Febre de Lassa

PorThomas M. Yuill, PhD, University of Wisconsin-Madison
Revisado/Corrigido: jun 2023
Visão Educação para o paciente

A febre de Lassa é uma infecção por arenavírus frequentemente fatal e que ocorre principalmente na África Ocidental. Pode envolver sistemas de múltiplos órgãos. O diagnóstico é realizado com testes de sorologia e PCR (polymerase chain reaction). O tratamento é feito com ribavirina intravenosa.

O vírus Lassa é um vírus de RNA de fita simples da família Arenaviridae. Epidemias de febre de Lassa ocorreram na Nigéria, Libéria, Guiné Togo, Benin, Gana e Serra Leoa. Foram levados casos para os Estados Unidos, Alemanha, Suécia e o Reino Unido. Embora os casos possam ocorrer em qualquer época do ano em países endêmicos, há um pico sazonal no período de fevereiro a março. Os profissionais de saúde devem estar preparados para o aumento da ocupação hospitalar e deve-se intensificar a vigilância durante esse período.

O reservatório é o rato Mastomys natalensis, M. erythroleucus e Hylomyscus pamfi. O camundongo pigmeu (Mus baoulei), que comumente habita casas na África, foi recentemente implicado como uma espécie reservatório na África Ocidental. A maioria dos casos em humanos resulta da contaminação de alimentos com urina, saliva ou fezes de roedores, mas pode ocorrer transmissão entre as pessoas por exposição a urina, fezes, saliva, vômitos ou sangue das pessoas infectadas. A transmissão nosocomial de uma pessoa para outra é comum quando não equipamentos de proteção pessoal disponíveis, ou não são utilizados.

Com base em dados sorológicos, os povos indígenas de áreas endêmicas têm uma taxa muito alta de infecção — muito mais alta do que sua taxa de hospitalização por febre de Lassa—sugerindo que muitas infecções são leves e autolimitadas. Mas alguns estudos observacionais com missionários enviados para áreas endêmicas mostram que esses povos têm uma taxa muito mais alta de doença grave e de mortalidade. Os Centers for Disease Control and Prevention (CDC) estimam que cerca de 80% das pessoas infectadas têm doença leve e aproximadamente 20% têm doença grave multissistêmica (1).

Referência

  1. 1. Aloke C, Obasi NA, Aja PM, et al: Combating Lassa Fever in West African Sub-Region: Progress, Challenges, and Future Perspectives. Viruses 15(1):146, 2023. Publicado em 3 de janeiro de 2023. doi:10.3390/v15010146

Sinais e sintomas da febre de Lassa

O período de incubação da febre de Lassa é de 5 a 16 dias.

Os sintomas da febre de Lassa começam com febre gradualmente progressiva, fraqueza, mal-estar e sintomas gastrointestinais (p. ex., náuseas, vômitos, diarreia, disfagia, dor de estômago); sinais e sintomas de hepatite podem ocorrer. Durante os 4 a 5 dias subsequentes, os sintomas progridem com prostração e dor de garganta, tosse, dor torácica e vômitos. A dor de garganta se torna mais intensa durante a primeira semana; placas de exsudato brancas ou amarelas podem aparecer nas tonsilas, com frequência coalescendo em uma pseudomembrana.

Em casos graves, podem ocorrer edema facial, líquido na cavidade pulmonar, sangramento da boca, nariz, vagina ou trato gastrointestinal e baixa pressão arterial (ver Organização Mundial da Saúde [OMS]: Lassa fever).

Ocasionalmente, pacientes apresentam tinido, epistaxe, exantema maculopapular, tosse e vertigem.

Cerca de 20-30% dos pacientes desenvolvem perda auditiva neurossensorial (1), na maioria das vezes, permanente.

Os pacientes que se recuperam defervescem em 4 a 7 dias. A progressão para doença grave resulta em choque, delirium, estertores, derrame pleural e, ocasionalmente, convulsões generalizadas. Pericardite ocorre algumas vezes. O grau de febre e os níveis de aminotransferase correlacionam-se com a gravidade da doença.

São sequelas tardias: alopecia, iridociclite e cegueira passageira.

Referência sobre sinais e sintomas

  1. 1. Cummins D, McCormick JB, Bennett D, et al. Acute sensorineural deafness in Lassa fever. JAMA 264(16):2093-2096, 1990

Diagnóstico da febre de Lassa

  • PCR (polymerase chain reaction) ou sorologia

Suspeita-se de febre de Lassa em pacientes possivelmente expostos, que tenham um pródromo viral seguido por doença inexplicada de qualquer sistema de órgãos.

Na suspeita, testes hepáticos, análise de urina, testes sorológicos e hemograma completo devem ser obtidos. Proteinúria é comum e pode ser intensa. Os níveis de aspartato aminotransferase (AST) e alanina aminotransferase (ALT) aumentam (para 10 vezes o normal), bem como os níveis de desidrogenase lática.

O teste diagnóstico mais rápido é a PCR, embora a demonstração de anticorpos IgM para Lassa, ou um aumento de 4 vezes o título de anticorpos IgG, por meio de técnica de fluorescência indireta para anticorpos, também seja empregada para tal.

O isolamento do vírus que cresce em culturas não é realizado rotineiramente. Em razão do risco de infecção, em particular em pacientes com febre hemorrágica, as culturas devem ser realizadas somente em laboratório com nível 4 de biossegurança.

Em radiografa de tórax, obtida quando há suspeita de envolvimento pulmonar, pode-se observar pneumonite basilar e derrame pleural.

Tratamento da febre de Lassa

  • Ribavirina

A ribavirina pode reduzir a mortalidade em mais de 10 vezes, se introduzida dentro dos primeiros 6 dias.

Plasma para febre anti-Lassa foi experimentado em pacientes muito enfermos, mas não mostrou ser benéfico e não é recomendado.

O tratamento de suporte, incluindo a correção de líquidos e desequilíbrios de eletrólitos, é imperativo.

Para gestantes infectadas, o aborto diminui o risco de morte materna.

Prognóstico da febre de Lassa

Recuperação ou morte geralmente ocorre em 7 a 31 dias (média de 12 a 15 dias) depois do início dos sintomas. Aproximadamente 15 a 20% dos pacientes hospitalizados por febre grave de Lassa morrem da doença (Centers for Disease Control and Prevention [CDC]: Lassa Fever Signs and Symptoms).

A doença é grave durante a gestação, especialmente durante o 3º trimestre. A maioria das gestantes infectadas perde o feto (CDC: Lassa Fever Signs and Symptoms).

Prevenção da febre de Lassa

Ao tratar pacientes com febre de Lassa, recomenda-se a adoção de precauções universais como o uso de equipamentos de prevenção pessoal e outras medidas de isolamento com relação à transmissão pelo ar (p. ex., uso de óculos de proteção, máscara de alta eficiência, ambiente com pressão negativa e respiradores de ar com filtro de pressão positiva) e recomenda-se monitoramento dos contatos ao tratar pacientes com a febre de Lassa.

A transmissão primária do vírus Lassa de seu hospedeiro roedor para seres humanos pode ser prevenida em áreas endêmicas evitando alimentos, água e ambiente contaminados por roedores infectados; entretanto, a ampla distribuição desses hospedeiros roedores na África torna impraticável o controle total desses reservatórios. Diretrizes para limpeza dos locais de roedores e realização de atividades em áreas com potenciais excrementos de roedores do Centers for Disease Control and Prevention (CDC).

Não há vacina disponível contra a febre de Lassa.

Pontos-chave

  • A febre de Lassa costuma ser transmitida pela ingestão de alimentos contaminados com excreção de roedores, mas a transmissão entre pessoas pode ocorrer por urina, fezes, saliva, vômito ou sangue infectados.

  • Os sintomas podem progredir de febre, fraqueza, mal-estar e sintomas gastrointestinais para prostração com dor de garganta, tosse, dor no peito e vômitos; às vezes a choque, delirium, estertores e derrame pleural; e, ocasionalmente, para doença grave e choque.

  • Para o diagnóstico mais rápido, utilizar PCR, mas testes de anticorpos também podem ser utilizados.

  • A febre de Lassa é grave durante a gestação; a maioria das gestantes infectadas perde o feto.

  • Ribavirina, se iniciada nos 6 primeiros dias, pode reduzir em até 10 vezes a taxa de mortalidade; tratamento de suporte, incluindo a correção de líquidos e desequilíbrios de eletrólitos, é imperativo.

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