Óleo de peixe

PorLaura Shane-McWhorter, PharmD, University of Utah College of Pharmacy
Revisado/Corrigido: jan 2023
Visão Educação para o paciente

O óleo de peixe pode ser obtido mediante o consumo de peixes, extraído diretamente ou concentrado em forma de cápsulas. Os ingredientes ativos são ácidos graxos ômega-3 (ácidos eicosapentaenoico e docosaexaenoico). Recentemente, cepas de leveduras modificadas por engenharia genética que podem produzir de maneira natural quantidades substanciais desses óleos foram projetadas e são uma outra fonte (1). As dietas ocidentais tipicamente são pobres em ácidos graxos ômega-3. (Outras fontes alimentares de ácidos graxos ômega 3 além do peixe são nozes e óleo de linhaça.)

(Ver também Visão geral dos suplementos alimentares e National Institutes of Health (NIH): Omega-3 fatty acids fact sheet for health professionals.)

Alegações

O óleo de peixe é utilizado na prevenção e no tratamento de doenças ateroscleróticas cardiovasculares, especificamente por reduzir os níveis de triglicerídeos. Os mecanismos são provavelmente múltiplos e desconhecidos. Os benefícios são duvidosos e ainda não corroborados para a prevenção primária da doença cardiovascular aterosclerótica, diminuição dos níveis de colesterol, desaceleração da progressão da degeneração macular relacionada à idade e câncer, tratamento da artrite reumatoide, xeroftalmia e depressão, redução da pressão arterial e prevenção da nefrotoxicidade por ciclosporina.

Evidências

Anteriormente, as evidências indicavam que EPA/DHA (EPA mais DHA em várias combinações), 800 a 1.500 mg/dia, reduzia o risco de infarto do miocárdio e morte decorrente de arritmia em pacientes com doença coronariana preexistente e tomavam fármacos convencionais (2). EPA/DHA também reduz os triglicerídeos.

O estudo OMEMI (Omega-3 Fatty acids in Elderly with Myocardial Infarction — ácidos graxos ômega-3 em idosos com infarto agudo do miocárdio) foi realizado em 2021; neste ensaio clínico randomizado, 1.027 pacientes de 70 a 82 anos e infarto agudo do miocárdio recente (2 a 8 semanas) foram tratados com 1,8 g de ácidos graxos poli-insaturados (AGPI) n-3 (930 mg de ácido eicosapentaenoico e 660 mg de ácido docosaexaenoico) ou placebo (óleo de milho) diariamente, além do tratamento convencional. O desfecho primário foi uma combinação de infarto agudo do miocárdio não fatal, revascularização não programada, acidente vascular encefálico, morte por todas as causas e hospitalização por insuficiência cardíaca após 2 anos. O desfecho primário ocorreu em 21,4% dos pacientes que utilizaram AGPS n-3 versus 20,0% daqueles tratados com placebo (P = 0,60). Os autores concluíram que o estudo não detectou uma redução nos eventos clínicos em pacientes idosos com infarto agudo do miocárdio recente (3).

Uma revisão em 2016 verificou fortes evidências de um efeito redutor de triglicerídeos proporcional à dose. No entanto, houve evidências de qualidade moderada de diminuição do risco de morte cardiovascular e eventos cardiovasculares adversos maiores, e evidências de baixa qualidade de que doses mais altas estão associadas a menor risco de doença arterial coronariana e insuficiência cardíaca. Não houve nenhum efeito de redução da pressão arterial (4).

A revisão da Cochrane de 2020 que incluiu 86 ensaios clínicos randomizados (162.796 indivíduos) com duração de 12 a 88 meses confirmou que os ácidos graxos ômega-3 diminuem os triglicerídeos e, por evidências de alta certeza, têm pouco efeito sobre os eventos cardiovasculares e morte. A revisão encontrou uma leve redução da mortalidade cardiovascular, mas nenhuma diferença no número de AVEs ou arritmias. A revisão observou que 167 participantes precisaram de tratamento para prevenir um evento coronariano e 334 participantes precisaram de tratamento para evitar o óbito decorrente de doença coronariana (5). No entanto, o estudo Reduce- IT, que incluiu pacientes com doença cardiovascular estabelecida ou com diabetes e outros fatores de risco, além de níveis elevados de triglicerídeos apesar do tratamento com estatina, relatou uma redução significativa no MACE (eventos cardíacos adversos maiores) utilizando o agente farmacológico de venda sob prescrição icosapent ethyl (6).

O informe científico de 2019 da American Heart Association observou as limitações do uso de suplementos de óleo de peixe sem prescrição e recomenda que apenas produtos com prescrição aprovados pela FDA sejam utilizados para hipertrigliceridemia (7).

Efeitos adversos

Podem ocorrer eructações com odor de peixe, náuseas e diarreia. O risco de sangramento aumenta com EPA/DHA > 3 g/dia. Em um grande estudo, as taxas de sangramento grave foram semelhantes (10,7%) no grupo AGPS n-3 em comparação aos pacientes tratados com placebo (11,0%, p = 0,87) (3).

A preocupação acerca de envenenamento por contaminação por mercúrio não foi confirmada pelos exames realizados em laboratório. Mesmo assim, gestantes ou que estão amamentando não devem ingerir suplementos de ácidos graxos omega-3 extraídos de peixes e devem limitar o consumo de certos tipos de peixes, devido ao risco potencial de contaminação por mercúrio.

Em um grande estudo de pacientes tratados com etil icosapente, constipação, edema periférico e fibrilação atrial ocorreram mais comumente do que nos pacientes tratados com placebo (6).

Interações medicamentosas

Óleo de peixe combinado com anti-hipertensivos pode resultar em redução adicional da pressão arterial. A ingestão de óleo de peixe pode potencializar o efeito anticoagulante da varfarina, embora alguns estudos não tenham mostrado risco de sangramento (8). Contudo, deve-se alertar os pacientes em relação à possibilidade de aumento do sangramento.

Referências

  1. 1. Xue Z, Sharpe PL, Hong SP, et al: Production of omega-3 eicosapentaenoic acid by metabolic engineering of Yarrowia lipolytica. Nat Biotechnol 31(8):734-740, 2013. doi: 10.1038/nbt.2622

  2. 2. MacLean CH, Mojica WA, Morton SC, et al: Effects of omega-3 fatty acids on lipids and glycemic control in type II diabetes and the metabolic syndrome and on inflammatory bowel disease, rheumatoid arthritis, renal disease, systemic lupus erythematosus, and osteoporosis. Evid Rep Technol Assess (Summ) 2004;(89):1-4.

  3. 3. Kalstad AA, Myhre PL, Laake K, et al: Effects of n-3 fatty acid supplements in elderly patients after myocardial infarction: a randomized, controlled trial. Circulation 143(6):528-539, 2021. doi:10.1161/CIRCULATIONAHA.120.052209

  4. 4. Balk EM, Adams GP, Langberg V, et al: Omega-3 fatty acids and cardiovascular disease: an updated systematic review. Evid Rep Technol Assess (Full Rep) (223):1-1252, 2016. doi:10.23970/AHRQEPCERTA223

  5. 5. Abdelhamid AS, Brown TJ, Brainard JS, et al: Omega-3 fatty acids for the primary and secondary prevention of cardiovascular disease (review). Cochrane Database Syst Rev 3:CD003177, 2020. doi: 10.1002/14651858.CD003177.pub5

  6. 6. Bhatt DL, Steg PG, Miller M, et al: Cardiovascular risk reduction with icosapent ethyl for hypertriglyceridemia. N Engl J Med 380(1):11-22, 2019. doi: 10.1056/NEJMoa1812792

  7. 7. Skulas-Ray A, Wilson PWF, Harris WS, et al: Omega-3 fatty acids for the management of hypertriglyceridemia: a science advisory from the American Heart Association. Circulation 140(12):e673-e691, 2019. doi: 10.1161/CIR.0000000000000709

  8. 8. Pryce R, Bernaitis N, Davey AK, et al: The use of fish oil with warfarin does not significantly affect either the International Normalized Ratio or incidence of adverse events in patients with atrial fibrillation and deep vein thrombosis: a retrospective study. Nutrients 8(9):578, 2016. doi:10.3390/nu8090578

Informações adicionais

O recurso em inglês a seguir pode ser útil. Observe que este Manual não é responsável pelo conteúdo deste recurso.

  1. National Institutes of Health (NIH): Omega-3 fatty acids fact sheet for health professionals

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