Os médicos devem avaliar a causa, a gravidade e a natureza da dor e seu efeito sobre atividades, humor, cognição e sono. A avaliação da causa da dor aguda (p. ex., dor lombar Avaliação de dores cervical e lombar Dores cervical e lombar são as razões mais comuns das visitas ao médico. Essa discussão abrange a dor cervical na face posterior do pescoço (não a dor limitada à face anterior), e não abrange... leia mais , dor torácica Dor torácica A dor torácica é uma queixa bastante comum. Muitos pacientes têm ciência de que ela é um aviso de possíveis doenças que põem a vida em risco e buscam esclarecimento para sintomas leves. Outros... leia mais ) difere da avaliação da dor crônica Dor crônica Dor crônica é aquela que persiste ou recorre por > de 3 meses, persiste por > de 1 mês após a resolução de uma lesão tecidual aguda ou acompanha uma lesão que não se cura. As causas incluem... leia mais .
(Ver também Visão geral da dor Visão geral da dor A dor é a causa mais comum da busca de cuidados médicos. Apresenta componentes sensoriais e emocionais e, geralmente, é classificada como aguda ou crônica. Em geral, a dor aguda está frequentemente... leia mais .)
A história deve incluir as seguintes informações sobre a dor:
Tempo [início, persistência (se constante ou intermitente), padrão e grau de flutuação e frequência das remissões, duração]
Qualidade (p. ex., aguda, prolongada, com cólica, queimação, limitante, lancinante)
Gravidade
Local (localizado, difuso, profundo, superficial)
Padrões de dor referida
Fatores exacerbantes e atenuantes
Informações da história e do exame físico ajudam a orientar a escolha dos exames laboratoriais e de imagem para identificar possíveis causas da dor.
Os médicos devem avaliar o nível de função do paciente e o efeito da dor sobre a função, focalizando as atividades da vida diária (p. ex., vestir-se, tomar banho), emprego, ocupações e relacionamentos pessoais (incluindo sexual).
Uma história pessoal ou familiar de dor crônica pode esclarecer o problema. Deve-se considerar uma possível contribuição dos membros da família para a perpetuação da dor crônica (p. ex., por constantemente indagar sobre a saúde do paciente).
A percepção do paciente acerca da dor e outros fatores podem influenciar as manifestações clínicas. Deve ser determinado o significado da dor para o paciente, com ênfase em aspectos psicológicos, depressão e ansiedade. O relato de dor pode ser mais socialmente aceitável do que o relato de ansiedade ou depressão, e o tratamento apropriado muitas vezes depende da identificação de quaisquer outros problemas. Dor e sofrimento também devem ser diferenciados, sobretudo nos pacientes com câncer Dor Os efeitos adversos são comuns em pacientes que recebem qualquer terapia contra câncer, particularmente, citopenias, efeitos gastrointestinais, lise tumoral e síndromes de liberação de citocinas... leia mais ; o sofrimento pode ser também decorrente tanto da perda de função como do medo da morte iminente, além da dor.
Em alguns pacientes, o ganho secundário (benefícios externos e incidentais de uma doença — p. ex., folga, pagamentos por incapacidade) pode contribuir para a dor ou incapacidade relacionada à dor.
Deve-se perguntar aos pacientes e, algumas vezes aos cuidadores, sobre o uso, eficácia e efeitos adversos dos fármacos vendidos com e sem receita médica e outros tratamentos. Em caso de uso incorreto de opioides Transtorno do uso de opioides e reabilitação “Opioide” é um termo para diversas substâncias naturais (originalmente derivadas da papoula de ópio) e seus análogos semissintéticos e sintéticos que se ligam a receptores opioides específicos... leia mais ou suspeita de uso de outras substâncias, é necessária avaliação mais profunda.
Intensidade da dor
A intensidade da dor deve ser avaliada antes e após intervenções potencialmente dolorosas. Em pacientes capazes de verbalizar, o autorrelato é o padrão-ouro e os sinais externos de dor (p. ex., chorar, estremecer, balançar) são secundários. Para pacientes com dificuldades de comunicação e em crianças pequenas, os indicadores não verbais (comportamentais e algumas vezes psicológicos) podem ser a fonte primária de informação.
Medidas formais (ver figura Algumas escalas de dor para quantificar a dor vigente Algumas escalas de dor para qualificar a dor à medida que ocorre ) são
Escalas de categoria verbal (p. ex., leve, moderada e grave)
Escalas numéricas
A Escala Visual Analógica (EVA)
Para a escala numérica, pede-se aos pacientes que classifiquem sua dor de 0 a 10 (0 = ausência de dor; 10 = “a pior dor imaginável”). Na EVA, os pacientes criam um sinal representando o grau da dor em uma linha de 10 cm sem identificação, com a extremidade esquerda com os dizeres “sem dor” e a direita com os dizeres “dor insuportável”. A classificação da dor é a distância em mm desde a extremidade esquerda da linha. Crianças e pacientes com alfabetização deficiente ou problemas de desenvolvimento podem selecionar imagens de faces que vão do sorriso à expressão distorcida pela dor, ou frutas de vários tamanhos para transmitir sua percepção de intensidade da dor. Ao mensurar a dor, o examinador deve especificar um período de tempo (p. ex. “em média durante a última semana”).
Algumas escalas de dor para qualificar a dor à medida que ocorre
Para a Escala de Dor Funcional, os examinadores devem explicar com clareza ao paciente que as limitações funcionais serão relevantes para a avaliação somente se decorrerem da dor que está sendo avaliada; o tratamento visa ao máximo alívio possível da dor, pelo menos até o nível tolerável (0–2). Adapted from the American Geriatrics Society (AGS) Panel on Chronic Pain in Older Persons: The management of chronic pain in older persons. Journal of the American Geriatrics Society 46:635–651, 1998; used with permission; from Gloth FM III, Scheve AA, Stober CV, et al: The functional pain scale (FPS): Reliability, validity, and responsiveness in a senior population. Journal of the American Medical Directors Association 2 (3):110–114, 2001; e de Gloth FM III: Assessment. Em Handbook of Pain Relief in Older Adults: An Evidence-Based Approach, editado por FM Gloth III. Totowa (NJ), Humana Press, 2003, p. 17; utilizada com permissão; copyright © FM Gloth, III, 2000. |
Pacientes com demência ou afasia
Avaliar a dor em pacientes com doenças que afetam a cognição, fala ou linguagem (p. ex., demência e afasia) pode ser difícil. A dor é sugerida pelas contrações faciais, enrugar a testa ou piscar os olhos repetidamente. Algumas vezes, os cuidadores podem descrever comportamentos que sugerem dor (p. ex., exclusão social súbita, irritabilidade, caretas). A dor deve ser considerada em pacientes com dificuldade de comunicação e que apresentam alterações súbitas de comportamento. Muitos pacientes com dificuldade de comunicação podem comunicar significativamente quando é utilizada a escala de dor apropriada. Por exemplo, a Escala de Dor Funcional foi validada e pode ser utilizada em pacientes em casas de repouso que têm escore do Miniexame do Estado Mental Exame do estado mental Pacientes com queixas ou preocupações mentais ou com comportamento alterado se apresentam em diversos contextos clínicos, incluindo centros de atenção primária e de tratamento de emergência... leia mais ≥ 17.
Pacientes que recebem bloqueios neuromusculares
Não há instrumentos validados para avaliar a dor quando é utilizado um bloqueio neuromuscular para facilitar a ventilação mecânica.
Se o paciente receber um sedativo, a dose pode ser ajustada até que não haja evidência de consciência. Nestes casos, analgésicos específicos não são necessários. Se, entretanto, o paciente estiver sedado, mas ainda apresenta alguma evidência de consciência (p. ex., piscando, ou com resposta de movimentos oculares ao comando), deve ser considerado o tratamento da dor, com base no grau de dor habitualmente causado pela condição (p. ex., queimaduras, traumas). Se um procedimento potencialmente doloroso (p. ex., virar um paciente acamado) for necessário, o pré-tratamento com analgésico selecionado ou anestésico deve ser administrado.