Síndrome de repolarização precoce

PorL. Brent Mitchell, MD, Libin Cardiovascular Institute of Alberta, University of Calgary
Revisado/Corrigido: jan 2023
Visão Educação para o paciente

A síndrome de repolarização precoce é uma doença genética da função do canal iônico do cardiomiócito (canalopatia). Os pacientes têm predisposição à taquicardia ventricular (TV) polimórfica e fibrilação ventricular (FV). O diagnóstico é realizado por ECG. Alguns pacientes exigem cardiodesfibrilador implantável (CDI).

(Ver também Visão geral das arritmias e Visão geral das canalopatias.)

A repolarização precoce refere-se a achados no ECG que normalmente incluem uma elevação do ponto J ≥ 0,1 mV, muitas vezes com aparência indistinta ou entalhada, seguida de elevação do segmento ST em 2 ou mais derivações contíguas. Esse padrão de ECG não é incomum, já que ocorre em cerca de 5% a 10% da população, especialmente em homens, pacientes mais jovens e atletas. A maioria das pessoas com esse padrão ECG de repolarização precoce não apresenta arritmias. Entretanto, a repolarização precoce é substancialmente mais comum em sobreviventes de fibrilação ventricular (FV) aparentemente idiopática; a síndrome de repolarização precoce refere-se a pessoas com repolarização precoce no ECG que também tiveram arritmias ventriculares sintomáticas. O risco de arritmia é maior quando o padrão de repolarização precoce está nas derivações inferiores, derivações laterais ou em ambas.

A síndrome de repolarização precoce parece resultar de mutações que produzem

  • Ganho da função nos canais de corrente de saída de potássio da célula OU

  • Perda da função dos canais de entrada de sódio ou cálcio da célula

Essas alterações nos canais iônicos aumentam os gradientes normais de voltagem transmural durante a fase de platô do potencial de ação. Esses gradientes produzem uma elevação da onda J e do ponto J no ECG e predispõem a taquicardias ventriculares polimórficas que podem se degenerar em uma fibrilação ventricular. Antes da TV/FV, o padrão de repolarização precoce pode se tornar mais exagerado e a TV/FV pode ser precipitada por um episódio de isquemia miocárdica. A TV polimórfica é frequentemente iniciada por uma sequência de intervalos RR curto-longo-curto (embora essa sequência não seja específica da síndrome de repolarização precoce): o primeiro intervalo RR curto ocorre entre um batimento de base (geralmente um batimento normal) e um batimento prematuro (em geral, um batimento ventricular prematuro). O intervalo RR longo é a pausa pós-extra-sistólica e termina com um batimento de base (geralmente, um batimento normal). Essa pausa é seguida por um intervalo RR curto quando a TV começa.

A síndrome de repolarização precoce parece ser hereditária, mas mutações genéticas específicas da doença são raramente identificadas, sugerindo que ela frequentemente é poligênica.

As arritmias ventriculares podem provocar palpitações e/ou parada cardíaca. Pode ocorrer síncope, mas esta é rara, pois a TV que ocorre com a síndrome de repolarização precoce raramente se autoextingue (ao contrário de alguns outras doenças que causam TV nas quais a síncope é mais comum).

Diagnóstico da síndrome de repolarização precoce

  • Manifestações clínicas e eletrocardiográficas características

  • Triagem clínica dos familiares de primeiro grau

Deve-se considerar o diagnóstico em pacientes com taquicardia ventricular polimórfica, fibrilação ventricular ou parada cardíaca súbita (ou história familiar desses eventos na ausência de cardiopatia estrutural) e que também têm alterações no ECG mostrando um padrão de repolarização precoce inferior e/ou lateral. O achado típico no ECG da repolarização precoce é a elevação do ponto J 1 mm ( 0,1 mV), seguida de elevação do segmento ST em duas ou mais derivações contíguas inferiores e/ou laterais.

Como defeitos genéticos específicos são raramente identificados, geralmente não se recomenda a pacientes ou familiares a realização de testes genéticos. Entretanto, os familiares de primeiro grau devem passar por avaliação clínica e ECG.

Tratamento da síndrome de repolarização precoce

  • Cardioversor desfibrilador implantável (CDI) se sintomático

Para pacientes assintomáticos com padrão ECG de repolarização precoce e sem história familiar de morte súbita, nenhum tratamento é recomendado porque esses pacientes apresentam risco muito baixo.

Pacientes que tiveram uma parada cardíaca ou que apresentaram FV ou TV polimórfica têm alto risco e devem usar um CDI. Deve-se considerar o uso de um CDI em determinados pacientes com padrão ECG de repolarização precoce e outras características específicas de alto risco (1).

Quando for necessário suprimir as descargas frequentes do CDI, a quinidina, que bloqueia a corrente de saída de potássio que pode estar aumentada na síndrome de repolarização precoce, pode ser eficaz. O isoproterenol IV pode ser útil em pacientes com múltiplos episódios de arritmias ventriculares em sucessão rápida (tempestade elétrica).

Referência sobre o tratamento

  1. 1. Priori SG, Wilde AA, Horie M, et al: HRS/EHRA/APHRS expert consensus statement on the diagnosis and management of patients with inherited primary arrhythmia syndromes: document endorsed by HRS, EHRA, and APHRS in May 2013 and by ACCF, AHA, PACES, and AEPC in June 2013. Heart Rhythm 10:1932–1963, 2013. doi: 10.1016/j.hrthm.2013.05.014

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