Beriliose

(Beriliose)

PorCarrie A. Redlich, MD, MPH, Yale Occupational and Environmental Medicine Program Yale School of Medicine;
Efia S. James, MD, MPH, Yale School of Medicine;Brian Linde, MD, MPH, Yale Occ and Env Medicine Program
Revisado/Corrigido: out 2023
Visão Educação para o paciente

A beriliose aguda e a beriliose crônica são causadas pela inalação de poeiras ou vapores de compostos e produtos que contêm berílio. A beriliose aguda é atualmente rara; a beriliose crônica é caracterizada pela formação de granulomas, especialmente nos pulmões e nos linfonodos intratorácicos. As manifestações da beriliose crônica muitas vezes são semelhantes às da sarcoidose pulmonar, com dispneia progressiva, tosse e fadiga. Sem uma anamnese ocupacional e ambiental abrangente, a doença pode ser diagnosticada como sarcoidose. O diagnóstico é feito a partir da história e testes diagnósticos. O tratamento é semelhante à sarcoidose pulmonar.

(Ver também Visão geral da doença pulmonar ambiental e ocupacional.)

Fisiopatologia da beriliose

A beriliose aguda é uma pneumonite química, caracterizada por infiltrados inflamatórios difusos no parênquima e edema intra-alveolar inespecífico. Atualmente, a beriliose aguda é rara porque muitas indústrias reduziram os níveis de exposição.

A beriliose crônica continua a ocorrer em indústrias que utilizam berílio e liga metálica de berílio. Difere da maioria das pneumoconioses porque é uma doença por hipersensibilidade mediada por célula. Os linfócitos T tornam-se sensibilizados ao berílio e depois se proliferam na reexposição. Isso leva à liberação de citocinas pró-inflamatórias (como o fator de necrose tumoral alfa, a interleucina-2 e o interferon-gamma) e inflamação granulomatosa. A proliferação de linfócitos T dos pulmões ou do sangue, quando expostos ao berílio in vitro, forma a base do teste de proliferação de linfócitos com berílio (TPLBe), que é utilizado clinicamente para identificar sensibilização imunológica ao berílio.

A característica patológica típica é uma reação granulomatosa difusa dos linfonodos pulmonares, hilares e/ou mediastinais que é histologicamente indistinguível de sarcoidose.

O risco de progressão da exposição ao berílio à sensibilização ao berílio é multifatorial, incluindo a dose das exposições, a duração das exposições e fatores genéticos.

Estudos mostraram que cerca de 1% a 18% dos trabalhadores expostos ao berílio desenvolvem sensibilide ao berílio (definida pela proliferação positiva de linfócitos sanguíneos para sais de berílio in vitro), com 6% a 8% dos trabalhadores progredindo para beriliose crônica (1). Trabalhadores sob exposições passivas, como assistentes administrativos e guardas de segurança, também podem desenvolver sensibilidade e doença, mas em taxas mais baixas.

Referência sobre fisiopatologia

  1. 1. MacMurdo MG, Mroz MM, Culver DA, Dweik RA, Maier LA. Chronic Beryllium Disease: Update on a Moving Target. Chest 2020;158(6):2458-2466. doi:10.1016/j.chest.2020.07.074

Etiologia da doença de berílio

A exposição ao berílio pode ocorrer em muitas indústrias, incluindo mineração e extração de berílio, produção de ligas, usinagem de ligas metálicas, eletrônica, telecomunicações, armas nucleares e indústrias da defesa, indústria aeroespacial, e recuperação e reciclagem de metais. Pequenas quantidades de berílio também podem ser adicionadas ao cobre, alumínio, níquel e outros metais para fazer ligas de berílio. Como o berílio é um sensibilizador, exposições em níveis relativamente baixos podem causar doença em indivíduos suscetíveis.

Sinais e sintomas da doença de berílio

Pacientes com beriliose crônica apresentam dispneia, tosse, sudorese noturna, fadiga e perda ponderal. Os sintomas podem desenvolver-se dentro de meses a partir da primeira exposição ou > 30 anos após a interrupção da exposição.

Como as manifestações clínicas são indistinguível da sarcoidose predominantemente pulmonar, os pacientes podem ser erroneamente diagnosticados com sarcoidose. Portanto, é importante considerar a beriliose crônica em pacientes que receberam diagnóstico de sarcoidose (1).

Referência sobre sinais e sintomas

  1. 1. MacMurdo MG, Mroz MM, Culver DA, et al. Chronic Beryllium Disease: Update on a Moving Target. Chest 2020;158(6):2458-2466. doi:10.1016/j.chest.2020.07.074

Diagnóstico da doença de berílio

O diagnóstico da beriliose crônica baseia-se tipicamente em (1):

  • Radiografia ou TC do tórax

  • Sensibilidade ao berílio, que é estabelecida com um teste de proliferação de linfócitos com berílio (TPLBe) anormal, utilizando sangue periférico ou células de lavado broncoalveolar

  • Biópsia pulmonar para documentar inflamação granulomatosa

Uma radiografia de tórax pode ser normal ou mostrar infiltrados difusos que podem ser nodulares, reticulares ou ter uma aparência de vidro fosco enevoado nas zonas pulmonares superiores, muitas vezes com adenopatia hilar e mediastinal semelhante ao padrão observado na sarcoidose. TC de tórax de alta resolução é mais sensível que a radiografia, embora casos da doença comprovada por biópsia ocorram mesmo em indivíduos com resultados normais de métodos de imagem.

De modo semelhante à sarcoidose, os resultados dos testes de função pulmonar são variáveis e podem mostrar restrição, redução da capacidade de difusão de monóxido de carbono (DLCO) e/ou obstrução.

O TPLBe, no qual os linfócitos, obtidos de uma amostra de sangue ou do lavado broncoalveolar, são cultivados com sulfato de berílio, é utilizado para detectar sensibilização imunitária ao berílio. O TPLBe é recomendado em todos os casos com suspeita de beriliose. Também é utilizado para detectar sensibilização em trabalhadores expostos ao berílio.

Estabelecer o diagnóstico de beriliose pode ser desafiador porque o TPLBe tem limitações e não está amplamente disponível, e nem sempre é possível obter tecido pulmonar. Entretanto, pode-se fazer o diagnóstico da provável beriliose com diferentes combinações dos critérios diagnósticos, incluindo história de exposição, exames de imagem do tórax com achados consistentes com sarcoidose, resultados de testes de função pulmonar anormais, resultados de TPLBe anormais, linfocitose do lavado broncoalveolar (LBA) e inflamação granulomatosa na biópsia pulmonar. Deve-se observar que certos achados, como um TPLBe anormal, fornecem maior certeza diagnóstica do que outros, como alterações radiográficas inespecíficas.

Referência sobre diagnóstico

  1. 1. Balmes JR, Abraham JL, Dweik RA, et al. An official American Thoracic Society statement: diagnosis and management of beryllium sensitivity and chronic beryllium disease. Am J Respir Crit Care Med 2014;190(10):e34-e59. doi:10.1164/rccm.201409-1722ST

Tratamento da doença de berílio

  • Cessação da exposição

  • Às vezes, corticoides e imunossupressores orais

Pacientes com beriliose crônica devem parar de se expor mais ao berílio.

A história natural da beriliose crônica é variável, e alguns pacientes não necessitam de tratamento porque a doença é estável ou progride de maneira relativamente lenta. Caso contrário, o tratamento é semelhante ao da sarcoidose pulmonar.

Os corticoides geralmente são iniciados em pacientes com uma combinação de sintomas pulmonares e evidências clínicas de progressão da doença (1, 2). Em geral, administra-se prednisona por 3 a 6 meses. Em seguida, repetem-se as medidas da fisiologia pulmonar e das trocas gasosas para documentar a resposta ao tratamento. A dose de corticoide é gradualmente reduzida até a menor dose que mantém a melhora sintomática e objetiva. Utiliza-se terapia poupadora de corticoides, como com metotrexato (ou infliximabe), com base em uma abordagem semelhante utilizada na sarcoidose.

Diferentemente dos casos de sarcoidose, a remissão espontânea da beriliose crônica é incomum. Pacientes com doença terminal podem ser elegíveis para transplante de pulmão. Se necessário, podem-se empregar cuidados de suporte, como oxigenioterapia, reabilitação pulmonar e medicamentos para o tratamento de insuficiência cardíaca direita.

Referências sobre o tratamento

  1. 1. Balmes JR, Abraham JL, Dweik RA, et al. An official American Thoracic Society statement: diagnosis and management of beryllium sensitivity and chronic beryllium disease. Am J Respir Crit Care Med 2014;190(10):e34-e59. doi:10.1164/rccm.201409-1722ST

  2. 2. MacMurdo MG, Mroz MM, Culver DA, Dweik RA, Maier LA. Chronic Beryllium Disease: Update on a Moving Target. Chest 2020;158(6):2458-2466. doi:10.1016/j.chest.2020.07.074

Prognóstico para doença de berílio

Similarmente à sarcoidose, a beriliose crônica tem evolução clínica variável. A doença pode permanecer estável ou progredir lentamente, com perda da função respiratória ao longo do tempo. Em um subconjunto de casos, a beriliose crônica pode progredir para doença pulmonar em estádio terminal. Notavelmente, a doença frequentemente progride depois de eliminada a exposição (1).

Referência sobre prognóstico

  1. 1. MacMurdo MG, Mroz MM, Culver DA, Dweik RA, Maier LA. Chronic Beryllium Disease: Update on a Moving Target. Chest 2020;158(6):2458-2466. doi:10.1016/j.chest.2020.07.074

Prevenção da doença de berílio

As instituições que utilizam produtos contendo berílio devem implementar um programa de controle para minimizar a exposição ao berílio. A Administração de Segurança e Saúde Ocupacional dos Estados Unidos (OSHA) estabeleceu o limite de exposição permissível (LEP) do berílio para 0,2 microgramas por metro cúbico de ar, calculado como uma média ponderada ao longo de 8 horas (ver OSHA Beryllium Standards). Espera-se que esse padrão reduza a quantidade de casos, mas não elimine inteiramente a beriliose crônica, uma vez que os casos ainda podem se desenvolver em níveis de exposição abaixo do padrão da OSHA. Esforços também devem ser feitos para minimizar a exposição da pele, dado o potencial de sensibilização após o contato com a pele.

Recomenda-se vigilância médica, incluindo TPLBe do sangue e testes de função pulmonar, para trabalhadores expostos. Profissionais com resultado positivo de TPLBe devem ser submetidos a avaliação adicional com TC de tórax e possível broncoscopia para determinar se têm beriliose crônica.

Pontos-chave

  • A beriliose ainda está sendo estudada e afeta trabalhadores de muitos setores da indústria.

  • Deve-se considerar a beriliose crônica em pacientes com suposta sarcoidose em decorrência de suas características clínicas semelhantes.

  • TC de alta resolução e o teste de proliferação dos linfócitos com berílio (TPLBe) utilizando sangue ou células de lavado broncoalveolar para facilitar o diagnóstico de beriliose crônica

  • Pacientes sintomáticos com tosse e dispneia podem ser tratados com corticosteroides e, às vezes, imunossupressores.

  • A prevenção envolve minimizar a exposição ao pó de berílio e a vigilância médica dos trabalhadores expostos.

Informações adicionais

O recurso em inglês a seguir pode ser útil. Observe que este Manual não é responsável pelo conteúdo deste recurso.

  1. Balmes JR, Abraham JL, Dweik RA, et al. An official American Thoracic Society statement: diagnosis and management of beryllium sensitivity and chronic beryllium disease. Am J Respir Crit Care Med 2014;190(10):e34-e59. doi:10.1164/rccm.201409-1722ST

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