Colecistite

PorChristina C. Lindenmeyer, MD, Cleveland Clinic
Revisado/Corrigido: ago 2023
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Fatos rápidos

A colecistite consiste em uma inflamação da vesícula biliar, geralmente decorrente da obstrução do duto cístico provocada por um cálculo.

  • Normalmente, as pessoas sentem dor abdominal, febre e náuseas.

  • A ultrassonografia geralmente pode detectar sinais de inflamação na vesícula biliar.

  • Pode ser necessário remover a vesícula biliar, frequentemente usando um laparoscópio.

A vesícula biliar é um órgão pequeno em forma de pera, localizado por baixo do fígado. Ela armazena a bile, um líquido que é produzido pelo fígado e ajuda na digestão. Quando o organismo precisa de bile, como quando as pessoas comem, a vesícula biliar se contrai, expulsando a bile pelos dutos biliares até o interior do intestino delgado. (Consulte também Considerações gerais sobre distúrbios da vesícula biliar e dos dutos biliares e a figura Visão do fígado e da vesícula biliar.)

A colecistite é o problema mais comum provocado pelos cálculos na vesícula biliar. Ela ocorre quando um cálculo bloqueia o duto cístico, que transporta a bile vindo da vesícula biliar.

A colecistite é classificada como aguda ou crônica.

Colecistite aguda

A colecistite aguda começa subitamente, resultando em dor grave e constante no abdômen superior. Pelo menos 95% das pessoas com colecistite aguda apresentam cálculos biliares. A inflamação tem quase sempre início sem infecção, embora esta possa surgir depois. A inflamação pode fazer com que a vesícula biliar acumule líquido, havendo espessamento da parede.

Raramente, ocorre uma forma aguda de colecistite sem cálculos biliares (colecistite alitiásica). Contudo, a vesícula biliar pode conter lama (partículas microscópicas de materiais similares aos dos cálculos biliares). A colecistite alitiásica é mais grave do que outros tipos de colecistite. Ela costuma ocorrer após o seguinte:

A colecistite alitiásica aguda pode ocorrer em crianças pequenas, talvez oriunda de uma infecção viral ou de outra infecção.

Colecistite crônica

A colecistite crônica é uma inflamação da vesícula biliar de longa duração. Quase sempre isso é o resultado de cálculos biliares e de crises prévias de colecistite aguda. A colecistite crônica é caracterizada por crises repetidas de dor (cólica biliar) que ocorrem quando os cálculos biliares bloqueiam, temporariamente, o duto cístico.

No caso da colecistite crônica, a vesícula biliar sofre lesões decorrentes das crises persistentes de inflamação aguda, geralmente provocadas por cálculos biliares, podendo tornar-se pequena, com cicatrizes e paredes espessas. Os cálculos biliares podem bloquear a abertura da vesícula biliar para o duto cístico ou bloquear o próprio duto cístico. Em geral, a vesícula biliar também contém lama. Se a cicatrização for extensa, pode haver depósitos de cálcio nas paredes da vesícula biliar, fazendo com que endureça (denominada vesícula biliar de porcelana).

Sintomas de colecistite

Uma crise de vesícula biliar, aguda ou crônica, começa com uma dor.

Colecistite aguda

A dor da colecistite aguda é similar àquela da cólica biliar (dor causada por cálculos biliares), mas é mais intensa e duradoura. O pico de dor é após 15 a 60 minutos e permanece constante. Ela geralmente ocorre na parte superior direita do abdômen. A dor pode se tornar insuportável. A maioria das pessoas sente uma dor muito aguda quando o médico pressiona a parte superior direita do abdômen. Respirar profundamente pode agravar a dor. A dor frequentemente se estende para a parte inferior do ombro direito ou para as costas. Enjoos e vômitos são frequentes.

Decorridas algumas horas, os músculos abdominais do lado direito podem se tornar rígidos. A febre ocorre em um terço das pessoas com colecistite aguda. A febre costuma aumentar gradualmente para acima de 38 °C (100,4 °F) e pode ser acompanhada de calafrios.

Em pessoas mais velhas, os primeiros ou únicos sintomas de colecistite podem ser vagos. Por exemplo, pessoas idosas podem sentir falta de apetite, cansaço ou fraqueza ou vômito. Pode não haver febre.

Normalmente, uma crise diminui em dois a três dias e some completamente em uma semana. O fato de a crise aguda persistir pode indicar uma complicação grave. Dor intensa crescente, febre alta e calafrios sugerem a presença de bolsas de pus (abscessos) ou de uma laceração (perfuração) na vesícula biliar. Os abscessos são provocados por gangrena, que ocorre quando o tecido morre. Um cálculo grande pode lacerar a parede da vesícula biliar e passar para o intestino delgado, causando obstrução. Este bloqueio pode causar dor abdominal e distensão.

Caso se desenvolva icterícia ou eliminação de urina escura e fezes claras, o duto biliar comum provavelmente está bloqueado por um cálculo, provocando acúmulo de bile no fígado (colestase).

A inflamação do pâncreas (pancreatite) pode ocorrer. Ela é causada por um cálculo bloqueando a ampola de Vater (local onde o duto biliar comum e o duto pancreático se unem).

Colecistite alitiásica

A colecistite alitiásica normalmente provoca dor súbita e intensa na parte superior do abdômen em pessoas sem sintomas prévios ou outras evidências de um distúrbio na vesícula biliar (consulte Dor biliar sem cálculos biliares). Geralmente, a inflamação é muito grave e pode originar gangrena ou uma perfuração da vesícula biliar.

As pessoas com colecistite alitiásica tendem a estar muito doentes. Por exemplo, elas podem estar na unidade de terapia intensiva por outro motivo e podem apresentar muitos outros sintomas. Além disso, como essas pessoas estão muito doentes, podem não ser capazes de se comunicar claramente. Por estes motivos, a colecistite alitiásica pode não ser diagnosticada em um primeiro momento.

Os únicos sintomas podem ser um abdômen inchado (distendido), sensível ou febre sem nenhuma causa conhecida. Se não for tratada, a colecistite alitiásica resulta em morte em 65% das pessoas.

Colecistite crônica

As pessoas com colecistite crônica apresentam crises recorrentes de dor. O abdômen superior, acima da vesícula biliar, fica sensível ao toque. Diferente da colecistite aguda, febre raramente ocorre em pessoas com colecistite crônica. A dor é menos intensa do que a dor da colecistite aguda e não dura por tanto tempo.

Diagnóstico de colecistite

  • Ultrassonografia e às vezes outros exames de imagem

Os médicos diagnosticam a colecistite com base principalmente nos sintomas e resultados dos exames de imagem.

A ultrassonografia é a melhor maneira de detectar os cálculos biliares na vesícula. A ultrassonografia também pode detectar líquido ao redor da vesícula biliar ou espessamento da sua parede, que são características típicas da colecistite aguda. Frequentemente, quando a sonda de ultrassom passa pela parte superior do abdômen, acima da vesícula biliar, as pessoas se queixam de sensibilidade.

A colecistografia, outro exame de imagem, é útil quando a colecistite aguda é difícil de diagnosticar. Para esse teste, uma substância radioativa (radionuclídeo) é injetada por via intravenosa. Uma câmera de raios gama detecta a radioatividade fornecida e um computador é usado para produzir uma imagem. Portanto, o movimento do radionuclídeo do fígado para o trato biliar pode ser acompanhado. São obtidas imagens do fígado, dos dutos biliares, da vesícula biliar e da parte superior do intestino delgado. Se o radionuclídeo não preencher a vesícula biliar, o duto cístico está provavelmente bloqueado por um cálculo biliar. A colecistografia também é útil quando os médicos suspeitam de colecistite alitiásica aguda.

São realizados exames hepáticos (exames de sangue) para avaliar a eficiência do funcionamento hepático e se há lesões. Contudo, estes exames não têm a capacidade de confirmar o diagnóstico porque os resultados são geralmente normais ou levemente elevados, a menos que o duto biliar esteja bloqueado.

Outros exames de sangue também são feitos. Por exemplo, o número (contagem) de glóbulos brancos é medido. Um alto número de glóbulos brancos sugere inflamação, um abcesso, gangrena ou uma vesícula biliar perfurada.

A tomografia computadorizada (TC) do abdômen é capaz de detectar algumas complicações da colescistite, como pancreatite ou uma laceração na vesícula biliar.

Tratamento da colecistite

  • Cirurgia para remoção da vesícula biliar (colecistectomia)

Hospitalização

As pessoas com colecistite crônica ou aguda necessitam ser hospitalizadas. Elas não podem comer ou beber e recebem líquidos e eletrólitos por via intravenosa. Um médico pode introduzir um tubo pelo nariz até o estômago, para poder usar sucção para manter o estômago vazio e reduzir o acúmulo de líquido no intestino, caso o intestino esteja obstruído, e para permitir que a vesícula biliar descanse.

Normalmente, os antibióticos são fornecidos às pessoas por via intravenosa (devido à possibilidade de infecção), além dos analgésicos.

Colecistectomia

Em geral, a vesícula biliar é removida 24 a 48 horas após o início dos sintomas se:

  • A colecistite aguda for confirmada e o risco de cirurgia for pequeno.

  • As pessoas forem mais velhas ou tiverem diabetes, porque em tais pessoas, é mais provável que a colecistite resulte em infecções.

  • Existir suspeita de complicações como abcesso, gangrena ou perfuração da vesícula biliar.

  • As pessoas tiverem colecistite alitiásica.

Se necessário, a cirurgia pode ser postergada por seis semanas ou mais, para que a crise melhore. Se as pessoas tiverem um distúrbio que aumente muito o risco de uma cirurgia (como um distúrbio cardíaco, pulmonar, renal ou hepático grave), a cirurgia é adiada até que um tratamento apropriado seja capaz de controlar o distúrbio o melhor possível. Se a cirurgia precisar ser adiada ou evitada por completo, a vesícula biliar pode precisar ser drenada para ajudar a tratar e prevenir a propagação da infecção. A drenagem pode ser realizada por colocação de um tubo através da parede abdominal até a vesícula biliar, permitindo que o líquido drene para fora do corpo. Alternativamente, um tubo de drenagem pode ser colocado dentro do corpo durante uma endoscopia guiada por ultrassonografia endoscópica (USE). Na USE, um endoscópio com um pequeno dispositivo de ultrassonografia na ponta é inserido pela boca até o estômago e o intestino delgado. As imagens de ultrassom orientam o médico para colocar um dreno entre a vesícula biliar e o intestino delgado ou entre a vesícula biliar e o estômago.

Na colecistite crônica, a vesícula biliar é geralmente removida após o episódio agudo.

A retirada cirúrgica da vesícula biliar (colecistectomia) é geralmente realizada usando-se um tubo de visualização flexível denominado laparoscópio. Após pequenas incisões terem sido feitas no abdômen, o laparoscópio e os instrumentos cirúrgicos são inseridos através das incisões. Os médicos então usam os instrumentos para remover a vesícula biliar. O laparoscópio possui uma câmera minúscula, permitindo que os cirurgiões vejam o que eles estão fazendo dentro do corpo.

Dor após a cirurgia

Algumas pessoas apresentam novos ou recorrentes episódios da dor que se assemelham a crises de vesícula biliar, mesmo que a vesícula (e as pedras) tenha sido removida. Também poderá ocorrer o surgimento de diarreia. Às vezes, os médicos chamam isso de síndrome pós-colecistectomia. A causa dessa síndrome é desconhecida, mas em algumas pessoas, ela pode ser o mau funcionamento do esfíncter de Oddi (um músculo em formato de anel entre o duto biliar comum, os dutos pancreáticos e o intestino delgado). O mau funcionamento deste músculo pode deixar o fluxo de bile e de secreções pancreáticas vindo dos dutos mais lento, aumentando assim, a pressão nos dutos e causando dor. A dor também pode ser provocada por pequenos cálculos biliares que permanecem nos dutos após a remoção da vesícula biliar. Mais comumente, a causa é outro problema não relacionado, como a síndrome do intestino irritável ou mesmo uma úlcera péptica.

A colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) ou colescintigrafia (consulte Exames de diagnóstico por imagem do fígado e da vesícula biliar) pode ser necessária para determinar se a causa da dor é a pressão aumentada. Para CPRE, um tubo de visualização flexível (endoscópio) é inserido pela boca até o intestino, e um dispositivo para medir a pressão é inserido pelo tubo. Se a pressão estiver aumentada, os instrumentos cirúrgicos são inseridos através do tubo e usados para cortar e, portanto, alargar o esfíncter de Oddi. Esse procedimento (denominado esfincterotomia endoscópica) pode aliviar os sintomas quando a dor é causada pelo mau funcionamento do esfíncter.

Mais informações

Os seguintes recursos em inglês podem ser úteis. Vale ressaltar que O MANUAL não é responsável pelo conteúdo desses recursos.

  1. Fundação Internacional de Distúrbios Gastrointestinais (International Foundation for Gastrointestinal Disorders, IFFGD): Um recurso confiável que ajuda as pessoas com distúrbios gastrointestinais a controlar sua saúde.

  2. National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases (NIDDK): Informações abrangentes sobre como o sistema digestivo funciona e links para tópicos relacionados, como pesquisas e opções de tratamento.

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