Toxocaríase é uma infecção humana causada por larvas de ascarídeos nematoideos que ordinariamente infectam animais. Os sintomas são febre, anorexia, hepatosplenomegalia, exantema, pneumonite, asma, ou distúrbio visual. O diagnóstico é feito por meio de imunoensaio enzimático. O tratamento é feito com albendazol ou mebendazol. Corticoides podem ser associados nos casos de sintomas intensos ou envolvimento ocular.
(Ver também Abordagem a infecções parasitárias.)
Fisiopatologia da toxocaríase
Os ovos de Toxocara canis, T. cati e outros helmintos ascarídeos animais amadurecem no solo e infectam cães, gatos e outros animais. Seres humanos podem acidentalmente ingerir ovos no solo contaminado com fezes de animais infectados ou podem ingerir hospedeiros transferidos infectados mal cozidos (p. ex., coelhos). Os ovos eclodem no intestino humano. As larvas penetram na parede do intestino e podem migrar para fígado, pulmões, sistema nervoso central, olhos, ou outros tecidos. O dano tecidual é causado pelo parasita e pela resposta imune local que ele provoca.
As larvas normalmente não completam o desenvolvimento no corpo humano, mas podem permanecer vivas durante muitos meses.
Image from the Centers for Disease Control and Prevention, Global Health, Division of Parasitic Diseases and Malaria.
Sinais e sintomas da toxocaríase
Larva migratória visceral
Larva migrans visceral (VLM) consiste em febre, anorexia, hepatosplenomegalia, exantema, pneumonite e sintomas asmáticos, dependendo dos órgãos afetados. Larvas de outros helmintos incluindo Baylisascaris procyonis, Strongyloides spp e Paragonimus spp podem causar sinais e sintomas semelhantes quando migram pelo tecido.
LMV ocorre principalmente em crianças de 2 a 5 anos com história de geofagia ou em adultos que ingerem argila.
A síndrome é autolimitada em 6 a 18 meses, se não houver nova ingestão de ovos. Mortes decorrentes de invasão do cérebro ou no coração raramente acontecem.
Larva migratória ocular
Larva migrans ocular (LMO), também chamada toxocaríase ocular, normalmente é unilateral e não tem nenhuma manifestação ou manifestações sistêmicas muito leves. Lesões por LMO consistem principalmente em reações inflamatórias granulomatosas a uma larva, resultando em uveíte e/ou coriorretinite. Como resultado, a visão pode ser comprometida ou perdida.
LMO ocorre em crianças mais velhas e menos comumente em adultos jovens. A lesão pode ser confundida com retinoblastoma ou outro tipo de tumor intraocular.
Diagnóstico da toxocaríase
Imunoensaio enzimático para anticorpos contra Toxocara mais achados clínicos
O diagnóstico da toxocaríase baseia-se em achados clínicos, epidemiológicos e sorológicos.
Para larva migrans visceral (VLM), recomenda-se imunoensaio enzimático (EIA) para anticorpos contra Toxocara a fim de confirmar o diagnóstico. As isoaglutininas podem estar elevadas, mas o achado é inespecífico. Tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM) pode mostrar múltiplas lesões ovais de 1,0 a 1,5 cm distribuídas no fígado ou em nódulos subpleurais mal definidos no tórax.
É comum haver hipergammaglobulinemia, leucocitose e eosinofilia acentuada na LMV.
Biopsias de fígado ou outros órgãos afetados podem mostrar reações granulomatosas eosinofílicas, mas as larvas são de difícil detecção em cortes de tecidos e as biópsias são de baixo rendimento. Exames de fezes não são úteis.
Para larva migrans ocular (LMO), experiência oftalmológica é essencial para o diagnóstico. Reações granulomatosas aparecem como lesões ovais brancas no polo posterior ou periferia da retina. Alguns pacientes apresentam endoftalmite, que se manifesta como olho vermelho e doloroso com inflamação intraocular difusa.
A presença de anticorpos anti-Toxocara e achados oftalmológicos característicos são úteis para diferenciar LMO de retinoblastoma e prevenir a enucleação cirúrgica desnecessária do olho. Infelizmente, os títulos de anticorpos anti- Toxocara podem ser baixos ou indetectáveis em pacientes com LMO.
Tratamento da toxocaríase
Albendazol ou mebendazol
Tratamento sintomático
Pacientes assintomáticos e aqueles com sintomas leves de larva migrans visceral (LMV) não exigem terapia anti-helmíntica porque a infecção costuma ser autolimitada.
Para pacientes com sintomas leves a graves, albendazol, 400 mg por via oral duas vezes ao dia durante 5 dias, ou mebendazol, 100 a 200 mg por via oral duas vezes ao dia durante 5 dias, são frequentemente utilizados, mas a duração ideal da terapia não foi determinada.
Anti-histamínicos podem ser suficientes para ajudar a aliviar os sintomas leves de prurido e exantema. Indicam-se corticoides (prednisona, 20 a 40 mg, por via oral, uma vez ao dia, durante 1 mês ou mais, se necessário, então diminuídos) para pacientes com sintomas graves para reduzir a inflamação.
Experiência em oftalmologia é essencial no tratamento da larva migrans ocular (LMO). Indicam-se corticoides, tanto locais como orais, para reduzir a inflamação no olho. O papel da terapia anti-helmíntica continua incerto. Albendazol utilizado com corticoides pode reduzir as recorrências, mas não há dados comparativos disponíveis sobre a dose e a duração ideais da terapia, e não há evidências de que o albendazol melhore o desfecho visual. Infelizmente, quase todos os pacientes têm deficiência visual.
Fotocoagulação a laser é utilizada para matar larvas na retina. Criocirurgia ou vitrectomia cirúrgica foram utilizadas em algumas circunstâncias.
Prevenção da toxocaríase
Infecção em filhotes de cães por T. canis é comum nos Estados Unidos; infecção por T. cati em gatos é menos comum. Mas ambos os animais devem ser regularmente vermifugados. O contato com lixo ou areia contaminado com fezes de animais deve ser minimizado. As caixas de areia devem ser cobertas.
Pontos-chave
O ciclo de vida do Toxocara canis normalmente envolve cães; seres humanos só são infectados acidentalmente ao ingerir ovos no solo contaminado com fezes de animais infectados, ou ingerir hospedeiros transferidos infectados mal cozidos (p. ex., coelhos).
Em seres humanos, a toxocaríase causa 2 síndromes principais: larva migrans visceral (que causa vários sintomas dependendo do órgão infectado) e larva migrans ocular (que geralmente não causa nenhum sintoma ou sintomas leves, mas pode resultar em comprometimento ou perda da visão).
Diagnosticar com base na avaliação clínica e imunoensaio enzimático para antígenos de Toxocara.
A maioria dos casos de larva migrans visceral é autolimitada e não exige tratamento, mas, se necessário, pode-se utilizar: albendazol ou mebendazol para sintomas moderados a graves, possivelmente anti-histamínicos para sintomas leves e corticoides para sintomas graves.
Para larva migrans ocular, utilizam-se esteroides sistêmicos e locais, às vezes albendazol e laser, crioterapia ou procedimentos cirúrgicos dependendo das circunstâncias.
Desparasitar cães e gatos pode ajudar a prevenir a toxocaríase.