A doença de Whipple é uma doença sistêmica rara causada pela bactéria Tropheryma whipplei. Os principais sintomas são artrite, perda ponderal, dor abdominal e diarreia. O diagnóstico é feito por biópsia do intestino delgado. O tratamento consiste inicialmente em ceftriaxona ou penicilina, seguido no mínimo por 1 ano de sulfametoxazol/trimetoprima.
A doença de Whipple afeta predominantemente homens brancos com idade de 30 a 60 anos. Embora atinja muitas partes do organismo (p. ex., coração, pulmões, encéfalo, cavidades serosas, articulações, olhos, trato digestório), a mucosa do intestino delgado é quase sempre envolvida. Os pacientes afetados podem apresentar defeitos da imunidade celular que predispõem à infecção por T. whipplei.
Postula-se que exista uma associação entre a doença de Whipple e o gene HLA-B27, mas isso não foi confirmado.
Sinais e sintomas da doença de Whipple
A apresentação clínica varia com base no sistemas dos órgãos afetados. Os quatro principais sintomas da doença de Whipple são
Artralgia
Diarreia
Dor abdominal
Perda ponderal
Em geral, os primeiros sintomas são artralgia e febre.
Sintomas intestinais (p. ex., diarreia aquosa, esteatorreia, dor abdominal, anorexia, perda ponderal) costumam se manifestar mais tarde, às vezes anos após a queixa inicial. Pode ocorrer sangramento intestinal grave ou oculta. Pode haver má absorção grave em pacientes diagnosticados tardiamente no curso clínico.
Outros achados incluem o aumento da pigmentação da pele, anemia, linfadenopatia, tosse crônica, serosite, edema periférico e sintomas relacionados com o sistema nervoso central.
Diagnóstico da doença de Whipple
Endoscopia com biópsia do intestino delgado
O diagnóstico da doença de Whipple pode não ser percebido em pacientes sem sintomas gastrointestinais proeminentes.
Suspeita-se da doença de Whipple em homens brancos de meia-idade que apresentam artrite e dor abdominal, diarreia, perda ponderal ou outros sintomas de má absorção. Esses pacientes devem ser submetidos à endoscopia digestiva alta com biópsia do intestino delgado; as lesões intestinais são específicas e diagnósticas. As mudanças mais graves e consistentes estão no intestino delgado proximal. A microscopia mostra macrófagos positivos para ácido periódico de Schiff, que destroem a arquitetura vilosa. Esses bacilos Gram-positivos, negativos para o bacilo resistente ao ácido (T. whipplei), podem ser vistos na lâmina própria e nos macrófagos. Se não forem encontrados T. whipplei, mas ainda se suspeitar clinicamente de doença de Whipple, deve-se fazer testes de PCR (polymerase chain reaction) e imuno-histoquímicos.
A doença de Whipple deve ser diferenciada de infecções intestinais por Mycobacterium avium-intracellulare, que apresentam resultados histológicos similares. Contudo, Mycobacterium avium-intracellulare é positivo para teste rápido de acidez.
Tratamento da doença de Whipple
Antibióticos
É possível haver recidivas tardias
A doença não tratada é progressiva e fatal.
Muitos antibióticos são curativos (p. ex., tetraciclina, sulfametoxazol/trimetoprima, penicilina, cefalosporinas). Inicia-se o tratamento da doença de Whipple com ceftriaxona (2 g IV ao dia) ou penicilina G (1,5 a 6 milhões de unidades IV a cada 6 horas) por 2 a 4 semanas. Esse regime é seguido por uso de longo prazo de sulfametoxazol/trimetoprima (160/800 mg por via oral 2 vezes ao dia por 1 ano) ou uma combinação de doxiciclina (100 mg por via oral 2 vezes ao dia por 1 ano) e hidroxicloroquina (200 mg por via oral 3 vezes ao dia por 1 ano). Pacientes alérgicos a sulfa podem utilizar penicilina oral ou ampicilina. A melhora clínica é rápida, com febre e dores articulares resolvendo-se em poucos dias. Os sintomas intestinais geralmentemelhoram em 1 a 4 semanas.
Para confirmar a resposta ao tratamento, pode-se fazer o teste de PCR (polymerase chain reaction) em fezes, saliva ou outro tecido. No entanto, outros especialistas recomendam a repetição da biópsia depois de 1 ano com microscopia eletrônica para documentar bacilos (não apenas macrófagos, que podem persistir por anos depois do tratamento bem-sucedido).
As recaídas são comuns e podem ocorrer anos mais tarde. Se houver suspeita de recaída, deve-se fazer biópsias do intestino delgado ou testes de PCR (independentemente dos sistemas de órgãos afetados) para determinar a presença de bacilos livres.
Pontos-chave
A infecção pela bactéria T. whipplei afeta diversos órgãos, incluindo o trato gastrointestinal.
O envolvimento da mucosa do intestino delgado provoca má absorção.
Suspeita-se da doença de Whipple em homens brancos de meia-idade que apresentem artrite e dor abdominal, diarreia, perda ponderal ou outros sintomas de má absorção.
É necessária biópsia do intestino delgado endoscópica.
É necessário tratamento de longo prazo com antibióticos, e as recaídas são comuns.