O tracoma é endêmico em regiões muito pobres da África do Norte, no Oriente Médio, no subcontinente indiano, na Austrália e no Sudeste Asiático. O agente etiológico é a Chlamydia trachomatis (sorotipos A, B, Ba e C). Nos EUA o tracoma é raro, com ocorrências apenas em índios e imigrantes. A doença ocorre principalmente em crianças, sobretudo naquelas com 3 a 6 anos. Ela é menos suscetível em crianças mais velhas e adultos por causa de melhor imunidade e higiene pessoal. Ela é altamente contagiosa em seus estágios iniciais, sendo transmitido pelos contatos olho-olho e mão-olho, por moscas em contato com os olhos ou pelo compartilhamento de objetos (p. ex., toalhas, lenços, maquiagem).
Sinais e sintomas
O tracoma geralmente afeta ambos os olhos. O sistema de graduação da OMS descreve cinco estágios.
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Inflamação tracomatosa folicular (TF): caracterizada por cinco ou mais folículos na conjuntiva tarsal superior
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Inflamação tracomatosa intensa (TI): caracterizada por um espessamento inflamatório pronunciado da conjuntiva tarsal obscurecendo mais da metade dos vasos tarsais profundos normais
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Cicatrizes tracomatosa (CT): caracterizada pelas cicatrizes na conjuntiva tarsal
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Triquíase tracomatosa (TT): caracterizada por pelo menos um cílio friccionando o globo ocular
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Opacidade da córnea (OC): caracterizada pela opacidade da córnea facilmente visível na pupila
Raramente a neovascularização da córnea regride completamente sem tratamento e a transparência corneana é restaurada. Com tratamento e cura, a conjuntiva se torna lisa e branca-acinzentada. Problemas de visão ou cegueira ocorre em 5% das pessoas que contraem tracoma.
Diagnóstico
O diagnóstico do tracoma normalmente é clínico porque testes raramente estão disponíveis em áreas endêmicas. Folículos linfoides na porção tarsal ou ao longo do limbo corneano, cicatriz conjuntival linear e pannus corneano são considerados diagnósticos em uma avaliação clínica adequada.
Se o diagnóstico for incerto, C. trachomatis pode ser isolado em cultura ou identificado por PCR e técnicas de imunofluorescência. No estágio inicial, a presença de pequenos corpos de inclusão citoplasmáticos basofílicos em células epiteliais conjuntivais, em raspados conjuntivais corados com Giemsa, diferencia o tracoma da conjuntivite não causada por clamídia. Os corpos de inclusão também são encontrados na conjuntivite de inclusão do adulto, mas o desenvolvimento do quadro clínico a distingue do tracoma. A conjuntivite palpebral primaveril é semelhante ao tracoma em seu estágio folicular hipertrófico, porém os sintomas são diferentes e papilas com superfície plana e leitosa estão presentes, ao passo que eosinófilos, ao contrário de corpos basofílicos de inclusão, são encontrados em raspados.
Tratamento
Alguns casos individuais ou esporádicos da inflamação tracomatosa-folicular podem ter indicação de tratamento tópico. Algumas vezes é possível fazer o tratamento tópico da inflamação tracomatosa, mas deve-se considerar o tratamento sistêmico. Para casos individuais ou esporádicos azitromicina 20 mg/kg (máximo 1 g), em dose única VO tem de 78 a 95% de eficácia. As alternativas são pomada de tetraciclina a 1% em ambos os olhos bid durante 6 semanas; doxiciclina 100 mg bid ou tetraciclina 250 mg qid durante 4 semanas. Em áreas hiperendêmicas, devem-se aplicar pomadas oftálmicas de tetraciclina ou eritromicina bid, por 5 dias consecutivos a cada mês, durante 6 meses. Reduções significativas no tracoma endêmico foram obtidas com o tratamento comunitário oral sistêmico com azitromicina em dose única ou em repetidas doses. A reinfecção por reexposição é comum em áreas endêmicas.
A Organização Mundial da Saúde aprovou um programa de 4 etapas para o controle do tracoma em áreas endêmicas. Esse programa é conhecido como SAFE e significa:
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Cirurgia para corrigir as deformidades palpebrais (p. ex., entrópio e triquiase) que colocam os pacientes em risco de cegueira
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Antibióticos para tratar pacientes individuais e administração de fármacos em massa para reduzir a carga da doença na comunidade
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Limpeza facial para reduzir a transmissão a partir de indivíduos infectados
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Melhoria ambiental (p. ex., acesso à água potável e saneamento melhorado) para reduzir a transmissão da doença e reinfecção dos pacientes
Pontos-chave
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O tracoma é uma doença crônica com exacerbação e remissão da conjuntivite por clamídia que é comum em crianças de 3 a 6 de idade em certas áreas atingidas pela pobreza no mundo todo.
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As manifestações se ocorrem em estágios e compreendem conjuntivite, formação de folículos tarsais, espessamento e cicatrização da conjuntiva tarsal, tiquíase, neovascularização e cicatrizes da córnea.
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Cerca de 5% dos pacientes desenvolvem diminuição da visão ou cegueira; o tracoma é principal causa de cegueira no mundo todo.
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O diagnóstico geralmente é clínico, mas métodos padrão para detectar a clamídia podem ser utilizados quando disponíveis.
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O tratamento costuma ser feito com azitromicina oral.
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Nas áreas endêmicas, a Organização Mundial de Saúde também defende a cirurgia corretiva e o uso de antibióticos, preconizando a limpeza da face e as intervenções ambientais para reduzir a transmissão.