Como remover cerume manualmente e com irrigação

PorElizabeth A. Dinces, MD, MS, Einstein/Montefiore Medical Center
Revisado/Corrigido: jun 2023
Visão Educação para o paciente

Pode-se remover o cerume manualmente (usando diversos instrumentos) ou por irrigação do meato acústico.

Profissionais não otorrinolaringologistas costumam começar com o método de irrigação. Às vezes, os dois métodos são necessários. Agentes cerumenolíticos pré-procedimento podem facilitar qualquer um dos métodos, mas são rotineiramente utilizados com irrigação.

Indicações para remoção de cerume

  • Sintomas causados por cerume impactado, como diminuição da audição, dor local e prurido, vertigem ou sensação incômoda de obstrução da orelha

  • Raramente, incapacidade de visualizar a membrana timpânica em uma criança com dor de orelha e febre

O cerume ajuda a acidificar o meato acústico e hidratar sua pele. As duas funções ajudam a reduzir o risco de infecção e são importantes para a saúde do meato acústico externo. A remoção frequente do cerume é desencorajada por essa razão.

Contraindicações à remoção de cerume

Contraindicações absolutas

  • Irrigação e/ou uso de agentes cerumenolíticos são contraindicados se o paciente tem membrana timpânica não intacta; suspeita-se de membrana timpânica não intacta se os pacientes têm história de cirurgia do processo mastoide, história de uso de tubos na orelha e se não se sabe se o defeito da membrana timpânica cicatrizou completamente, história de drenagem da orelha e/ou história de dor de orelha quando há entrada de água

  • Terapia anticoagulante

  • Comprometimento imunitário

  • Diabetes mellitus

  • Radioterapia prévia de cabeça e pescoço

  • Estenose do meato acústico, ou exostoses

Cerumenolíticos são contraindicados se há alergia ao agente.

Contraindicações relativas

  • Paciente não cooperativo ou muito jovem para permanecer imóvel durante o procedimento

  • Cicatrizes ou distorção da região do meato acústico, como por cirurgia ou radioterapia prévia

Indica-se encaminhamento a um otorrinolaringologista se é necessária anestesia geral, sedação profunda ou quando a remoção é difícil.

Complicações da remoção de cerume

A remoção do cerume costuma ser feita por não otorrinolaringologistas e é uma causa comum de complicações iatrogênicas.

  • Trauma iatrogênico do meato acústico ou membrana timpânica, incluindo perfuração, que pode causar infecção. Ruptura da membrana timpânica pode causar infecção ou outros problemas nas orelhas média e interna, processos mastoides ou sistema nervoso central.

  • A estimulação calórica pode resultar em sintomas (p. ex., vertigem, bradicardia, náuseas) se a água de irrigação não for aquecida até a temperatura do corpo.

  • Especialmente em diabéticos, pode ocorrer otite externa necrosante.

  • Se água ficar presa atrás do cerume retido, pode ocorrer otite externa.

Equipamento para remoção de cerume

Tanto para irrigação como remoção manual

  • Otoscópio ou fonte de luz e espéculo aural

  • Agente cerumenolítico (p. ex., agentes de venda livre docusato de sódio, bicarbonato de sódio a 5 a 10%, peróxido de hidrogênio a 3%, peróxido de carbamida a 6,5%, trietanolamina, óleo de oliva)

Para irrigação

  • Bacia de êmese

  • Proteção absorvente, toalha ou campo estéril de barreira

  • Catéter de calibre 16, 18 ou 19 com tubos de comprimentos diversos (p. ex., angiocatéter plástico ou catéter borboleta com a agulha removida)

  • Seringa de 30 a 60 mL

  • Solução de irrigação: soro fisiológico ou água estéril na temperatura do corpo ou ligeiramente mais quente

  • Às vezes, álcool isopropílico, gotas de fluoroquinolona

Remoção manual

  • Abrir o otoscópio de procedimento

  • Cureta flexível de plástico em alça para cerume, gancho pequeno em ângulo reto, pinça jacaré

  • Sucção com ponta de controle pelo polegar (p. ex., Baron) calibre 5 Fr

Considerações adicionais para remoção de cerume

  • Pacientes assintomáticos não devem ter o cerume removido.

  • Gotas de anestésico não são eficazes em reduzir o desconforto da remoção de cerume, e a injeção de anestésico local é muito dolorosa, de modo que nenhuma delas é usada.

  • Aparelhos de jato dental (“picaretas de água”) são usados por alguns, mas o fluxo desses aparelhos (mesmo com velocidade de fluxo mínima) pode romper a membrana timpânica.

  • Iluminação adequada é essencial tanto para o exame inicial do canal como para o procedimento de remoção manual do cerume.

  • O método de irrigação é preferido para pacientes que não conseguem permanecer imóveis.

  • A remoção manual pode ser preferível em adultos específicos porque pode ser mais rápida e mais eficaz para remover grandes acúmulos endurecidos. Mas frequentemente tenta-se primeiro o amolecimento com um cerumenolítico e irrigação, que podem facilitar a remoção manual.

  • Antes e depois de tentar remover o cerume, os médicos devem considerar fazer uma avaliação auditiva se o equipamento necessário estiver prontamente disponível.

Anatomia relevante para remoção de cerume

  • A membrana timpânica está a 1 a 1,5 cm de profundidade no meato acústico em crianças e a 1,5 a 2 cm de profundidade na maioria dos adultos. Evitar usar instrumentos na orelha com mais de 8 mm de profundidade para evitar danos à membrana timpânica.

  • As glândulas produtoras de cerume só estão presentes no meato acústico externo lateral e apenas na pele com pelos. Em geral, o cerume que se encontra mais profundamente na orelha foi empurrado para lá pelo paciente usando cotonetes ou fones de ouvido.

Posicionamento para remoção de cerume

  • É importante que você e o paciente se posicionem de modo que exista uma visualização ideal do meato acústico e ambos estejam à vontade.

  • Para irrigação, posicionar o paciente sentado ou semirreclinado, com a cabeça apoiada. Pedir que um assistente ou o paciente segure a bacia de êmese abaixo da orelha e contra o pescoço e a bochecha.

  • Para a remoção manual, posicionar o paciente em decúbito dorsal ou semirreclinado, com a cabeça apoiada.

  • Para instilação de um cerumenolítico, posicionar o paciente em decúbito dorsal, com a cabeça virada e a orelha voltada para cima de modo que a medicação permaneça no meato acústico.

Descrição passo a passo da remoção de cerume

Considerações gerais

  • Considerar fazer uma triagem pré-procedimento à beira do leito para avaliação da audição.

  • Aconselhar o paciente a não mover a cabeça, para minimizar qualquer trauma que possa resultar de movimento súbito enquanto o instrumento está no meato acústico.

  • Durante um exame do canal ou remoção de cerume, puxar delicadamente (ou pedir que um assistente faça isso) o pavilhão para cima e para trás (em adultos) ou para baixo e para trás (em crianças), para endireitar o meato acústico conforme necessário.

  • Os pacientes podem sentir algum desconforto, mas deve-se interromper o procedimento se ele se tornar doloroso e deve-se reexaminar a orelha à procura de sinais de lesão.

Uso eficaz dos instrumentos

  • Remove-se cerume mole de forma eficaz usando irrigação e/ou instrumentos em forma de colher, ou curetas.

  • O cerume duro é mais facilmente removido com curetas em alça e pequenos instrumentos em formato de gancho para orelha.

  • A remoção por sucção é útil para o cerume muito mole e pequenos fragmentos de cerume, mas não para um tampão de cerume grande, duro ou impactado.

Irrigação

Realiza-se irrigação se não há fatores de risco para perfuração.

  • Instilar um cerumenolítico e deixar agir por 15 a 30 minutos.

  • Encher a seringa com solução de irrigação.

  • Inserir o tubo de irrigação somente cerca de 0,5 cm no meato e não além da pele com pelos que define a junção cartilagem-osso (do crânio).

  • Pedir que um assistente ou o paciente segure a bacia de êmese firmemente sob a orelha para capturar o irrigante.

  • Direcionar um jato moderado de água em torno do cerume ou acima dele; o cerume pode então ser expelido pela água que se acumula atrás dele.

  • Várias tentativas podem ser necessárias.

  • Se a membrana timpânica está visível e intacta com algum irrigante retido, pode-se instilar algumas gotas de álcool isopropílico após a irrigação para acelerar a evaporação da água.

Remoção manual

  • Se não há fatores de risco de perfuração, considerar instilar um cerumenolítico e deixar agir por 15 a 30 minutos.

  • Usar instrumentos sob visualização direta; inseri-los através da cabeça do otoscópio e espéculo durante o procedimento.

  • Remover cerume utilizando sucção ou cureta (para cerume mole) ou cureta em alça ou gancho (para cerume duro). Se necessário, remover o cerume usando uma pinça jacaré.

Pós-tratamento para remoção de cerume

  • Se o procedimento foi interrompido devido à dor, o paciente deve evitar água na orelha por 1 semana e receber fármacos para pingar na orelha, como ofloxacino ou uma suspensão de ciprofloxacino/corticoide para usar duas vezes ao dia durante 3 a 5 dias com acompanhamento para reavaliação. Evitar fármacos para pingar na orelha contendo neomicina, que causa dermatite de contato em até 20% dos pacientes.

  • Reexaminar a orelha para avaliar o meato acústico e a membrana timpânica.

  • Testar novamente a audição.

  • Se há retenção do líquido de irrigação e nenhuma suspeita de perfuração, instilar algumas gotas de fluoroquinolona ou ácido acético para fornecer profilaxia contra infecção, especialmente se o paciente estiver imunocomprometido.

  • Para suspeita de perfuração ou se durante o procedimento houve lesão iatrogênica no canal externo ou dor significativa, administrar uma suspensão de ciprofloxacino/corticoide ou outro antibiótico de fluoroquinolona e colocar o paciente sob precauções hídricas até a orelha ser reavaliada.

Alertas e erros comuns para remoção de cerume

  • Evitar pressão excessiva durante a irrigação.

  • Evitar ou interromper o procedimento se houver suspeita de perfuração ou lesão da membrana timpânica durante o procedimento. Os sintomas sugestivos de lesão decorrente do procedimento são dor intensa, vertigem, zumbido, alteração súbita na audição, perda auditiva ou sangramento atrás do cerume.

Recomendações e sugestões para remover o cerume

  • Iluminação adequada e conforto do paciente são importantes.

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