(Ver também Visão geral da anemia hemolítica.)
Deficiência de G6PDO, um defeito na derivação da via da hexose monofosfato, é o distúrbio mais comum do metabolismo dos eritrócitos. O gene da G6PD está localizado no cromossomo X e exibe uma grande quantidade de variação (polimorfismo) resultando em uma gama de atividade de G6PD de normal a gravemente deficiente. As variantes são classificadas de I a V de acordo com a intensidade da atividade da enzima G6PD. Como o gene está ligado ao cromossomo X, os homens têm mais probabilidade de apresentar hemólise com repercussão clínica, embora as mulheres homozigóticas ou heterozigóticas com inativação do X distorcida que resulta em uma alta proporção de cromossomos X comprometidos (ver Mosaicismo) também possam ser atingidas.
Esse defeito ocorre em cerca de 10% dos homens negros e em < 10% das mulheres negras nos EUA e em menor frequência em pessoas da região mediterrânea (p. ex., italianos, gregos, árabes, judeus sefarditas).
Fisiopatologia
A deficiência de G6PD torna o eritrócito suscetível ao estresse oxidativo, o que diminui a sobrevida dos eritrócitos. A hemólise ocorre depois de estresse oxidativo, comumente após febre, infecção bacteriana ou viral aguda e cetoacidose diabética. A hemólise é episódica e autolimitada, embora raros pacientes tenham hemólise crônica e contínua na ausência de estresse oxidativo.
Com menor frequência, a hemólise ocorre após a exposição a fármacos ou outras substâncias que produzam peróxido e causem oxidação da hemoglobina e membranas dos eritrócitos. Esses fármacos e substâncias são primaquina, salicilatos, sulfonamidas, nitrofuranos, fenacetina, naftaleno, alguns derivados da vitamina K, dapsona, fenazopiridina, ácido nalidíxico, azul de metileno e, em alguns casos, feijão. A quantidade da hemólise depende do grau de deficiência de G6PD e do potencial oxidante do fármaco.
Sinais e sintomas
Na maioria dos casos, a hemólise atinge < 25% da massa eritrocitária e causa icterícia transitória e colúria. Alguns pacientes têm dor lombar e/ou abdominal. Mas quando a deficiência é mais grave, a hemólise profunda pode causar hemoglobinúria e lesão renal aguda.
Diagnóstico
Considera-se o diagnóstico para pacientes com evidências de hemólise aguda, particularmente em homens com anemia hemolítica negativa para antiglobulina direta (ver Diagnóstico da anemia hemolítica). Durante a hemólise ocorre anemia, icterícia e reticulocitose.
O esfregaço de sangue periférico pode revelar eritrócitos que parecem ter uma ou mais mordidas (1 mícron de largura) na periferia da célula (células mordidas ou bolhosas) e eritrócitos com inclusões denominadas corpúsculos de Heinz, que são partículas de hemoglobina desnaturada, que só podem ser reconhecidos por colorações especiais. Essas células podem ser vistas no início durante o episódio hemolítico, mas não persistem em pacientes com baço intacto, que as removem.
Existe um teste de atividade da G6PD. No entanto, durante e imediatamente após o episódio hemolítico, os testes podem mostrar resultados falso-negativos por causa da destruição dos eritrócitos mais velhos, mais deficientes e pela produção de reticulócitos, que são ricos em G6PD. Assim, pode ser necessário repetir o teste várias semanas após o episódio agudo. Existem vários testes de rastreamento, bem como testes rápidos a serem feitos durante o atendimento; confirmar os resultados positivos com um exame quantitativo.
Tratamento
Pontos-chave
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A deficiência de G6PD é a doença hereditária mais comum do metabolismo dos eritrócitos e pode causar hemólise na presença de gatilhos.
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A incidência é maior em certos grupos étnicos (p. ex., afro-americanos, indivíduos de origem mediterrânea).
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Os gatilhos incluem doenças agudas (p. ex., infecções), fármacos (p. ex., salicilatos) e outras substâncias (p. ex., favas) que causam estresse oxidativo.
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Diagnosticar usando esfregaço de sangue periférico e exame da G6PD; exames da G6PD falso-negativos são possíveis durante a hemólise aguda; portanto, repetir o exame depois de algumas semanas se o exame da G6PD inicial é negativo.
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Evitar gatilhos para limitar os episódios hemolíticos.