Babesiose

PorChelsea Marie, PhD, University of Virginia;
William A. Petri, Jr, MD, PhD, University of Virginia School of Medicine
Revisado/Corrigido: dez. 2022
Visão Educação para o paciente

Babesiose é a infecção por espécies dos protozoários Babesia. As infecções podem ser assintomáticas ou podem produzir uma doença semelhante à malária, com febre e anemia hemolítica. A doença é muito grave em pacientes com asplenia, idosos e pessoas com aids. O diagnóstico é feito pela identificação de Babesia em uma amostra de sangue periférico, sorologia, ou reação em cadeia de polimerase (PCR). O tratamento, quando necessário, é feito com azitromicina associada à atovaquona, ou com quinina mais clindamicina.

Em 2019, houve relato de 2.418 casos de babesiose nos Estados Unidos, nos 25 estados em que a babesiose era uma doença que deveria ser relatada (ver Centers for Disease Control and Prevention: Babesiosis Data & Statistics). As regiões endêmicas compreendem as ilhas e a parte continental que margeia o Nantucket Sound, em Massachusetts, Rhode Island; o lado oriental de Long Island e Shelter Island, em Nova York; o litoral de Connecticut e New Jersey, bem como focos em Wisconsin e Minnesota no Centro-Oeste. Babesia duncani foi isolada de pacientes em Washington e na Califórnia. Uma cepa semelhante a B. duncani chamada MO-1 foi descrita em pacientes no Missouri. Outras Babesia spp transmitidas por diferentes carrapatos infectam seres humanos em outras regiões do mundo. Na Europa, B. divergens é a principal causa de babesiose, tipicamente em pacientes esplenectomizados.

Etiologia da babesiose

Nos Estados Unidos, a causa mais comum de babesiose em seres humanos é a Babesia microti. Roedores são os principais reservatórios naturais e os carrapatos dos cervos da família Ixodidae são os vetores habituais. Larvas de carrapatos são infectadas enquanto se alimentam do roedor infectado e, em seguida, transformam-se em ninfas que transmitem o parasita a outro animal ou para um ser humano. Carrapatos adultos geralmente se alimentam em cervos, mas também podem transmitir o parasita a seres humanos.

Babesia entram nos eritrócitos, amadurecem e, então, dividem-se de forma assexuada. Eritrócitos infectados terminam por se romper e liberam microrganismos que invadem outros eritrócitos; assim, Babesia também pode ser transmitida por transfusão de sangue e possivelmente por transplante de órgãos. Teste para rastrear Babesia microti em doadores de sangue e órgãos é atualmente utilizado em estados do nordeste dos Estados Unidos com as incidências mais altas da infecção.

Também pode ocorrer infecção congênita, mas ela é muito rara.

Carrapatos Ixodes infectados por Babesia são às vezes coinfectados por Borrelia burgdorferi (que causa a doença de Lyme), pelo Anaplasma phagocytophilum [que causa a anaplasmose granulocítica humana (AGH)] ou Borrelia miyamotoi (que causa doença semelhante à febre recorrente) ou vírus Powassan (um flavivírus que causa encefalite). Portanto, os pacientes às vezes adquirem mais de uma infecção por picada de carrapato.

Carrapatos do cervo

Sinais e sintomas da babesiose

A infecção assintomática por Babesia pode persistir por meses a anos e permanecer subclínica ao longo de sua evolução, em pessoas saudáveis, em especial naquelas com < 40 anos de idade.

Quando sintomática, a babesiose geralmente começa após 1 a 2 semanas de um período de incubação com sintomas inespecíficos, incluindo mal-estar, fadiga, calafrios, febre, cefaleia, mialgia e artralgia. Em pessoas saudáveis, geralmente os sintomas se resolvem depois de uma semana. Em outras, podem ocorrer hepatosplenomegalia com icterícia, anemia hemolítica leve a moderadamente grave, neutropenia leve e trombocitopenia. Edema pulmonar não cardíaco pode se desenvolver na doença grave.

A babesiose pode ser fatal, especialmente nos idosos, nos pacientes asplênicos e nas pessoas com aids. Nesses pacientes, a babesiose pode se assemelhar à malária falcípara, com febre alta, anemia hemolítica, hemoglobinúria, icterícia e insuficiência renal. Esplenectomia pode fazer com que a parasitemia assintomática previamente adquirida se torne sintomática.

A babesiose em recém-nascidos varia de enfermidades febris leves a graves.

Diagnóstico da babesiose

  • Microscopia óptica de amostras de sangue

  • Sorologias e testes baseados em reação em cadeia da polimerase (PCR [polymerase chain reaction])

A maioria dos pacientes com babesiose não se lembra de uma picada de carrapato, mas podem residir ou ter história de viagem para uma região endêmica.

Normalmente o diagnóstico de babesiose é feito ao encontrar a Babesia nas amostras de sangue, mas sua diferenciação das espécies de Plasmodium pode ser difícil. Formações tetraformes (a denominada formação em cruz de Malta), embora não comuns, são indícios de Babesia e úteis para diagnóstico.

Testes sorológicos e baseados em PCR (polymerase chain reaction) estão disponíveis. A detecção de anticorpos por meio do teste de anticorpo fluorescente indireto, utilizando antígenos B. microti, pode ser útil para os pacientes com baixo nível de parasitemia, mas pode ser falsamente negativa naqueles infectados com outro tipo de Babesia spp. Testes baseados na reação em cadeia da polimerase (PCR) podem ajudar a diferenciar Babesia de Plasmodium falciparum se os achados do esfregaço de sangue são ambíguos, a confirmar a infecção em pacientes com baixa parasitemia e a identificar as espécies de Babesia.

Tratamento da babesiose

  • Atovaquona e azitromicina

  • Quinina com clindamicina

Pacientes assintomáticos geralmente não requerem qualquer tratamento, mas a terapia é indicada para casos com febre alta persistente, parasitemia rapidamente crescente e diminuição de hematócrito.

A combinação de atovaquona e azitromicina administrada por 7 a 10 dias tem menos efeitos adversos e é mais efetivo do que o tratamento tradicional com quinina mais clindamicina em pacientes com babesiose leve a moderada. A dose da atovaquona para adultos é de 750 mg por via oral a cada 12 horas e da azitromicina 500 mg a 1000 mg por via oral no primeiro dia, a seguir uma dose única diária de 250 mg a 1000 mg. Para as crianças > 5 kg, a dose da atovaquona é de 20 mg/kg por via oral duas vezes ao dia com azitromicina 10 mg/kg por via oral em dose única, a seguir 5 mg/kg uma vez ao dia, por 7 a 10 dias.

Alternativamente, utilizar quinina 650 mg por via oral 3 vezes ao dia com clindamicina 600 mg por via oral 3 vezes ao dia ou 300 mg a 600 mg 4 vezes ao dia por 7 a 10 dias. A dosagem pediátrica é composta de quinina, 10 mg/kg por via oral 3 vezes ao dia, associada à clindamicina, 7 a 14 mg/kg por via oral 3 vezes ao dia. Considerar o uso de quinina com clindamicina como padrão de tratamento para pacientes graves. Deve-se monitorar atentamente os pacientes em uso de quinina quanto a efeitos adversos.

A plasmaférese tem sido utilizada em pacientes gravemente enfermos com parasitemia alta (> 10% dos eritrócitos).

Prevenção da babesiose

Para prevenir a babesiose, todas as pessoas em áreas endêmicas devem tomar precauções básicas contra carrapatos. Pessoas com asplenia e pacientes com aids devem ser particularmente cautelosos. Pessoas que tiveram babesiose são impedidas de doar sangue e, potencialmente, órgãos para prevenir a transmissão. O rastreamento dos doadores de sangue e órgãos agora é feito em estados com incidência relativamente alta de infecção.

Prevenção de picadas de carrapato

A prevenção do acesso do carrapato à pele é feita por meio de

  • Permanecer em estradas e trilhas

  • Colocar as barras das calças por dentro de botas ou meias

  • Utilizar camisas de manga longa

  • Aplicar repelentes com dietiltoluamida (DEET) na superfície da pele

A DEET deve ser utilizada com cautela em crianças muito jovens porque reações tóxicas têm sido relatadas. Permetrina nas roupas efetivamente mata os carrapatos. Buscas frequentes por carrapatos, em particular em partes com pelos e em crianças, são essenciais em áreas endêmicas.

Carrapatos ingurgitados devem ser removidos com cuidado e não esmagados entre os dedos porque isto pode resultar em transmissão da doença. O corpo do carrapato não deve ser segurado ou esmagado. Tração gradual na cabeça com um pequeno fórceps desprende o carrapato. O local do corpo em que o carrapato estava preso deve ser esfregado com álcool. Vaselina, álcool, fósforos acesos e outros irritantes não são maneiras eficazes de remover carrapatos e não devem ser utilizadas.

Não há meios práticos disponíveis para livrar áreas inteiras dos carrapatos, mas populações destes podem ser reduzidas em áreas endêmicas por meio do controle de populações de pequenos animais.

Pontos-chave

  • Áreas endêmicas de babesiose nos Estados Unidos incluem a costa e ilhas do sul da Nova Inglaterra e Nova Jersey, bem como as regiões mais ao norte do Meio-Oeste e Noroeste.

  • A babesiose varia de infecção leve assintomática à doença grave com risco de morte (principalmente em pacientes idosos ou asplênicos ou em pacientes com aids ou outras doenças de comprometimento imunitário).

  • Os sintomas são inespecíficos e podem lembrar aqueles da malária, com febre prolongada, cefaleia, mialgias e, às vezes, icterícia.

  • Diagnosticar utilizando microscopia óptica dos esfregaços de sangue e, às vezes, testes serológicos baseados na reação em cadeia da polimerase (PCR).

  • Tratar os pacientes sintomáticos com atovaquona e azitromicina ou, se os sintomas forem graves, quinina e clindamicina.

Informações adicionais

O recurso em inglês a seguir pode ser útil. Observe que este Manual não é responsável pelo conteúdo deste recurso.

  1. Centers for Disease Control and Prevention: Resources for health professionals: Babesiosis

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