Um bloqueio do nervo mentoniano anestesia o lábio inferior ipsilateral e a pele do queixo, bem como a gengiva lateral (bucal) e a mucosa anterior ao forame mentual até a linha média.
Indicações para bloqueio do nervo mentoniano
Laceração do lábio inferior ou queixo, ou mucosa intraoral
Excisão cirúrgica das lesões cutâneas ou labiais
Utiliza-se bloqueio nervoso em vez de infiltração anestésica local quando a aproximação precisa das bordas da ferida é importante (p. ex., reparo de pele ou lábio), porque um bloqueio nervoso não distorce o tecido como a infiltração local o faz.
Indicações para bloqueio do nervo mentoniano
Contraindicações absolutas
Alergia a um agente anestésico ou veículo de entrega (em geral, é possível escolher um anestésico diferente)
Ausência dos marcos anatômicos necessários para orientar a inserção da agulha (p. ex., decorrente de trauma)
Contraindicações relativas
Infecção no trajeto da inserção da agulha: utilizar sedação para procedimentos ou outro método de anestesia.
Coagulopatia*: quando viável, corrigir antes do procedimento.
Gestação: embora muitas diretrizes afirmem que as pacientes podem ser tratadas com segurança durante toda a gestação, o tratamento verdadeiramente eletivo deve ser idealmente adiado durante o primeiro trimestre para prevenir possíveis riscos ao desenvolvimento fetal (1).
* Anticoagulação terapêutica (p. ex., para embolia pulmonar) aumenta o risco de sangramento com bloqueios nervosos, mas isso deve ser ponderado em relação ao maior risco de trombose (p. ex., acidente vascular cerebral) se a anticoagulação é revertida. Discutir qualquer reversão prevista com o médico responsável pela anticoagulação do paciente e então com o paciente.
Referência de contraindicações
1. Bao J, Huang X, Wang L, He Y, Rasubala L, Ren YF. Clinical practice guidelines for oral health care during pregnancy: a systematic evaluation and summary recommendations for general dental practitioners. Quintessence Int. 2022;53(4):362-373. doi:10.3290/j.qi.b2644863
Complicações do bloqueio do nervo mentoniano
Reação alérgica ao anestésico
Toxicidade decorrente de superdosagem de anestésico (p. ex., convulsões, arritmias cardíacas)
Injeção intravascular de anestésico/adrenalina
Hematoma
Neuropatia
Disseminação da infecção, passando a agulha por uma área infectada
Falha na anestesia
Quebra da agulha (muito rara)
A maioria das complicações resulta de inserção imprecisa da agulha.
Equipamento para bloqueio do nervo mentoniano
Cadeira odontológica, cadeira reta com apoio de cabeça ou maca
Fonte de luz para iluminação intraoral
Luvas não estéreis
Máscara e óculos de segurança ou protetor facial
Compressas de gaze
Swabs estéreis
Espelho dental ou abaixador de língua
Sucção
Equipamento para fazer anestesia local
Pomada para anestesia tópica* (p. ex., lidocaína a 5%, benzocaína a 20%)
Anestésico local injetável, como lidocaína a 2% com ou sem adrenalina† 1:100.000 ou, para anestesia de maior duração, bupivacaína a 0,5% com ou sem adrenalina† 1:200.000
Seringa de aspiração dentária (com corpo estreito e cartuchos de anestesia injetáveis personalizados) ou outra seringa de corpo estreito (p. ex., 3 mL) com eixo de travamento
Agulha de calibre 25 ou 27: 3 cm de comprimento para bloqueios de nervo
* ATENÇÃO: todas as preparações anestésicas tópicas são absorvidas das superfícies mucosas e pode ocorrer toxicidade quando os limites de dose são excedidos. Pomadas são mais fáceis de controlar do que líquidos e géis tópicos menos concentrados. Raramente, a benzocaína em excesso pode causar metemoglobinemia.
† Dose máxima de anestésicos locais: lidocaína sem adrenalina, 5 mg/kg com dose máxima total de 300 mg; lidocaína com adrenalina, 7 mg/kg com dose máxima total de 500 mg; bupivacaína sem adrenalina, 2 mg/kg com dose máxima total de 175 mg. NOTA: solução a 1% (de qualquer substância) representa 10 mg/mL (1 g/100 mL). A adrenalina causa vasoconstrição, que prolonga o efeito anestésico; isso é útil em tecidos bem vascularizados como a mucosa oral. Pacientes com doença cardíaca devem receber somente quantidades limitadas de adrenalina (máximo de 3,5 mL de solução contendo adrenalina a 1:100.000); alternativamente, utilizar anestésico local sem adrenalina.
Considerações adicionais para bloqueio do nervo mentoniano
Documentar quaisquer deficits de nervo preexistentes antes de fazer um bloqueio nervoso.
Pode-se utilizar uma abordagem intraoral ou extraoral ao forame mentual. A abordagem intraoral, preferível e discutida aqui, causa menos dor do que a abordagem extraoral.
O bloqueio do nervo pode ser ineficaz se o anestésico não for aplicado suficientemente próximo do nervo.
Utilizar uma agulha nova a cada tentativa (a agulha anterior pode ter sido bloqueada por tecido ou sangue, o que obscureceria uma inserção intravascular errante).
Interromper o procedimento de bloqueio do nervo e utilizar um método diferente de anestesia se não tiver certeza de onde está a agulha ou se o paciente não cooperar.
Anatomia relevante para bloqueio do nervo mentoniano
O nervo mentoniano é um terminal do nervo alveolar inferior, o qual é um ramo do nervo mandibular.
O nervo mentoniano emerge do lado bucal da mandíbula ao longo do forame mentual (imediatamente abaixo do ápice do segundo dente pré-molar) para inervar o lábio inferior e o queixo, bem como a mucosa lateral (bucal) e a gengiva anterior ao forame mentual ipsilateralmente, com alguma extensão além da linha média.
Reparo do queixo na linha média ou laceração do lábio inferior exige o uso de bloqueio bilateral do nervo mentoniano.
Posicionamento para bloqueio do nervo mentoniano
Posicionar o paciente na posição vertical ou ligeiramente reclinado, com o occipúcio apoiado e o pescoço em posição neutra.
Otimizar o acesso ao local da injeção (prega mucobucal inferior) posicionando a cabeça do paciente aproximadamente no nível dos cotovelos, de modo que o plano oclusal dos dentes mandibulares permaneça paralelo ao chão quando a boca é aberta.
Descrição passo a passo do bloqueio do nervo mentoniano
Utilizar luvas não estéreis, máscara e óculos de segurança ou protetor facial
Utilizando o dedo indicador e o polegar, segurar e retrair o lábio inferior lateralmente.
Palpar a gengiva, identificar o forame mentual 1 cm anterior e inferior ao ápice do 2º dente pré-molar inferior.
Utilizar gaze para secar minuciosamente a prega mucobucal adjacente ao 1º e 2º dentes pré-molares inferiores. Utilizar sucção para manter a área seca.
Aplicar anestésico tópico com aplicadores com ponta de algodão e esperar 2 a 3 minutos para que a anestesia tenha efeito.
Injetar o anestésico local
Instruir o paciente a abrir ligeiramente a boca e relaxar os músculos da mandíbula e da bochecha.
Mais uma vez, retrair o lábio inferior lateralmente para delinear a prega mucobucal.
Segurar a seringa anestésica de modo que o bisel da agulha permaneça voltado para a mandíbula.
Inserir a agulha na prega mucobuccal entre o 1º e o 2º pré-molares inferiores.
Avançar a agulha inferiormente, paralelo aos dentes, cerca de 0,5 a 1 cm. Evitar contato com o osso.
Aspirado, para excluir inserção intravascular.
Se a aspiração revelar inserção intravascular, remover a agulha 2 a 3 mm e aspirar novamente antes de injetar.
Injetar lentamente cerca de 1 a 2 mL de anestésico adjacente ao forame mental, mas não nele.
Massagear a área externamente por cerca de 10 segundos para acelerar o início da anestesia.
Cuidados posteriores para bloqueio do nervo mentoniano
Pedir que o paciente descanse, com a boca relaxada, enquanto espera o início da anestesia (5 minutos).
Alertas e erros comuns para bloqueio do nervo mentoniano
Para minimizar o risco de quebrar a agulha, não curvá-la antes da inserção, não inserir a agulha em sua profundidade total (isto é, até o canhão) e instruir o paciente a permanecer imóvel, com a boca bem aberta e não deixar que ele segure sua mão.
Recomendações e sugestões para um bloqueio do nervo mentoniano
Técnicas de distração (p. ex., conversar com o paciente ou fazer com que ele segure a mão de outra pessoa) podem ajudar a reduzir a ansiedade do paciente.
Injetar a solução anestésica local lentamente (30 a 60 segundos) para reduzir a dor da injeção.
