O mesotelioma pleural é a única doença maligna pleural conhecida e é causada pela exposição ao asbesto em quase todos os casos. O diagnóstico baseia-se em história, radiografia de tórax ou achados radiológicos e biópsia tecidual. O tratamento é sintomático, podendo requerer cirurgia e/ou quimioterapia.
(Ver também Visão geral das doenças relacionados ao asbesto e Visão geral da doença pulmonar ambiental.)
O asbesto é um silicato que ocorre naturalmente, cuja resistência ao calor e propriedades estruturais o tornam útil para a inclusão em materiais da construção civil e naval, freios de automóveis e alguns tecidos. Crisotilo (uma fibra serpentina), crocidolita e amosita (anfibólio, ou fibras retas) são os 3 tipos principais de asbesto que provocam doença.
Os indivíduos que trabalham com asbesto têm até 10% de risco de desenvolver mesotelioma ao longo da vida, com latência média de 25 a 30 anos. O risco não depende do tabagismo. O mesotelioma surge da superfície mesotelial da cavidade pleural e pode disseminar-se localmente ou metastatizar-se nos linfonodos hilares e mediastinais, pericárdio, diafragma, peritônio, fígado, suprarrenais ou rins e, raramente, na túnica vaginal do testículo.
Sinais e sintomas do mesotelioma
Com maior frequência, os pacientes desenvolvem dispneia e dor torácica não pleurítica. Os sintomas constitucionais são incomuns na vigência das manifestações clínicas iniciais. A invasão da parede torácica e de outras estruturas adjacentes pode provocar dor intensa, rouquidão, disfagia, síndrome de Horner, plexopatia braquial ou ascite.
Diagnóstico do mesotelioma
Radiografia de tórax
Citologia do líquido pleural ou biópsia pleural
Às vezes, toracoscopia guiada por vídeo ou toracotomia
Estadiamento com TC do tórax, mediastinoscopia e ressonância magnética (RM) ou, às vezes, com tomografia com emissão de pósitrons (positron emission tomography [PET]) e broncoscopia
A forma pleural do mesotelioma, que representa > 90% de todos os casos (os outros 10% incluem mesoteliomas pericárdicos e peritoneais), manifesta-se na radiografia por espessamento pleural difuso uni ou bilateral, que parece encerrar os pulmões, provocando, habitualmente, o velamento dos ângulos costofrênicos. Evidenciam-se derrames pleurais em 95% dos casos, sendo, classicamente, unilaterais, hemorrágicos e extensos. O diagnóstico baseia-se na citologia do líquido pleural ou na biópsia pleural. O aumento nos níveis de hialuronidase no líquido pleural é sugestivo, mas não diagnóstico, de mesotelioma.
Se o diagnóstico é incerto após esses procedimentos, efetua-se biópsia por cirurgia com toracoscopia guiada por CTAV ou toracotomia. As proteínas solúveis relacionadas com a mesotelina, liberadas no soro por células mesoteliais, estão sendo estudadas como possíveis marcadores tumorais para detecção e monitoramento da doença, mas a taxa de falso-positivos pode limitar sua eficácia.
Com a permissão do editor. From Huggins J, Sahn S. In Bone's Atlas of Pulmonary and Critical Care Medicine. Editado por J Crapo. Philadelphia, Current Medicine, 2005.
Efetuam-se estadiamento com TC do tórax, mediastinoscopia e RM. A sensibilidade e especificidade da RM e TC são comparáveis, embora a RM seja útil para determinar a extensão do tumor na parede torácica, diafragma, estruturas mediastinais, medula e medula espinal. A tomografia com emissão de pósitrons (PET, positron emission tomography) pode ter melhor sensibilidade e especificidade para a distinção entre espessamento pleural benigno e maligno. A broncoscopia exclui doenças malignas endobrônquicas coexistentes.
Atualmente não há diretrizes para monitoramento à procura de mesotelioma em pessoas expostas ao asbesto. Biomarcadores séricos estão surgindo como uma potencial modalidade para diagnosticar e monitorar pacientes, mas são necessárias análises adicionais para validar seu uso na prática clínica (1).
Referência sobre diagnóstico
1. Solbes E, Harper RW: Biological responses to asbestos inhalation and pathogenesis of asbestos-related benign and malignant disease. J Investig Med 66(4):721–727, 2018. doi: 10.1136/jim-2017-000628
Prognóstico do mesotelioma
O mesotelioma continua sendo um câncer incurável e a sobrevida a longo prazo é rara. Pode-se considerar a cirurgia de remoção da pleura, do pulmão ipsilateral, do nervo frênico, do hemidiafragma e do pericárdio, combinada com quimioterapia ou radioterapia, embora isso não modifique substancialmente o prognóstico ou o tempo de sobrevida. Nenhum tratamento prolonga substancialmente a sobrevida. A taxa média de sobrevida a partir do momento do diagnóstico é 9 a 12 meses, dependendo da localização e do tipo de célula. O estágio imaginológico e histopatológico fornece a informação prognóstica mais forte (1). Pacientes com prognóstico pior são caracterizados por
Idade > 75 anos no momento do diagnóstico
Estado de baixo desempenho
Nível da desidrogenase láctica (LDH) > 500 U/L (> 8,4 microkat/L)
Contagem de plaquetas > 400.000/microL (> 400 × 109/L)
Dor torácica
Histologia não epitelial
Referência sobre prognóstico
1. Herndon JE, Green MR, Chahinian AP, et al: Factors predictive of survival among 337 patients with mesothelioma treated between 1984 and 1994 by the Cancer and Leukemia Group B. Chest 113 (3):723–731, 1998.
Tratamento do mesotelioma
Cuidados de suporte
Pleurodese ou pleurectomia para derrames pleurais e alívio da dispneia
Analgesia com opioides e, às vezes, radioterapia
Quimioterapia para redução do tumor e alívio dos sintomas
Inscrição em ensaios clínicos de terapias experimentais
O foco principal do tratamento é sintomático, visando o alívio da dor e da dispneia.
Levando-se em consideração a natureza difusa da doença, a radioterapia é geralmente inadequada, exceto como ferramenta para tratar a dor localizada e as metástases no trato criado por punções com agulha. Deve ser evitada no tratamento da dor de raiz nervosa.
Para ajudar a reduzir a dispneia provocada por derrames pleurais, pode-se utilizar a pleurodese ou a pleurectomia.
A analgesia adequada é difícil, mas é importante obtê-la. Habitualmente, utilizam-se opioides, administrados por catéteres transcutâneos ou epidurais de demora.
Como as taxas de morbidade e mortalidade são elevadas na pneumonectomia extrapleural, pleurectomia e decorticação são cada vez mais utilizadas se todo o tumor macroscopicamente visível estiver limitado a um hemitórax e puder ser removido. Mas ressecção completa geralmente não é viável, caso em que o acréscimo de quimioterapia e radioterapia prolonga a sobrevida (1).
Tratamentos conservadores incluem quimioterapia combinada (p. ex., com pemetrexede e um composto de platina) e radioterapia. A quimioterapia pode aliviar os sintomas na maioria dos casos e, algumas vezes, diminui o tamanho do tumor. Quimioterapia combinada com pemetrexede e cisplatina prolongou a sobrevida em 3 meses em comparação com cisplatina isolada (2). Nesse estudo, o acréscimo de ácido fólico e suplementação de vitamina B12 reduziu a toxicidade. Ensaios clínicos demonstraram que a adição de bevacizumabe ao pemetrexede e à cisplatina prolonga a sobrevida (3), bem como a adição de nintedanibe à cisplatina e ao pemetrexede (4). O inibidor da tirosina quinase cediranibe demonstrou ser promissor em ensaios clínicos como um fármaco de segunda linha (5, 6). Imunoterapia com antimetotelina também mostrou ser promissora e atualmente está sendo investigada em combinação com o tratamento padrão com cisplatina-pemetrexede (7).
Tratamentos sob investigação incluem vacinação imunoterapêutica, viroterapia oncolítica, terapia gênica, terapia fotodinâmica e quimioterapia intrapleural hipertérmica.
Referências sobre o tratamento
1. Nelson DB, Rice DC, Niu J, et al: Long-term survival outcomes of cancer-directed surgery for malignant pleural mesothelioma: Propensity score matching analysis. J Clin Oncol 35 (29):3354–3362, 2017. doi: 10.1200/JCO.2017.73.8401.
2. Vogelzang NJ, Rusthoven JJ, Symanowski J, et al: Phase III study of pemetrexed in combination with cisplatin versus cisplatin alone in patients with malignant pleural mesothelioma. J Clin Oncol 21 (14):2636–2644, 2003.
3. Zalcman G, Mazieres J, Margery J, et al: Bevacizumab for newly diagnosed pleural mesothelioma in the Mesothelioma Avastin Cisplatin Pemetrexed Study (MAPS): A randomised, controlled, open-label, phase 3 trial. Lancet 387 (10026):1405–1414, 2016. doi: 10.1016/S0140-6736(15)01238-6
4. Grosso F, Steele N, Novello S: Nintedanib plus pemetrexed/cisplatin in patients with malignant pleural mesothelioma: Phase II results from the randomized, placebo-controlled LUME-Meso trial. J Clin Oncol 35:91–3600, 2017. doi: 10.1200/JCO.2017.72.9012
5. Tsao AS, Moon J, Wistuba II, et al: Phase I trial of cediranib in combination with cisplatin and pemetrexed in chemonaive patients with unresectable malignant pleural mesothelioma (SWOG S0905). J Thorac Oncol 12:1299–1308, 2017. doi: 10.1016/j.jtho.2017.05.021
6. Tsao AS, Miao J, Wistuba II, et al: Phase II trial of cediranib in combination with cisplatin and pemetrexed in chemotherapy-naïve patients with unresectable malignant pleural mesothelioma (SWOG S0905). J Clin Oncol 37:2537–2547, 2019. doi: 10.1200/JCO.19.00269
7. Hassan R, Thomas A, Alewine C, et al: Mesothelin immunotherapy for cancer: Ready for prime time? J Clin Oncol 34:4171–4179, 2016. doi: 10.1200/JCO.2016.68.3672
Pontos-chave
O mesotelioma quase sempre está relacionado com o abesto e é pleural em mais de 90% dos casos.
A sobrevida média a partir do momento do diagnóstico é de 9 a 12 meses, e a cura não é possível.
O tratamento é voltado a cuidados de suporte, mas muitos tratamentos cirúrgicos e não cirúrgicos demonstraram melhorar a sobrevida.