Causas de paralisia cerebral incluem danos cerebrais que podem ser provocados por falta de oxigênio ou de infecções e malformações cerebrais.
Os sintomas variam desde uma falta de coordenação motora quase imperceptível a uma dificuldade significativa em movimentar um ou mais membros, até paralisia e articulações tão rígidas que elas não conseguem ser movimentadas de forma alguma.
Algumas crianças com paralisia cerebral também têm deficiência intelectual, problemas comportamentais, dificuldade para ver ou ouvir e/ou transtornos convulsivos.
O diagnóstico é suspeitado quando as crianças demoram para aprender a andar ou a desenvolver outras habilidades motoras ou quando os músculos da criança são rígidos ou fracos.
Não há cura para a paralisia cerebral, mas fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia e, às vezes, medicamentos e/ou cirurgia podem ajudar as crianças a alcançarem seu potencial máximo.
A maioria das crianças com paralisia cerebral sobrevive até a idade adulta.
A paralisia cerebral (PC) afeta cerca de 2 a 3 em cada 1.000 bebês, especialmente bebês prematuros Recém-nascidos prematuros (pré-termo) O recém-nascido prematuro é aquele bebê que nasceu antes de 37 semanas de gravidez. Dependendo de quando ele nasça, o recém-nascido prematuro terá órgãos subdesenvolvidos que podem não estar... leia mais com menos de 28 semanas de gestação.
A paralisia cerebral não é uma doença. Ela é, na verdade, um conjunto de sintomas resultantes de malformações cerebrais ou danos às partes do cérebro que controlam os movimentos musculares (áreas motoras). Algumas vezes, as crianças com paralisia cerebral também apresentam anomalias em outras partes do cérebro. Os danos cerebrais que resultam na paralisia cerebral podem ocorrer durante a gestação, durante o nascimento, depois do nascimento ou na primeira infância. Uma vez ocorridos os danos cerebrais, eles não pioram, embora os sintomas possam mudar à medida que a criança cresce e amadurece. Se a disfunção muscular resultar de danos cerebrais após os dois anos de idade, esta não é considerada paralisia cerebral.
Causas de paralisia cerebral
Muitos tipos diferentes de malformações cerebrais e danos ao cérebro podem causar paralisia cerebral e, algumas vezes, ocorre o envolvimento de mais de uma causa.
Os problemas que ocorrem logo antes, durante e logo após o nascimento causam 15 a 20% dos casos. Esses problemas incluem a falta de oxigênio durante o parto, infecções e lesões cerebrais.
Infecções como a rubéola Rubéola A rubéola é uma infecção viral contagiosa que normalmente causa sintomas leves em crianças, como dor articular e erupção cutânea. A rubéola pode causar a morte de um feto ou defeitos congênitos... leia mais , toxoplasmose Toxoplasmose A toxoplasmose é uma infecção causada pelo parasita protozoário Toxoplasma gondii. A infecção ocorre quando as pessoas ingerem, sem saber, cistos de Toxoplasma provenientes de fezes de... leia mais , infecção pelo vírus Zika Infecção por vírus Zika A infecção por vírus Zika é uma infecção viral transmitida por mosquitos que, normalmente, não causa nenhum sintoma, mas pode causar febre, erupção cutânea, dor articular ou infecção da membrana... leia mais ou infecção por citomegalovírus Infecção por citomegalovírus (CMV) A infecção por citomegalovírus é uma infecção comum por herpesvírus com uma ampla gama de sintomas: desde nenhum sintoma a febre e cansaço (que lembra a mononucleose infecciosa) até sintomas... leia mais durante a gestação ocasionalmente resultam em paralisia cerebral. Algumas vezes, as malformações cerebrais que causam a paralisia cerebral resultam de anomalias genéticas.
Bebês prematuros Recém-nascidos prematuros (pré-termo) O recém-nascido prematuro é aquele bebê que nasceu antes de 37 semanas de gravidez. Dependendo de quando ele nasça, o recém-nascido prematuro terá órgãos subdesenvolvidos que podem não estar... leia mais são particularmente vulneráveis, possivelmente em parte porque os vasos sanguíneos em uma certa área do cérebro são finos e sangram com facilidade. Concentrações elevadas de bilirrubina no sangue podem dar origem a uma forma de lesão cerebral denominada querníctero Complicações da icterícia Icterícia é uma coloração amarela da pele e/ou olhos, causada por um aumento da bilirrubina na corrente sanguínea. A bilirrubina é uma substância amarela formada quando a hemoglobina (a parte... leia mais , que pode causar paralisia cerebral.
Durante os primeiros dois anos de vida, doenças graves, como a inflamação dos tecidos que revestem o cérebro (meningite Meningite em crianças A meningite bacteriana é uma infecção séria das camadas de tecido que recobrem o cérebro e a medula espinhal ( meninges). A meningite bacteriana em bebês mais velhos e crianças geralmente se... leia mais ), infecção grave na corrente sanguínea (sepse Sepse no recém-nascido Sepse é uma reação séria generalizada a uma infecção que se espalha pelo sangue. Recém-nascidos com sepse apresentam aspecto de mau estado geral, ou seja, apresentam-se apáticos, não se alimentam... leia mais ), lesões e desidratação Desidratação em crianças A desidratação é quando ocorre a perda de água pelo corpo, geralmente causada por vômitos e/ou diarreia. A desidratação ocorre quando há uma perda significativa de água do corpo, bem como a... leia mais grave podem causar lesões cerebrais e resultar em paralisia cerebral.
Sintomas de paralisia cerebral
Os sintomas da paralisia cerebral podem variar desde ser desajeitado a espasticidade grave, que contrai os braços e as pernas da criança e exige aparelhos de mobilidade como próteses, muletas e cadeiras de roda. Uma vez que outras partes do cérebro também podem ser afetadas pelo problema que causou a paralisia cerebral, muitas crianças com paralisia cerebral têm outras deficiências, como incapacidade intelectual Deficiência intelectual A deficiência intelectual é um funcionamento intelectual significativamente abaixo da média desde o nascimento ou período inicial da vida do bebê, causando limitações na capacidade de realizar... leia mais , problemas de comportamento, dificuldade em ver ou ouvir e transtornos convulsivos Convulsões em crianças Convulsões são perturbações periódicas da atividade elétrica do cérebro que resultam em algum grau de disfunção cerebral temporária. Quando bebês mais velhos ou crianças pequenas têm convulsões... leia mais .
Existem quatro principais tipos de paralisia cerebral:
Espástica
Atetoide (ou discinética)
Atáxica
Mista
Em todas as formas de paralisia cerebral, a fala pode ser difícil de compreender porque a criança tem dificuldade para controlar os músculos envolvidos na fala.
Paralisia cerebral espástica
Espasticidade é a rigidez muscular que impede o movimento normal.
A paralisia cerebral espástica é o tipo mais comum e ocorre em 80% das crianças com paralisia cerebral.
Nesse tipo, os músculos são rígidos (espásticos) e fracos. A rigidez pode afetar várias partes do corpo:
Os dois braços e as duas pernas (quadriplegia)
As pernas mais que os braços (diplegia)
Às vezes, apenas o braço ou a perna em um dos lados (hemiplegia)
Em casos raros, apenas as pernas e a parte inferior do corpo (paraplegia)
As pernas e os braços afetados são pouco desenvolvidos, bem como são rígidos e fracos. Algumas crianças podem andar em um movimento cruzado no qual uma perna se desloca à frente da outra (marcha em tesoura) e algumas podem andar apoiadas nos dedos dos pés.
Estrabismo, vesguice ou olho preguiçoso (estrabismo Estrabismo O estrabismo consiste em um desalinhamento intermitente ou constante de um olho, de maneira que sua linha de visão não aponta para o mesmo objeto que a do outro olho. Se não for tratado, o estrabismo... leia mais ) e outros problemas da visão podem ocorrer.
As crianças com tetraplegia espástica são as mais gravemente afetadas. Elas com frequência apresentam deficiência intelectual (por vezes grave), juntamente com convulsões e dificuldades para engolir. As crianças que têm dificuldades para engolir podem se engasgar com as secreções da boca e do estômago e inalar (aspirar) essas secreções. A aspiração dá origem a inflamação nos pulmões e causa dificuldades respiratórias. A aspiração repetida pode danificar permanentemente os pulmões.
Muitas crianças com diplegia ou hemiplegia espástica têm inteligência normal e são menos propensas a ter convulsões. Crianças com quadriplegia espástica podem ter deficiência intelectual grave.
Paralisia cerebral atetoide
Atetose são movimentos contorcidos involuntários.
A paralisia cerebral atetoide é o segundo tipo mais comum e ocorre em cerca de 15% das crianças com paralisia cerebral.
Nesse tipo, os braços, as pernas e o corpo se movem lentamente de forma espontânea e involuntária. Os movimentos também podem ser contorcidos, abruptos e espasmódicos. Emoções fortes agravam os movimentos e o sono faz com que eles desapareçam.
As crianças, em geral, têm uma inteligência normal e raramente têm convulsões.
Dificuldades na articulação das palavras de maneira clara são comuns e frequentemente graves. Se a causa for querníctero, as crianças afetadas são frequentemente surdas e têm dificuldade em olhar para cima.
Paralisia cerebral atáxica
Ataxia é dificuldade em controlar e coordenar os movimentos corporais, principalmente ao caminhar.
Paralisia cerebral atáxica é rara.
Nesse tipo, a coordenação é ruim e os músculos são fracos. Os movimentos ficam tremidos quando as crianças tentam alcançar um objeto (um tipo de tremor). As crianças têm dificuldade quando tentam se mover rapidamente ou fazer coisas que precisam de coordenação fina. Elas cambaleiam ao caminhar, com suas pernas bem abertas.
Paralisia cerebral mista
No tipo misto, dois dos tipos acima se combinam, mais frequentemente o espástico e o atetoide. Esse tipo ocorre em muitas crianças com paralisia cerebral.
Crianças com tipos mistos podem apresentar deficiência intelectual grave.
Diagnóstico de paralisia cerebral
Exame de diagnóstico por imagem do cérebro
Exames de sangue e, às vezes, exames da função nervosa e muscular
A paralisia cerebral é difícil de ser diagnosticada durante a primeira infância. Conforme o bebê amadurece, a demora em aprender a andar e a desenvolver outras habilidades motoras (desenvolvimento motor), espasticidade ou a falta de coordenação se tornam mais perceptíveis. O tipo específico de paralisia cerebral com frequência não pode ser distinguido antes de a criança atingir os dois anos de idade.
Se o médico suspeitar de paralisia cerebral, um exame de imagem é feito, normalmente a ressonância magnética (RM) Ressonância magnética (RM) Na ressonância magnética (RM), um forte campo magnético e ondas de rádio de muito alta frequência são utilizados para produzir imagens em alto grau de detalhe. A RM não usa raios X e é normalmente... leia mais . Ela normalmente consegue detectar anomalias que podem estar causando o sintoma.
O médico também faz perguntas sobre problemas durante a gestação ou parto e sobre como o desenvolvimento da criança está progredindo. Essas informações podem ajudar a identificar a causa.
Embora exames de laboratório não consigam identificar a paralisia cerebral, o médico pode fazer exames de sangue para identificar uma causa e para procurar por outros distúrbios.
Se a causa ainda permanecer incerta, ou se os problemas musculares parecerem estar piorando ou forem diferentes daqueles que costumam ser causados pela paralisia cerebral, os médicos podem recomendar outros exames, como estudos elétricos dos nervos (estudos de condução nervosa Estudos da condução nervosa Em algumas ocasiões, é necessário recorrer a procedimentos diagnósticos para confirmar o diagnóstico sugerido pelo histórico clínico e pelo exame neurológico. Os exames de imagem comumente usados... leia mais ) e dos músculos (eletromiografia Eletromiografia Em algumas ocasiões, é necessário recorrer a procedimentos diagnósticos para confirmar o diagnóstico sugerido pelo histórico clínico e pelo exame neurológico. Os exames de imagem comumente usados... leia mais ) e exames genéticos.
Tratamento de paralisia cerebral
Fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia
Aparelho ortodôntico
Toxina botulínica e outros medicamentos para reduzir a espasticidade
Às vezes, cirurgia
A paralisia cerebral não tem cura e seus problemas duram toda a vida. No entanto, os sintomas da paralisia cerebral podem ser tratados e muito pode ser feito para melhorar a mobilidade e a independência da criança. A meta é permitir que as crianças se tornem o mais independentes o possível.
Fisioterapia Fisioterapia (FT) Fisioterapia, um componente de reabilitação, consiste em exercitar e manipular o corpo com ênfase nas costas, nos braços e nas pernas. Pode melhorar a função articular e muscular, ajudar as... leia mais , terapia ocupacional Terapia ocupacional (TO) A terapia ocupacional, um componente da reabilitação, tem por objetivo melhorar a capacidade do indivíduo de realizar as atividades básicas de cuidados pessoais, as tarefas diárias e as atividades... leia mais e aparelhos ortopédicos podem melhorar o controle muscular e a marcha, principalmente quando a reabilitação é iniciada o quanto antes. A fonoaudiologia Reabilitação para distúrbios da fala Os serviços de reabilitação são necessários para pessoas que perderam a capacidade de falar normalmente, muitas vezes devido a uma lesão, um acidente vascular cerebral, uma infecção, um tumor... leia mais pode tornar a fala muito mais clara e ajudar também com os problemas de deglutição.
A terapia do movimento induzido pela restrição pode ajudar quando o distúrbio não afeta todos os membros. Neste tipo de terapia, o membro não afetado é restrito durante o horário em que a criança está acordada, exceto durante atividades específicas para que ela seja forçada a usar o membro afetado para executar as tarefas. Assim, novas vias para os impulsos nervosos podem ser formadas no cérebro, permitindo que a criança use melhor seu membro afetado.
Os terapeutas ocupacionais podem ajudar algumas crianças a aprender maneiras de compensar seus problemas musculares e, com isso, fazer as atividades diárias (como tomar banho, comer e vestir-se) por si mesmas. Os terapeutas podem ainda ensinar às crianças a usar dispositivos que as ajudam a realizar essas atividades.
Certos medicamentos podem ajudar. Quando a toxina botulínica é injetada nos músculos, eles têm menos capacidade de movimentar as articulações de maneira desigual e têm menos propensão de ficarem permanentemente repuxados (um quadro clínico denominado contraturas). Toxina botulínica, a toxina bacteriana que causa o botulismo, funciona paralisando os músculos injetados. É o mesmo medicamento vendido como Botox que é usado para tratar rugas. Outro medicamento pode ser injetado nos nervos que estimula os músculos afetados. Este medicamento causa um ligeiro dano aos nervos, diminuindo a tração do músculo na articulação.
Outros medicamentos usados para diminuir a espasticidade incluem baclofeno, benzodiazepínicos (como diazepam), tizanidina e, às vezes, dantroleno, todos eles tomados por via oral. Algumas crianças com espasticidade grave se beneficiam de uma bomba implantável que proporciona uma infusão contínua de baclofeno no líquido ao redor da medula espinhal.
Cirurgias podem ser realizadas para cortar ou alongar os tendões dos músculos rígidos que limitam o movimento. Além disso, o cirurgião pode conectar os tendões a uma parte diferente da articulação para equilibrar a movimentação da articulação. Algumas vezes, cortar certas raízes nervosas oriundas da medula espinhal (rizotomia dorsal) reduz a espasticidade e pode ajudar algumas crianças, especialmente aquelas que nasceram prematuras, desde que a espasticidade afete principalmente as pernas e o desenvolvimento mental seja bom.
Muitas crianças com paralisia cerebral crescem normalmente e podem frequentar de modo regular a escola, caso não apresentem incapacidades intelectuais graves. Outras precisam de fisioterapia intensiva, ensino especial e sofrem muitas limitações nas atividades diárias, de modo que necessitam de algum tipo de cuidado e assistência durante toda a vida. Contudo, mesmo crianças gravemente afetadas podem se beneficiar de ensino e treinamento, que aumentam sua independência e autoestima e reduzem bastante o ônus para os familiares ou outros cuidadores.
Informações e aconselhamento estão disponíveis para os pais, com o intuito de ajudá-los a entender o quadro clínico e o potencial da criança e os apoiar nos problemas à medida que eles surgirem. O cuidado carinhoso dos pais, juntamente com a assistência de instituições públicas e privadas, tais como instituições de saúde, organizações de saúde, como a United Cerebral Palsy [Associação Unida de Paralisia Cerebral], e organizações de reabilitação, podem ajudar a criança a atingir seu maior potencial.
Prognóstico de paralisia cerebral
O prognóstico depende em geral do tipo de paralisia cerebral e da sua gravidade. A maioria das crianças com paralisia cerebral sobrevive até a idade adulta. Somente as crianças mais gravemente afetadas – aquelas incapazes de qualquer tipo de cuidados pessoais ou de alimentar-se pela boca – têm uma expectativa de vida substancialmente mais curta.
Com tratamento e treinamento adequados, muitas crianças, especialmente aquelas com hemiplegia ou diplegia espástica, podem ter uma vida normal.
Mais informações
Os seguintes recursos em inglês podem ser úteis. Vale ressaltar que O MANUAL não é responsável pelo conteúdo desses recursos.
United Cerebral Palsy: Muitos recursos para pais e familiares, incluindo educação, tecnologia de apoio, segurança, viagens e transporte
Miller, F and Bachrach, SJ: Cerebral palsy: A complete guide for caregiving, ed. 3. Baltimore, John Hopkins University Press, 2017.