Abordagem a infecções parasitárias

PorChelsea Marie, PhD, University of Virginia;
William A. Petri, Jr, MD, PhD, University of Virginia School of Medicine
Revisado/Corrigido: jun 2023
Visão Educação para o paciente

Parasitas humanos são organismos que vivem em uma pessoa e obtêm nutrientes dessa pessoa (seu hospedeiro). Existem 3 tipos de parasitas:

  • Organismos unicelulares (protozoários, microsporídios)

  • Helmintos multicelulares (vermes)

  • Ectoparasitas como o da sarna e o piolho

Infecções parasitárias devido a protozoários e helmintos são responsáveis por taxas de morbidade e mortalidade consideráveis no mundo. São prevalentes na América Central, na América do Sul, na África e na Ásia. São muito menos comuns na Austrália, no Canadá, na Europa, no Japão, na Nova Zelândia e nos Estados Unidos. De longe, o maior impacto é sobre os residentes de áreas tropicais com recursos limitados e condições sanitárias precárias, mas infecções parasitárias são encontradas em países ricos em recursos com sistemas de saneamento adequados entre imigrantes e viajantes que retornam de regiões endêmicas e, às vezes, mesmo entre residentes que não viajaram, particularmente aqueles com infecção pelo HIV ou outras condições que causam imunodeficiência.

Alguns parasitas se adaptaram para viver no lúmen intestinal ou vaginal, em que as condições são anorganismo aeróbias; outros residem no sangue ou nos tecidos em condições organismo aeróbias.

Muitas infecções parasitárias são disseminadas por contaminação fecal de alimento ou água. São mais frequentes em regiões onde as condições sanitárias e de higiene são precárias. Alguns parasitas, como o ancilóstomo, podem penetrar na pele durante o contato com água suja contaminada ou, no caso de esquistossomo, água fresca. Outros, como malária, são transmitidos por meio de vetores artrópodes. Em ocasiões raras, os parasitas podem ser transmitidos por transfusões de sangue ou compartilhamento de agulhas ou congenitamente, da mãe para o feto.

Alguns parasitas são endêmicos nos Estados Unidos e em outros países ricos em recursos. Exemplos são os oxiúros Enterobius vermicularis, Trichomonas vaginalis, Toxoplasma gondii e os parasitas entéricos como Giardia intestinalis (também conhecido como G. duodenalis ou G. lamblia) e Cryptosporidium spp.

As características de infecções protozoárias e helmínticas variam de forma importante.

Protozoários

Protozoários são organismos unicelulares que se multiplicam por divisão binária simples (ver Protozoários extraintestinais e Protozoários intestinais e microsporídia). Os protozoários podem se multiplicar nos seus hospedeiros humanos, aumentando em número para produzir infecção intensa. Com raras exceções, infecções por protozoários não causam eosinofilia.

Microsporídia

Os microsporídios são organismos intracelulares formadores de esporos que costumavam ser classificados como protozoários, mas sua análise genética indicou serem fungos ou estarem o estreitamente relacionados com os fungos. A doença em humanos limita-se principalmente a pessoas que têm infecção por HIV ou outras doenças por imunocomprometimento grave. As manifestações clínicas dependem das espécies infectantes e incluem gastroenterite, comprometimento dos olhos e infecção disseminada.

Helmintos

São multicelulares e possuem sistemas de órgãos complexos. Os helmintos podem ser divididos ainda em

  • Vermes cilíndricos (nematódeos)

  • Vermes achatados (platelmintos), como tênias (cestódios) e fascíolas (trematódeos)

Em contraste aos protozoários, os helmintos não se multiplicam em seres humanos, mas podem provocar respostas eosinofílicas quando migram através do tecido. A maioria dos helmintos possui ciclos de vida complexos que envolvem tempo significativo fora de seus hospedeiros humanos. Alguns, incluindo Strongyloides stercoralis, Capillaria philippinensis e Hymenolepis nana, que podem aumentar por causa de autoinfecção (a prole reinfecta o mesmo hospedeiro em vez de se dispersar para infectar outro hospedeiro). Na estrongiloidíase, a autoinfecção pode resultar em hiperinfecções disseminadas com risco de vida em pessoas imunossuprimidas, em particular aqueles que tomam corticoides.

A gravidade das infecções helmínticas geralmente correlaciona-se com a carga parasitária, embora existam exceções, como quando um único Ascaris causa pancreatite aguda potencialmente fatal ao migrar e obstruir o duto pancreático. A carga parasitária depende do grau de exposição ambiental, de fatores do parasita e das respostas imunes do hospedeiro determinadas geneticamente. Se uma pessoa desloca-se de uma área endêmica, o número de vermes adultos diminui com o passar do tempo. Embora alguns parasitas (p. ex., Clonorchis sinensis) possam sobreviver por décadas nos seres humanos, muitas espécies tem um tempo de vida de somente poucos anos ou menos.

Nematódeos são vermes cilíndricos, não segmentados, cujo comprimento varia de 1 mm a 1 m. Os nematódeos possuem uma cavidade corpórea, o que os distingue de tênias e trematódeos. Dependendo da espécie, diferentes estágios no ciclo de vida são infecciosos ao ser humano. Milhões de pessoas são infectadas por nematódeos que habitam a flora intestinal e são transmitidos por ovos ou larvas nas fezes; os mais comuns são Ascaris (ascaridíase), ancilóstomos, Trichuris (tricuríase) e Strongyloides (estrongiloidíase).

Cestódios (tênias) adultos são vermes longos e planos multissegmentados que não possuem trato digestório e absorvem nutrientes diretamente do intestino delgado do hospedeiro. No trato digestório do hospedeiro, os cestódeos adultos podem crescer muito; até 40 m para uma das espécies. As tênias que infectam seres humanos são a tênia do peixe (Diphyllobothrium latum), a tênia da carne (Taenia saginata) e a tênia da carne de porco (Taenia solium).

Trematódeos são vermes não segmentados que infectam os vasos sanguíneos, fígado, pulmões ou trato gastrintestinal. Geralmente têm não mais que alguns centímetros de comprimento; no entanto, alguns têm apenas 1 mm, e alguns até 7 cm. Em seres humanos, a maioria das infecções por trematódeos é causada por espécies de Schistosoma (esquistossomose), vermes no fígado como Fasciola hepatica (fasciolíase) e Clonorchis sinensis (clonorquíase) e vermes pulmonares, incluindo certas espécies de Paragonimus (paragonimíase).

Diagnóstico de infecções parasitárias

  • Exame microscópico

  • Testes de antígeno e DNA

Os métodos utilizados para diagnosticar doenças parasitárias específicas estão resumidos na tabela Coleta e manuseio de espécimes para diagnóstico microscópico das infecções parasitárias.

Tabela

Infecções parasitárias devem ser consideradas no diagnóstico diferencial de síndromes clínicas apresentadas por moradores ou viajantes que se locomovem para áreas onde condições sanitárias e de higiene são precárias, ou onde doenças transmitidas por vetor são endêmicas. Por exemplo, febre em viajantes que retornam de uma área endêmica sugere a possibilidade de malária. Pessoas que imigraram de áreas endêmicas para países não endêmicos e que retornam para casa para visitar amigos e parentes têm risco particularmente maior. Elas frequentemente não procuram vacinas pré-viagem, medicamentos e conselhos sobre prevenção de doenças, e são mais propensas a visitar áreas de alto risco em comparação com os turistas que permanecem nas dependências do resort (1).

Embora menos frequente, também deve-se considerar a possibilidade de infecção parasitária localmente adquirida em residentes de países com sistemas modernos de sanitização que apresentam síndromes clínicas sugestivas, mesmo que não tenham viajado; alguns parasitas são endêmicos nesses países e outros (principalmente aqueles transmissíveis por via fecal-oral) podem ser adquiridos de viajantes infectados.

Informações sobre história, exame físico e dados laboratoriais também podem sugerir infecções parasitárias específicas. Por exemplo, a eosinofilia é comum quando helmintos migram através de tecidos e sugere uma infecção parasitária em um imigrante ou viajante que retornou.

O diagnóstico das infecções parasitárias era feito pela identificação de ovos, larvas ou parasitas adultos nas fezes, sangue, tecidos ou outras amostras, ou pela presença de anticorpos no sangue, mas atualmente cada vez mais o diagnóstico é feito pela identificação de antígenos parasitários ou testes moleculares para o DNA do parasita.

Médicos com experiência em infecções parasitárias e medicina tropical estão disponíveis para consulta em muitos centros médicos, postos de saúde e serviços de saúde pública.

Para descrições detalhadas dos métodos diagnósticos, ver Laboratory Identification of Parasites of Public Health Concern dos Centers for Disease Control and Prevention (CDC).

Parasitas do trato gastrintestinal

Diversos estágios de protozoários e helmintos que infectam o trato gastrintestinal são eliminados, caracteristicamente, nas fezes. A detecção de rotina requer o exame de amostras de fezes, de preferência 3 coletadas em dias diferentes, pois a disseminação pode variar. A sensibilidade dos exames de fezes para ovos e parasitos é tão baixa que, quando a suspeita clínica for forte, deve-se considerar o tratamento empírico. Ensaios sensíveis e específicos estão agora disponíveis para detectar nas fezes antígenos de Giardia, Cryptosporidium e Entamoeba histolytica. Embora caros, testes moleculares também estão disponíveis para Giardia, Cryptosporidium, E. histolytica e Cyclospora. Os testes à procura de um ou mais desses organismos são normalmente incluídos nos exames baseados na reação em cadeia da polimerase (PCR [polymerase chain reaction]) multiplex para patógenos entéricos, bacterianos, virais e parasitários em amostras de fezes (ver tabela Testes sorológicos e moleculares para infecções parasitárias).

Fezes a fresco não contaminadas com urina, água, sujeira, ou desinfetantes devem ser enviadas para o laboratório dentro de 1 hora; trofozoítas móveis têm mais probabilidade de estar presentes nas fezes não formadas ou aquosas. As fezes devem ser refrigeradas, mas não congeladas, se não forem examinadas imediatamente. Porções de fezes a fresco também devem ser emulsificadas em fixador para preservar protozoários gastrointestinais. Técnicas de concentração podem ser usadas para melhorar a sensibilidade. Fita de celofane na região anal ou swabs podem demonstrar oxiuros ou ovos de tênias. E se houver suspeita de estrongiloidíase, deve-se realizar um ou mais exames especializados de fezes se as larvas não são vistas no exame direto de fezes frescas. Antibióticos, contraste para radiografia, purgantes e antiácidos podem impedir a detecção de ovos e parasitas durante várias semanas.

Sigmoidoscopia ou colonoscopia devem ser consideradas quando os exames de fezes de rotina forem negativos em pacientes com sintomas gastrointestinais persistentes e suspeita de amebíase. Amostras sigmoidoscópicas devem ser coletadas com uma cureta ou colher (swabs de algodão não são desejáveis) e processadas imediatamente para microscopia. Aspirados duodenais ou biópsias de intestino delgado podem ser necessárias para o diagnóstico de infecções, como criptosporidiose e microsporidiose.

Exames sorológicos para infecções parasitárias

Pode-se detectar alguns parasitas por meio de sorologias (ver tabela Sorologias e exames moleculares para infecções parasitárias).

Tabela

Referências

  1. 1. Bacaner N, Stauffer B, Boulware DR, et al: Travel medicine considerations for North American immigrants visiting friends and relatives. JAMA 291(23):2856-2864, 2004. doi:10.1001/jama.291.23.2856

Tratamento das infecções parasitárias

  • Vários tratamentos, dependendo de cada infecção

Ver também infecções específicas em deste Manual.

As recomendações para o tratamento das infecções parasitárias são disponibilizadas por médicos especialistas dos maiores centros de saúde pública e postos de saúde, no site web dos Centers for Disease Control and Prevention (CDC) web site em livros-textos de doenças infecciosas e parasitárias e de medicina tropical e de forma resumida no The Medical Letter on Drugs and Therapeutics.

Alguns fármacos não foram aprovados pe la Food and Drug Administration para infecções parasitárias podem ser obtidos do CDC Drug Service.

Prevenção das infecções parasitárias

Apesar de investimentos e pesquisas substanciais, apenas uma vacina está atualmente disponível para a prevenção de infecções parasitárias humanas, e esta é para a malária (ver WHO recommends groundbreaking malaria vaccine for children at risk). Do contrário, a prevenção baseia-se amplamente em estratégias de esquiva.

A transmissão da maioria dos parasitas intestinais pode ser prevenida por

  • Disposição sanitária de fezes

  • Lavagem das mãos

  • Cozinhar os alimentos de forma adequada

  • Provisão de água purificada

Para o viajante internacional, o melhor conselho é “cozinhar, ferver, descascar ou esquecer”. Quando seguidas, essas medidas reduzem, mas não eliminam o risco de infecções parasitárias intestinais, bem como de gastrenterite bacteriana e viral. A lavagem das mãos é muito importante após o uso de banheiros e latrinas e antes do preparo de alimentos. Carne, particularmente carne de porco, e peixe, em especial, variedades de água doce, devem ser bem cozidos antes da ingestão. Outras medidas de segurança incluem remover caixa de areia de gatos de áreas onde o alimento é preparado para prevenir a toxoplasmose. As pessoas não devem nadar em lagos de água doce, correntes ou rios em áreas em que a esquistossomose é endêmica, andar descalças ou sentar sem roupa em áreas onde são encontrados ancilóstomos.

A prevenção da malária e de muitas outras doenças transmitidas por vetores é feita

  • Uso de camisas de manga comprida e calças compridas

  • Aplicar repelentes de insetos que contenham dietiltoluamida (DEET) na pele exposta e permetrina nas roupas

  • Usar telas nas janelas, ar condicionado e mosquiteiros impregnados com permetrina ou outros inseticidas

  • Para residentes de regiões não endêmicas que viajam para as regiões onde há transmissão da malária, fazer profilaxia com fármacos contra a malária

Pessoas que viajam para áreas rurais da América Latina não devem dormir em habitações de barro, onde insetos reduviídeos podem transmitir a doença de Chagas. Na África, viajantes devem evitar usar roupas de cor intensa e sempre usar camisas de manga longa e calças compridas para evitar moscas tsé-tsé, em regiões em que a doença do sono africana é encontrada.

As recomendações específicas de cada país para viagens estão disponíveis no Centers for Disease Control and Prevention (CDC): Travelers' Health e do CDC Yellow Book.

Informações adicionais

Os seguintes recursos em inglês da Organização Mundial da Saúde (OMS) e Centers for Disease Control and Prevention (CDC) podem ser úteis. Observe que este Manual não é responsável pelo conteúdo desses recursos.

  1. WHO: Control of Neglected Tropical Diseases

  2. WHO: Soil-Transmitted Helminth Infections

  3. CDC: About Parasites

  4. CDC: Parasites

  5. CDC: Laboratory Identification of Parasitic Diseases of Public Health Concern

  6. CDC: Yellow Book 2024

  7. CDC: Travelers' Health

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