Violência doméstica

(Violência de parceiro íntimo)

PorErin G. Clifton, PhD, University of Michigan
Revisado/Corrigido: jul 2022
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A violência doméstica é o abuso físico, sexual ou psicológico entre pessoas que vivem juntas. Ela inclui violência contra o parceiro íntimo, que diz respeito ao abuso físico, sexual ou psicológico por um parceiro sexual ou cônjuge atual ou ex-parceiro ou cônjuge.

  • Os resultados podem ser lesões físicas, problemas psicológicos, isolamento social, perda de trabalho, dificuldades financeiras e até mesmo a morte.

  • É possível que o médico suspeite de presença de violência doméstica com base nas lesões, sintomas inconsistentes ou enigmáticos ou o comportamento da vítima e/ou do parceiro da vítima.

  • Manter a segurança, por exemplo, ter um plano de fuga, é a consideração mais importante.

A violência doméstica pode ocorrer entre crianças e pais ou responsáveis, avós ou irmãos, bem como entre parceiros íntimos. Ela ocorre entre pessoas de todas as culturas, raças, orientações sexuais, gêneros, profissões, níveis de renda, níveis de educação, crenças religiosas e idades.

As mulheres são com mais frequência vítimas de violência doméstica que os homens. Aproximadamente 95% das pessoas que procuram assistência médica devido à violência doméstica são mulheres.

Aproximadamente uma em cada quatro mulheres e aproximadamente um em cada dez homens já sofreram violência sexual, violência física e/ou perseguição por um parceiro íntimo. As mulheres são mais suscetíveis a serem gravemente agredidas ou assassinadas pelo parceiro masculino que por qualquer outra pessoa. Todos os anos nos Estados Unidos, aproximadamente dois milhões de mulheres são gravemente espancadas pelo parceiro.

Nos Estados Unidos, a violência doméstica é tão prevalente (ou mais prevalente) entre mulheres lésbicas e bissexuais, homens homossexuais e bissexuais e pessoas transgêneros quanto na população geral.

Durante a pandemia da COVID-19, a violência doméstica se tornou mais comum em muitos países. Os motivos provavelmente incluem estresse devido à perda de renda e perda de contato com outras pessoas. Além disso, as pessoas que sofriam abusos com frequência não conseguiam escapar para um abrigo ou outro lugar seguro.

Você sabia que...

  • A violência doméstica pode acontecer com qualquer pessoa.

  • Nos Estados Unidos, aproximadamente uma em cada quatro mulheres e aproximadamente um em cada dez homens já sofreram violência física, violência sexual ou perseguição por um parceiro íntimo.

  • O parceiro que pratica o abuso talvez tente controlar a vítima, limitando seu acesso a dinheiro e a outras pessoas mesmo por telefone ou e-mail.

Abuso físico

O abuso físico é a forma mais óbvia de violência doméstica. Pode incluir bater, esbofetear, chutar, esmurrar, fraturar ossos, puxar o cabelo, empurrar, torcer braços, empurrar com força contra algum objeto, esganar, sufocar, dar uma surra ou queimar. A vítima talvez seja privada de comer ou dormir. Armas, como revólver ou faca, podem ser usadas para ameaçar ou causar ferimentos.

Agressão sexual

Muitas pessoas que são agredidas fisicamente pelos parceiros também são vítimas de agressão sexual por eles (consulte Estupro e agressão sexual). A agressão sexual é qualquer tipo de atividade sexual ou contato com o qual a pessoa não consinta, incluindo toque indesejado, agarrar, beijar e estupro. Se a atividade sexual ocorrer sem consentimento, ela é considerada agressão sexual, mesmo que ocorra entre pessoas que tiveram relações sexuais consensuais antes ou depois da agressão. A agressão sexual pode envolver o uso de ameaças ou força para coagir o contato sexual, ou é possível que o agressor dê bebidas alcoólicas ou drogas à vítima. Ela pode causar lesão ou doença física ou trauma psicológico.

Abuso psicológico

O abuso psicológico é muito comum. Ele pode começar antes ou simultaneamente ao abuso físico ou sexual. O abuso psicológico envolve qualquer comportamento não físico que debilita ou menospreza a vítima ou que permite ao agressor controlar a vítima. O abuso psicológico pode incluir

  • Palavrões

  • Isolamento social

  • Controle financeiro

Normalmente, o agressor usa palavras de baixo calão para rebaixar, degradar, humilhar, intimidar ou ameaçar a vítima em particular ou em público. O agressor pode fazer a vítima pensar que sua percepção da realidade está incorreta e que ela está louca (uma forma de abuso mental chamada “gaslighting”) ou fazê-la sentir-se culpada pelo relacionamento abusivo. O agressor também pode humilhar a vítima em termos de seu desempenho sexual, aparência física ou ambos.

O agressor pode tentar isolar parcial ou totalmente a vítima, controlando seu acesso aos amigos, parentes e outras pessoas. O controle talvez inclua proibir o contato com outras pessoas, diretamente ou por escrito, por telefone, por e-mail, por mensagens de texto ou por meio de mídia social. É possível que o agressor use o ciúme para justificar essas ações. É possível que o agressor convença a vítima de que sua família e amigos não podem nem irão ajudá-la e, com isso, isole ainda mais a vítima.

Muitas vezes, o agressor retém o dinheiro para controlar a vítima. É possível que a vítima dependa (parcial ou totalmente) do dinheiro do agressor. É possível que o agressor mantenha o controle ao impedir que a vítima consiga um emprego, ocultando informações sobre sua situação financeira e tirando o dinheiro da vítima.

O agressor pode também impedir que a vítima receba cuidados médicos.

Abuso por meio de recursos tecnológicos

É possível que o agressor utilize recursos tecnológicos (por exemplo, mídia social) para postar vídeos da vítima ou assediar, monitorar, isolar, punir, ameaçar e/ou humilhar a vítima. Além disso, os agressores frequentemente monitoram os aparelhos da vítima, muitas vezes sem o conhecimento dela.

O comportamento do agressor após o abuso

Após uma ocorrência de abuso, é possível que o agressor peça perdão e prometa mudar e parar o comportamento abusivo. No entanto, normalmente o abuso continua e muitas vezes se agrava.

Os ataques de violência do agressor tendem a ser episódicos e imprevisíveis. Assim, a vítima talvez viva em temor quase constante do próximo ataque.

Motivos que fazem com que as vítimas permaneçam em um relacionamento abusivo

Frequentemente, a vítima não deixa o relacionamento abusivo. Os motivos podem incluir

  • Sentir-se dependente do agressor para ter dinheiro

  • Sentir-se sozinha, sem ninguém para ajudar

  • Ter medo que fazer planos ou tentar deixar o relacionamento vai desencadear uma violência ainda mais intensa

  • Ter medo do que o agressor vai fazer depois que ela deixar o relacionamento (por exemplo, assediá-la ou machucar os filhos, outra pessoa da família ou um animal de estimação)

  • Acreditar que o agressor vai mudar (por exemplo, porque ele promete fazê-lo)

  • Continuar a amar o agressor

  • Acreditar que o abuso pode ser normal (por exemplo, devido a experiências anteriores)

Efeitos da violência doméstica

A vítima de violência doméstica pode sofrer lesões físicas. As lesões físicas podem incluir hematomas, olhos pretos, cortes, arranhões, ossos quebrados, dentes quebrados e queimaduras. As lesões podem vir a interferir na capacidade da vítima de trabalhar. Assim, pode ocorrer perda de renda. As lesões, bem como a situação de abuso, talvez causem constrangimento à vítima, fazendo com que ela se isole da família e dos amigos.

A vítima pode apresentar sintomas que não têm causas físicas evidentes. Esses sintomas podem incluir dores de cabeça, dor abdominal ou pélvica e fadiga.

Muitas vítimas também contraem infecções sexualmente transmissíveis e têm problemas durante a gravidez.

É possível que a vítima precise se mudar com frequência, o que representa um ônus financeiro, para conseguir escapar do agressor.

Às vezes, o agressor mata a vítima.

Você sabia que...

  • A vítima de violência doméstica pode ter depressão, ansiedade ou cometer o abuso de drogas ou de álcool.

  • O maior risco de a mulher sofrer dano grave ocorre depois que o parceiro fica sabendo que ela decidiu deixar o relacionamento.

A violência doméstica faz com que muitas vítimas tenham problemas psicológicos, tais como depressão, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), transtornos alimentares e/ou abuso de substâncias. O abuso físico mais grave está geralmente relacionado a problemas psicológicos mais graves. A violência doméstica pode também piorar os sintomas de transtornos mentais pré-existentes.

Mesmo quando o abuso físico diminui, o abuso psicológico frequentemente continua, relembrando à vítima de que ela pode sofrer abuso físico em qualquer momento. O abuso psicológico pode ser mais prejudicial que o abuso físico. O abuso psicológico aumenta o risco de depressão e o abuso de drogas.

Crianças que presenciam violência doméstica

Uma em cada 15 crianças é exposta a violência de parceiro íntimo todo ano e 90% dessas crianças são testemunhas oculares dessa violência. Essas crianças podem vir a ter problemas como, por exemplo:

  • Ansiedade ou choro excessivo

  • Temor

  • Dificuldade em dormir

  • Depressão

  • Reclusão social

  • Dificuldade na escola

Além disso, elas também podem se culpar pela situação.

Crianças mais velhas podem fugir de casa. As crianças que veem um dos pais abusar do outro podem ser mais propensas a se tornarem adultos abusivos ou mais propensas a tolerar o abuso na idade adulta.

O agressor também pode causar danos físicos às crianças. Em casas onde há violência doméstica, as crianças são muito mais propensas a sofrerem maus-tratos físicos.

Avaliação da violência doméstica

  • Avaliação médica

É possível que o médico suspeite de presença de violência doméstica com base nas lesões, sintomas inconsistentes ou enigmáticos ou no comportamento da vítima e/ou do parceiro. Alternativamente, a vítima pode denunciar o abuso.

Se o médico suspeitar de violência doméstica, é possível que ele pergunte à pessoa se ela se sente segura em seu relacionamento e em casa. Muitos especialistas recomendam que os profissionais da saúde façam perguntas sobre violência doméstica a todas as pessoas.

Se houver suspeita de violência doméstica, o médico tenta determinar se a vítima pode retornar com segurança à sua casa antes de deixar a clínica. A segurança pode ser duvidosa nas seguintes circunstâncias:

  • A vítima ameaçou deixar o relacionamento.

  • A violência vem aumentando.

  • O parceiro tem acesso a armas.

  • O parceiro já ameaçou matar ou machucar a vítima.

Se a violência doméstica for confirmada, o médico é obrigado a documentar a evidência de abuso, frequentemente fotografando as lesões. Essa documentação pode ser usada para dar respaldo a um processo jurídico contra o agressor.

Controle da violência doméstica

  • Criar um plano de segurança

  • Procurar ajuda quando for necessário

O abuso nunca é justificável. Existe apoio à disposição da vítima independentemente de ela decidir continuar ou sair de um relacionamento abusivo.

Nos casos de violência doméstica, o mais importante é a segurança. Caso possível, durante um incidente violento, a vítima deve tentar se afastar de áreas em que ela possa ficar aprisionada ou em que o agressor possa apanhar armas, como facas numa cozinha. Se conseguir, a vítima deve ligar imediatamente para o serviço de emergência ou para a polícia e sair de casa.

A vítima deve ter todos os ferimentos tratados e documentados com fotografias. A vítima deve ensinar aos seus filhos para não se intrometerem em uma briga e quando e como pedir ajuda.

É extremamente importante criar um plano de segurança. Ele deve incluir

  • Aonde ir para procurar ajuda (a vítima deve ter à sua disposição vários possíveis lugares para ir e pessoas que podem ser chamadas)

  • Como escapar (frequentemente inclui dar a impressão de que vai fazer uma atividade rotineira que envolve sair de casa, como sair para fazer compras ou passear o cachorro)

  • Como ter acesso a dinheiro (incluindo esconder dinheiro e abrir uma conta bancária em separado e, se possível, um cartão de crédito)

A vítima também deve fazer e esconder cópias de documentos oficiais (como certidões de nascimento dos filhos, carteiras de seguridade social, cartões de seguro e números de contas bancárias). Ela deve manter uma bolsa noturna preparada e escondida caso precise deixar a casa rapidamente.

Às vezes, a única solução é deixar o relacionamento abusivo permanentemente, porque a violência doméstica tende a continuar, especialmente entre agressores muito violentos. Além disso, mesmo quando o abuso físico diminui, o abuso psicológico pode persistir.

A decisão de deixar o relacionamento não é simples nem fácil. Com frequência, a vítima sente que não conseguirá deixar um relacionamento abusivo por muitos motivos, incluindo ter medo do que o agressor fará depois que ela tiver deixado ou depender financeiramente do agressor.

Depois que o agressor fica sabendo que a vítima decidiu deixar o relacionamento, o risco para a vítima de dano grave e morte pode aumentar. Nessa época, a vítima deve tomar medidas adicionais para proteger a si mesma e seus filhos. Por exemplo, ela pode obter uma medida liminar de afastamento ou de proteção, embora essa medida não garanta a segurança da vítima.

Ajuda está disponível em abrigos para mulheres maltratadas, grupos de apoio, tribunais e uma linha direta nacional (1-800-799-SAFE ou, para deficientes auditivos (TTY), 1-800-787-3224). A Linha Direta Nacional de Violência Doméstica também tem opções de conversa por mensagens caso a vítima não possa falar com segurança. A vítima deve procurar ajuda mesmo se o abuso não for grave. Procurar ajuda não causa necessariamente problemas para o parceiro. Informações sobre o uso de tecnologia com segurança estão disponíveis na internet.

Mais informações

Seguem alguns recursos em inglês que podem ser úteis. Vale ressaltar que O MANUAL não é responsável pelo conteúdo desses recursos.

  1. Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC): Violência de parceiro íntimo. Esse site fornece links para fatos rápidos, estratégias de prevenção, relacionamentos amorosos, fatores de risco e de proteção e a pesquisa nacional de parceiro íntimo e violência sexual, que é uma pesquisa contínua que coleta os dados nacionais e estaduais mais atuais e abrangentes sobre violência de parceiro íntimo, violência sexual e assédio nos Estados Unidos.

  2. Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC): Recursos sobre violência sexual. Os recursos incluem links para os artigos dos CDC a respeito de violência sexual, problemas relacionados, como, por exemplo, a saúde mental após um desastre, prevenção do estupro e tráfico sexual.

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