Não obstante o uso de RCP, as taxas de mortalidade para parada cardíaca fora do hospital são 80 a 97% para lactentes e crianças. Taxas de mortalidade por parada cardíaca intra-hospitalar para lactentes e crianças variam entre 40% e 65%. A taxa de mortalidade é 20 a 25% para parada respiratória isoladamente. Frequentemente, o resultado neurológico é fortemente comprometido.
(Ver também Parada cardíaca e RCP em adultos.)
Aplicam-se os protocolos de reanimação pediátrica a lactentes < 1 ano de idade e crianças até a puberdade (definida como o aparecimento de seios em mulheres e pelos axilares em homens) ou crianças com peso < 55 kg. Aplicam-se os protocolos de reanimação para adultos a crianças pós-púberes ou crianças com peso > 55 kg. A reanimação neonatal é discutida em outras partes.
Cerca de 50 a 65% das crianças que necessitam de RCP têm < 1 ano de idade; destas, a maioria tem < 6 meses. Cerca de 6% dos neonatos necessitam de reanimação no momento do parto; a incidência aumenta significantemente se o peso ao nascer é < 1.500 g.
Diretrizes padronizadas para resultados devem ser seguidas ao se relatarem resultados de RCP em crianças; p. ex., a Escala de Categorias de Resultados de Pittsburgh (Pittsburgh Outcome Categories Scale) reflete os desempenhos cerebral e geral ( Escala de categorias de desempenho cerebral pediátrico*).
Escala de categorias de desempenho cerebral pediátrico*
Standards and guidelines for CPR from the American Heart AssociationSeguem-se os padrões e as diretrizes para RCP da American Heart Association ( Técnicas de RCP para profissionais de saúde). Para o protocolo após um lactente ou criança ter sofrido colapso com possível parada cardíaca, Atendimento cardíaco emergencial pediátrico abrangente.
Técnicas de RCP para profissionais de saúde
Após a RCP ter sido iniciada, realizam-se desfibrilação e a identificação do ritmo cardíaco ( Reanimação cardiopulmonar (RCP) em adultos : Monitor e acesso IV).
Atendimento cardíaco emergencial pediátrico abrangente
Principais diferenças entre RCP pediátrica e adulta
Pré-parada
Bradicardia em criança em angústia é sinal de parada cardíaca iminente. Neonatos, lactentes e crianças pequenas têm maior probabilidade de desenvolver bradicardia causada por hipoxemia; crianças mais velhas inicialmente tendem a ter taquicardia. Lactente ou criança com frequência cardíaca < 60/min e sinais de perfusão precária que não se eleva com suporte respiratório devem receber compressões cardíacas ( Compressão torácica). Bradicardia secundária a bloqueio cardíaco é incomum.
Compressões torácicas
Durante compressões torácicas em lactentes e crianças (abaixo da idade da puberdade ou < 55 kg), a profundidade de compressão do tórax é um terço do diâmetro anteroposterior. Isso é de cerca de 4 cm a 5 cm. Em adolescentes ou crianças > 55 kg, a profundidade de compressão recomendada é a mesma que em adultos, i.e., 5 cm a 6 cm.
O método de compressão torácica também é diferente em lactentes e crianças e é ilustrado abaixo. A taxa de compressão em lactentes e crianças é semelhante à dos adultos e de 100 a 120 compressões/min.
Compressão torácica
Fármacos
Após oxigenação e ventilação adequadas, adrenalina é o fármaco de escolha (ver Fármacos de primeira linha). A dose de adrenalina é 0,01 mg/kg IV que pode ser repetida a cada 3 a 5 minutos.
Pode-se administrar um bolo de 5 mg/kg de amiodarona se a desfibrilação não for bem-sucedida após a adrenalina. Pode-se repetir até 2 vezes para fibrilação ventricular refratária (VF) ou taquicardia ventricular (TV) sem pulso. Se a amiodarona não estiver disponível, pode-se administrar lidocaína em uma dose de ataque de 1 mg/kg IV seguida por uma infusão de manutenção de 20 a 50 mcg/kg/min. Não demonstrou-se que a amiodarona ou lidocaína melhoram a sobrevida seguida por alta hospitalar.
Pressão arterial
A pressão arterial deve ser mensurada com um manguito de tamanho adequado, mas monitoramento de pressão arterial direto invasivo é obrigatório em crianças fortemente comprometidas.
Devido à pressão arterial variar com a idade, uma diretriz fácil para lembrar os limites inferiores da normalidade para a pressão sistólica (< 5º percentil) por idade é:
Assim, em uma criança de 5 anos, a hipotensão seria definida por uma pressão arterial < 80 mmHg (70 + [2 × 5]). Tem importância significativa as crianças manterem a pressão arterial durante mais tempo, em virtude de mecanismos compensatórios mais fortes (frequência cardíaca aumentada, resistência vascular sistêmica aumentada). Ocorrendo hipotensão, a parada cardiorrespiratória pode se seguir rapidamente. Todos os esforços devem ser feitos para iniciar o tratamento quando sinais de choque compensatórios (p. ex., frequência cardíaca aumentada, extremidades frias, preenchimento capilar > 2 s, pulsos periféricos fracos) estiverem presentes antes do desenvolvimento de hipotensão.
Equipamento e ambiente
Tamanho de equipamento, dosagens farmacológicas e parâmetros para RCP variam conforme a idade e o peso do paciente ( Técnicas de RCP para profissionais de saúde, Fármacos para reanimação* e Guia para reanimação pediátrica — medidas mecânicas). O equipamento tem tamanho variável e contém pás de desfibrilador ou eletrodos, máscaras, ambus, tubos respiratórias, lâminas de laringoscópio, tubos endotraqueais e cateteres de sucção. O peso deve ser mensurado, não estimado; alternativamente, podem ser usadas fitas métricas comercialmente disponíveis, calibradas para fornecer um peso padrão do paciente com base na sua altura. Algumas fitas são impressas com a dose recomendada de fármacos e o tamanho do equipamento para cada peso. As dosagens devem ser arredondadas para baixo; p. ex., uma criança de 2 ½ anos deve receber a dose de uma criança de 2 anos.
Fármacos para reanimação*
Guia para reanimação pediátrica — medidas mecânicas
Controle da temperatura
A suscetibilidade a perda de calor é maior em lactentes e crianças, devido a uma grande superfície em relação à massa corpórea e à menor quantidade de tecido subcutâneo. Um ambiente térmico externo neutro é crucial durante RCP e pós-reanimação. Hipotermia com temperatura central < 35° C dificulta a reanimação.
Para crianças comatosas reanimadas após parada cardíaca intra-hospitalar e extra-hospitalar, não há evidências de que a hipotermia terapêutica seja benéfica. Em crianças comatosas reanimadas após parada cardíaca, deve-se buscar uma normotermia terapêutica (36 °C a 37,5 °C) (1, 2) e deve-se tratar febre de forma agressiva.
Vias respiratórias e ventilação
A anatomia das vias respiratórias superiores é diferente em crianças. A cabeça é grande; face, mandíbula e narinas são pequenas; e o pescoço é relativamente curto. A língua é grande em relação à boca; a laringe é mais alta no pescoço e é angulada mais anteriormente. A epiglote é longa e a porção mais estreita da traqueia é inferior às pregas vocais no anel da cartilagem cricoide, permitindo o uso de tubos endotraqueais sem manguito. Em crianças mais novas, uma lâmina de laringoscópio reta geralmente permite melhor visualização das pregas vocais do que uma lâmina curva, porque a laringe é mais anterior e a epiglote é mais frouxa e redundante.
Se nenhuma via respiratória avançada está estabelecida em lactentes e crianças submetidos à reanimação, a relação recomendada de compressão:ventilação é 30:2 se um único socorrista estiver presente e 15:2 se houver mais de um socorrista. Essa recomendação se contrapõe àquela para adultos em que a relação compressão/ventilação sempre é 30: 2 e é independente do número de socorristas.
Com uma via respiratória avançada estabelecida, administra-se 1 respiração a cada 6 segundos (10 respirações/min) para lactentes, crianças e adultos.
Desfibrilação
Em assístole, atropina e marca-passo não são usados.
FV e TV sem pulso ocorrem em somente cerca de 15 a 20% das paradas cardíacas. Vasopressina não é indicada. Quando usa-se desfibrilação, a dose absoluta de energia é inferior à dos adultos; a forma de onda pode ser bifásica (preferida) ou monofásica. Independentemente da forma de onda, a dose de energia recomendada é de 2 joules/kg para o primeiro choque, aumentando até 4 joules/kg para tentativas adicionais (se necessário — ver Desfibrilação em adultos). A dose máxima recomendada é 10 joules/kg ou a dose máxima para adultos (200 joules para desfibrilador bifásico e 360 joules para desfibrilador monofásico).
Desfibriladores externos automáticos (DEAs) com cabos para adultos podem ser usados em crianças a partir de 1 ano de idade, mas um DEA com cabos pediátricos (choque bifásico máximo de 50 joules) é preferido para crianças entre 1 e 8 anos. Não há evidências suficientes para recomendar ou não recomendar o uso de DEA em crianças com < 1 ano de idade. Para colocação das pás, ver Desfibrilação em adultos.
Referências sobre tratamento
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1. Moler FW, Silverstein FS, Holubkov R, et al: Therapeutic hypothermia after in-hospital cardiac arrest in children. N Engl J Med 376:318–332, 2017. doi: 10.1056/NEJMoa1610493.
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2. Moler FW, Silverstein FS, Holubkov R, et al: Therapeutic hypothermia after out-of-hospital cardiac arrest in children. N Engl J Med 372:1898–1908, 2015. doi: 10.1056/NEJMoa1411480.
Informações adicionais
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American Heart Association's guidelines for CPR and emergency cardiovascular care