Antraz

PorLarry M. Bush, MD, FACP, Charles E. Schmidt College of Medicine, Florida Atlantic University;
Maria T. Vazquez-Pertejo, MD, FACP, Wellington Regional Medical Center
Reviewed ByBrenda L. Tesini, MD, University of Rochester School of Medicine and Dentistry
Revisado/Corrigido: modificado set. 2025
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Visão Educação para o paciente

Antraz é causado pelo Bacillus anthracis Gram-positivo, que são organismos anaeróbios facultativos, encapsulados e produtores de toxinas. O antraz, uma doença quase sempre fatal nos animais, é transmitido aos seres humanos pelo contato com animais infectados ou produtos animais. Em pessoas, a infecção é tipicamente adquirida através da pele. Infecção por inalação é menos comum; infecções que afetam os tratos orofaríngeo e gastrointestinal e meninges são raras. No caso de infecções das vias respiratórias e gastrointestinais, sintomas locais inespecíficos são seguidos, em vários dias, por doença sistêmica grave, choque e, muitas vezes, óbito. O tratamento empírico é com fluoroquinolonas ou doxiciclina. Uma vacina está disponível.

Etiologia do antraz

O antraz é uma doença importante em animais domésticos, ocorrendo em cabritos, gado, carneiros e cavalos; também acomete animais selvagens, como hipopótamos, elefantes e búfalo do Cabo.

Antraz é enzoótico (uma doença que é conhecida por afetar regularmente animais em uma área particular) mas não endêmico nos Estados Unidos. Portanto, veterinários recomendam vacinação anual do gado em áreas onde animais tiveram antraz no passado. Consequentemente, é raro em seres humanos nos Estados Unidos (1). O antraz ocorre principalmente em países que não previnem a exposição industrial ou agrícola a animais ou produtos animais infectados (p. ex., peles, carcaças, pelos). (Ver também Anthrax in Animals.)

Contudo, o uso do antraz como uma arma biológica em potencial aumentou o receio em relação a este patógeno. Os esporos foram preparados em forma de pó muito fino e transformados em armas para serem usados como agentes de guerra e bioterrorismo (2); nos bioataques de antraz de 2001, os esporos foram espalhados em envelopes entregues através do Serviço Postal dos Estados Unidos (3).

O antraz é considerado uma doença de notificação compulsória. Deve-se realizar notificação imediata ao departamento de saúde local, que, por sua vez, deve notificar os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) quando a fonte da infecção for desconhecida, houver suspeita de exposição por bioterrorismo ou o caso envolver doença grave decorrente de antraz de ocorrência natural (4).

Referências sobre etiologia

  1. 1. Centers for Disease Control and Prevention (CDC): About Anthrax. April 2, 2025. Accessed April 22, 2025.

  2. 2. Bush LM, Abrams BH, Beall A, Johnson CC. Index case of fatal inhalational anthrax due to bioterrorism in the United States. N Engl J Med. 2001;345(22):1607-1610. doi:10.1056/NEJMoa012948

  3. 3. Centers for Disease Control and Prevention: Bioterrorism and Anthrax: The Threat. April 3, 2025. Accessed August 1, 2025.

  4. 4. CDC: Anthrax Case Definition, Reporting, and Surveillance. December 3, 2024. Accessed April 22, 2025.

Fisiopatologia do antraz

Bacillus anthracis formam esporos quando estão sob condições desfavoráveis ao crescimento (p. ex., ambiente seco). Os esporos resistem à destruição e podem permanecer viáveis no solo, na lã e no pelo e couro de animais, e se esconderem por décadas. Esporos germinam e iniciam a multiplicação rapidamente quando entram em um ambiente rico em aminoácidos e glicose (p. ex., tecidos, sangue).

A infecção humana pode ser adquirida pelas seguintes vias:

  • Contato da pele (mais comum)

  • Ingestão

  • Inalação

  • Injeção

Infecção cutânea é a forma mais comum e responde por > 95% dos casos (1). É geralmente adquirida por contato com animais infectados, produtos animais contaminados por esporos ou solo contendo esporos. Feridas abertas ou escoriações aumentam a suscetibilidade, mas a infecção pode ocorrer mesmo quando a pele está íntegra. Em geral, o antraz cutâneo não é contagioso, mas, em casos muito raros, a infecção cutânea pode ser transmitida de uma pessoa para outra por contato direto ou por objetos contaminados (p. ex., toalhas, roupas de cama compartilhadas).

Infecção gastrointestinal (incluindo orofaríngea) (antraz por ingestão) pode ocorrer após a ingestão de carne mal cozida contendo as formas vegetativas do microrganismo, geralmente quando há lesão da mucosa faríngea ou intestinal que facilita a invasão (1). A ingestão de antraz pode causar lesões da cavidade oral ao ceco. A toxina liberada provoca úlceras necróticas e hemorrágicas no lúmen gastrointestinal e linfadenite mesentérica, podendo resultar em hemorragia, obstrução ou perfuração intestinal. As infecções gastrointestinais de antraz não são transmitidas de pessoa para pessoa.

Infecção pulmonar (antraz por inalação) causada pela inalação de esporos é quase sempre decorrente de exposição ocupacional a produtos animais contaminados (p. ex., couros) e, muitas vezes, é fatal. Um ato de bioterrorismo explícito ou encoberto deve ser considerado sempre que o antraz por inalação for diagnosticado ou houver suspeita da doença. O antraz por inalação não é transmitido de pessoa para pessoa.

Antraz por injeção é raro. Suspeita-se que decorra do uso recreativo de heroína contaminada com esporos de B. anthracis ou em usuários que compartilham agulhas. Causa infecções graves de tecidos moles, incluindo aquelas complicadas por sepse e infecção sistêmica disseminada. Nenhum caso foi relatado em pessoas que não injetam heroína.

O antraz do soldador é uma forma rara que foi encontrada em vários soldadores ou metalúrgicos (2). É geralmente contraído por inalação e caracterizado por uma pneumonia ocupacional causada por bactérias pertencentes ao grupo B. cereus que produzem a toxina do antraz.

Após entrarem no corpo, os esporos germinam dentro dos macrófagos, que migram para os linfonodos regionais, nos quais a bactéria se multiplica. No antraz por inalação, os esporos são depositados nos espaços alveolares, nos quais são ingeridos por macrófagos, que migram para nódulos linfáticos mediastinais, geralmente causando mediastinite hemorrágica.

Pode haver bacteremia em qualquer forma do antraz e ocorre em quase todos os casos fatais; o envolvimento meníngeo é comum.

Fatores de virulência

A virulência do B. anthracis é causada por sua:

  • Cápsula antifagocítica extracelular

  • Toxinas (fatores)

  • Capacidade de replicação rápida

As toxinas predominantes são toxina de edema e toxina letal. Uma proteína de ligação celular, chamada antígeno protetor (AP) liga-se às células-alvo e facilita a entrada de toxinas de edema e toxina letal. A toxina de edema causa edema local maciço. A toxina letal desencadeia liberação de citocinas dos macrófagos, que são responsáveis pela morte súbita comum em infecções por antraz. Acredita-se que a toxina letal cause apoptose de células endoteliais no sistema vascular e contribua para a hemorragia. A cápsula de ácido poli-D-gama-glutâmico antifagocítica da bactéria, codificada no plasmídeo pX02, ajuda a proteger contra fagocitose.

No antraz do soldador, esporos de algumas espécies de B cereus contêm genes de virulência pXO1, que são responsáveis por produzir toxinas do antraz.

A rápida replicação de B. anthracis e B. cereus contribui significativamente para sua virulência. A alta carga bacteriana resultante da multiplicação acelerada pode rapidamente sobrecarregar as defesas imunológicas no hospedeiro.

Referências sobre fisiopatologia

  1. 1. Bower WA, Yu Y, Person MK, et al. CDC Guidelines for the Prevention and Treatment of Anthrax, 2023. MMWR Recomm Rep. 2023;72(6):1-47. Publicado em 2023 Nov 17. doi:10.15585/mmwr.rr7206a1

  2. 2. de Perio MA, Hendricks KA, Dowell CH, et al. Welder's Anthrax: A Review of an Occupational Disease. Pathogens. 2022;11(4):402. doi:10.3390/pathogens11040402

Sinais e sintomas do antraz

A maioria dos pacientes com antraz se apresenta em 1 a 7 dias após a exposição, mas para antraz por inalação, o período de incubação pode ser potencialmente de até 60 dias ou mais, se a quantidade exposta de esporos for muito baixa.

O início da forma cutânea é uma pápula indolor, pruriginosa e vermelho-acastanhada que se forma 1 a 12 dias após a exposição aos esporos infectados (1). A lesão fica maior, circundada por uma zona de eritema acastanhado e edema intenso. Vesiculação e enduração estão presentes. Segue-se ulceração central com exsudação serossanguinolenta e formação de uma escara preta (pústula maligna). Linfadenopatia local é comum, ocasionalmente acompanhada de mal-estar, mialgia, cefaleia, febre, náuseas e vômitos. Pode levar várias semanas para a ferida cicatrizar e o edema terminar.

O antraz gastrointestinal (por ingestão) varia de assintomático a fatal. Em geral, desenvolve-se 1 a 7 dias após a ingestão de carne contaminada. Febre, náuseas, vômitos, dor abdominal e diarreia sanguinolenta são comuns. Pode haver ascite. Necrose intestinal e sepse com potencial para toxicidade letal podem ocorrer. O antraz orofaríngeo apresenta-se como uma lesão mucocutânea na cavidade oral, na parede posterior da faringe, ou no palato duro. Há edema no pescoço e nos tecidos moles e os linfonodos cervicais estão aumentados. Os sintomas são rouquidão, dor de garganta, febre, adenopatia e disfagia. Pode ocorrer obstrução de vias respíratórias.

O antraz por inalação apresenta o período de incubação mais prolongado entre todos os subtipos de infecções por antraz (até 2 meses). Começa insidiosamente como um quadro gripal, desenvolvendo-se em até uma semana após a exposição. Em poucos dias, a febre piora e surgem dor no peito e insuficiência respiratória grave, seguidas de cianose, choque e coma. O paciente evolui com linfadenite necrosante hemorrágica intensa, que se dissemina para estruturas mediastinais adjacentes. Segue-se, então, transudação serossanguinolenta, edema pulmonar e derrame pleural. Não ocorre o desenvolvimento típico de broncopneumonia. Meningoencefalite hemorrágica ou sintomas do antraz por ingestão podem se desenvolver.

O antraz do soldador caracteriza-se por febre alta e sintomas pulmonares, incluindo pneumonia grave com instalação rápida de desconforto respiratório, tosse persistente e dor torácica. Quando há envolvimento parenquimatoso significativo, os pacientes também podem apresentar dispneia e hipóxia, podendo necessitar de ventilação mecânica. Em casos graves, infecção sistêmica e sepse podem se desenvolver, levando a óbito.

Referência sobre sinais e sintomas

  1. 1. Stevens DL, Bisno AL, Chambers HF, et al: Practice guidelines for the diagnosis and management of skin and soft tissue infections: 2014 update by the Infectious Diseases Society of America. Clin Infect Dis 59(2):e10-e52, 2014. doi:10.1093/cid/ciu444

Diagnóstico do antraz

  • Coloração de Gram e cultura

  • Teste de imunofluorescência direta (DFA)

  • Reação em cadeia da polimerase (PCR [polymerase chainreaction])

  • Teste para o fator letal da toxina do antraz

  • Às vezes, realizam-se testes para infecção localizada, como exames de imagem (radiografias de tórax ou TC para antraz por inalação) ou punção lombar (no caso de antraz meníngeo).

História ocupacional e de exposição é importante. O antraz deve ser considerado no diagnóstico diferencial de viajantes que retornam de áreas endêmicas de antraz e apresentam febre de causa indeterminada ou novas lesões cutâneas.

Os pacientes devem fazer culturas e coloração de Gram de locais identificados clinicamente, como lesões cutâneas ou mucosas, sangue, derrame pleural, líquido cefalorraquidiano, ou fezes. Exames de escarro e coloração de Gram não são aconselhados para diagnóstico da forma respiratória, em razão da frequente ausência de doença nas vias respiratórias.

Um teste de PCR e métodos imuno-histoquímicos (p. ex., DFA) podem ajudar a fazer um diagnóstico mais rápido.

O teste para o fator letal (FL) do antraz envolve a detecção e quantificação desse componente da toxina letal produzida por Bacillus anthracis, geralmente através de ensaios baseados em espectrometria de massa que medem sua quantidade ou função (ou seja, a atividade enzimática da toxina). A avaliação da toxina do FL é altamente específica e constitui uma ferramenta diagnóstica rápida (1).

Ensaio de imunoadsorção enzimática (ELISA) pode detectar anticorpos no soro, mas a confirmação requer uma alteração 4 vezes maior no título de anticorpos entre as amostras de fase aguda e de convalescença.

Testes com swab nasal para identificação de esporos em pessoas potencialmente expostas à inalação de antraz não são recomendados porque o valor preditivo negativo é desconhecido. Embora uma cultura com swab nasal positiva indique exposição, um teste não significa que a exposição não ocorreu.

Bacillus anthracis
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Bacilos Gram-positivos característicos de B. anthracis são mostrados.

Imagem cedida por cortesia da Biblioteca de Imagens de Saúde Pública dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças.

Dicas e conselhos

  • Exames de escarro e coloração de Gram não são aconselhados para diagnóstico da forma respiratória, em razão da frequente ausência de doença nas vias respiratórias.

Radiografias de tórax (ou tomografia computadorizada [TC]) devem ser obtidas se sintomas pulmonares estiverem presentes. Tipicamente, mostram o alargamento de mediastino (pela presença de linfadenomegalia hemorrágica) e o derrame pleural. Infiltrados pneumônicos são incomuns.

Antraz (por inalação)
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Achados típicos da inalação de antraz na radiografia de tórax são alargamento do mediastino por linfadenite mediastinal necrosante hemorrágica e derrame pleural bilateral. Infiltrados pneumônicos são incomuns.

Imagem cedida por cortesia da Biblioteca de Imagens de Saúde Pública dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças.

Punção lombar deve ser realizada na presença de sinais meníngeos ou de alteração no estado mental. Se uma punção lombar não puder ser realizada, deve-se realizar exames de imagem do sistema nervoso central (TC com contraste ou RM com contraste) para documentar as características do realce meníngeo da meningite e identificar lesões hemorrágicas do parênquima características da meningoencefalite por antraz.

O departamento de saúde estadual ou local deve ser informado de qualquer caso suspeito de antraz e auxiliará nos testes diagnósticos (2). As amostras devem ser manuseadas, embaladas e enviadas de forma apropriada para evitar exposição acidental ao antraz.

Referências sobre diagnóstico

  1. 1. Boyer AE, Quinn CP, Woolfitt AR, et al. Detection and quantification of anthrax lethal factor in serum by mass spectrometry. Anal Chem 2007;79(22):8463-8470. doi:10.1021/ac701741s

  2. 2. Centers for Disease Control and Prevention: Health Department Directories. May 15, 2024. Accessed July 15, 2025.

Tratamento do antraz

  • Antibióticos

  • Outros medicamentos

  • Drenagem do líquido pleural

Se o tratamento do antraz for atrasado (geralmente porque o diagnóstico é omitido), o risco de morte é maior. O tratamento antibiótico empírico deve ser iniciado imediatamente, e os resultados de suscetibilidade aos antibióticos devem ser acompanhados para ajuste da escolha do agente, se necessário. Glicocorticoides, anticorpos monoclonais e IVIG são tratamentos adjuvantes que podem melhorar os desfechos clínicos.

Antibióticos

Antraz cutâneo

Antraz cutâneo sem edema significativo, sintomas sistêmicos ou suspeita de meningite deve ser tratado com um único antibiótico por 7 a 10 dias. Se houver risco de exposição por via inalatória, os antibióticos devem ser mantidos por 60 dias para completar a profilaxia pós-exposição (1). Os agentes empíricos de primeira linha são:

  • Ciprofloxacino

  • Levofloxacino

  • Minociclina

  • Doxiciclina

Amoxicilina ou penicilina V pode ser utilizada se a cepa for suscetível à penicilina.

A mortalidade é rara com tratamento, mas as lesões progridem até a fase de escara.

Gestantes ou lactantes e crianças ainda devem receber um agente de tratamento de primeira linha, mesmo que esses agentes sejam geralmente contraindicados. Devido à necessidade crítica de utilizar os agentes antimicrobianos mais eficazes, o evitamento usual de quinolonas e tetraciclinas em crianças e gravidez é suplantado. Uma vez determinado o perfil de suscetibilidade da cepa de antraz e demonstrada a melhora clínica, podem ser feitas alterações no esquema terapêutico para reduzir eventual toxicidade. Em ordem decrescente de preferência: doxiciclina, ciprofloxacina, levofloxacina e minociclina.

Antraz por inalação e outras formas de antraz

Antraz por inalação e outras formas de antraz, incluindo antraz cutâneo com edema significativo ou sintomas sistêmicos significativos, exigem terapia inicial com 3 antibióticos. A terapia antibiótica deve incluir ≥ 2 antibióticos de classes diferentes com atividade bactericida, e ≥ 1 deve ser um inibidor da síntese proteica ou da síntese de RNA, capaz de bloquear a produção de toxinas. Se a cepa de B. anthracis for suscetível à penicilina, a penicilina G é considerada equivalente a uma fluoroquinolona.

O tratamento deve ser administrado por via intravenosa por ≥ 2 semanas ou até que o paciente esteja clinicamente estável, o que for mais longo. Depois que a terapia combinada IV é concluída, a terapia deve ser continuada com um único antibiótico oral administrado por 60 dias para evitar recaídas resultantes de esporos não germinados nos pulmões.

Antibióticos de primeira linha apropriados com atividade bactericida incluem:

  • Fluoroquinolona (ciprofloxacino ou levofloxacino)

  • Um carbapenem (meropenem ou imipenem/cilastatina)

  • Para cepas suscetíveis à penicilina, penicilina G ou ampicilina

Antibióticos de primeira linha apropriados que inibem a síntese proteica incluem minociclina, doxiciclina ou clindamicina.

O inibidor de síntese de RNA recomendado é a rifampina.

Se houver suspeita de meningite, meropeném deve ser utilizado com outros antibióticos porque tem boa penetração no sistema nervoso central. Se não houver meropeném disponível, imipeném/cilastatina é uma alternativa equivalente.

Outros medicamentos

Os glicocorticoides podem ser úteis para meningite e edema mediastinal grave, mas não há uma avaliação adequada para seu uso.

O raxibacumabe e o obiltoxaximabe são anticorpos monoclonais que funcionam impedindo a ligação do componente antígeno protetor (PA) da toxina do antraz aos seus receptores nas células hospedeiras, bloqueando assim os efeitos deletérios da toxina e devem ser utilizados quando disponíveis em combinação com antibióticos para tratar o antraz por inalação (2). Esses anticorpos monoclonais mostraram eficácia em modelos com animais do antraz por inalação, particularmente quando administrados de forma precoce.

Imunoglobulina humana intravenosa para antraz preparada a partir do plasma de doadores que foram vacinados contra antraz pode ser utilizada em combinação com antibióticos para tratar antraz por inalação se os anticorpos monoclonais não estiverem disponíveis.

Resistência a fármacos

A resistência a fármacos é uma preocupação. Embora considerado sensível à penicilina, B. anthracis induz betalactamases (1), s e, portanto, o tratamento com penicilina ou uma cefalosporina isolada geralmente não é recomendado.

Drenagem do líquido pleural

Pacientes com antraz por inalação requerem cuidados de suporte e, às vezes, ventilação mecânica. A drenagem imediata e contínua do líquido pleural pelo dreno de tórax é fundamental.

Referências sobre tratamento

  1. 1. Bower WA, Yu Y, Person MK, et al. CDC Guidelines for the Prevention and Treatment of Anthrax, 2023 [correção publicada em MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2024 Aug 08;73(31):689. doi: 10.15585/mmwr.mm7331a4]. MMWR Recomm Rep 2023;72(6):1-47. Publicado em 2023 Nov 17. doi:10.15585/mmwr.rr7206a1

  2. 2. Slay RM, Cook R, Hendricks K, Boucher D, Merchlinsky M. Pre- and Postlicensure Animal Efficacy Studies Comparing Anthrax Antitoxins. Clin Infect Dis. 2022;75(Suppl 3):S441-S450. doi:10.1093/cid/ciac593

Prognóstico do antraz

As taxas aproximadas de letalidade por antraz não tratado variam com base no tipo de infecção (1, 2, 3, 4):

  • Nas formas por inalação e meníngea do antraz: 90%

  • Na forma cutânea: 20%

  • Antrax gastrointestinal: 40%

  • Na forma orofaríngea: 12 a 50%

  • Antraz por injeção: 30%

  • Antraz do soldador: > 50%

Com diagnóstico precoce, tratamento e suporte intensivo, incluindo ventilação mecânica, líquidos e vasopressores, a mortalidade por inalação de antraz pode ser reduzida. A mortalidade em soldadores é alta devido à lesão pulmonar crônica associada à exposição sustentada a vapores metálicos e altas temperaturas.

Referências sobre prognóstico

  1. 1. Person MK, Cook R, Bradley JS, et al: Systematic review of hospital treatment outcomes for naturally acquired and bioterrorism-related anthrax, 1880-2018. Clin Infect Dis 75(Suppl 3):S392–S401, 2022. doi: 10.1093/cid/ciac536

  2. 2. U.S. Food and Drug Administration: Vaccines: Anthrax. July 21, 2023. Accessed July 15, 2025.

  3. 3. Grunow R, Verbeek L, Jacob D, et al: Injection anthrax--a new outbreak in heroin users. Dtsch Arztebl Int 109(49):843–848, 2012. doi:10.3238/arztebl.2012.0843

  4. 4. Dawson P, Schrodt CA, Feldmann K, et al: Notes from the Field: Fatal Anthrax Pneumonia in Welders and Other Metalworkers Caused by Bacillus cereus Group Bacteria Containing Anthrax Toxin Genes - U.S. Gulf Coast States, 1994-2020. MMWR Morb Mortal Wkly Rep 70(41):1453–1454, 2021. doi:10.15585/mmwr.mm7041a4

Prevenção do antraz

O antraz cutâneo pode resultar em imunidade adquirida; infecções subsequentes são raramente relatadas e tendem a ser mais leves, implicando algum grau de imunidade adquirida. O antraz por inalação pode fornecer alguma proteção contra infecção futura por antraz em pacientes que sobrevivem (1), mas esta ideia é apoiada principalmente por evidências anedóticas de que uma imunidade humoral se desenvolveria, com base na observação de que as reinfecções são menos graves.

Uma vacina contra antraz (AVA), composta por um filtrado de cultura livre de células contendo a proteína do antígeno protetor, está disponível para profilaxia pré-exposição em adultos de 18 a 65 anos com alto risco (p. ex., militares, veterinários, técnicos de laboratório, funcionários de fábricas têxteis que processam pelos de cabra importados, pessoas que manuseiam animais ou produtos de origem animal, viajam para determinadas regiões do mundo ou trabalham com soldagem e metalurgia). A vacina não contém bactérias mortas nem vivas e é administrada em uma série intramuscular de 5 doses (0,5 mL) nas semanas 0 e 4, seguida por doses subsequentes aos 6, 12 e 18 meses, além de reforços anuais. Uma vacina veterinária também está disponível.

A revacinação anual pré-exposição é necessária para garantir a proteção. A vacina contra o antraz é considerada eficaz em pessoas que completam a série primária e mantêm as doses de reforço (2). Reações locais da vacina podem ocorrer. Gestantes não devem receber a vacina contra o antraz, a menos que os benefícios potenciais da vacinação superem o risco potencial para o feto. Pessoas que apresentaram reação alérgica grave à vacina contra o antraz não devem recebê-la antes da exposição. Pessoas nos Estados Unidos que antecipam exposição ao antraz podem encontrar informações sobre a disponibilidade da vacina no departamento de saúde estadual local (3).

Profilaxia pós-exposição

As medidas pós-exposição incluem:

  • Antibióticos

  • Vacinação

  • Anticorpos monoclonais

Pessoas assintomáticas (incluindo gestantes e crianças) expostas ao antraz por inalação requerem profilaxia com antibiótico oral, administrado por 60 dias. Doxiciclina, ciprofloxacino ou levofloxacino são escolhas empíricas de primeira linha e devem ser ajustados com base nos resultados dos testes de suscetibilidade a antibióticos do paciente e na condição gestacional (4). Os riscos potenciais das quinolonas e tetraciclinas em crianças e pacientes grávidas são superados por seus benefícios. Amoxicilina ou penicilina V potássica podem ser utilizadas apenas se o isolado do paciente for conhecido como suscetível à penicilina. Antibióticos alternativos incluem minociclina, moxifloxacino e clindamicina.

Esporos viáveis foram detectados nos pulmões após a exposição a aerossóis. Como as pessoas expostas a esporos do B. anthracis aerossolizados são consideradas em risco de antraz por inalação devido a esporos não germinados que permanecem em seus pulmões após a exposição inicial, a terapia antibiótica é continuada por 60 dias para limpar os organismos que estejam germinando.

Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) recomendam que a vacina contra antraz seja administrada junto com profilaxia antibiótica apropriada em pacientes expostos aos esporos do antraz (5). O CDC recomenda uma série de vacinas subcutâneas de 3 doses nas semanas 0, 2 e 4 com terapia antimicrobiana concomitante por pelo menos 60 dias. Durante uma emergência (p. ex., ataque bioterrorista), as únicas pessoas que não devem receber a vacina após exposição são aquelas que tiveram reação alérgica grave a uma dose anterior da vacina contra antraz (6).

Raxibacumabe e obiltoxaximabe são anticorpos monoclonais antitoxina indicados para a profilaxia do antraz por inalação quando terapias alternativas não estão disponíveis ou não são apropriadas.

Referências sobre prevenção

  1. 1. Quinn CP, Dull PM, Semenova V, et al. Immune responses to Bacillus anthracis protective antigen in patients with bioterrorism-related cutaneous or inhalation anthrax. J Infect Dis. 2004;190(7):1228-1236. doi:10.1086/423937

  2. 2. Bower WA, Schiffer J, Atmar RL, et al. Use of Anthrax Vaccine in the United States: Recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices, 2019. MMWR Recomm Rep. 2019;68(4):1-14. Publicado em 2019 Dez 13. doi:10.15585/mmwr.rr6804a1

  3. 3. Centers for Disease Control and Prevention: Health Department Directories. May 15, 2024. Accessed July 15, 2025.

  4. 4. Bower WA, Yu Y, Person MK, et al. CDC Guidelines for the Prevention and Treatment of Anthrax, 2023 [correção publicada em MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2024 Aug 08;73(31):689. doi: 10.15585/mmwr.mm7331a4]. MMWR Recomm Rep 2023;72(6):1-47. Publicado em 2023 Nov 17. doi:10.15585/mmwr.rr7206a1

  5. 5. Centers for Disease Control and Prevention: Vaccines and Immunizations: Anthrax Vaccine VIS. January 8, 2020. Accessed July 15, 2025.

  6. 6. Centers for Disease Control and Prevention: Anthrax: Prevention. April 16, 2025. Accessed July 15, 2025.

Pontos-chave

  • Antraz é tipicamente adquirido de animais infectados, mas foi utilizado como arma biológica.

  • Toxinas potentes, incluindo a toxina de edema e toxina letal, são responsáveis pelas manifestações mais graves.

  • As principais formas clínicas do antraz são a cutânea (mais comum), a gastrointestinal, a inalatória e a meníngea (mais letal).

  • As infecções por ingestão e por inalação de antraz não são transmitidas de pessoa para pessoa.

  • Tratar com um regime antibiótico adequado e, por vezes, com um anticorpo monoclonal ou imunoglobulina humana anti-antraz, que se ligam ao componente antígeno protetor da toxina de B. anthracis.

  • Administrar profilaxia pós-exposição com ciprofloxacino, levofloxacino, moxifloxacino, doxiciclina, minociclina ou clindamicina; vacina contra antraz; e, às vezes, anticorpos monoclonais para pessoas expostas a antraz inalado.

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