O espru tropical é uma síndrome de má absorção.
Etiologia
O espru tropical ocorre principalmente na região do Caribe, no sul da Índia e no sudeste da Ásia, afetando tanto nativos quanto visitantes. A doença é rara em visitantes que permanecem < 1 mês em áreas onde a doença é endêmica. Embora não tenha etiologia definida, acredita-se que seja secundária à infecção crônica do intestino delgado por cepas toxigênicas de coliformes bacterianos. A má absorção de folato e de vitamina B12 causa anemia megaloblástica. Espru tropical foi raramente relatado nos EUA e sua incidência mundial diminuiu nas últimas décadas, talvez por causa do uso crescente de antibióticos contra diarreia aguda do viajante.
Sinais e sintomas
Pacientes costumam apresentar diarreia aguda com febre e adinamia. A fase crônica com diarreia mais branda, náuseas, vômitos, anorexia, cólicas abdominais e cansaço vem logo depois. Esteatorreia (fezes malcheirosas, pálidas, volumosas e gordurosas) é comum. Deficiências nutricionais, em especial de folato e vitamina B12, eventualmente se desenvolvem depois de vários meses ou mesmo anos. Os pacientes podem também apresentar perda ponderal, glossite, estomatite e edema periférico.
Diagnóstico
Suspeita-se de espru tropical em pessoas que moram ou têm visitado áreas onde a doença é endêmica e naqueles com anemia megaloblástica secundária à má absorção. O teste definitivo se faz por endoscopia digestiva alta com biópsias de intestino delgado. Alterações histológicas características ( Histologia da mucosa do intestino delgado em algumas doenças de má absorção) usualmente envolvem o intestino delgado como um todo e incluem edema dos vilos com infiltrado inflamatório crônico de células inflamatórias no epitélio da lâmina própria. Doença celíaca e infestações parasitárias devem ser descartadas. Ao contrário da doença celíaca, anticorpos antitransglutaminase tecidual (tTG) e anticorpos antiendomísio (EMA) são negativos em pacientes com espru tropical.
Estudos laboratoriais adicionais (p. ex., hemograma completo, albumina, cálcio, tempo de protrombina, ferro, folato e dosagem de B12) ajudam a avaliar o estado nutricional. O trânsito intestinal com bário pode mostrar floculação do contraste, dilatação da luz intestinal e espessamento das pregas. A absorção de d-xilose é anormal em > 90% dos casos. Entretanto, esses testes não são específicos ou essenciais ao diagnóstico do espru tropical.
Tratamento
O tratamento do espru tropical consiste em tetraciclina 250 mg VO qid por 1 ou 2 meses, e então bid por até 6 meses, dependendo da gravidade da doença e da resposta ao tratamento. 100 mg de doxiciclina VO bid podem ser usados em vez da tetraciclina. Folato, 5 a 10 mg VO uma vez ao dia, deve ser administrado no primeiro mês, juntamente com reposição de vitamina B12 1 mg IM 1 vez por semana durante algumas semanas. Anemia megaloblástica melhora rapidamente e a resposta clínica é intensa. Outras reposições nutricionais são feitas quando necessário. A recidiva pode ocorrer em 20%. A falta de resposta depois de 4 semanas de tratamento sugere outra condição.