Considerações gerais sobre a tomada de decisões médicas

PorMichael Joseph Pistoria, MEng, DO, Lehigh Valley Hospital - Coordinated Health
Revisado/Corrigido: ago 2021
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    Tanto as pessoas como seus médicos precisam tomar muitas decisões a respeito de assuntos médicos. As pessoas precisam decidir quando consultar um médico e se devem ou não fazê-lo. Os médicos e outros profissionais de saúde básica (PSAs) precisam decidir como aconselhar as pessoas sobre o que elas devem fazer para permanecerem bem ou melhorarem. Tanto um como o outro precisa tomar decisões sobre quais exames e quais tratamentos devem acabar sendo realizados.

    As decisões sobre exames médicos e as decisões sobre o tratamento médico podem ser complexas e elas exigem que o médico contrabalance seu conhecimento sobre doenças, exames, tratamentos com as características individuais do paciente para assim poder ajudar as pessoas a alcançarem suas metas de saúde. As decisões sobre cuidados médicos são tomadas de forma mais eficaz quando médicos e pacientes trabalham em conjunto. As melhores decisões, e as mais adequadas, são tomadas quando a experiência e o conhecimento do médico se combinam com os conhecimentos, desejos e valores do paciente.

    Como definir as metas

    Antes de realizar exames complicados, caros e/ou possivelmente arriscados, os médicos tradicionalmente conversam com as pessoas para explicar com detalhes as metas do plano de diagnóstico e tratamento. Normalmente, as metas de um plano diagnóstico e de tratamento são identificar e depois curar a doença. Contudo, fazer um diagnóstico nem sempre é desejado. A seguir estão apenas dois exemplos em que de fato isso pode ocorrer:

    • A pessoa não quer receber tratamento para uma determinada doença.

    • Não existe um bom tratamento para uma determinada doença.

    Por exemplo, se uma pessoa em mau estado de saúde não deseja passar por quimioterapia ou cirurgia caso um câncer seja diagnosticado, pode não ser adequado que essa pessoa corra o risco de apresentar as complicações decorrentes de um exame diagnóstico invasivo, como uma biópsia, para diagnosticar o câncer.

    Às vezes, as pessoas não desejam realizar um exame, porque estão preocupadas com o tratamento para uma doença. Um exemplo comum é o câncer, que muitas vezes exige um tratamento desagradável e, às vezes, perigoso. O médico pode relembrar à pessoa que talvez ela tenha uma opinião diferente caso saiba que de fato tem a doença e que fazer os exames não a obriga a receber tratamento.

    Da mesma maneira, as pessoas podem não querer realizar exames para doenças que não têm um tratamento conhecido. Um exemplo é a doença de Huntington, que é uma doença neurológica hereditária, progressiva e fatal. É possível que algumas pessoas com antecedentes de doença de Huntington na família prefiram não saber se têm ou não o gene que causa a doença. Outras pessoas gostariam de ser testadas para ajudar a orientar a tomada de decisões de planejamento de vida para si próprias ou para membros da família, que também podem se beneficiar de exames genéticos ou outros exames.

    Os médicos e outros profissionais de saúde básica precisam levar em consideração os possíveis efeitos que eventuais recomendações diagnósticas ou de tratamento podem ter sobre seus pacientes. Eles devem ajudar as pessoas a ponderar as consequências de ignorar uma doença grave, mesmo quando o diagnóstico for improvável. O mesmo tipo de raciocínio é usado para tomar decisões sobre tratamento. É provável que os médicos não recomendem tratamentos que possam ter efeitos colaterais graves para pessoas com uma forma leve da doença. Contudo, se a doença for grave, mas a cura for possível, o médico pode aconselhar às pessoas que os possíveis efeitos colaterais podem valer a pena.

    Podem surgir problemas quando os médicos e as pessoas não compartilham as mesmas percepções sobre risco, particularmente em relação ao tratamento. Uma pessoa que ouve falar sobre um possível efeito colateral grave de um medicamento pode ficar muito preocupada, independentemente da frequência com que ele ocorra. O médico pode não ter a mesma preocupação se a possibilidade de aparecimento do efeito colateral for remota. Alternativamente, é possível que o médico não entenda que o que a maioria das pessoas considera ser um efeito colateral menor, pode vir a causar um problema grave para uma pessoa em particular. Por exemplo, se alguém trabalha como motorista, é possível que ele tenha uma preocupação maior em relação a tomar medicamentos que causam sonolência ou que sejam proibidos por lei.

    Porém, frequentemente, o equilíbrio entre o risco da doença e seu tratamento não está estabelecido tão claramente. Um médico pode analisar os riscos e os benefícios de um tratamento de forma diferente do paciente. As pessoas devem discutir essas diferenças de opinião com seus médicos. Compreender os riscos pode também ajudar a pessoa a ponderar as alternativas à sua disposição. Um médico pode descrever vários métodos e discuti-los com o paciente para ajudá-lo a decidir entre eles. Ao avaliar os riscos entre as diversas opções e, em seguida, introduzir os seus próprios valores, um paciente pode tomar decisões mais informadas sobre os cuidados médicos que receberá.

    A pessoa também deve ser muito clara quando estiver expressando suas escolhas para seus médicos, particularmente se ela tiver determinados problemas médicos, como uma doença terminal, que possa impossibilitá-la de expressar seus desejos no futuro (consulte Instruções prévias).

    Tratamento padrão e segundas opiniões

    Geralmente existe um tratamento padrão para aqueles sintomas e doenças que já foram bastante estudados. O tratamento padrão diz respeito aos exames e/ou tratamentos sobre os quais já houve um consenso entre os médicos de que eles demonstraram ser eficazes e, portanto, devem ser normalmente recomendados às pessoas.

    Contudo, algumas das doenças podem não ter um tratamento padrão, principalmente aquelas que são complexas e difíceis de serem diagnosticadas e tratadas. Pode não haver um tratamento padrão, porque os estudos realizados podem ter demonstrado resultados diferentes ou resultados semelhantes com tratamentos diferentes. Existe também a possibilidade de que não existe nenhum tratamento padrão para doenças muito raras porque estudos clínicos de grande porte não foram realizados. Quando não existe um tratamento padrão, não há uma abordagem “correta” ou tratamento “correto”. Um médico pode propor um tratamento que é diferente daquele que foi proposto por outro médico. Os dois podem estar certos ou os dois podem estar errados.

    O tratamento padrão muda conforme novas pesquisas forem realizadas. Por exemplo, no passado, os médicos administravam um medicamento chamado lidocaína a todas as pessoas que sofriam um ataque cardíaco. A administração de lidocaína era o tratamento padrão porque alguns estudos haviam demonstrado que ela ajudava a evitar um distúrbio ao ritmo cardíaco possivelmente fatal chamado fibrilação ventricular. Contudo, estudos posteriores demonstraram que, embora a lidocaína de fato ajudasse a prevenir a fibrilação ventricular, as pessoas com ataques cardíacos que recebiam lidocaína de forma rotineira tinham uma maior probabilidade de morrer. O tratamento padrão passou então ser não administrar lidocaína de maneira rotineira.

    É possível que as pessoas queiram consultar outro médico, especialmente um que tenha uma especialização naquele assunto (ou seja, obter uma segunda opinião) quando não houver um tratamento padrão, principalmente no caso de doenças raras ou graves ou de doenças que não apresentaram resposta aos tratamentos.

    Fontes de informação para os médicos

    A maioria dos médicos conta com sua educação e experiência: o que aprenderam durante a residência, com os colegas e ao diagnosticarem e tratarem pessoas com problemas semelhantes. Os médicos também leem livros e publicações médicas, discutem o caso com os colegas e consultam outros recursos, como sites de saúde de confiança na internet, para obter mais informações sobre problemas específicos e manterem‑se a par das novidades geradas pela pesquisa médica. Eles também podem analisar recomendações (diretrizes práticas) publicadas por grupos de especialistas.

    À medida que novos achados de pesquisas são publicados, os médicos avaliam esses estudos e analisam a melhor maneira de aplicar esses achados. Diferentes tipos de estudos proporcionam diferentes tipos de informações. Contudo, embora os estudos de pesquisa apenas forneçam informações sobre o risco médio relacionado aos perigos e benefícios, os efeitos médios nem sempre informam aos médicos de que maneira uma pessoa em particular vai responder a um tratamento.

    Um ensaio clínico é considerado o tipo de estudo mais exato. Em um ensaio clínico controlado, as pessoas que entram no estudo são divididas aleatoriamente (ao acaso) em dois ou mais grupos. Um grupo de pessoas recebe um tratamento específico ou submete-se a um determinado exame, ao passo que os outros grupos (chamados de grupos controle) realizam ou não outros tratamentos ou exames. Essa atribuição aleatória garante que os diferentes grupos sejam tão semelhantes quanto possível. Dessa maneira, qualquer diferença no resultado será provavelmente devido ao tratamento ou ao exame sendo estudado, em vez de uma diferença primária e possivelmente desconhecida entre os grupos. Os pesquisadores tentam elaborar estudos clínicos de modo que nem as pessoas que estão sendo estudadas, nem os próprios investigadores do estudo, saibam qual grupo está recebendo o tratamento, um processo denominado caráter duplo cego. Isso diminui a probabilidade de que as expectativas de alguém afetem os resultados.

    Fontes de informação para pessoas

    Embora muitas pessoas usem apenas seus profissionais de saúde básica para obter informações, geralmente é útil obter mais informações sobre um exame ou tratamento recomendados antes de tomar uma decisão (consulte Como pesquisar uma doença). As informações podem ser obtidas em

    • Panfletos, brochuras e outros materiais fornecidos pelo médico

    • Publicações, como livros, boletins informativos e revistas, criados para explicar informações médicas aos consumidores

    • Recursos de saúde online confiáveis

    É possível que esses recursos gerem mais perguntas para serem discutidas com o profissional de saúde básica (consulte Aproveitando ao máximo uma consulta de cuidados com a saúde).

    A qualidade das informações médicas na internet pode variar muito. Os fóruns em que as pessoas descrevem suas experiências com a doença e oferecem sugestões podem algumas vezes conter informações que são incorretas ou até mesmo perigosas. É possível que outros recursos na internet descrevam teorias da conspiração ou peçam dinheiro em troca de promessas de curas milagrosas que, na verdade, não têm benefício nenhum. Quando estiver pesquisando uma doença ou sintoma, a pessoa deve procurar informações em sites na internet confiáveis, como aqueles de associações médicas de grande porte (por exemplo, a Sociedade Americana Contra o Câncer [American Cancer Society] ou a Associação Americana do Coração [American Heart Association]) ou instituições médicas. As três fontes confiáveis a seguir são particularmente úteis:

    • A Medical Library Association (MLA) conta com diretrizes para ajudar a avaliar a credibilidade das informações sobre saúde na internet, incluindo uma lista de sites que a MLA considera particularmente úteis.

    • A Universidade da Califórnia em San Francisco publicou um guia oferecido gratuitamente que ajuda os consumidores a avaliar a exatidão das informações médicas que eles encontram na internet e gera sinais de alerta indicando que aquela informação pode não ser de confiança.

    • Os critérios STANDS dos Manuais Merck oferecem um método que pode ser facilmente lembrado para avaliar a credibilidade das informações de saúde na internet.

    Um médico pode também ajudar uma pessoa a determinar se as informações encontradas na internet são corretas.

    Você sabia que...

    • A qualidade das informações médicas disponíveis na internet pode variar muito.

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