Disfunção ovulatória

PorRobert W. Rebar, MD, Western Michigan University Homer Stryker M.D. School of Medicine
Revisado/Corrigido: set 2022
Visão Educação para o paciente

Disfunção ovulatória é anormalidade, irregularidade (com ≤ 9 menstruações/ano) ou ausência de ovulação. A menstruação geralmente está ausente ou irregular. O diagnóstico normalmente é possível pela história menstrual, confirmado pela medida dos níveis hormonais ou por ultrassonografia pélvica seriada. O tratamento é indução da ovulação por clomifeno ou outros fármacos.

(Ver também Visão geral da infertilidade.)

Etiologia da disfunção ovulatória

A disfunção ovulatória crônica em mulheres na pré-menopausa é mais comumente causada por

Mas ela tem muitas outras causas, incluindo

  • Hiperprolactinemia

  • Disfunção hipotalâmico-hipofisária (mais comumente, amenorreia hipotalâmica funcional)

  • Outras condições que podem causar anovulação (p. ex., diabetes, depressão clínica, certos antidepressivos, obesidade, exercício excessivo, perda ponderal excessiva, uso de fármacos que contêm estrogênios ou progesteronas)

Sinais e sintomas da disfunção ovulatória

Em mulheres com disfunção ovulatória, a menstruação pode estar ausente, ser irregular ou não precedida de sintomas (coletivamente denominados molimina), como sensibilidade mamária, distensão abdominal inferior, fadiga, cefaleia ou mau-humor.

Diagnóstico da disfunção ovulatória

  • História menstrual

  • Às vezes, monitoramento da temperatura corporal basal

  • Kits de teste domiciliar de ovulação

  • Ultrassonografia, medição dos hormônios séricos ou urinários

Anovulação é muitas vezes aparente com base na história menstrual.

A medição matutina diária da temperatura corporal pode ajudar a determinar se e quando a ovulação está ocorrendo. No entanto, esse método é frequentemente impreciso.

Métodos mais precisos incluem

  • Testes que podem ser realizados em casa, que detectam aumento na excreção urinária do LH 24 a 36 horas antes da ovulação (exigindo testes diários por vários dias por volta do meio do ciclo, geralmente próximo ou 9º dia depois do ciclo)

  • Ultrassonografia pélvica, que é utilizada para monitorar aumentos no diâmetro e colapso do folículo ovariano (o monitoramento deve começar no final da fase folicular)

  • Medição dos níveis séricos de progesterona ou glicuronídeo de pregnanediol urinário (um metabólito urinário da progesterona)

Além desses métodos, níveis de progesteronasérica 3 ng/mL ( 9,75 nmol/L) ou níveis elevados do pregnanediol glicuronida na urina (medido, se possível, 1 semana antes do início da próxima menstruação) indicam que a ovulação acabou de ocorrer.

Ovulação intermitente ou ausente deve levar à avaliação de doenças hipofisárias, hipotalâmicas ou ovarianas (especialmente, síndrome dos ovários policísticos).

Tratamento da disfunção ovulatória

  • Tratamento da doença subjacente

  • Clomifeno ou letrozol

  • Possivelmente metformina, se o índice de massa corporal é 35 kg/m2

  • Gonadotrofinas, se o clomifeno mostrar-se ineficaz

Induz-se a ovulação com medicações hormonais ou metabólicas.

Clomifeno

Normalmente, a anovulação crônica não decorrente de hiperprolactinemia deve ser inicialmente tratada com o antiestrogênio citrato de clomifeno.

Clomifeno é mais eficaz quando a causa é a síndrome dos ovários policísticos. Inicia-se o clomifeno, 50 mg por via oral uma vez ao dia, entre o 3º e o 5º dia após o início do sangramento, o sangramento pode ter ocorrido espontaneamente ou ter sido induzido (p. ex., pela interrupção de progesterona). O clomifeno é mantido por 5 dias. A ovulação geralmente ocorre em 5 a 10 dias (em média, 7) depois do último dia do clomifeno; ocorrendo a ovulação, a menstruação seguinte será 35 dias depois do episódio de sangramento.

Se a menstruação não ocorrer, realiza-se teste de gravidez. Se a mulher não é gestante, repete-se o ciclo de tratamento. A dose diária pode ser aumentada em 50 mg a cada ciclo até no máximo 200 mg/dose, conforme necessário para induzir a ovulação. O tratamento é mantido, conforme o necessário, por até 4 ciclos ovulatórios. A maioria das mulheres que quer engravidar o faz no quarto ciclo em que ocorre a ovulação. A ovulação sob o uso de clomifeno ocorre em 75 a 80% das mulheres, mas a taxa de gestação é no máximo 40 a 50%.

Os efeitos adversos do clomifeno incluem rubor vasomotor (10%), distensão abdominal (6%), mastalgia (2%), náuseas (3%), sintomas visuais (1 a 2%) e cefaleias (1 a 2%). A gestação múltipla (principalmente gêmeos) ocorre em cerca de 5% dos casos e a síndrome da hiperestimulação ovariana em 1%. Cistos ovarianos são comuns. A associação anteriormente sugerida entre o clomifeno administrado por > 12 ciclos e o câncer de ovário ainda não foi confirmada.

Clomifeno não deve ser administrado a gestantes porque, teoricamente, pode causar defeitos genitais de nascimento.

Letrozol

O letrozol é um inibidor da aromatase que pode ser utilizado em vez de clomifeno. O letrozol tem uma meia-vida muito no plasma mais curta que o clomifeno. Evidências indicam que em mulheres obesas com síndrome dos ovários policísticos, é mais provável que o letrozol (um inibidor da aromatase) induza a ovulação do que o clomifeno (1). Dados indicam que esse efeito também pode ocorrer em mulheres magras com síndrome dos ovários policísticos. Nenhuma evidência indica que o letrozol é mais eficaz do que o clomifeno para causas da anovulação além de síndrome dos ovários policísticos.

Inicia-se o letrozol, como o clomifeno, entre o 3º e o 5º dia após o início do sangramento menstrual. Inicialmente, as mulheres recebem 2,5 mg por via oral uma vez ao dia, durante 5 dias. Se a ovulação não ocorrer, a dose pode ser aumentada para 2,5 mg a cada ciclo até o máximo de 7,5 mg/dose.

Fadiga e tontura são os efeitos colaterais mais comuns do letrozol.

Letrozol não deve ser administrado a gestantes porque, teoricamente, pode causar defeitos genitais de nascimento.

Metformina

Para mulheres com síndrome dos ovários policísticos, a metformina, 750 mg a 1000 mg por via oral duas vezes ao dia, pode ser um adjuvante na indução da ovulação, particularmente se forem resistentes à insulina, como ocorre com muitas pacientes com síndrome dos ovários policísticos. Entretanto, o clomifeno sozinho é mais eficaz que a metformina isolada e igualmente eficaz quanto metformina e clomifeno juntos (2). A metformina não é a terapia de primeira linha para mulheres com síndrome dos ovários policísticos e que querem engravidar.

A metformina pode ser útil para mulheres com IMC > 35 kg/m2 e deve ser considerado o seu uso para mulheres com síndrome dos ovários policísticos e intolerância à glicose.

Gonadotropinas exógenas

Para todas as mulheres com disfunção ovulatória e não responsivas ao clomifeno (ou letrozol, quando utilizado), pode-se utilizar gonadotrofinas humanas (isto é, preparações que contêm FSH (follicle-stimulating hormone) puro ou recombinado e quantidades variáveis de LH [luteinizing hormone]). Muitas preparações IM ou por via subcutânea com eficácias similares estão disponíveis; tipicamente, contêm 75 UI de FSH ativo com ou sem HL ativo. Elas normalmente são dadas uma vez ao dia, a partir do 3º ao 5º dia após sangramento induzido ou espontâneo; idealmente, eles estimulam a maturação de 1 a 3 folículos, determinado por ultrassonografia, em 7 a 14 dias.

A ovulação é tipicamente desencadeada com gonadotropina coriônica humana (hCG), 5.000 a 10.000 UI IM depois da maturação folicular; os critérios para uso de hCG podem variar, mas geralmente pelo menos um folículo deve ter > 16 mm de diâmetro. Por outro lado, pode-se utilizar um agonista do hormônio liberador de gonadotropina (GnRH) para desencadear a ovulação, especialmente em mulheres com alto risco da síndrome de hiperestimulação ovariana.

Embora o risco da síndrome de hiperestimulação ovariana em mulheres de alto risco seja menor quando um agonista de GnRH é utilizado para desencadear a ovulação, é mais seguro não desencadear a ovulação se as mulheres têm alto risco da síndrome de hiperestimulação ovariana ou gestação multifetal. Os fatores de risco de esses problemas incluem

  • Presença de > 3 folículos > 16 mm de diâmetro

  • Níveis de estradiol sérico pré-ovulatório acima de 1.500 pg/mL (ou, possivelmente, acima de 1.000 pg/mL) em mulheres com diversos folículos ovarianos pequenos

Quando as gonadotrofinas exógenas são utilizadas de maneira apropriada, > 95% das mulheres tratadas com elas ovulam, mas a taxa de gestação é de apenas 50 a 75%.

Após a terapia com gonadotrofina, 10 a 30% das gestações bem-sucedidas são múltiplas.

A síndrome de hiperestimulação ovariana ocorre em 10 a 20% das pacientes; os ovários podem tornar-se maciçamente aumentados e o volume de líquido intravascular pode se deslocar para o espaço peritoneal, causando um potencial risco de ascite e de hipovolemia, que podem causar risco à vida. (Ver também the American Society for Reproductive Medicine guideline Prevention and treatment of moderate and severe ovarian hyperstimulation syndrome: A guideline.)

Tratamento da doença subjacente

As doenças subjacentes (p. ex., hiperprolactinemia) são tratadas.

Se a causa é amenorreia hipotalâmica funcional, acetato de gonadorelina, um agonista de GnRH sintético, administrado em infusões IV pulsáteis, pode induzir a ovulação. Doses de 2,5 a 5,0 mcg em bolus (dose de pulso), regularmente de 60 a 90 minutos, são mais efetivas. O acetato de gonadorelina dificilmente causa gestação múltipla.

Como a gonadorelina não está mais disponível nos Estados Unidos, citrato de clomifeno é a primeira opção utilizada para tratar amenorreia hipotalâmica funcional, seguido de gonadotrofinas exógenas, se a indução da ovulação com clomifeno não tiver sido bem-sucedida.

Referências sobre o tratamento

  1. 1. Legro RS, Brzyski RG, Diamond MP, et al: Letrozole versus clomiphene for infertility in the polycystic ovary syndrome. N Engl J Med 371:119-129, 2014.

  2. 2. Legro RS, Barnhart HX, Schlaff WD, et al: Clomiphene, metformin, or both for infertility in the polycystic ovary syndrome. N Engl J Med 356 (6):551–566, 2007. doi: 10.1056/NEJMoa063971

Pontos-chave

  • A causa mais comum de disfunção ovulatória em mulheres na pré-menopausa é a síndrome dos ovários policísticos; outras causas incluem disfunção hipotalâmica e pituitária.

  • Diagnosticar a disfunção ovulatória com base na história menstrual, resultados de ultrassonografia pélvica e/ou medição da progesterona sérica e do glicuronídeo de pregnanodiol urinário.

  • Induzir a ovulação para a maioria das mulheres, geralmente com citrato de clomifeno ou letrozol.

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