A ceratite amebiana é uma infecção rara da córnea causada por espécies de Acanthamoeba, tipicamente ocorrendo nas pessoas que utilizam lentes de contato. O diagnóstico é feito por exame microscópico e cultura dos raspados da córnea. O tratamento é feito com clorexidina tópica, biguanida de poli-hexametileno ou ambos. Raramente, a reconstrução corneana é necessária.
Estima-se que a ceratite por Acanthamoeba afete aproximadamente 1/1 milhão de pessoas por ano (ou 2 olhos/milhão de pessoas) em todo o mundo(1).
Várias espécies de Acanthamoeba podem causar doenças crônicas e ceratite progressivamente destrutiva em hospedeiros normais. Os organismos estão presentes em todo o mundo na água, no solo, no esgoto e na poeira (1). Também podem estar presentes na água de torneira, chuveiro, banheira de hidromassagem e aparelhos de ar condicionado. O principal fator de risco em > 90% dos casos é o uso de lentes de contato, particularmente se as lentes forem utilizadas ao nadar ou ao tomar banho ou se uma solução de limpeza não estéril for empregada (2). O uso de lentes de contato gelatinosas (exceto as descartáveis diárias), o uso de soluções multiuso ou recolhidas do mercado, e a higiene inadequada das lentes de contato contribuem para o desenvolvimento da infecção. Algumas infecções têm início após uma abrasão corneana.
Referências gerais
1. Aiello F, Gallo Afflitto G, Ceccarelli F, et al. Perspectives on the Incidence of Acanthamoeba Keratitis: A Systematic Review and Meta-Analysis. Ophthalmology. 2025;132(2):206-218. doi:10.1016/j.ophtha.2024.08.003
2. Ibrahim YW, Boase DL, Cree IA. How Could Contact Lens Wearers Be at Risk of Acanthamoeba Infection? A Review. J Optom. 2009;2(2):60-66. doi:10.3921/joptom.2009.60
Fisiopatologia da ceratite amebiana
O ciclo de vida da Acanthamoeba ocorre em apenas 2 estágios: cistos e trofozoítos (a forma infectante). Os trofozoítos formam cistos com paredes duplas, que resistem à erradicação.
Cistos e trofozoítos podem entrar no corpo por vários meios (p. ex., olhos, mucosas nasais, pele lesada). Quando a Acanthamoeba entra no olho, podem causar ceratite grave.
Nos pacientes infectados, tanto cistos quanto trofozoítos podem ser encontrados na córnea.
Sinais e sintomas da ceratite amebiana
As lesões em pacientes com ceratite amebiana costumam ser muito dolorosas e produzem uma sensação de corpo estranho, vermelhidão, fotossensibilidade, lacrimejamento excessivo e diminuição da visão, mas normalmente não há sintomas sistêmicos. As lesões são geralmente unilaterais; raramente, podem ser bilaterais.
No início, as lesões podem ter uma aparência dendriforme, que lembra a ceratite por herpes simples. Em seguida surgem infiltrados em placa no estroma e, às vezes, uma característica lesão em forma de anel. A maioria apresenta uveíte anterior associada.
Diagnóstico da ceratite amebiana
Exame e cultura de raspados de córnea
Consultar um oftalmologista é importante para o diagnóstico e tratamento da ceratite amébica.
Confirmar o diagnóstico de ceratite amebiana por exame dos raspados de córnea corados com Giemsa ou tricrômio, e por cultura em meios especiais.
A técnica de reação em cadeia da polimerase em tempo real também está disponível para identificação do DNA ribossômico de Acanthamoeba, que é altamente sensível e específica.
A microscopia confocal in vivo para identificar cistos na córnea requer conhecimento especializado na área, mas tem alta sensibilidade e especificidade para diagnóstico (1).
Referência sobre diagnóstico
1. Goh JWY, Harrison R, Hau S, Alexander CL, Tole DM, Avadhanam VS. Comparison of In Vivo Confocal Microscopy, PCR and Culture of Corneal Scrapes in the Diagnosis of Acanthamoeba Keratitis. Cornea. 2018;37(4):480-485. doi:10.1097/ICO.0000000000001497
Tratamento da ceratite amebiana
Desbridamento da córnea
Clorexidina, biguanida de poli-hexametileno ou ambos
Às vezes, ceratoplastia
Ceratite amébica superficial inicial responde melhor ao tratamento.
Lesões epiteliais são desbridadas e terapia intensiva com fármaco é aplicada. Pode-se utilizar clorexidina tópica a 0,02%, biguanida de polhexametileno tópica a 0,02% ou ambos os fármacos (1).
Nos 3 dias primeiros administrar o tratamento a cada 1 a 2 horas. Outros medicamentos tópicos utilizados como terapia adjunta são as diamidinas propamidina (0,1%) ou hexamidina (0,1%).
O reconhecimento e o tratamento precoces eliminaram a necessidade de ceratoplastia terapêutica (transplante de córnea) na maioria dos casos, mas a ceratoplastia ainda é uma opção quando a terapia farmacológica falha. Tratamento intensivo é necessário durante o primeiro mês, sendo reduzido conforme a resposta clínica, mas continuado por 6 a 12 meses. A recorrência é comum, se o tratamento for interrompido prematuramente.
Treatment reference
1. Durand ML, Barshak MB, Sobrin L. Eye Infections. N Engl J Med. 2023;389(25):2363-2375. doi:10.1056/NEJMra2216081
Prevenção da ceratite amebiana
Para prevenir a ceratite amebiana, deve-se limpar e armazenar as lentes de contato seguindo as recomendações dos profissionais de saúde ocular e fabricantes. Deve-se lavar bem as mãos antes de manuseá-los.
As soluções de lentes de contato devem ser mantidas frescas, não reutilizadas e não completadas; água da torneira nunca deve ser utilizada para armazenar lentes de contato. Soluções caseiras, não esterilizadas, não devem ser utilizadas.
O uso noturno de lentes de contato enquanto acordado ou dormindo pode aumentar o risco de desenvolver ceratite amebiana. Deve-se evitar utilizar lentes de contato ao nadar ou ao tomar banho.
Pontos-chave
Acanthamoeba spp pode causar ceratite crônica e progressivamente destrutiva em hospedeiros saudáveis, principalmente nos que utilizam lentes de contato.
Consultar um oftalmologista sobre o tratamento.
Diagnosticar examinando raspados de córnea corados com Giemsa ou tricrômio ou por cultura da amostra utilizando meio especial; técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR) em tempo real e microscopia confocal in vivo são outras modalidades com alta sensibilidade e especificidade.
Desbridar as lesões da córnea e tratar com clorexidina tópica, biguanida de poli-hexametileno ou ambos, além de, possivelmente, uma diamidina por 6 a 12 meses.
Informações adicionais
O recurso em inglês a seguir pode ser útil. Observe que este Manual não é responsável pelo conteúdo deste recurso.
Centers for Disease Control and Prevention (CDC): Clinical Overview of Acanthamoeba Keratitis
