Etiologia
A dermatose aguda febril neutrofílica pode ocorrer em várias doenças. Costuma ser classificada em 3 categorias:
Clássica
Associada a câncer
Induzida por fármacos
Doenças e fármacos associados à dermatose aguda febril neutrofílica
Classificação | Doença/fármaco |
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Clássico | Doença respiratória aguda Infecção gastrointestinal Inflamação e doenças autoimunes Gestação |
Associada a câncer | |
Induzido por fármacos | Fator estimulante de colônias de granulócitos (G-CSF, a causa associada a fármacos mais comum) Antibióticos (como minociclina e sulfa-metoxazol/trimetoprima) Fármacos anticâncer Anticonvulsivantes Outras (p. ex., abacavir, furosemida, hidralazina, AINEs, contraceptivos orais, retinoides) |
Cerca de 25% dos pacientes têm uma neoplasia subjacente, 75% deles são de origem hematológica, especialmente síndromes mielodisplásicas Síndrome mielodisplásica (SMD) A síndrome mielodisplásica (SMD) é um grupo de distúrbios clonais das células-tronco hematopoiéticas caracterizados por citopenia periférica, displasia de progenitores hematopoiéticos, hipercelularidade... leia mais e leucemia mieloide aguda Leucemia mieloide aguda (LMA) Na leucemia mieloide aguda (LMA), a transformação maligna e a proliferação não controlada de uma célula progenitora mieloide de longa vida anormalmente diferenciada resultam em números circulantes... leia mais . A dermatose frequentemente precede o diagnóstico de câncer. A dermatose febril neutrofílica aguda clássica afeta principalmente as mulheres de 30 a 50 anos, com uma razão mulher:homem de 3:1. Nos homens, a idade tende a ser mais avançada (60 a 90 anos). Em crianças com menos de 3 anos, a proporção homens:mulheres é de 2:1.
A causa da dermatose neutrofílica febril aguda é desconhecida; entretanto, as citocinas de células T helper de tipo 1, incluindo a IL-2 e o interferon- gama, são predominantes e podem atuar na formação das lesões.
Sinais e sintomas
Os pacientes têm febre, contagem dos neutrófilos elevada e pápulas ou placas de cor entre vermelha e violeta, dolorosas e sensíveis, mais comumente na face, pescoço e membros superiores, sobretudo no dorso das mãos. Lesões orais também são observadas. As lesões muitas vezes evoluem em surtos e podem parecer anulares. Normalmente, cada surto é precedido por febre, persistindo por dias ou semanas. Raramente, também estão presentes lesões bolhosas ou pustulosas.
As variantes menos comuns incluem uma forma bolhosa que pode ulcerar e lembram um pioderma gangrenoso Pioderma gangrenoso O pioderma gangrenoso é uma doença crônica, progressiva, neutrofílica com necrose da pele, de etiologia desconhecida, geralmente associada a doenças sistêmicas ou, às vezes, a lesões da pele... leia mais e uma forma subcutânea envolvendo a gordura subcutânea que tipicamente tem nódulos eritematosos de 2 a 3 cm, comumente afetando as extremidades. Quando nos membros inferiores, essa forma pode lembrar um eritema nodoso Eritema nodoso Eritema nodoso é uma forma específica de paniculite caracterizada por nódulos subcutâneos sensíveis, de cor vermelha ou violácea, e palpáveis, na região anterior das pernas e, ocasionalmente... leia mais .
Manifestações extracutâneas são raras e podem acometer os olhos (p. ex., conjuntivite Visão geral da conjuntivite A inflamação da conjuntiva é tipicamente decorrente de infecção, alergia ou irritação. Sintomas são hiperemia conjuntival e edema ocular e, dependendo da etiologia, prurido e desconforto. O... leia mais , episclerite Episclerite Episclerite é inflamação autolimitada, recorrente e, geralmente, idiopática do tecido episcleral que não ameaça a visão. Os sintomas são uma área localizada da hiperemia, irritação e lacrimejamento... leia mais , iridociclite), articulações (p. ex., artralgia, mialgia, artrite) e órgãos internos (p. ex., alveolite neutrofílica; osteomielite estéril; alterações psiquiátricas ou neurológicas; insuficiência pancreática, renal ou hepática transitória).
Diagnóstico
Avaliação clínica
Biópsia cutânea
Sugere-se o diagnóstico de dermatose neutrofílica febril aguda pela aparência das lesões; o diagnóstico é sustentado pela presença de condições ou fármacos associados. O diagnóstico diferencial pode incluir eritema polimorfo Eritema multiforme O eritema multiforme é uma reação inflamatória, caracterizada por lesões de pele em “íris” ou em “alvo”. A mucosa oral pode estar envolvida. O diagnóstico é clínico. As lesões regridem de forma... leia mais , eritema elevado e diutino, lúpus eritematoso cutâneo agudo Lúpus eritematoso cutâneo subagudo (LECS) O lúpus eritematoso sistêmico é um distúrbio inflamatório, crônico e multissistêmico, de provável etiologia autoimune e que ocorre predominantemente em mulheres jovens. As manifestações comuns... leia mais , pioderma gangrenoso Pioderma gangrenoso O pioderma gangrenoso é uma doença crônica, progressiva, neutrofílica com necrose da pele, de etiologia desconhecida, geralmente associada a doenças sistêmicas ou, às vezes, a lesões da pele... leia mais e eritema nodoso Eritema nodoso Eritema nodoso é uma forma específica de paniculite caracterizada por nódulos subcutâneos sensíveis, de cor vermelha ou violácea, e palpáveis, na região anterior das pernas e, ocasionalmente... leia mais .
Se o diagnóstico não estiver claro, deve-se fazer biópsia da pele Biópsia Os exames diagnósticos são indicados quando a causa da doença ou da lesão de pele não é evidente somente por história e exame físico. Esses incluem Teste de contato Biópsia Raspados Exame por... leia mais . A histopatologia demonstra edema na derme superior, com denso infiltrado de neutrófilos na derme. Pode haver vasculite secundária.
Também realiza-se um hemograma completo (HC). Se o hemograma está anormal, deve-se considerar uma biópsia da medula óssea para diagnosticar um câncer oculto.
Tratamento
Corticoides sistêmicos
O tratamento da dermatose neutrofílica febril aguda envolve corticoides sistêmicos, principalmente prednisona 0,5 a 1,5 mg/kg por via oral, uma vez ao dia, gradualmente reduzidos ao longo de aproximadamente 3 semanas. Colchicina, 0,5 mg por via oral 3 vezes ao dia, ou iodeto de potássio, 300 mg por via oral 3 vezes ao dia, são os tratamentos alternativos. Antipiréticos também são recomendados.
Nos casos difíceis, dapsona, 100 a 200 mg por via oral uma vez ao dia, indometacina 150 mg por via oral uma vez ao dia, durante 1 semana seguida por 100 mg/dia por via oral por mais 2 semanas, clofazimina (p. ex., 200 mg por via oral uma vez ao dia por 4 semanas, então 100 mg/dia, por 4 semanas) ou ciclosporina (p. ex., 2 a 4 mg/kg, por via oral 2 vezes ao dia) pode ser administrados. Outros tratamentos utilizados para doenças refratárias incluem infliximabe, etanercepte, talidomida, minociclina e micofenolato mofetil.
Para envolvimento localizado, corticoides intralesionais (p. ex., acetonida de triancinolona) podem ajudar.
Pontos-chave
A dermatose neutrofílica febril aguda pode ocorrer em pacientes com certas doenças (forma clássica) ou que tomam fármacos específicos (forma induzida por fármacos), mas cerca de 25% dos pacientes têm câncer subjacente (forma associada a cânceres), geralmente câncer hematológico.
Diagnosticar a dermatose neutrofílica febril aguda com base na aparência das lesões e na presença de uma doença ou fármaco associado, e confirmar com biópsia quando necessário.
Tratar a maioria dos pacientes com corticoides sistêmicos ou, alternativamente, com colchicina ou iodeto de potássio.