Hipolipidemia

PorMichael H. Davidson, MD, FACC, FNLA, University of Chicago Medicine, Pritzker School of Medicine;
Marie Altenburg, MD, The University of Chicago
Reviewed ByGlenn D. Braunstein, MD, Cedars-Sinai Medical Center
Revisado/Corrigido: modificado mai. 2025
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Visão Educação para o paciente

A hipolipidemia consiste na diminuição da lipoproteína plasmática causada por fatores primários (genéticos) ou secundários. Em geral, é assintomática e diagnosticada por acidente na triagem de rotina dos lipídios. O tratamento da hipolipidemia secundária abrange o tratamento das doenças subjacentes. O tratamento da hipolipidemia primária geralmente não é necessário, mas pacientes com algumas alterações genéticas necessitam de altas doses de vitamina E.

(Ver também Visão geral do metabolismo lipídico.)

Define-se hipolipidemia como colesterol total < 120 mg/dL (< 3,1 mmol/L) ou LDL-C < 50 mg/dL (< 1,3 mmol/L).

As causas podem ser primárias (genéticas) ou secundárias. As causas secundárias são muito mais comuns que as primárias e incluem:

O achado inesperado de colesterol baixo ou LDL-C baixo em pacientes que não estão tomando hipolipemiantes deve impelir uma avaliação diagnóstica, incluindo dosagem de AST (aspartato aminotransferase), ALT (alanina aminotransferase) e hormônio tireoestimulante; uma avaliação negativa sugere uma possível causa primária.

Existem 3 alterações primárias nas quais mutações únicas ou múltiplas resultam em produção reduzida ou depuração aumentada de LDL:

  • Abetalipoproteinemia

  • Doença de retenção de quilomícrons

  • Hipobetalipoproteinemia

As mutações de perda de função da PCSK9 (proteína convertase subtilisina/quexina tipo 9) são outra causa de níveis baixos de LDL. Não há consequências adversas e nenhum tratamento.

Abetalipoproteinemia (síndrome de Bassen-Kornzweig)

Doença autossômica recessiva causada por mutações do gene da proteína transferidora microssômica de triglicerídios, uma proteína fundamental para a formação de quilomícrons e VLDL. A gordura da alimentação não pode ser absorvida e as lipoproteínas das duas vias metabólicas estão virtualmente ausentes do sangue; o colesterol total é tipicamente < 45 mg/dL (< 1,16 mmol/L), os triglicerídeos são < 20 mg/dL (< 0,23 mmol/L) e o LDL é indetectável.

Em geral, a doença é primeiramente detectada em recém-nascidos com má absorção de gorduras, esteatorreia e insuficiência de crescimento. Pode resultar em retardo mental. Como a vitamina E é distribuída aos tecidos periféricos via VLDL e LDL, a maioria dos indivíduos afetados ocasionalmente desenvolve grave deficiência de vitamina E. Sinais e sintomas são alterações visuais decorrentes de degeneração retiniana lenta, neuropatia sensorial, sinais da medula posterior de ataxia e parestesia, sinais cerebelares de dismetria, ataxia e espasticidade, que com o tempo levam à morte.

Como a falta de proteína de transferência de triglicerídeos resulta na degradação da apoproteína B (apoB), o diagnóstico da abetalipoproteinemia é feito pela ausência de apo B no plasma. Biópsias intestinais mostram falta de proteína transferidora microssômica. A acantocitose de eritrócitos é uma característica diferencial no esfregaço periférico de sangue. Exames genéticos podem confirmar o diagnóstico.

Tratamento da deficiência de vitamina E é com altas doses (100 a 300 mg/kg, uma vez ao dia, por via oral) de vitamina E com suplementação de gordura dietética e outras vitaminas lipossolúveis. Geralmente o prognóstico é muito reservado.

Doença de retenção de quilomícrons (doença de Anderson)

A doença de retenção de quilomícrons é uma doença autossômica recessiva muito rara causada pela deficiência de secreção do apo B pelos enterócitos. Mutações em um gene que codifica uma proteína intestinal (ApoB48) importante no transporte de quilomícrons através dos enterócitos foram associadas a essa doença.

Recém-nascidos afetados apresentam má absorção de gorduras, esteatorreia e insuficiência de crescimento, e podem ter distúrbios neurológicos semelhantes aos da abetalipoproteinemia.

O diagnóstico é feito por biópsia intestinal de pacientes com níveis baixos de colesterol e ausência de quilomícrons pós-prandiais.

O tratamento é feito pela suplementação de gordura alimentar e das vitaminas lipossolúveis. O tratamento precoce com altas doses de vitamina E pode melhorar o prognóstico.

Hipobetalipoproteinemia

Doença autossômica dominante ou codominante causada por mutações no gene que codifica a apo B.

Pacientes heterozigotos apresentam apo B truncada, causando depuração rápida de LDL-C. Os heterozigotos não apresentam sinais ou sintomas, exceto colesterol total < 120 mg/dL (< 3,1 mmol/L) e LDL-C < 80 mg/dL (< 2,1 mmol/L). Os níveis de triglicerídeos são normais. Alguns pacientes podem ter esteatose hepática.

Pacientes homozigotos apresentam quebras ainda menores, provocando níveis ainda mais baixos de lipídios (colesterol total < 80 mg/dL [< 2,1 mmol/L], LDL-C < 20 mg/dL [< 0,52 mmol/L]) ou síntese ausente de apo B, causando sinais e sintomas de abetalipoproteinemia.

O diagnóstico é encontrar baixos níveis de LDL-C e apo B no lipidograma. A hipobetalipoproteinemia e a abetalipoproteinemia são clinicamente semelhantes e são diferenciadas uma da outra pela história familiar.

Os heterozigotos e os homozigotos com nível de LDL-C baixo, mas detectável, não necessitam de tratamento. O tratamento de pessoas homozigóticas sem LDL é o mesmo que o da abetalipoproteinemia sendo feito com vitamina E e suplementação de gordura na alimentação e das outras vitaminas lipossolúveis. O prognóstico é variável, mas o diagnóstico precoce e adesão rigorosa ao tratamento podem retardar a progressão da doença.

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