A febre hemorrágica da dengue (também chamada de febre hemorrágica filipina, tailandesa ou do sudeste asiático) é uma variante da apresentação da infecção por dengue que ocorre principalmente nas crianças com < 10 anos de idade que vivem em áreas endêmicas. A febre hemorrágica da dengue ocorre com mais frequência em pessoas com infecção prévia pelo vírus da dengue.
A febre hemorrágica da dengue é uma doença imunopatológica; complexos imunes dos anticorpos do vírus da dengue desencadeiam a liberação dos mediadores vasoativos pelos macrófagos. Os mediadores aumentam a permeabilidade vascular, provocando extravasamento vascular, manifestações hemorrágicas, hemoconcentração e derrames serosos, que podem levar ao colapso circulatório (isto é, síndrome de choque da dengue).
Sinais e sintomas da febre hemorrágica da dengue
A febre hemorrágica da dengue frequentemente começa com febre e cefaleia de início abrupto, sendo inicialmente indiferenciável da dengue clássica. Os sinais de alerta que preveem possível progressão para dengue grave são:
Sensibilidade e dor abdominal intensa
Vômitos persistentes
Hematêmese
Epistaxe ou sangramento das gengivas
Fezes escuras (melena)
Edema
Letargia, confusão ou agitação
Hepatomegalia
Derrame pleural ou ascite
Alteração acentuada na temperatura (de febre à hipotermia)
O colapso circulatório e a falência de múltiplos órgãos, chamada síndrome de choque da dengue, pode se desenvolver rapidamente em 2 a 6 dias após o início dos sintomas.
As diáteses hemorrágicas se manifestam da seguinte forma:
Púrpura, petéquias ou equimoses em locais de injeção (habitual)
Hematêmese, melena ou epistaxe
Hemorragia subaracnoide (menos comum)
Broncopneumonia com ou sem derrames pleurais bilaterais é comum. Miocardite pode ocorrer.
A mortalidade é geralmente de < 1% em pacientes tratados em centros com experiência no tratamento da febre hemorrágica da dengue (1), embora seja mais elevada em pacientes não tratados.
Referência sobre sinais e sintomas
1. Adams LE, Wong JM, Paz-Bailey G. Dengue. JAMA. 2024;332(24):2109-2110. doi:10.1001/jama.2024.21094
Diagnóstico da febre hemorrágica da dengue
História, exame físico e critérios laboratoriais
Suspeita-se da febre hemorrágica da dengue em crianças com os critérios clínicos definidos pela OMS para o diagnóstico (1):
Febre repentina que permanece alta por 2 a 7 dias
Manifestações hemorrágicas
Hepatomegalia
As manifestações hemorrágicas incluem pelo menos uma prova do laço positiva e petéquias, púrpura, equimoses, sangramento gengival, hematêmese, ou melena. A prova do laço é realizada aplicando-se pressão (média entre a pressão sistólica e a diastólica) no membro superior do paciente, por 15 minutos. O número de petéquias que se forma dentro de um círculo de 2,5 cm de diâmetro é contado; o aparecimento de > 20 petéquias sugere fragilidade capilar.
Devem ser obtidos hemograma completo, testes de coagulação, análise de urina, testes hepáticos e testes de sorologia para dengue. Anormalidades de coagulação incluem:
Trombocitopenia (≤ 100.000 plaquetas/mcL [≤ 100 x 109/L])
Tempo de protrombina (TP) prolongado
Tempo de tromboplastina parcial (TTP) ativada prolongado
Diminuição de fibrinogênio
Aumento da quantidade de produtos de degradação da fibrina
Outras anormalidades laboratoriais incluem hipoproteinemia, proteinúria leve, níveis elevados de aspartato aminotransferase (AST) e hemoconcentração (hematócrito aumentado em ≥ 20%).
Pode-se realizar o diagnóstico sorológico utilizando o ensaio imunoenzimático para captura de IgM (MAC-ELISA). A combinação de testes sorológicos e do teste de amplificação do RNA do vírus da dengue é utilizada para estabelecer o diagnóstico entre o 1º e o 7º dia da doença. O teste de neutralização por redução de placas (PRNT) é específico e sensível. Títulos nas amostras de soro das fases aguda e convalescente podem estabelecer de forma confiável a infecção pelo vírus da dengue e podem indicar o tipo de vírus específico envolvido. O PRNT requer vírus vivos da dengue para o teste e é trabalhoso e caro. Muitos laboratórios não conseguem realizar o PRNT.
Presume-se que os pacientes que apresentam critérios clínicos definidos pela Organização Mundial da Saúde mais trombocitopenia ou hemoconcentração sejam portadores da doença (2).
Referências sobre diagnóstico
1. Dengue: Guidelines for Diagnosis, Treatment, Prevention and Control. Geneva: World Health Organization; 2009.
2. Centers for Disease Control and Prevention: Dengue: Clinical Testing Guidance for Dengue. May 1, 2025. Accessed June 16, 2025.
Tratamento da febre hemorrágica da dengue
Cuidados de suporte
Pacientes com febre hemorrágica da dengue precisam de tratamento intensivo para manter a euvolemia. Devem ser evitadas hipovolemia (que pode produzir choque) e hiperhidratação (que pode produzir síndrome do desconforto respiratório agudo). O volume intravascular é monitorado pela diurese e pelo grau de hemoconcentração.
Medicamentos antivirais não demonstraram melhorar o desfecho.
Pontos-chave
A febre hemorrágica da dengue ocorre principalmente em crianças < 10 anos que vivem em áreas onde a dengue é endêmica e exige infecção anterior pelo vírus da dengue.
A Febre hemorrágica da dengue pode inicialmente lembrar a dengue, mas alguns resultados (p. ex., sensibilidade e dor intensa abdominais, vômitos persistentes, hematêmese, epistaxe, melena) indicam uma possível progressão para dengue grave.
O colapso circulatório e a falência de múltiplos órgãos, chamada síndrome de choque da dengue, pode se desenvolver rapidamente em 2 a 6 dias após o início.
O diagnóstico baseia-se em critérios clínicos e laboratoriais específicos.
Manter a euvolemia é crucial.
