São disfunções musculares progressivas hereditárias, em razão de defeitos em um ou mais genes necessários para a função e estrutura musculares normais.
Distrofia muscular congênita
Não se trata de uma única distrofia, mas se refere à distrofia muscular evidente ao nascimento e oriunda de formas raras de distrofias musculares. Todas essas distrofias são geneticamente recessivas e resultam de mutações em uma variedade de genes diferentes, incluindo aqueles que codificam para as proteínas estruturais da membrana basal ou matriz extracelular das fibras musculares esqueléticas.
Suspeita-se do diagnóstico da distrofia muscular congênita em qualquer recém-nascido com flacidez, mas deve-se diferenciá-la de miopatia congênita por biópsia muscular.
O tratamento da distrofia muscular congênita é de suporte e consiste em fisioterapia, que pode ajudar a preservar a função.
Distrofia de Emery-Dreifuss
Pode ter transmissão autossômica dominante, autossômica recessiva (mais rara) ou recessiva ligada ao X. A incidência geral é desconhecida. As mulheres podem ser portadoras, mas apenas os homens são afetados clinicamente por herança ligada ao X. Os genes associados a essa distrofia codificam certas proteínas de membrana nuclear: lâmina A/C (autossômica) e emerina (ligada ao X).
Sinais e sintomas
Fraqueza muscular e desgaste podem começar a qualquer momento antes dos 20 anos, afetando bíceps, tríceps e, com menor frequência, os músculos distais das pernas. Contraturas precoces são características. O coração é envolvido, muitas vezes, com paralisia atrial, anormalidades de condução (bloqueio atrioventricular), miocardiopatia e alta probabilidade de morte súbita.
Diagnóstico
Indica-se o diagnóstico da síndrome de Emery-Dreifuss por achados clínicos, idade de início e história familiar.
O diagnóstico é apoiado por níveis séricos de CK levemente elevados e características miopáticas na eletromiografia. A análise de mutação do DNA dos leucócitos no sangue periférico é o principal teste confirmatório. Se o teste genético não confirma o diagnóstico, pode-se fazer biópsia muscular.
Tratamento
Distrofia muscular fácio-escápulo-umeral
(Distrofia muscular de Landouzy-Dejerine)
A distrofia muscular fácio-escápulo-umeral (DMFEU) é o tipo mais prevalente de distrofia muscular e ocorre em 7/1000 pessoas versus 5/1000 pessoas com distrofia muscular de Duchenne ou de Becker. É uma doença autossômica dominante. Em cerca de 98% dos pacientes, a FSHMD é causada por uma deleção no braço longo do cromossomo 4, no lócus 4q35. Em cerca de 10 a 33% dos pacientes, a mutação é de novo (esporádica) em vez de hereditária (1).
Referência geral
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1. Tawil R, Kissel JT, Heatwole C, et al: Evidence-based guideline summary: Evaluation, diagnosis, and management of facioscapulohumeral muscular dystrophy: Report of the Guideline Development, Dissemination, and Implementation Subcommittee of the American Academy of Neurology and the Practice Issues Review Panel of the American Association of Neuromuscular & Electrodiagnostic Medicine. Neurology 85:357–364, 2015. doi: 10.1212/WNL.0000000000001783.
Sinais e sintomas
A distrofia fácio-escápulo-umeral é caracterizada por fraqueza dos músculos faciais e da cintura escapular. Os sintomas podem se desenvolver cedo na infância e geralmente são perceptíveis durante adolescência; 95% dos casos se manifestam por volta dos 20 anos de idade. Os sintomas iniciais são caracterizados por progressão lenta e podem incluir dificuldade de assoprar, fechar os olhos e erguer os membros superiores (decorrente da fraqueza dos músculos da cintura escapular). Com o tempo, os pacientes percebem uma alteração na expressão facial.
O curso é variável. Muitos pacientes não se tornam deficientes e têm uma expectativa de vida normal. Outros pacientes dependem de cadeira de rodas na idade adulta. A variedade infantil é caracterizada por fraqueza rapidamente progressiva de cintura pélvica, escapular e músculos faciais e a incapacidade sempre é grave. Os sintomas não musculares frequentemente associados a essa doença incluem perda auditiva neurossensorial e alterações vasculares na retina.
Diagnóstico
Tratamento
Distrofia muscular de cintura pélvica
A distrofia muscular de cintura pélvica, na última contagem, tem 31 subtipos conhecidos, 23 são autossômicos recessivos e 8 autossômicos dominantes. Estima-se que a incidência geral seja cerca de 20 a 40/1.000.000. Homens e mulheres são igualmente afetados.
Descobertas da biologia molecular redefiniram a maneira como essas doenças são classificadas. As formas autossômicas dominantes são classificadas como DMC 1A, -1B, -1C etc, e as formas recessivas são classificadas como DMC 2A, -2B, -2C etc. Vários locus cromossômicos foram identificados como autossômico dominante (5q [nenhum produto genético conhecido]) e recessivo (2q, 4q [betassarcoglicano], 13q [gamassarcoglicano], 15q [calpaína, uma protease ativada pelo cálcio] e 17q [alfassarcoglicano ou adalina]). Podem ser afetadas proteínas estruturais (p. ex., glicoproteínas associadas às distrofinas) ou não estruturais (p. ex., proteases).
Sinais e sintomas
Os pacientes geralmente manifestam fraqueza muscular lentamente progressiva, simétrica, proximal com ou sem envolvimento facial e reflexos diminuídos ou ausentes. Os músculos da cintura pélvica ou do ombro podem ser afetados primeiro. O início dos sintomas para os tipos autossômicos dominantes varia da infância à idade adulta. O início dos sintomas para os tipos autossômicos recessivos tende a ocorrer durante a infância, e esses tipos estão distribuídos principalmente na cintura pélvica.
Diagnóstico
Indica-se o diagnóstico da distrofia muscular da cintura pélvica por achados clínicos característicos, idade de acometimento e história familiar e exige análise de mutação do DNA de leucócitos no sangue periférico como o principal teste confirmatório. Pode-se realizar histologia muscular, imunocitoquímica e análise Western blot.
Tratamento
O tratamento da distrofia muscular da cintura pélvica visa manter a função e prevenir as contraturas. Diretrizes emitidas pela American Academy of Neurology recomendam que os pacientes com DMCP recém-diagnosticados, com alto risco de complicações cardíacas, sejam encaminhados para avaliação cardíaca, mesmo na ausência de sintomas cardíacos. Aqueles com alto risco de insuficiência respiratória devem ser submetidos a testes de função pulmonar. Todos os pacientes com DMCP devem, idealmente, ser encaminhados a uma clínica multiespecialidade com experiência em doenças neuromusculares.
Pesquisas atuais mostram que terapia genética, transplante de mioblastos, anticorpos neutralizantes de miostatina e o hormônio de crescimento não têm nenhum papel, exceto em ensaios clínicos (1).
Referência sobre o tratamento
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1. Narayanaswami P, Weiss M, Selcen D, et al: Evidence-based guideline summary: Diagnosis and treatment of limb-girdle and distal dystrophies: Report of the Guideline Development Subcommittee of the American Academy of Neurology and the Practice Issues Review Panel of the American Association of Neuromuscular & Electrodiagnostic Medicine. Neurology 83:1453–1463, 2014. doi: 10.1212/WNL.0000000000000892.
Distrofia miotônica
(Doença de Steinert)
Distrofia miotônica afeta cerca de 1/8000 da população em geral. A herança é autossômica dominante com penetrância variável. Dois locus genéticos — DM1 e DM2 — causam a anormalidade.
Distrofia miotônica congênita
As mães afetadas e, raramente, os pais com mutações DM 1 podem ter filhos com uma forma grave de miotonia conhecida como distrofia miotônica congênita. Essa forma é caracterizada por hipotonia grave (criança mole), dificuldades de alimentação e respiratórias, deformidades ósseas, fraqueza facial e atraso no desenvolvimento psicomotor. Até 40% das crianças não sobrevivem, geralmente por causa de insuficiência respiratória e, às vezes, miocardiopatia. Até 60% dos sobreviventes têm deficiência intelectual.
Sinais e sintomas
Os sinais e sintomas da distrofia miotônica começam durante a adolescência ou adulto jovem e incluem miotonia (retardo no relaxamento após contração muscular), fraqueza e desgaste dos músculos distais dos membros (especialmente mãos), músculos faciais (ptose é, sobretudo, comum) e miocardiopatia. Também podem ocorrer retardo mental, cataratas e disfunções endócrinas.
A morte é mais comumente decorrente de doença respiratória e cardíaca, e os pacientes que desenvolvem arritmias cardíacas e fraqueza muscular grave em uma idade mais jovem têm maior risco de morte prematura. A idade média no momento da morte é 54 anos.
Diagnóstico
Tratamento
A miotonia pode responder aos fármacos estabilizadores de membrana (p. ex., mexiletina, procainamida, quinidina, fenitoína, carbamazepina). Desses, demostrou-se que a mexiletina reduz significativamente a miotonia na miotonia não distrófica e é, portanto, o fármaco de primeira linha em pacientes com distrofia miotônica que têm miotonia funcionalmente limitante. Como a mexiletina raramente pode precipitar arritmias em pacientes com arritmias ventriculares subjacentes, o fármaco é contraindicado em pacientes com bloqueio atrioventricular de 2º ou 3º grau; recomenda-se consulta com um cardiologista antes de iniciar a terapia com mexiletina, em particular naqueles com ECG anormal.
Mas é a fraqueza, para a qual não existe tratamento, não a miotonia, que normalmente deixa o paciente incapacitado; talas para o pé caído geralmente são necessárias à medida que a doença progride.