Ototoxicidade induzida por fármacos

PorMickie Hamiter, MD, Tampa Bay Hearing and Balance Center
Reviewed ByLawrence R. Lustig, MD, Columbia University Medical Center and New York Presbyterian Hospital
Revisado/Corrigido: modificado out. 2025
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Visão Educação para o paciente

Uma ampla variedade de medicamentos pode ser ototóxica. Fatores relacionados a medicamentos que afetam a ototoxicidade incluem os seguintes:

  • Dose

  • Duração do tratamento

  • Insuficiência renal concomitante

  • Taxa de infusão

  • Dose por toda a vida

  • Coadministração com outros medicamentos que têm potencial ototóxico

  • Susceptibilidade genética

Medicamentos ototóxicos não devem ser utilizados para aplicação tópica quando a membrana timpânica tiver perfuração, pois os medicamentos podem se difundir para a orelha interna.

Aminoglicosídeos, incluindo o seguinte, podem afetar a audição:

  • A estreptomicina causa mais danos à porção vestibular do que à porção auditiva da orelha interna. Embora a vertigem e a dificuldade em manter o equilíbrio sejam geralmente temporárias, a perda grave da sensibilidade vestibular pode persistir, às vezes de forma permanente. A hiporreflexia vestibular provoca dificuldade para caminhar, especialmente no escuro, e oscilopsia (sensação de movimento do ambiente a cada passo). Alguns pacientes que recebem 1 g/dia durante > 1 semana desenvolvem perda de audição mensurável, o que geralmente acontece após período de curta latência (7 a 10 dias) e lentamente piora caso o tratamento seja continuado (1). Surdez completa e permanente pode acontecer.

  • A neomicina tem o maior efeito cocleotóxico de todos os antibióticos. Quando grandes doses são dadas por via oral ou por irrigação do colo para a esterilização intestinal, dose suficiente pode ser absorvida a ponto de afetar a audição, particularmente se há lesões da mucosa difusas do colo. Neomicina não deve ser utilizada para a irrigação de feridas, irrigação intrapleural ou intraperitoneal, pois grandes quantidades do medicamento podem ser retidas e absorvidas, causando surdez.

  • A canamicina e a amicacina são semelhantes à neomicina em potencial cocleotóxico e ambas são capazes de ocasionar perda de audição profunda permanente, poupando o equilíbrio.

  • Gentamicina e tobramicina causam principalmente toxicidade vestibular e coclear, respectivamente, provocando prejuízo no equilíbrio e na audição.

  • A vancomicina pode causar perda de audição, especialmente na presença de insuficiência renal.

Algumas mutações do DNA mitocondrial (p. ex., variantes no gene mitocondrial 12S rRNA [MT-RNR1]) predispõem à ototoxicidade por aminoglicosídeos (2).

Azitromicina, um macrolídeo, causa perda auditiva reversível ou irreversível em casos raros.

A viomicina, um peptídeo básico com propriedades antituberculosa tem tanto toxicidade coclear como vestibular.

Quimioterápicos (antineoplásicos), em particular aqueles contendo platina (cisplatina e carboplatina), podem produzir zumbido e perda auditiva. A perda auditiva pode ser profunda e permanente, ocorrendo imediatamente após a primeira dose, ou pode ocorrer até meses após a conclusão do tratamento. A perda auditiva neurossensorial ocorre bilateralmente, progride de modo gradual e é permanente.

Ácido etacrínico e furosemida administrados via intravenosa podem causar perda auditiva permanente, em pacientes com insuficiência renal que estavam recebendo antibióticos aminoglicosídios.

Salicilatos em altas doses (p. ex., aproximadamente 2 gramas de aspirina diariamente) induzem perda auditiva geralmente reversível e zumbido (3, 4).

Quinina e seus substitutos sintéticos podem provocar perda auditiva temporária.

(Ver também Perda auditiva.)

Referências

  1. 1. Selimoglu E. Aminoglycoside-induced ototoxicity. Curr Pharm Des. 2007;13(1):119-126. doi:10.2174/138161207779313731

  2. 2. Gaafar D, Baxter N, Cranswick N, Christodoulou J, Gwee A. Pharmacogenetics of aminoglycoside-related ototoxicity: a systematic review. J Antimicrob Chemother. 2024;79(7):1508-1528. doi:10.1093/jac/dkae106

  3. 3. Kyle ME, Wang JC, Shin JJ. Ubiquitous aspirin: a systematic review of its impact on sensorineural hearing loss. Otolaryngol Head Neck Surg. 2015;152(1):23-41. doi:10.1177/0194599814553930

  4. 4. Sheppard A, Hayes SH, Chen GD, Ralli M, Salvi R. Review of salicylate-induced hearing loss, neurotoxicity, tinnitus and neuropathophysiology. Acta Otorhinolaryngol Ital. 2014;34(2):79-93.

Prevenção da ototoxicidade induzida por fármacos

Antibióticos ototóxicos devem ser evitados durante a gestação porque podem danificar o labirinto fetal em desenvolvimento. Idosos e pessoas com perda auditiva preexistente não devem ser tratados com medicamentos ototóxicos, caso outros medicamentos eficazes estejam disponíveis. A menor dose eficaz dos medicamentos ototóxicos deve ser utilizada e os níveis devem ser cuidadosamente monitorados, especialmente quanto a aminoglicosídios (pico e níveis).

Se possível, antes do tratamento com um medicamento ototóxico, a audição deve ser avaliada e então monitorada durante o tratamento; os sintomas não são sinais de alerta confiáveis.

O risco de ototoxicidade aumenta com o uso de múltiplos medicamentos com potencial ototóxico, especialmente em pacientes com comprometimento renal que utilizam medicamentos ototóxicos excretados pelos rins; nesses casos, recomenda-se monitoramento mais rigoroso dos níveis dos medicamentos. Em pacientes em que sabe-se que têm mutações no DNA mitocondrial que predispõem à toxicidade dos aminoglicosídeos, deve-se evitar os aminoglicosídeos.

Pontos-chave

  • Medicamentos ototóxicos podem ser vestibulotóxicos e/ou cocleotóxicos; eles causam perda auditiva, desequilíbrio e/ou zumbido.

  • Medicamentos ototóxicos comuns incluem aminoglicosídios, quimioterapia à base de platina e altas doses de salicilatos.

  • Os sintomas podem ser transitórios ou permanentes.

  • Utilizar a menor dose possível de medicamentos ototóxicos e monitorar atentamente os níveis do medicamento (particularmente aminoglicosídeos); medir os níveis de medicamento durante o tratamento para ajudar a prevenir a perda auditiva causada por medicamentos ototóxicos.

  • Medicamentos que causam ou aumentam o risco de ototoxicidade devem ser interrompidos, se possível, mas não há tratamento específico uma vez que a ototoxicidade ocorre.

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