aspirados ou preparações por toque de lesões cutâneas para auxiliar no diagnóstico. Na leishmaniose mucosa, os parasitas são geralmente mais difíceis de encontrar ou isolar em cultura das biópsias das lesões do que na leishmaniose cutânea.

O teste cutâneo da leishmanina que detecta uma resposta de hipersensibilidade tardia aos antígenos leishmanianos não está disponível nos Estados Unidos. É tipicamente positivo nos pacientes com leishmaniose cutânea e mucosa, mas negativo naqueles com leishmaniose visceral ativa.

Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) nos Estados Unidos oferecem serviços diagnósticos especializados para leishmaniose. Para mais informações, ver Infectious Diseases Laboratories: Leishmania species Identification.

Referência sobre diagnóstico

  1. 1. Aronson N, Herwaldt BL, Libman M, et al: Diagnosis and treatment of leishmaniasis: Clinical Practice Guidelines by the Infectious Diseases Society of America (IDSA) and the American Society of Tropical Medicine and Hygiene (ASTMH). Clin Infect Dis. 2016;63(12):e202-e264. doi:10.1093/cid/ciw670

Tratamento da leishmaniose

  • Miltefosina oral para leishmaniose mucosa, visceral e cutânea

  • Anfotericina B lipossomal IV ou, em alguns casos, paromomicina e pentamidina administradas por via parenteral para leishmaniose visceral

  • Paromomicina tópica, termoterapia, crioterapia e/ou injeção intralesional de antimonial pentavalente (disponibilidade variável) para leishmaniose cutânea

  • Azóis orais (p. ex., cetoconazol, itraconazol) ou desoxicolato de anfotericina B intralesional, IV ou IM, ou antimoniais pentavalentes (estibogluconato de sódio, antimoniato de meglumina) podem ser eficazes se a espécie de Leishmania causadora da infecção for provavelmente sensível.

O tratamento da leishmaniose depende de muitos fatores, incluindo os seguintes (1):

  • Síndrome clínica

  • Leishmania spp infectante

  • Região geográfica da aquisição

  • Probabilidade da susceptibilidade do organismo a fármacos leishmanicidas

  • Idade e estado imunitário do paciente

Há recomendações detalhadas disponíveis para o tratamento (2, 3).

Antimoniais pentavalentes não estão prontamente disponíveis nos Estados Unidos. O antimoniato de meglumina está disponível nos Estados Unidos apenas sob um protocolo individual de nova droga investigacional por meio da Food and Drug Administration (FDA) dos EUA. O estibogluconato de sódio não é mais disponibilizado pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças, mas pode estar disponível em alguns países.

Leishmaniose cutânea

A leishmaniose cutânea é tratada com formulações tópicas de paromomicina (especialmente na leishmaniose cutânea do Velho Mundo), termoterapia, crioterapia e/ou injeção intralesional de antimonial pentavalente (onde disponível).

Se a lesão for pequena, estiver cicatrizando espontaneamente e não for causada por Leishmania spp associada à leishmaniose mucosa, pode ser monitorada de perto, em vez de tratada.

O tratamento tópico é uma opção para as pequenas lesões sem complicações. A aplicação intralesional do estibogluconato de sódio tem sido utilizada por muitos anos contra leishmaniose cutânea simples na Europa e Ásia; ela não está atualmente disponível nos Estados Unidos para o uso intralesional.

Outras opções são terapia tópica de calor, que requer um sistema especializado para sua administração e crioterapia; ambas podem ser dolorosas e só são exequíveis quando utilizadas para tratar lesões pequenas.

A paromomicina tópica pode ser utilizada em pomada contendo 15% de paromomicina e 12% de cloreto de metilbenzetônio em vaselina branca. Esse fármaco é utilizado em todo o mundo, mas nos EUA pode ser necessário solicitá-lo em farmácias de manipulação.

Utilizar terapia sistêmica para os pacientes com:

  • Infecção por L. braziliensis ou organismos relacionados associados à leishmaniose mucocutânea

  • Leishmaniose cutânea complexa com lesões múltiplas, grandes, generalizadas ou desfigurantes

  • Comprometimento da imunidade celular

Nos Estados Unidos, as opções sistêmicas são anfotericina B lipossomal, miltefosina e desoxicolato de anfotericina B. Fora dos Estados Unidos, antimoniais pentavalentes (estibogluconato de sódio e antimoniato de meglumina) podem ser usados se a infecção tiver sido adquirida em regiões onde a resistência ao antimônio não é comum. Tipicamente, administrar anfotericina B lipossomal e desoxicolato de anfotericina B nos esquemas utilizados para leishmaniose visceral.

Embora não aprovada para infecção cutânea, a anfotericina B lipossomal pode ter mérito em casos selecionados.

A miltefosina, que tem a vantagem da administração oral, pode ser eficaz na leishmaniose cutânea em adultos e adolescentes, principalmente quando causada por L. braziliensis, L. guyanensis ou L. panamensis (2). Os efeitos adversos são náuseas e vômitos, elevações transitórias das aminotransferases e tontura. A miltefosina é contraindicada a gestantes e lactantes; pacientes em idade fértil que utilizam esse fármaco devem adotar métodos contraceptivos eficazes.

Os antimoniais pentavalentes devem ser utilizados apenas se a espécie de Leishmania infectante provavelmente for sensível. Antimoniato de meglumina é utilizado em países de língua francesa e na América Latina. Efeitos adversos incluem náuseas, vômitos, mal-estar; elevação de amilase e/ou enzimas hepáticas; e cardiotoxicidade (arritmias, depressão do miocárdio, insuficiência cardíaca, alterações no ECG, parada cardíaca). A incidência de efeitos adversos aumenta com a idade. A administração deve ser interrompida caso haja desenvolvimento de cardiotoxicidade.

Alternativas incluem azóis (p. ex., cetoconazol, itraconazol, fluconazol) se a espécie de Leishmania causadora da infecção for provavelmente suscetível. Azóis apresentam eficácia limitada, mas houve relatos de sucesso com doses diárias mais elevadas em algumas regiões (4).

A leishmaniose cutânea difusa é relativamente resistente ao tratamento.

Leishmaniose da mucosa

O tratamento ideal é incerto.

Estudos sugerem que tanto a anfotericina B lipossomal quanto a miltefosina oral são frequentemente eficazes, mas os dados são limitados. Miltefosina pode ser utilizada em adultos e adolescentes (2). Os efeitos adversos da miltefosina incluem náuseas, vômitos, elevações transitórias das aminotransferases e tontura; o fármaco é contraindicado durante a gestação e lactação; pacientes em idade fértil que utilizam esse medicamento devem empregar métodos contraceptivos eficazes.

Embora não aprovada para infecção mucosa, a anfotericina B lipossomal pode ser eficaz em casos selecionados.

Historicamente, antimônios pentavalentes têm sido utilizados na América Latina.

Desoxicolato de anfotericina B, administrado intralesional, IV ou IM, é altamente eficaz, mas geralmente mais tóxico que a anfotericina B lipossomal; pode ser uma alternativa se a espécie de Leishmania infectante for provavelmente suscetível.

Alternativas incluem azóis (p. ex., cetoconazol, itraconazol, fluconazol) se a espécie de Leishmania causadora da infecção for provavelmente suscetível. Azóis têm eficácia limitada, mas foi relatado sucesso com doses diárias mais altas em algumas áreas (4).

Cirurgia de reconstrução pode ser requerida no caso de leishmaniose da mucosa com deformação total do nariz ou do palato, mas a cirurgia deve ser adiada por 12 meses após quimioterapia bem-sucedida a fim de evitar perda de enxertos por recaídas.

Leishmaniose visceral

A anfotericina B lipossomal e a miltefosina podem ser utilizadas para tratar a leishmaniose visceral; outras formulações da anfotericina com associação lipídica podem ser eficazes, mas foram menos estudadas.

Miltefosina oral pode ser utilizada para tratar pacientes imunocompetentes que adquiriram L. donovani na Índia ou em áreas adjacentes do Sul da Ásia com > 12 anos de idade, peso > 30 kg e que não estão grávidas ou amamentando (2).

Pode-se utilizar antimoniais pentavalentes para tratar a leishmaniose visceral adquirida na América Latina e em outras regiões do mundo onde a infecção não é resistente a esses fármacos (principalmente no Sul da Ásia onde a resistência é alta). Paromomicina parenteral e pentamidina têm sido utilizadas para esse propósito.

Desoxicolato de anfotericina B intralesional, IV ou IM, que é altamente eficaz, mas geralmente mais tóxico do que a anfotericina B lipossomal, é uma alternativa se houver alguma probabilidade de a espécie responsável pela infecção por Leishmania ser suscetível.

As recorrências são comuns nos pacientes com doenças com comprometimento imunitário. Os antirretrovirais podem ajudar a restaurar a função imunitária em pacientes infectados com HIV, reduzindo a probabilidade de recidiva. A profilaxia secundária com um leishmanicida pode ajudar a prevenir recorrências nos pacientes com infecção avançada por HIV e contagens de células CD4 < 200/mcL.

As medidas de suporte costumam ser necessárias (nutrição adequada, hemotransfusão e antibióticos para infecção bacteriana secundária) para os pacientes com leishmaniose visceral.

Referências sobre tratamento

  1. 1. Pan American Health Organization. Guideline for the treatment of leishmaniasis in the Americas. Second edition. Washington, DC: PAHO; 2022. doi:10.37774/9789275125038

  2. 2. Aronson N, Herwaldt BL, Libman M, et al. Diagnosis and treatment of leishmaniasis: Clinical Practice Guidelines by the Infectious Diseases Society of America (IDSA) and the American Society of Tropical Medicine and Hygiene (ASTMH). Clin Infect Dis. 2016;63(12):e202-e264. doi:10.1093/cid/ciw670

  3. 3. Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Clinical Care of Leishmaniasis. Accessed February 11, 2025.

  4. 4. Galvão EL, Rabello A, Cota GF. Efficacy of azole therapy for tegumentary leishmaniasis: A systematic review and meta-analysis. PLoS One. 2017;12(10):e0186117. Publicado em 2017 Out 9. doi:10.1371/journal.pone.0186117

Prevenção da leishmaniose

Para a prevenção da leishmaniose, os seguintes podem ajudar:

  • Tratamento da leishmaniose em uma região geográfica onde os seres humanos são reservatório

  • Redução da população de vetores pela pulverização de inseticida residual (com ação prolongada) nos locais de transmissão doméstica

  • Medidas protetoras pessoais incluindo aplicação de repelentes contra insetos à pele exposta e roupas protetoras

  • Controle dos reservatórios não humanos

  • Evitar compartilhar agulhas e tomar precauções contra ferimentos por agulhas

  • Transfusões de sangue seguras

  • Educação sobre os riscos de transmissão congênita e sexual

Viajantes para regiões endêmicas devem aplicar repelentes contra insetos contendo dietiltoluamida (DEET) à pele exposta. Telas para insetos, mosquiteiros e roupas são mais eficazes se impregnados com permetrina, porque as moscas minúsculas podem penetrar barreiras mecânicas.

Gestantes em regiões endêmicas devem evitar flebótomos, procurar diagnóstico precoce e receber tratamento imediato e apropriado para a gestação (anfotericina B lipossomal).

Atualmente, não existem vacinas disponíveis; mas há vários estudos em curso (1).

Referência sobre prevenção

  1. 1. Mas A, Hurtado-Morillas C, Martínez-Rodrigo A, et al. A Tailored Approach to Leishmaniases Vaccination: Comparative Evaluation of the Efficacy and Cross-Protection Capacity of DNA vs. Peptide-Based Vaccines in a Murine Model. Int J Mol Sci. 2023;24(15):12334. Publicado em 2023 Ago 2. doi:10.3390/ijms241512334

Pontos-chave

  • A leishmaniose está presente globalmente e é transmitida por picadas de flebotomíneos.

  • Os parasitas podem permanecer localizados na pele (leishmaniose cutânea), alcançar a mucosa (leishmaniose mucosa) ou propagar-se sistemicamente para fígado, baço e medula óssea (leishmaniose visceral).

  • Diagnóstico por meio de esfregaços corados por Wright-Giemsa ou Giemsa, culturas ou ensaios baseados em PCR; testes sorológicos podem auxiliar na identificação da leishmaniose visceral.

  • Trate lesões cutâneas pequenas e não complicadas com calor local, crioterapia, paromomicina tópica ou, fora dos Estados Unidos, com estibogluconato de sódio intralesional.

  • As opções de tratamento sistêmico para leishmaniose cutânea complexa, leishmaniose mucosa e leishmaniose visceral incluem anfotericina B lipossomal, miltefosina e desoxicolato de anfotericina B; antimoniais pentavalentes podem ser utilizados se a infecção tiver sido adquirida em regiões onde a espécie de Leishmania infectante seja provavelmente suscetível.

  • A resistência aos antimoniais pentavalentes é frequente no Sul da Ásia e países vizinhos, e está surgindo em outras regiões.

Informações adicionais

O recurso em inglês a seguir pode ser útil. Observe que este Manual não é responsável pelo conteúdo deste recurso.

  1. Centers for Disease Control and Prevention (CDC): Clinical Testing and Diagnosis for Leishmaniasis

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