Febre hemorrágica com síndrome renal (FHSR) é um grupo de doenças semelhantes causadas por hantavírus, que incluem febre hemorrágica epidêmica, febre hemorrágica coreana e nefropatia epidêmica; estes começam como uma doença semelhante à gripe e podem progredir para choque, sangramento e insuficiência renal. O diagnóstico é realizado com testes de sorologia e PCR (polymerase chain reaction). A mortalidade é de 6 a 15%. O tratamento é feito com ribavirina intravenosa.
Hantaviridae são uma família de vírus de RNA de fita simples envelopados, que consiste em pelo menos 4 sorotipos com 9 vírus causando 2 principais síndromes clínicas, às vezes sobrepostas:
(Ver também Visão geral das infecções por arbovírus, arenavírus e filovírus.)
Os vírus que provocam febre hemorrágica com síndrome renal são Hantaan, Seul, Dobrava (Belgrado) Saaremaa, Amur e Puumala.
Os vírus que causam síndrome pulmonar por hantavírus variam de acordo com a região (1):
Argentina: vírus dos Andes, Araraquara, Bermejo, Juquitiba, Lechiguanas, Leguna Negra, Maciel e Oran
Brasil: vírus de Araraquara e Juquitiba
Chile e leste da Bolívia: vírus dos Andes
América do Norte: vírus Sin Nombre, Black Creek Canal, Bayou e Monongahela
Panamá: vírus Choclo
Paraguai e Bolívia: vírus Leguna Negra
Hantavírus ocorrem em roedores silvestres em todo o mundo e são transmitidos pela saliva, urina e pelas fezes ao longo da vida. A transmissão ocorre entre roedores. A transmissão para seres humanos ocorre pela inalação de aerossóis de excreções de roedores ou, raramente, por mordidas de roedores. A transmissão entre pessoas pode ocorrer com o vírus Andes. Infecções naturais e adquiridas em laboratório são cada vez mais comuns.
O diagnóstico laboratorial de infecção por hantavírus é estabelecido por testes de sorologia e transcriptase reversa—PCR (RT-PCR). Testes sorológicos incluem ensaio de imunoadsorção enzimática (ELISA) e testes de Western blot e immunoblot. O diagnóstico sorológico na América do Norte deve ser capaz de diferenciar entre infecções pelos vírus Seul e Sin Nombre devido à potencial reatividade cruzada. O isolamento do vírus é tecnicamente difícil e requer um nível 3 de biossegurança em laboratório.
Referência geral
1. Milholland MT, Castro-Arellano I, Suzán G, et al: Global diversity and distribution of hantaviruses and their hosts. EcoHealth 15 (1):163-208, 2018. doi:10.1007/s10393-017-1305-2.
Febre hemorrágica com síndrome renal
Algumas formas da febre hemorrágica com síndrome renal são leves (p. ex., nefropatia epidêmica, causada pelo vírus Puumala, como ocorre na Escandinávia, na parte ocidental da antiga União Soviética e na Europa). Em geral, alguns são leves, mas ocasionalmente podem ser graves (p. ex., vírus de Seul que tem disseminação mundial em camundongos marrom selvagens e em camundongos domesticados). Outras formas são graves (p. ex., aquelas causadas pelos vírus Hantaan como ocorre na Coreia China e Rússia ou pelo vírus Dobrava [Belgrado] como ocorre nos Bálcãs).
A infecção é transmitida para seres humanos por inalação de excreções de roedores.
Sinais e sintomas da febre hemorrágica com síndrome renal
O período de incubação é de aproximadamente 2 semanas.
Em formas leves, a infecção com frequência é assintomática.
A sintomática progride em cinco fases: febril, hipotensora, oligúrica, poliúrica e convalescente (1).
A fase febril tem início súbito, com febre alta, cefaleia, dor nas costas, náuseas, vômitos e dor abdominal.
Há bradicardia relativa e hipotensão ocorre em cerca de 11 a 40% dos pacientes febris, com choque em cerca de um terço. Convulsões ou sintomas neurológicos focais graves ocorrem em 1% (2). Podem ocorrer complicações hemorrágicas decorrentes de trombocitopenia (p. ex., sangramento gastrointestinal, hematúria).
A insuficiência renal se desenvolve e os pacientes tornam-se oligúricos; essa fase tem o maior risco de mortalidade. A poliúria se desenvolve e a função renal melhora.
Referência sobre sinais e sintomas
1. Sehgal A, Mehta S, Sahay K, et al: Hemorrhagic Fever with Renal Syndrome in Asia: History, Pathogenesis, Diagnosis, Treatment, and Prevention. Viruses 15(2):561, 2023. Publicado em 18 de fevereiro de 2023. doi:10.3390/v15020561
2. Lupuşoru G, Lupuşoru M, Ailincăi I, et al: Hanta hemorrhagic fever with renal syndrome: A pathology in whose diagnosis kidney biopsy plays a major role (Review). Exp Ther Med 22(3):984, 2021. doi:10.3892/etm.2021.10416
Diagnóstico da febre hemorrágica com síndrome renal
Sorologia ou PCR (polymerase chain reaction)
Suspeita-se de febre hemorrágica com síndrome renal nos pacientes com possível exposição que apresentam febre, tendência a sangramento e insuficiência renal.
Em caso de suspeita, deve-se obter hemograma completo, eletrólitos, testes de função renal, testes de coagulação e análise de urina. O diagnóstico presuntivo de uma infecção hantaviral pode ser rapidamente confirmado ao se detectar a combinação de trombocitopenia, proteinúria e micro-hematúria. Durante a fase de hipotensão, o hematócrito aumenta e o paciente apresenta leucocitose e trombocitopenia. Albuminúria, hematúria e cilindros de eritrócitos e de leucócitos podem ser observados normalmente entre o 2º e o 5º dia. Durante a fase diurética, anormalidades de eletrólitos são comuns.
O diagnóstico da febre hemorrágica com síndrome renal baseia-se em sorologia ou PCR.
Tratamento da febre hemorrágica com síndrome renal
Ribavirina
Algumas vezes, hemodiálise
O tratamento da febre hemorrágica com síndrome renal é com ribavirina IV.
O cuidado de suporte, que pode incluir hemodiálise, é decisivo, em particular durante a fase diurética.
Prognóstico da febre hemorrágica com síndrome renal
O óbito pode ocorrer durante a fase diurética, consequentemente à depleção de volume, aos distúrbios eletrolíticos e às infecções secundárias. A recuperação geralmente leva 3 a 6 semanas, mas pode levar 6 meses.
No geral, a mortalidade é de 5 a 15%, quase sempre ocorrendo em pacientes com as formas mais graves (ver Centers for Disease Control and Prevention [CDC]: Hemorrhagic Fever with Renal Syndrome). Disfunção renal residual não é comum, exceto com doença grave que ocorre nos Bálcãs.
Síndrome pulmonar por hantavírus
A maioria dos casos de síndrome pulmonar por hantavírus é causada por
Hantavírus Sin Nombre, Andes e Choclo
Outros são causados por
Vírus Black Creek Canal, vírus Muleshoe e vírus Bayou no sudeste dos Estados Unidos e no México
Vírus New York (uma variante do vírus Sin Nombre) na costa leste dos Estados Unidos
O vírus Convict Creek e o vírus Isla Vista na costa oeste da América do Norte
O vírus Laguna Negra (e sua variante do Rio Mamoré), vírus semelhante ao Andes Hu39694, Lechiguanas, Oran, Prata Central, Buenos Aires, Rio Mearim, Juquitiba, semelhante a Juquitiba, Macaco Aime Itapua, Araucária, Jaborá, Neembucu, Anajatuba, Castelo dos Sonhos, Maripo e Hantavírus Bermejo na América do Sul
A infecção é transmitida aos seres humanos pela inalação de excrementos de roedores sigmodontinos (especialmente o rato-veadeiro para o vírus Sin Nombre). A maioria dos casos ocorre no oeste do Rio Mississippi na primavera ou no verão do hemisfério norte, tipicamente após chuvas fortes que provocam o crescimento da vegetação que serve como alimento que promove o crescimento da população de roedores.
Sinais e sintomas da SPH
A síndrome pulmonar por hantavírus começa com um quadro inespecífico semelhante à gripe, com febre aguda, mialgia, cefaleia, e sintomas gastrointestinais. Dois a 15 dias depois (4 dias em média), o paciente desenvolve rapidamente edema pulmonar não cardiogênico e hipotensão.
Vários pacientes apresentam uma combinação de febre hemorrágica com síndrome renal e síndrome pulmonar por hantavírus. Também são reconhecidos casos leves de síndrome pulmonar por hantavírus.
Diagnóstico da síndrome pulmonar por hantavírus
Sorologia ou PCR (polymerase chain reaction)
Suspeita-se da síndrome pulmonar por hantavírus nos pacientes com possível exposição se apresentarem quadro clínico ou radiológico de edema pulmonar inexplicado. A radiografia de tórax pode mostrar trama vascular aumentada, linhas B de Kerley, infiltrado bilateral, ou derrame pleural.
Em caso de suspeita, deve-se realizar ecocardiograma para excluir edema pulmonar cardiogênico.
Deve-se solicitar também hemograma completo, testes hepáticos e análise de urina. Há discreta leucocitose, neutrofilia, hemoconcentração e trombocitopenia. Elevações modestas da desidrogenase lática, aspartato aminotransferase e alanina aminotransferase, com diminuição da albumina sérica, são típicas. São demonstradas anormalidades mínimas na urina.
O diagnóstico de síndrome pulmonar por hantavírus é feito por sorologia ou PCR-TR.
Tratamento da síndrome pulmonar por hantavírus
Cuidados de suporte
O tratamento da síndrome pulmonar por hantavírus é de suporte. Ventilação mecânica, controle meticuloso de volume e vasopressores podem ser necessários. Para insuficiência cardiopulmonar grave, a oxigenação mecânica extracorporal pode ser vital (ver também Centers for Disease Control and Prevention: Hantavirus Virus: Treatment).
A ribavirina intravenosa não mostrou ser eficaz para o tratamento da síndrome pulmonar por hantavírus apesar de sua eficácia na febre hemorrágica com síndrome renal.
Prognóstico da síndrome pulmonar por hantavírus
Pacientes com síndrome pulmonar por hantavírus que sobrevivem nos primeiros dias melhoram rapidamente e se recuperam de maneira completa ao longo de 2 a 3 semanas, geralmente sem sequelas. As formas mais graves da SPH têm uma letalidade de até 50% dos casos.
Informações adicionais
O recurso em inglês a seguir pode ser útil. Observe que este Manual não é responsável pelo conteúdo deste recurso.
Centers for Disease Control and Prevention: Hantavirus Virus: Information for Health Care Workers: Information about surveillance case definitions and specimen submission