Como fazer uma cricotireotomia percutânea

PorBradley Chappell, DO. MHA, Harbor-UCLA Medical Center
Revisado/Corrigido: fev 2023
Visão Educação para o paciente

A cricotireotomia, seja a cricotireotomia cirúrgica tradicional ou a cricotireotomia percutânea com fio-guia, utiliza uma incisão na pele e na membrana cricotireóidea através da qual se insere uma via respiratória artificial na traqueia. A cricotireotomia é tipicamente feita de modo emergencial, quando a entubação endotraqueal é contraindicada ou inatingível por outros métodos de inserção do tubo, e métodos não definitivos de controle das vias respiratórias e ventilação (p. ex., dispositivos extraglóticos, como uma máscara laríngea) não conseguem ventilar e oxigenar adequadamente o paciente.

(Ver também Obtenção do controle das vias respiratórias.)

A cricotireotomia com fio-guia é semelhante à técnica de Seldinger (catéter sobre o fio-guia) de inserção do acesso venoso central e pode ser mais adequada para operadores com experiência cirúrgica limitada.

Cricotireotomia com agulha, um método temporário que utiliza um angiocateter de calibre 12 a 14 acoplado a dispositivo com ambu (ou um ventilador a jato se disponível), é o método de cricotireotomia preferível para crianças < 10 anos de idade. Esse aparelho pode ser facilmente montado anexando o angiocateter a uma seringa de 3 mL com o êmbolo removido. Um adaptador de tubo endotraqueal (ET) de 6,5 mm é então acoplado à seringa e o paciente é ventilado utilizando um ambu conectado ao adaptador de tubo ET.

Indicações para cricotireotomia percutânea

Apneia, insuficiência respiratória grave ou parada respiratória iminente exigindo entubação endotraqueal e

  • Falha nas tentativas de intubação orotraqueal ou nasotraqueal com incapacidade de oxigenar ou ventilar por meio de métodos alternativos (p. ex., ventilação com ambu, dispositivo de via respiratória supraglótica)

  • Contraindicações à intubação orotraqueal ou nasotraqueal como hemorragia oral maciça, trauma facial grave ou efeito de massa decorrente de tumor

Contraindicações à cricotireotomia percutânea

Contraindicações absolutas

  • Idade < 8 anos

Contraindicações relativas

  • Incapacidade de identificar pontos de referência devido à lesão significativa na laringe, cartilagem tireoide ou cartilagem cricoide

  • Transecção parcial ou completa da traqueia distal

  • Oito a 8-12 anos de idade (pontos de corte de idade variados, sem consenso definitivo entre especialistas)

Complicações da cricotireotomia percutânea

Complicações precoces, reconhecidas imediatamente ou em horas após a cricotireotomia, são:

  • Sangramento, algumas vezes incontrolável

  • Inserção do tubo no tecido do pescoço em vez de na traqueia, tipicamente imediatamente reconhecida pela ausência de sons respiratórios na ausculta pulmonar e corrigida pela reinserção do tubo na traqueia

  • Lesão ou perfuração da face posterior da traqueia

  • Lesão da laringe, pregas vocais ou tireoide

Complicações tardias, encontradas semanas ou meses após a cricotireotomia, incluem:

  • Obstrução progressiva das vias respiratórias decorrente de estenose subglótica e tecido de granulação no estoma

  • Alterações na voz, que são crônicas, mas podem desaparecer com o tempo

  • Feridas com infecção

Equipamento para cricotireotomia percutânea

  • Solução antisséptica (p. ex., clorexidina, iodopovidona) e gaze estéril

  • Campos estéreis

  • Luvas, máscaras, aventais estéreis e proteção para os olhos e a face (precauções universais)

  • Anestésico local (p. ex., lidocaína a 1% ou 2% com adrenalina, seringa de 3 mL com agulha de calibre 25)

  • Dispositivo de catéter sobre agulha capaz de acomodar um fio-guia, conectado a uma seringa de 3 a 6 mL, preenchida até a metade com soro fisiológico

  • Fio-guia flexível em um invólucro de plástico

  • Catéter de vias respiratórias (tubo traqueal) com manguito inflável de plástico e um dilatador intraluminal curvo rombo removível (que facilita a inserção)

  • lâmina de bisturi nº 15

  • Fonte de sucção e catéter de aspiração

  • Ventilação com ambu e fonte de oxigênio

  • Equipamento de monitoramento do paciente, incluindo monitor cardíaco, oxímetro de pulso, monitor de pressão arterial (não invasivo)

  • Capnômetro (monitor de dióxido de carbono final expirado), se disponível

Alguns kits comercialmente disponíveis contêm todos ou alguns destes: catéter de vias respiratórias, fio-guia, seringa e dispositivo de catéter com agulha.

Considerações adicionais sobre a cricotireotomia percutânea

  • A membrana cricotireóidea deve ser prontamente identificável porque com a técnica de fio-guia muitas vezes não é feita qualquer incisão cutânea inicialmente. Distorções anatômicas tornam a membrana cricotireoidea menos identificável.

  • É necessária técnica estéril para prevenir a contaminação microbiana local durante o procedimento.

Anatomia relevante para cricotireotomia percutânea

  • A membrana cricotireoidea está entre a cartilagem tireoide e a cartilagem cricoide. A membrana tem cerca de 1 cm longitudinalmente e 2 a 3 cm transversalmente. As cartilagens traqueais se estendem caudalmente da cartilagem cricoide à incisura esternal.

  • A área ao redor da membrana cricotireoidiana é rica em vasos sanguíneos (artérias tireoidianas superiores e a variante relativamente incomum da artéria tireoide).

Cricotireotomia de emergência

O paciente fica deitado em decúbito dorsal, com o pescoço estendido. Após a preparação estéril, a laringe é segurada com uma das mãos enquanto uma lâmina é utilizada para incisar a pele, o tecido subcutâneo e a membrana cricotireoide precisamente na linha média, acessando a traqueia. Um tubo é utilizado para manter aberta a via respiratória.

Posicionamento para cricotireotomia percutânea

  • Colocar o paciente em decúbito dorsal e, se não houver a suspeita de lesão na coluna cervical, hiperestender o pescoço. A posição olfativa ("sniffing") não é necessária para a cricotireotomia.

Descrição passo a passo da cricotireotomia percutânea

  • Na medida do possível, assegurar oxigenação e ventilação adequadas ao longo desse procedimento, utilizando ambu ou via respiratória com máscara laríngea e suplementação de oxigênio (alto fluxo se prontamente disponível).

  • Testar se há vazamentos no manguito do balão do tubo traqueal utilizando uma seringa para inflá-lo com ar. Em seguida, desinflar o balão.

  • Aplicar uma pequena quantidade de lubrificante hidrossolúvel ao conjunto dilatador/via respiratória, incluindo o manguito do balão, utilizando um dedo enluvado.

  • Anexar uma seringa, cheia até a metade com soro fisiológico, à agulha de inserção.

  • Identificar a membrana cricotireoidea. Mova o dedo caudalmente a partir da proeminência laríngea (a parte mais proeminente da cartilagem tireóidea anterior) até sentir a membrana cricotireóidea, palpável como um afastamento entre a extremidade caudal da cartilagem tireóidea e a cartilagem cricoidea.

  • Preparar a região anterior do pescoço com um agente de limpeza da pele como clorexidina ou iodopovidona e colocar um campo estéril sobre o pescoço.

  • Injetar um anestésico local ao longo do local previsto para a incisão na pele (ver próximo tópico) se o paciente tiver sensibilidade álgica.

  • Estabilizar a laringe com a mão não dominante segurando as laterais da cartilagem tireoidiana com o polegar e o dedo médio. Manter a estabilização até que o catéter das vias respiratórias esteja no lugar.

  • Alguns operadores fazem uma incisão longitudinal utilizando um bisturi na linha média de 2 a 3 cm na pele e tecidos subcutâneos sobre a membrana cricotireóidea.

  • Inserir a agulha (normalmente dentro de um catéter), com a seringa contendo líquido conectada, através da membrana cricotireóidea, direcionando caudalmente em um ângulo de cerca de 45 graus. Manter a contrapressão no êmbolo da seringa à medida que avança.

  • Confirmar a inserção da agulha nas vias respiratórias sentindo um estalo à medida que a agulha entra na traqueia e verificando o ar entrando na seringa, visível como bolhas de ar na soro fisiológico. Parar de avançar a agulha assim que o ar retornar.

  • Remover a seringa da agulha. Se um catéter estiver sobre a agulha, avançar o catéter e retirar a agulha.

  • Inserir a ponta flexível do fio-guia através da agulha ou do catéter até a traqueia.

  • Mantendo controle firme do fio-guia, remover delicadamente a agulha ou o catéter, deixando o fio-guia no lugar.

  • Fazer incisão na pele diretamente sob o local de inserção do fio-guia (se não tiver sido feito anteriormente) para facilitar a passagem do dilatador rombo e da via respiratória, que são avançados juntos na traqueia. Direcionar cuidadosamente o dilatador ao longo do fio-guia. Antes de prosseguir, certificar-se de que o fio-guia passa pelo dilatador e que a extremidade proximal do fio é controlada (para que o fio-guia não se perca dentro das vias respiratórias).

  • Dissecar mais o local conforme necessário para facilitar a passagem do dispositivo através dos tecidos até chegar na traqueia. Se a resistência à passagem é significativa, tentar utilizar força suave, mas constante, girar a unidade à medida que avança e utilizar dissecção adicional se necessário. Completamente inserido, deve-se alinhar o canhão e a flange do catéter de vias respiratórias rente à pele.

  • Retirar o fio-guia e o dilatador.

  • Inflar o manguito do balão até o volume mínimo necessário para ventilação eficaz.

  • Retomar a ventilação utilizando as vias respiratórias recém-estabelecidas.

  • Fixar o dispositivo no lugar utilizando fita entremeada ao longo das flanges do catéter.

  • Quando a via respiratória está fixa, confirmar sua inserção adequada utilizando a ausculta e a detecção do dióxido de carbono final expirado.

Cuidados posteriores para cricotireotomia percutânea

  • Pode-se fazer ruma adiografia de tórax para confirmar o posicionamento adequado.

  • Em geral, a cricotirotomia é vista como uma ponte para uma traqueostomia mais permanente, que tradicionalmente é feita 72 horas após a cricotirotomia de emergência inicial. Considera-se que a conversão em traqueostomia diminua o risco de estenose subglótica; mas não há evidências fortes na literatura que corroborem o uso mandatório dessa conversão.

Recomendações e sugestões para cricotireotomia percutânea

  • Frequentemente, pode-se utilizar um eletrocautério alimentado por bateria para ajudar a controlar qualquer sangramento significativo decorrente da incisão vertical na pele.

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