A gonorreia é provocada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae. Infecta tipicamente o epitélio da uretra, o colo do útero, o reto, a faringe ou conjuntiva, provocando irritação e eliminação de secreção purulenta. A disseminação para pele e articulações não é comum e causa lesões cutâneas, febre e poliartrite migratória, ou artrite séptica pauciarticular. O diagnóstico é feito por microscopia, cultura, ou testes de amplificação de ácidos nucleicos (NAATs). Vários esquemas de antibióticos orais ou parenterais podem ser utilizados, mas a resistência farmacológica é um problema crescente.
(Ver também Visão geral das infecções sexualmente transmissíveis.)
N. gonorrhoeae é um diplococo gram-negativo que ocorre em seres humanos e quase sempre é transmitida por meio de contato sexual. Infecções uretrais e endocervicais são muito comuns, mas a infecção também ocorre na faringe ou no reto, após relação oral ou anal, e conjuntivite pode decorrer da inflamação nos olhos.
Após um episódio de relação vaginal, a probabilidade de transmissão de mulheres para homens é de aproximadamente 22% (1), mas pode ser mais alta de homens para mulheres. A taxa de transmissão via relação anal receptiva entre homens que fazem sexo com homens atinge até 42% quando preservativos não são utilizados consistentemente (2). Nos Estados Unidos, há mais de 1,5 milhão de novas infecções anualmente (3).
Neonatos podem adquirir infecção conjuntival durante a passagem pelo canal do parto, e crianças podem adquirir gonorreia como resultado de abuso sexual.
Em 10 a 20% das mulheres não tratadas com cervicite gonocócica, a infecção ascende via endométrio para as tubas uterinas (salpingite) e para o peritônio pélvico, causando doença inflamatória pélvica (DIP) (4). Clamídia ou organismos entéricos também podem ser as causas. Gonorreia endocervical geralmente é acompanhada por infecção da uretra, dos ductos de Skene e das glândulas vestibulares maiores. Em uma pequena fração de homens, a uretrite ascendente progride para epididimite unilateral.
Infecção gonocócica disseminada (IGD) por disseminação hematogênica ocorre em < 1% das pessoas, predominantemente em mulheres (5). IGD geralmente afeta a pele, as bainhas tendíneas e as articulações. O envolvimento articular pode se manifestar como uma artrite migratória ou tenossinovite, geralmente de pequenas articulações, ou como uma monoartrite ou oligoartrite do joelho, tornozelo, punho ou cotovelo (veja Artrite gonocócica). Pericardite, endocardite, meningite e peri-hepatite raramente ocorrem.
Coinfecção com Chlamydia trachomatis ocorre em aproximadamente 10 a 40% das pessoas, variando de acordo com a população específica (6).
Referências gerais
1. Holmes KK, Johnson DW, Trostle HJ. An estimate of the risk of men acquiring gonorrhea by sexual contact with infected females. Am J Epidemiol. 1970;91(2):170-174. doi:10.1093/oxfordjournals.aje.a121125
2. Dutt K, Chow EP, Huffam S, et al. High prevalence of rectal gonorrhoea among men reporting contact with men with gonorrhoea: Implications for epidemiological treatment. BMC Public Health. 2015;15:658. Publicado em 2015 Jul 14. doi:10.1186/s12889-015-1971-3
3. Workowski KA, Bachmann LH, Chan PA, et al. Sexually Transmitted Infections Treatment Guidelines, 2021. MMWR Recomm Rep. 2021;70(4):1-187. Publicado em 2021 Jul 23. doi:10.15585/mmwr.rr7004a1. Erratum: Vol. 70, No. RR-4. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2023;72(4):107-108. Publicado em 2023 Jan 27. doi:10.15585/mmwr.mm7204a5
4. LeFevre ML; U.S. Preventive Services Task Force. Screening for Chlamydia and gonorrhea: U.S. Preventive Services Task Force recommendation statement. Ann Intern Med. 2014;161(12):902-910. doi:10.7326/M14-1981LeFevre ML; U.S. Preventive Services Task Force. Screening for Chlamydia and gonorrhea: U.S. Preventive Services Task Force recommendation statement. Ann Intern Med. 2014;161(12):902-910. doi:10.7326/M14-1981
5. Weston EJ, Heidenga BL, Farley MM, et al. Surveillance for Disseminated Gonococcal Infection Clin Infect Dis. 2022;75(6):953-958. doi:10.1093/cid/ciac052
6. Creighton S. Gonorrhoea. BMJ Clin Evid. 2014;2014:1604. Publicado em 2014 Fev 21.
Sinais e sintomas da gonorreia
A maioria das mulheres com infecção gonocócica urogenital é assintomática (aproximadamente 90%), enquanto as taxas relatadas de infecção assintomática em homens variam de 56% a 87% (1).
Uretrite masculina tem um período de incubação de 2 a 14 dias. O início geralmente é caracterizado por leve desconforto na uretra, seguido por sensibilidade peniana grave e dor, disúria e secreção purulenta. Frequência e urgência urinárias podem se desenvolver como disseminação da doença para a parte posterior da uretra. Durante o exame, uma secreção uretral purulenta amarelo-esverdeada pode ser detectada, e o meato pode estar inflamado.
Epididimite geralmente causa dor escrotal unilateral, sensibilidade e edema. Raramente, homens desenvolvem abscessos das glândulas de Tyson e Littré, abscessos periuretrais ou infecção das glândulas de Cowper, da próstata e das vesículas seminais.
Cervicite com frequência tem um período de incubação de > 10 dias. Os sintomas variam de leves a intensos e incluem disúria, polaciúria e corrimento vaginal. Durante o exame pélvico, o médico pode notar uma secreção purulenta ou mucopurulenta e o colo do útero pode estar vermelho e sangrar facilmente ao toque do espéculo. Uretrite pode ocorrer simultaneamente; pus pode ser eliminado pela uretra quando a sínfise púbica é pressionada ou das glândulas de Skene ou das glândulas de Bartholin. Raramente, infecções podem ocorrer em meninas pré-púberes resultantes de abuso sexual. Esses pacientes podem apresentar disúria, corrimento vaginal purulento e irritação vulvar, eritema e edema.
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Doença inflamatória pélvica ocorre em 10 a 20% das mulheres infectadas (2). Pode incluir salpingite, peritonite pélvica e abscessos pélvicos e produzir desconforto abdominal inferior, tipicamente bilateral, dispareunia e evidente sensibilidade à palpação do abdome, dos anexos e do colo do útero.
A síndrome de Fitz-Hugh-Curtis é uma peri-hepatite gonocócica (ou por clamídia) que ocorre predominantemente em mulheres e produz dor abdominal no hipocôndrio direito, febre, náuseas e vômitos, na maioria das vezes semelhante a doença hepática ou biliar.
Gonorreia retal geralmente é assintomática. Ocorre principalmente em homens que praticam sexo anal receptivo, mas também pode ocorrer em mulheres que praticam sexo anal. Os sintomas incluem prurido retal, secreção retal turva ou fezes revestidas de pus, irritação perianal, sangramento e obstipação — todos de gravidade variada. Proctoscopia pode mostrar eritema ou exsudato mucopurulento na parede retal.
Faringite gonocócica na maioria das vezes não é sintomática, mas pode provocar faringite. N. gonorrhoeae deve ser diferenciado de N. meningitidis e de outros organismos estritamente relacionados que, muitas vezes, estão presentes na garganta sem causar sintomas ou danos.
Conjuntivite gonocócica pode causar injeção conjuntival, secreção purulenta e edema.
A infecção gonocócica disseminada (IGD), também chamada de síndrome artrite-dermatite, é causada por bacteremia e apresenta-se caracteristicamente com febre, dor migratória ou inchaço articular (artrite) e lesões cutâneas pustulares. Muitos pacientes desenvolvem tenossinovite, com frequência nos tendões flexores do punho ou no tendão do calcâneo. As lesões cutâneas normalmente ocorrem nos braços ou pernas, apresentam base eritematosa, são pequenas, ligeiramente dolorosas e frequentemente pustulares. Raramente a IGD causa endocardite ou infecção do sistema nervoso central. Gonorreia genital, a fonte habitual de infecção disseminada, pode ser assintomática. IGD pode imitar outros doenças que causam febre, lesões cutâneas e poliartrite (p. ex., pródromo de infecção por hepatite B, ou meningococcemia); algumas dessas outras doenças (p. ex., artrite reativa) também podem causar sintomas genitais.
Imagem cedida por cortesia de Dr. S. E. Thompson e J. Pledger via Public Health Image Library of the Centers for Disease Control and Prevention.
Artrite gonocócica séptica é a forma mais localizada de IGD e resulta em artrite séptica com derrame, geralmente 1 ou 2 articulações estão envolvidas, em especial os joelhos, tornozelos, punhos e cotovelos. Alguns pacientes apresentam ou têm história de lesões cutâneas da IGD. Muitas vezes, o início é agudo, com febre, dor intensa e limitação de movimentos, mas pode ocorrer sem sintomas constitucionais. Articulações infectadas ficam edemaciadas e a pele pode estar quente e hiperemiada.
Referência sobre sinais e sintomas
1. Tuddenham S, Hamill MM, Ghanem KG. Diagnosis and Treatment of Sexually Transmitted Infections: A Review. JAMA. 2022;327(2):161-172. doi:10.1001/jama.2021.23487
2. Workowski KA, Bachmann LH, Chan PA, et al. Sexually Transmitted Infections Treatment Guidelines, 2021. MMWR Recomm Rep. 2021;70(4):1-187. Publicado em 2021 Jul 23. doi:10.15585/mmwr.rr7004a1. Erratum: Vol. 70, No. RR-4. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2023;72(4):107-108. Publicado em 2023 Jan 27. doi:10.15585/mmwr.mm7204a5
Diagnóstico da gonorreia
Testes de amplificação de ácido nucleico (NAAT)
Coloração de Gram e cultura
Diagnostica-se a gonorreia quando gonococos são detectados por meio de ensaio baseado em ácidos nucleicos, exame microscópico utilizando coloração de Gram ou cultura de líquidos genitais, sangue ou líquidos articulares (obtidos por aspiração com agulha).
NAATs podem ser realizados com esfregaços genitais, retais ou orais e podem detectar gonorreia e clamídia. Os NAATs aumentam ainda mais a sensibilidade de forma adequada, de modo a permitir o teste de urina em ambos os sexos.
A coloração Gram é sensível e específica para gonorreia em amostras colhidas de homens com secreção uretral; normalmente, são vistos diplococos intracelulares Gram-negativos. A coloração de Gram é muito menos precisa para as infecções de colo do útero, faringe e reto, não sendo recomendada para diagnóstico destes locais.
A cultura é sensível e específica, mas como os gonococos são frágeis e pesados, as amostras obtidas utilizando-se swab precisam ser rapidamente semeadas em meio apropriado (p. ex., o meio de Thayer-Martin modificado) e transportadas para o laboratório em um ambiente com acréscimo de dióxido de carbono. As amostras do sangue e de líquidos articulares devem ser enviadas ao laboratório com notificação de suspeita de gonorreia. Como os testes de amplificação de ácidos nucleicos substituíram as culturas na maioria dos laboratórios, encontrar um laboratório que possa fazer a cultura e o teste de sensibilidade pode ser difícil e exige consulta com um profissional de saúde pública ou um infectologista.
Descobriu-se que a uretrite meningocócica é uma causa de uretrite não gonocócica em alguns centros de DST (infecção sexualmente transmissível) nos Estados Unidos (1). A Neisseria meningitidis não pode ser distinguida da N. gonorrhoeae na coloração de Gram e tem aparência semelhante de morfologia da colônia na cultura. Presume-se o diagnóstico de uretrite gonocócica com base na coloração de Gram com diplococos Gram-negativos, mas um NAAT negativo para gonorreia requer a confirmação de Neisseria spp por cultura.
Nos Estados Unidos, casos confirmados de gonorreia, infecção por clamídia e sífilis devem ser notificados ao sistema de saúde pública. Testes sorológicos para sífilis (STS), HIV e NAAT para a triagem de infecção por clamídia também devem ser realizados.
Homens com uretrite
Os homens com descarga uretral evidente podem ser tratados presuntivamente se a probabilidade de acompanhamento for duvidosa ou se os instrumentos de diagnósticos com embasamento clínico não estiverem disponíveis.
As amostras de coloração de Gram podem ser obtidas por swab ou deslizamento até a extremidade do pênis para coletar a secreção. A coloração de Gram não identifica clamídia, assim são obtidos NAAT ou swabs de amostras da urina.
Mulheres com cervicite ou doença inflamatória pélvica
Um swab cervical deve ser enviado para cultura ou NAAT. Se o exame pélvico não for possível, NAAT de uma amostra de urina ou swab vaginal autocoletável pode detectar infecções gonocócicas (e por clamídia) de forma rápida e confiável.
Exposições retais ou faríngeas
Swabs da área afetada são enviados para cultura ou NAAT.
Artrite, infecção gonocócica disseminada (IGD) ou ambas
Deve-se aspirar a articulação afetada e enviar o líquido para cultura e análise de rotina (ver Artrocentese). Pacientes com lesões cutâneas, sintomas sistêmicos ou ambos devem fazer cultura ou NAAT sanguíneo, uretral, cervical e retal. Em 30 a 40% dos pacientes com IGD, culturas de sangue são positivas na primeira semana da doença. Com artrite séptica, culturas de sangue são positivas com menos frequência, mas as de líquidos da articulação são positivas na maioria das vezes. O líquido articular geralmente é indistinto a purulento por causa da alta contagem de leucócitos (tipicamente, > 20.000/mcL).
Referência sobre diagnóstico
1. Bazan JA, Peterson AS, Kirkcaldy RD, et al. Notes from the field. Increase in Neisseria meningitidis–associated urethritis among men at two sentinel clinics — Columbus, Ohio, and Oakland County, Michigan, 2015. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2016;65:550–552. doi:10.15585/mmwr.mm6521a5
Triagem para gonorreia
Os pacientes assintomáticos considerados em alto risco de infecções sexualmente transmissíveis podem ser triados por NAAT de amostras de urina, não exigindo, portanto, procedimentos invasivos para coletar amostras genitais. As recomendações de rastreamento a seguir baseiam-se nas diretrizes dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e da Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos (USPSTF) (1, 2).
Mulheres sexualmente ativas com < 25 anos devem ser examinadas anualmente, bem como aquelas com ≥ 25 anos, sexualmente ativas, que apresentam um ou mais dos seguintes fatores de risco:
Têm história de infecções sexualmente transmissíveis
Atividade sexual com risco aumentado de exposição (p. ex., ter um novo parceiro sexual ou mais de um parceiro sexual; envolver-se em trabalho sexual; ou utilizar preservativos de forma inconsistente quando não estão em um relacionamento mutuamente monogâmico)
Têm um parceiro que tem uma IST ou que tem parceiros sexuais simultâneos
Examinam-se as gestantes com < 25 anos ou aquelas com ≥ 25 anos e que têm um ou mais dos fatores de risco durante a primeira consulta pré-natal e novamente no 3º trimestre para aquelas < 25 anos ou com alto risco. Gestantes com gonorreia que foi tratada devem ser testadas novamente em 3 meses.
Examinam-se os homens que fazem sexo com homens pelo menos uma vez por ano se foram sexualmente ativos no ano anterior (para relação sexual com penetração, exame de urina; para relação sexual receptiva, swab retal; e para relação sexual oral, swab faríngeo), independentemente do uso de preservativo. Aqueles com maior risco (p. ex., com infecção pelo HIV, recebem profilaxia pré-exposição com antirretrovirais, têm múltiplos parceiros sexuais, ou cujo parceiro tem múltiplos parceiros) devem ser examinados com mais frequência, em intervalos de 3 a 6 meses.
Examinam-se pessoas transgênero e de gênero diverso que sejam sexualmente ativas de acordo com suas práticas sexuais e anatomia (p. ex., triagem anual de todas as pessoas que têm um colo do útero com < 25 anos; se ≥ 25 anos de idade, deve-se testar anualmente aquelas que têm colo do útero se elas tiverem um risco aumentado; swab retal com base em comportamentos sexuais relatados e exposição).
Não há evidências suficientes para o rastreamento de homens não incluídos nas categorias acima que têm baixo risco de infecção. A triagem pode ser oferecida, porém, sob solicitação ou em ambientes clínicos com alta prevalência de clamídia (p. ex., clínicas para adolescentes, clínicas de IST, instituições correcionais).
Referências sobre triagem
1. Workowski KA, Bachmann LH, Chan PA, et al. Sexually Transmitted Infections Treatment Guidelines, 2021. MMWR Recomm Rep. 2021;70(4):1-187. Publicado em 2021 Jul 23. doi:10.15585/mmwr.rr7004a1. Erratum: Vol. 70, No. RR-4. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2023;72(4):107-108. Publicado em 2023 Jan 27. doi:10.15585/mmwr.mm7204a5
2. U.S. Preventive Services Task Force: Final Recommendation Statement: Chlamydia and Gonorrhea: Screening. 2021.
Tratamento da gonorreia
Para infecção não complicada, dose única de ceftriaxona
Tratamento concomitante de infecção por clamídia
Tratamento de parceiros sexuais nos últimos 60 dias e/ou o parceiro sexual mais recente
Para infecção gonocócica disseminada (IGD) com artrite, um ciclo mais longo de antibióticos parenterais
A infecção gonocócica não complicada da uretra, colo do útero, reto e faringe é tratada com o seguinte:
Uma dose única de ceftriaxona, 500 mg, IM (1 g IM para pacientes com peso ≥ 150 kg)
Se ceftriaxona não estiver disponível, pacientes podem receber uma dose única de cefixima 800 mg por via oral.
Se a infecção por clamídia não tiver sido excluída, deve-se tratá-la com doxiciclina 100 mg por via oral, 2 vezes ao dia, durante 7 dias (ou uma dose única de azitromicina 1 g por via oral em pacientes alérgicos a doxiciclina).
Pacientes alérgicos a cefalosporinas (incluindo ceftriaxona) são tratados com o seguinte:
Uma dose única de gentamicina 240 mg IM mais uma dose única de azitromicina 2 g por via oral
Pacientes grávidas devem ser tratadas com uma dose única de ceftriaxona como acima; consulta especializada deve ser buscada para pacientes alérgicas. Clamídia deve ser excluída ou tratada (1).
IGD com artrite gonocócica é inicialmente tratada com antibióticos IM ou IV (p. ex., ceftriaxona, 1 g, IM ou IV, a cada 24 horas; ceftizoxima, 1 g, IV, a cada 8 horas; cefotaxima, 1 g, IV, a cada 8 horas), mantidos por 24 a 48 horas após os sintomas melhorarem, seguidos de terapia oral guiada pelos testes de sensibilidade antimicrobiana, em um curso de tratamento total de pelo menos 7 dias. Se a infecção por clamídia não tiver sido excluída, doxiciclina 100 mg por via oral, duas vezes ao dia, por 7 dias (1) deve ser adicionada.
A artrite gonocócica purulenta geralmente requer drenagem recorrente de líquido sinovial com artrocentese repetida ou de modo artroscópico. No início, a articulação é imobilizada em uma posição funcional. Devem ser iniciados exercícios passivos com extensão de movimentos assim que os pacientes conseguirem tolerá-los. Quando a dor diminuir, exercícios mais ativos, com alongamento, movimentos ativos de extensão e fortalecimento do músculo, devem ser iniciados. Mais de 95% dos pacientes tratados com artrite gonocócica recuperam completamente a função da articulação. Como acúmulos estéreis (derrames) das articulações podem se desenvolver e persistir por períodos prolongados, um anti-inflamatório pode ser benéfico.
Culturas pós-tratamento são desnecessárias se a resposta sintomática for adequada. Mas para pacientes com sintomas > 7 dias, as amostras devem ser obtidas, culturas devem ser feitas e testadas para sensibilidade a antimicrobianos.
Todos os pacientes com gonorreia devem se privar de atividade sexual até que o tratamento seja concluído.
Parceiros sexuais
Todos os parceiros sexuais que tiveram contato sexual com o paciente nos últimos 60 dias ou que são o parceiro sexual mais recente devem ser testados quanto a gonorreia e outras infecções sexualmente transmissíveis e tratados caso os resultados sejam positivos. Os parceiros sexuais com contatos nas últimas 2 semanas devem receber tratamento presuntivo para gonorreia (tratamento epidemiológico).
Tratamento imediato do parceiro (TIP) é uma prática na qual pacientes com infecção recebem uma prescrição ou medicamentos para entregar ao seu parceiro sem que um profissional de saúde examine primeiro o parceiro. A EPT pode aumentar a adesão dos parceiros e reduzir a falha terapêutica por reinfecção. Pode ser mais adequado para os parceiros de mulheres com gonorreia ou infecção por clamídia. Entretanto, é preferível um exame com um profissional de saúde para apurar história de alergia a medicamentos e para triar outras infecções sexualmente transmissíveis (1).
Profilaxia pós-exposição com doxiciclina tomada por via oral dentro de 72 horas de sexo sem preservativo demonstrou reduzir significativamente a incidência de clamídia, gonorreia e sífilis em homens que fazem sexo com homens e mulheres transgênero (2). Isso é verdade apesar da resistência à doxiciclina em algumas cepas de gonorreia.
Referências sobre tratamento
1. Workowski KA, Bachmann LH, Chan PA, et al. Sexually Transmitted Infections Treatment Guidelines, 2021. MMWR Recomm Rep. 2021;70(4):1-187. Publicado em 2021 Jul 23. doi:10.15585/mmwr.rr7004a1. Erratum: Vol. 70, No. RR-4. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2023;72(4):107-108. Publicado em 2023 Jan 27. doi:10.15585/mmwr.mm7204a5
2. Bachmann LH, Barbee LA, Chan P, et al. CDC Clinical Guidelines on the Use of Doxycycline Postexposure Prophylaxis for Bacterial Sexually Transmitted Infection Prevention, United States, 2024. MMWR Recomm Rep. 2024;73(2):1-8. Publicado em 2024 Jun 6. doi:10.15585/mmwr.rr7302a1
Pontos-chave
Infecção por Neisseria gonorrhoeae costuma causar infecção não complicada da uretra, colo do útero, reto, faringe e/ou conjuntiva.
Às vezes ela se propaga para os anexos, causando salpingite, ou se dissemina para a pele e/ou as articulações, provocando lesões cutâneas ou artrite séptica.
Diagnosticar utilizando testes de amplificação de ácidos nucleicos (NAATs), mas cultura e teste de sensibilidade devem ser realizados quando necessário para detectar a resistência antimicrobiana.
Utilizar NAATs para triagem de pacientes de alto risco.
Tratar a infecção não complicada com uma dose única de ceftriaxona, 500 mg, IM (1 g IM para pacientes com peso ≥ 150 kg); adicionar doxiciclina oral (100 mg, duas vezes ao dia, durante 7 dias) quando não tiver sido excluída infecção por clamídia.
