Os distúrbios da medula espinal podem causar graves incapacidades neurológicas permanentes. Para alguns pacientes, essas incapacidades podem ser evitadas ou reduzidas, se a avaliação e o tratamento forem rápidos.
Anatomia da medula espinal
A medula vertebral se estende caudalmente a partir da medula no forame magno e termina na vértebra lombar superior, geralmente entre L1 e L2, onde forma o cone medular. Na região lombossacral, as raízes nervosas do segmento inferior da medula descem para dentro da coluna vertebral em um feixe quase vertical, formando a cauda equina.
A substância branca na periferia da medula contém tratos ascendentes e descendentes de fibras sensoriais mielinizadas e fibras nervosas motoras. A substância cinzenta central, em forma de H, é composta de corpos celulares e fibras não mielinizadas (ver figura Nervo espinhal Nervo espinhal ). Os cornos anteriores (ventrais) do “H” contêm os neurônios motores inferiores, que recebem impulsos do córtex motor por meio dos tratos corticoespinais descendentes; e no nível local, dos neurônios internunciais e fibras aferentes dos fusos musculares. Os axônios dos neurônios motores inferiores são as fibras eferentes dos nervos espinais. Os cornos posteriores (dorsais) contêm fibras sensoriais que se originam nos corpos celulares dos gânglios das raízes dorsais. A substância cinzenta também contém vários neurônios internunciais que transmitem impulsos sensoriais, motores ou reflexos entre as raízes nervosas dorsais e ventrais, de um lado da medula para outro e de um nível da medula para outro.
Os tratos espinotalâmicos transmitem sensações de dor e temperatura contralateralmente na medula espinal; a maior parte dos outros tratos transmite informações ipsolateralmente. A medula é dividida em segmentos funcionais (níveis), correspondendo aproximadamente à ligação dos 31 pares de raízes de nervos espinais.
Nervo espinhal
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Etiologia dos distúrbios da medula espinhal
Distúrbios da coluna espinhal geralmente resultam de condições extrínsecas à medula, como os seguintes:
Com menos frequência, as doenças são intrínsecas da medula. Doenças intrínsecas são infarto da medula espinal Infarto da medula espinal O infarto da medula espinal normalmente resulta de isquemia originada em uma artéria extravertebral. Os sintomas são dor intensa e súbita no dorso, seguida imediatamente de fraqueza flácida... leia mais , hemorragia, mielite transversa Mielite transversa aguda A mielite transversa aguda é a inflamação aguda das substâncias cinzenta e branca, em um ou mais segmentos adjacentes da medula espinal, geralmente torácicos. As causas incluem esclerose múltipla... leia mais , infecção pelo HIV, infecção pelo vírus da pólio Poliomielite Poliomielite é uma infecção aguda causada por um poliovírus (um enterovírus). As manifestações incluem doença leve e inespecífica (poliomielite abortiva); algumas vezes, meningites assépticas... leia mais , infecção pelo vírus do Nilo Ocidental, sífilis (que pode causar tabes dorsalis Sífilis terciária ou tardia ), covid-19 Covid-19 A covid-19 é uma doença respiratória causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2. A infecção pode ser assintomática ou apresentar sintomas que variam desde sintomas respiratórios superiores leves... leia mais , trauma Trauma espinal Trauma na medula pode produzir lesões envolvendo as medulas espinal, vertebral ou ambas. Ocasionalmente, os nervos medulares são afetados. A anatomia da coluna vertebral é revisada em outro... leia mais , deficiência de vitamina B12 Deficiência de vitamina B12 A deficiência de vitamina B12 na dieta geralmente resulta de absorção inadequada, mas pode ocorrer em vegetarianos que não consomem suplementos vitamínicos. A deficiência causa anemia megaloblástica... leia mais (que causa degeneração combinada subaguda Degeneração combinada subaguda A degeneração subaguda combinada se refere a alterações degenerativas no sistema nervoso decorrentes de deficiência de vitamina B12; as alterações degenerativas afetam principalmente a substância... leia mais ), doença da descompressão Doença da descompressão A doença da descompressão ocorre quando rápida redução da pressão (p. ex., durante a subida de um mergulho, saída de uma cápsula ou câmara hiperbárica ou subida para altitude) causa gás previamente... leia mais , lesão por raios Lesões por raios Tais danos compreendem parada cardíaca, perda de consciência e deficiências neurológicas temporárias ou permanentes, sendo raras queimaduras graves e lesões dos tecidos internos. O diagnóstico... leia mais [que pode causar queraunoparalisia Sinais e sintomas (paralisia parcial e deficits sensoriais com isquemia)], radioterapia (que pode causar mielopatia), siringomielia Siringe da medula vertebral ou tronco encefálico Siringe é uma cavidade preenchida por líquido dentro da medula espinal (siringomielia) ou no tronco encefálico (siringobulbia). Os fatores predisponentes incluem anormalidades da junção craniocervical... leia mais e tumores da coluna espinhal Tumores espinhais Tumores espinhais podem se desenvolver no parênquima da medula, destruindo diretamente o tecido, ou fora do parênquima, geralmente comprimindo a medula e as raízes nervosas. Os sinais e sintomas... leia mais . Malformações arteriovenosas Malformações arteriovenosas na medula espinal As malformações arteriovenosas no interior e ao redor da medula espinal podem causar compressão da medula, isquemia, hemorragia no parênquima, hemorragia subaracnoidea ou uma associação desses... leia mais podem ser extrínsecas ou intrínsecas. A deficiência de cobre Deficiência de cobre O cobre (Cu) é um componente de várias proteínas corporais; quase todo o cobre do corpo está ligado a proteínas do cobre. Deficiência de cobre pode ser adquirida ou hereditária. (Ver também... leia mais pode resultar em mielopatia semelhante à causada por deficiência de vitamina B12.
As raízes de nervos espinhais Distúrbios de raiz nervosa Os distúrbios de raiz nervosa resultam em sintomas radiculares segmentares previsíveis (dor ou parestesias na distribuição de um dermátomo, fraqueza nos músculos inervados pela raiz). O diagnóstico... leia mais fora da medula espinal também podem ser lesadas.
Sinais e sintomas dos distúrbios da medula espinhal
As disfunções neurológicas decorrentes de doenças da medula vertebral se desenvolvem no segmento da medula espinal envolvido (ver tabela Efeitos motores e reflexos da disfunção da medula espinal por segmentos Efeitos motores e reflexos da disfunção da medula espinal por segmentos ) e nos segmentos abaixo dele. A exceção é a síndrome medular central (ver tabela Síndromes da medula espinal Síndromes da medula espinal ), que pode poupar esses segmentos abaixo.
As doenças da medula espinal causam vários padrões de deficits, dependendo de quais são os tratos nervosos, no interior ou nas raízes nervosas externas da medula espinal, que foram lesionados. As doenças que afetam os nervos espinais, mas não afetam diretamente a medula, causam anormalidades sensoriais, motoras ou ambas em áreas inervadas por esses nervos espinais.
Disfunção da medula espinal causa
Paresia
Perda da sensibilidade
Alterações reflexas
Disfunção autonômica (p. ex., disfunção vesical, intestinal e erétil; perda de suor)
A disfunção pode ser parcial (incompleta). As anormalidades autonômicas e reflexas são geralmente os sinais mais conclusivos de disfunção medular; as alterações sensoriais são as menos objetivas.
As lesões dos tratos corticoespinais causam disfunção do neurônio motor superior. A lesão aguda, grave (p. ex., infarto, lesão traumática), causa choque medular com paralisia flácida (diminuição do tônus muscular, hiporreflexia e ausência de resposta extensora plantar). Após dias ou semanas, evolui para paresia espástica (aumento do tônus muscular, hiper-reflexia e clônus). As respostas extensoras plantares e a disfunção autonômica estão presentes. A paresia flácida com duração superior a algumas semanas sugere lesões do neurônio motor inferior (p. ex., síndrome de Guillain-Barré Síndrome de Guillain-Barré (SGB) A síndrome de Guillain-Barré é uma polineuropatia inflamatória aguda, geralmente rapidamente progressiva, mas autolimitada, caracterizada por fraqueza muscular e perda sensorial distal leve... leia mais ).
Síndromes medulares específicas são (ver tabela Síndromes da medula espinal Síndromes da medula espinal ):
Mielopatia transversa
Síndrome de Brown-Séquard
Síndrome medular central
Síndrome medular anterior
Síndrome de cone medular
A síndrome da cauda equina Síndrome da cauda equina A síndrome da cauda equina ocorre quando as raízes nervosas na extremidade caudal da medula são comprimidas ou danificadas, interrompendo as vias motoras e sensoriais dos membros inferiores... leia mais , que envolve lesão nas raízes nervosas na porção caudal da medula, não é uma síndrome da medula espinal. Entretanto, mimetiza a síndrome do cone medular, causando paresia da perna e perda sensitiva envolvendo as raízes nervosas afetadas (muitas vezes na área em sela), bem como disfunções vesicais, intestinais e pudendas.
Diagnóstico dos transtornos medulares
RM
Os deficits neurológicos em níveis segmentares sugerem doenças da medula espinal. Deficits similares, em especial se forem unilaterais, podem resultar de doenças de raízes nervosas ou dos nervos periféricos, que geralmente podem ser clinicamente diferenciadas. O nível e o padrão de disfunção da medula vertebral ajudam a determinar a presença e a localização de uma lesão da medula espinal, mas nem sempre o tipo de lesão.
O exame de imagem mais preciso para doenças de medula vertebral e medula espinal é a RM, que mostra o parênquima da medula espinal, lesões de tecidos moles (p. ex., abscessos, hematomas, tumores e discos intervertebrais) e lesões ósseas (p. ex., erosão, alterações hipertróficas graves, colapso, fratura, subluxação).
A mielografia com contraste radiopaco, seguida de TC, é utilizada com menos frequência. Não é tão precisa quanto a RM e é mais invasiva, mas pode estar disponível mais rapidamente e pode ser necessária para pacientes que não podem fazer RM (p. ex., por causa de marca-passo permanente).
As radiografias simples podem ajudar a detectar lesões ósseas.
Tratamento dos distúrbios da medula espinhal
Tratamento da causa quando possível
Prevenção de complicações
Fisioterapia e terapia ocupacional
Se sintomas de uma doença da medula espinal (p. ex., plegia, perda da sensibilidade) ocorrem repentinamente, é necessário tratamento de emergência.
Se possível, tratar ou corrigir a causa.
Medidas para prevenir problemas decorrentes co repouso no leito Efeitos do repouso em leito Um hospital pode prestar cuidados médicos emergenciais, testes diagnósticos, tratamentos intensivos ou cirúrgicos, que podem ou não necessitar a internação. Os idosos utilizam mais os hospitais... leia mais são essenciais se os pacientes têm paralisia ou estão restritos ao leito.
A perda extensa das funções corporais pode ser devastadora e causar depressão e baixa autoestima. O aconselhamento formal pode ajudar os pacientes a lidar com a perda da função e prepará-los para a reabilitação.
A reabilitação Lesão da medula espinal A reabilitação visa facilitar a recuperação da perda de função. (Ver também Visão geral da reabilitação.) Pacientes com artrites podem se beneficiar de atividades e exercícios para aumentar... leia mais é mais bem administrada por uma equipe interdisciplinar (enfermeiro, fisioterapeuta Fisioterapia (FT) O objetivo da fisioterapia é melhorar a função articular e muscular (p. ex., amplitude de movimento, força) e assim melhorar a capacidade do paciente de permanecer em pé, se equilibrar, andar... leia mais , terapeuta ocupacional Terapia ocupacional (TO) A terapia ocupacional (TO) enfoca as atividades de autocuidado e melhora da coordenação motora fina de músculos e articulações, em particular nos membros superiores. Ao contrário da fisioterapia... leia mais , assistente social, nutricionista, psicólogo, conselheiro); a equipe também inclui o paciente e seus familiares.