Triquinose é uma infecção causada pelo nematoide (verme) Trichinella spiralis ou espécies relacionadas a Trichinella. Sintomas incluem irritação gastrointestinal inicial, seguida de edema periorbitário, dor muscular, febre e eosinofilia. O diagnóstico é clínico, com confirmação posterior por testes sorológicos. Biópsia muscular pode fazer o diagnóstico, mas raramente é necessária. O tratamento é com mebendazol ou albendazol e, se os sintomas são graves, também com prednisona.
Estima-se que 10.000 casos de triquinose ocorram em todo o mundo a cada ano (1). Aproximadamente 15 casos são notificados a cada ano nos Estados Unidos (2).
Além de Trichinella spiralis, triquinose também pode ser causada por T. pseudospiralis, T. nativa, T. nelsoni, T. murelli, T. papuae, T. zimbabwensis, e T. britovi em diferentes localizações geográficas.
(Ver também Abordagem às infecções parasitárias.)
Referências gerais
1. World Health Organization (WHO): Foodborne parasitic infections: Trichinellosis (trichinosis). Accessed October 21, 2024.
2. Centers for Disease Control and Prevention (CDC): Trichinellosis (Trichinosis). Accessed November 5, 2024.
Fisiopatologia da triquinose
O ciclo de vida da Trichinella é mantido por animais que são alimentados (p. ex., porcos) ou se alimentam de outros animais (p. ex., ursos, raposas, javalis) cujos músculos estriados contêm larvas infectantes encistadas (p. ex., roedores). Os seres humanos são infectados pela ingestão de carne mal cozida de animais infectados, mais comumente porcos, javalis selvagens ou ursos. (Ver também Trichinellosis in Animals.)
As larvas excistam no intestino delgado, penetram na mucosa e tornam-se adultas em 6 a 8 dias. As fêmeas medem cerca de 2,2 mm e os machos cerca de 1,2 mm.
As fêmeas maduras libertam larvas vivas durante 4 a 6 semanas e em seguida morrem ou são expelidas. As larvas recém-nascidas migram pela circulação sanguínea e sistema linfático, mas, por fim, sobrevivem somente dentro das células do músculo esquelético estriado. As larvas ficam completamente encistadas em 1 a 2 meses e permanecem viáveis durante vários anos como parasitas intracelulares. Larvas mortas são, no final das contas, reabsorvidas ou calcificadas. O ciclo continua somente se larvas encistadas forem ingeridas por outro carnívoro.
Image from the Centers for Disease Control and Prevention, Global Health, Division of Parasitic Diseases and Malaria.
Sinais e sintomas da triquinose
Muitas infecções por Trichinella são assintomáticas ou leves.
Durante a 1ª semana, podem ocorrer náuseas, cólicas abdominais e diarreia.
Uma a 2 semanas depois da infecção, os sinais e sintomas sistêmicos começam: edema facial ou periorbitário, mialgia, febre persistente, cefaleia e hemorragias subconjuntivais e petéquias. Dor nos olhos e fotofobia precedem frequentemente a mialgia.
Os sintomas decorrentes de invasão muscular podem imitar os sintomas da polimiosite. Os músculos da respiração, da fala, da mastigação e da deglutição podem ser dolorosos. Dispneia intensa pode ocorrer em infecções com cargas parasitárias altas.
A febre geralmente é remitente, subindo a 39° C ou mais, permanecendo elevada durante vários dias e então caindo de forma gradual.
A eosinofilia normalmente começa quando larvas recém-nascidas invadem os tecidos, alcança um pico 2 a 4 semanas depois da infecção e gradualmente diminui à medida que as larvas ficam encistadas.
Em infecções pesadas, a inflamação pode causar complicações cardíacas (miocardite, insuficiência cardíaca, arritmia), neurológicas (encefalites, meningites, distúrbios visuais ou auditivos, convulsões), ou pulmonares (pneumonite, pleurisia). Morte pode ser o resultado de miocardite ou encefalite.
Sinais e sintomas melhoram de maneira progressiva e a maioria desaparece no 3º mês, quando as larvas se tornam completamente encistadas em células musculares e são eliminadas de outros órgãos e tecidos. Dores musculares vagas e fadiga podem persistir por vários meses.
Infecções recorrentes por T. nativa em latitudes do norte podem provocar diarreia crônica.
Diagnóstico da triquinose
Imunoensaio enzimático
Raramente, biópsia do músculo
Nenhum teste específico para diagnosticar a fase intestinal de Trichinella está disponível. Depois da 2ª semana de infecção, uma biópsia muscular pode detectar larvas e cistos, mas raramente é necessária. Inflamação difusa em tecido muscular indica infecção recente.
Um certo número de testes sorológicos foram utilizados, mas o EIA com utilização de antígenos excretório-secretórios (ES) de T. spiralis parece ser a maneira mais rápida de detectar a infecção, sendo utilizado nos Estados Unidos. Muitas vezes, os anticorpos não são detectáveis até 3 a 5 semanas após a infecção e, assim, os testes devem ser repetidos em intervalos semanais se os resultados forem negativos inicialmente. Como os anticorpos podem persistir por anos, os testes sorológicos são mais úteis se forem inicialmente negativos e, depois, positivos. Sorologia e biópsia muscular são testes complementares: qualquer um dos dois pode ser negativo em um determinado paciente com triquinose. Provas cutâneas com antígenos larvários não são confiáveis.
As enzimas musculares (creatina quinase e desidrogenase láctica [LDH]) estão elevadas em muitos pacientes e se correlacionam com eletromiogramas anormais.
Eosinofilia é comum, mas tem inúmeras causas infecciosas e não infecciosas (ver tabela Doenças e tratamentos importantes associados à eosinofilia).
Triquinose deve ser diferenciada de
Febre reumática aguda, artrite aguda, angioedema e miosite
Doenças febris, como tuberculose, febre tifoide, sepse e brucelose (febre ondulante)
Manifestações neurológicas de meningite, encefalite e poliomielite
Eosinofilia por causa de neoplasias, leucemia eosinofílica, poliarterite nodosa ou doenças causadas por outros nematoides migrantes
Tratamento da triquinose
Albendazol ou mebendazol para eliminar vermes adultos
Tratamento sintomático
Anti-helmínticos eliminam os vermes Trichinella adultos do trato gastrointestinal, mas, depois que as larvas se encistam no músculo esquelético, o tratamento pode não erradicá-los nem eliminar quaisquer sintomas associados. Contudo, a maioria das pessoas com triquinose se recupera totalmente.
Albendazol ou mebendazol pode ser utilizado. A eficácia de doses mais altas e cursos prolongados para matar as larvas encistadas é incerta e efeitos adversos são mais prováveis.
Analgésicos podem ajudar a aliviar as dores musculares.
Para manifestações alérgicas graves ou envolvimento miocárdico ou do sistema nervoso central, prednisona é administrada durante 3 ou 4 dias e suspensa por 10 a 14 dias.
Prevenção da triquinose
Previne-se a triquinose cozinhando carne de porco ou carne vermelha de animais selvagens até dourar completamente (> 71° C). As larvas podem ser mortas na carne de porco < 6 polegadas de espessura congelando-se a carne -15° C por 20 dias. Não se recomenda o congelamento para carnes de animais selvagens porque podem estar infectadas por Trichinella spp que são resistentes a baixas temperaturas.
Defumar, cozinhar no micro-ondas, ou salgar a carne não garante a eliminação de larvas.
Deve-se limpar cuidadosamente moedores de carne e outros itens utilizados para preparar carne crua. Também é importante lavar as mãos com sabão e água.
Não se deve alimentar suínos domésticos com carne não cozida.
Pontos-chave
Os seres humanos são infectados por Trichinella comendo carne mal cozida de animais infectados - mais comumente porcos, javalis ou ursos.
As larvas excistam no intestino delgado, penetram na mucosa e tornam-se adultas que liberam larvas vivas; as larvas migram pela corrente sanguínea e sistema linfático se encistam no interior das células do músculo esquelético estriado.
Os sintomas começam com irritação gastrointestinal inicial, seguida de edema periorbitário, dor muscular, febre e eosinofilia.
As manifestações desaparecem gradualmente aproximadamente no terceiro mês, quando as larvas se tornam completamente encistadas, mas fadiga e dores musculares vagas podem persistir.
A infecção é mais comumente diagnosticada utilizando imunoensaio enzimático.
Tratar os sintomas (p. ex., com analgésicos para dor e prednisona para manifestações alérgicas ou comprometimento do sistema nervoso central ou do miocárdio); anti-helmínticos matam os vermes adultos, mas depois que as larvas se encistam no músculo esquelético, o tratamento não pode erradicá-los ou qualquer sintoma associado.
Cozinhar bem ou congelar a carne suína, bem como cozinhar carnes de animais silvestres, pode prevenir a triquinose.
