Exames laboratoriais relacionados a distúrbios sanguíneos

PorDavid J. Kuter, MD, DPhil, Harvard Medical School
Revisado/Corrigido: set 2023
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    Os médicos escolhem exames para ajudar a diagnosticar distúrbios sanguíneos com base nos sintomas da pessoa e nos resultados do exame físico.

    Às vezes, um distúrbio sanguíneo não causa sintomas, mas é descoberto quando um exame laboratorial é realizado por outro motivo. Por exemplo, um hemograma completo realizado como parte de um check-up regular pode revelar uma contagem reduzida de glóbulos vermelhos (anemia). Quando há suspeita de um distúrbio sanguíneo, pode ser necessário realizar um hemograma completo e outros exames para determinar o diagnóstico específico.

    Como o sangue é obtido

    O sangue é obtido de uma veia com uma agulha para preencher um ou mais tubos de amostra ou, às vezes, da ponta do dedo com uma picada de agulha para obter apenas uma gota de sangue.

    Um profissional de saúde determina qual veia vai usar, normalmente uma na superfície interna do cotovelo da pessoa. Um torniquete é aplicado ao redor da parte superior do braço, fazendo com que as veias se encham de sangue, para que sejam observadas ou palpadas mais facilmente.

    Depois de a área imediatamente ao redor da veia ser limpa com cuidado, é inserida uma agulha na veia. É normal sentir uma sensação de picada quando a agulha é introduzida, mas o processo é de resto indolor.

    O sangue flui através da agulha e entra em uma seringa ou tubo de coleta. Depois que for coletado sangue suficiente, o torniquete é removido, a agulha é retirada da veia e uma pressão é aplicada na área para prevenir sangramento no local da punção.

    Se apenas uma pequena quantidade de sangue for necessária, a área, normalmente um dedo (calcanhar em bebês), é limpa, e uma agulha é usada para furar a pele.

    Hemograma completo

    O exame de sangue realizado mais frequentemente é o hemograma completo. O hemograma completo é uma avaliação de todos os componentes celulares (glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas) no sangue. Máquinas automatizadas realizam esse exame em menos de um minuto com uma pequena quantidade de sangue. O hemograma é suplementado, ocasionalmente, com o exame de células sanguíneas ao microscópio (esfregaço de sangue).

    Análise laboratorial

    Os parâmetros relativos aos glóbulos vermelhos avaliados pelo hemograma incluem

    • Número de glóbulos vermelhos (contagem de glóbulos vermelhos)

    • A proporção do sangue composta por glóbulos vermelhos (hematócrito [Ht])

    • Quantidade de hemoglobina (a proteína transportadora de oxigênio nos glóbulos vermelhos) no sangue (hemoglobina [Hb])

    • Tamanho médio dos glóbulos vermelhos (volume celular médio [VCM])

    • Variabilidade do tamanho dos glóbulos vermelhos (amplitude de distribuição dos eritrócitos [RDW])

    • Quantidade de hemoglobina em um glóbulo vermelho individual (hemoglobina celular média [HCM])

    • Concentração de hemoglobina em um glóbulo vermelho individual (concentração de hemoglobina celular média [CHCM])

    Anomalias desses parâmetros podem alertar os técnicos de laboratório quanto à presença de anomalias nos glóbulos vermelhos (que podem então ser avaliados por exame ao microscópio).

    Os glóbulos vermelhos anormais podem estar fragmentados ou ter a forma de lágrimas, crescentes (forma de foice) ou diversas outras formas. Conhecer a forma e o tamanho específicos dos glóbulos vermelhos pode ajudar um médico a diagnosticar a causa particular da anemia. Por exemplo, células em forma de foice são características da anemia falciforme; pequenas células contendo quantidades insuficientes de hemoglobina apontam provavelmente para uma anemia ferropriva; e células grandes sugerem anemia por deficiência de folato (ácido fólico) ou deficiência de vitamina B12.

    Os parâmetros relativos aos glóbulos brancos avaliados pelo hemograma incluem

    • Número total de glóbulos brancos

    • Percentuais e números dos diferentes tipos de glóbulos brancos

    Os glóbulos brancos constituem o componente principal do sistema imunológico do corpo. Normalmente, há cinco tipos principais de glóbulos brancos (neutrófilos, linfócitos, monócitos, eosinófilos e basófilos) e tipos diferentes são recrutados para trabalhar quando o sistema imunológico responde a diferentes estresses ou distúrbios. A contagem do número de glóbulos brancos de cada tipo (contagem diferencial de glóbulos brancos) pode sugerir a um médico as possíveis causas de uma alteração na contagem total de glóbulos brancos. Por exemplo, se uma pessoa com diarreia que viajou recentemente para determinadas regiões apresentar um aumento no número de glóbulos brancos devido a um aumento dos eosinófilos, o médico provavelmente suspeitaria de uma infecção parasitária, porque os eosinófilos são mais frequentemente recrutados para combater infecções parasitárias.

    Para obter mais informações sobre os glóbulos brancos, o médico pode examinar essas células em um microscópio. O exame microscópico pode identificar características das células que são particulares de determinadas doenças. A presença de grandes quantidades de glóbulos brancos com aspecto muito imaturo (blastos), por exemplo, pode indicar leucemia (câncer dos glóbulos brancos).

    As plaquetas também são contadas como parte de um hemograma. As plaquetas são células que atuam no processo de coagulação, reunindo-se no local da hemorragia e se aglutinando, de maneira a formar um tampão. O número de plaquetas é uma medida importante da capacidade do sangue de formar coágulos sanguíneos (a formação de coágulos sanguíneos é o mecanismo protetor do corpo para interromper hemorragias). A deficiência de plaquetas pode prejudicar a coagulação sanguínea. Um número elevado de plaquetas (trombocitose) pode levar à coagulação sanguínea excessiva em vasos sanguíneos pequenos, sobretudo nos que se encontram no coração ou no cérebro. Entretanto, em alguns distúrbios, um número elevado de plaquetas pode, paradoxalmente, resultar em sangramento excessivo.

    Tabela

    Esfregaço de sangue

    Embora as máquinas automatizadas possam determinar rapidamente o número de diferentes células sanguíneas e fornecer informações sobre o tamanho e a forma de glóbulos vermelhos e tipos de glóbulos brancos, o exame de uma amostra de sangue ao microscópio pode fornecer informações adicionais. Para fazer isso, uma gota de sangue é espalhada em uma lâmina de vidro para formar uma camada fina que facilita a visualização de células individuais do sangue. Em seguida, a lâmina é corada com substâncias químicas coloridas para revelar características específicas das células sanguíneas e examinada ao microscópio. Um examinador experiente pode, com frequência, obter informações melhores sobre contagens, tamanho e formato de células, bem como características específicas das células, do que as obtidas de uma máquina.

    Análise laboratorial
    Análise laboratorial

    Contagem de reticulócitos

    A contagem de reticulócitos mede o número de glóbulos vermelhos recém-formados (jovens) (reticulócitos) em um determinado volume de sangue. Os reticulócitos normalmente constituem cerca de 0,5 a 2,5% do número total de glóbulos vermelhos. Quando o corpo necessita de mais glóbulos vermelhos, como após uma perda de sangue, a medula óssea geralmente responde produzindo mais reticulócitos. Assim, a contagem de reticulócitos é uma medida da capacidade da medula óssea de produzir novos glóbulos vermelhos.

    Exames especiais das células sanguíneas

    Quando um médico determina que algo está errado com um ou mais dos tipos de células do sangue, muitos exames adicionais estão disponíveis para elucidar o problema. Os médicos podem medir a proporção de diferentes tipos de glóbulos brancos e podem determinar subtipos de algumas dessas células ao avaliar determinados marcadores na superfície das células. Exames estão disponíveis para medir a capacidade dos glóbulos brancos de combater infecções, para avaliar o funcionamento das plaquetas e sua capacidade de se coagular e para medir o teor dos glóbulos vermelhos para ajudar a determinar a causa da anemia ou por que as células não estão funcionando de maneira apropriada. A maioria desses exames é realizada em amostras de sangue, mas alguns requerem uma amostra da medula óssea.

    Exames de coagulação

    Uma medida da capacidade do corpo de parar sangramentos é a contagem do número de plaquetas. Às vezes, os médicos precisam examinar o funcionamento das plaquetas. Outros exames podem medir o funcionamento geral das muitas proteínas necessárias para a coagulação normal do sangue (fatores de coagulação). Os mais comuns desses exames são o tempo de protrombina (TP) e o tempo de tromboplastina parcial (TTP). Os níveis de fatores de coagulação individuais também podem ser determinados.

    Medições de proteínas e outras substâncias

    O plasma sanguíneo (a porção líquida do sangue) contém diversas proteínas. A urina contém quantidades muito pequenas de proteínas. Às vezes, os médicos medem algumas dessas proteínas em busca de anomalias na quantidade ou na estrutura, que ocorrem em certos distúrbios sanguíneos. Por exemplo, no mieloma múltiplo, determinadas células da medula óssea, chamadas de plasmócitos, se tornam cancerosas e produzem proteínas incomuns de anticorpos (imunoglobulinas) (incluindo as proteínas de Bence Jones) que podem ser medidas no sangue e na urina.

    A eritropoietina é uma proteína produzida nos rins que estimula a medula óssea a produzir glóbulos vermelhos. O nível dessa proteína pode ser medido no sangue. Os níveis de ferro e de determinadas vitaminas (por exemplo vitamina B12 e folato) que são necessários para a produção de células sanguíneas saudáveis também podem ser medidos.

    Tipagem sanguínea

    O tipo sanguíneo é determinado pela presença de determinadas proteínas na superfície dos glóbulos vermelhos. A tipagem sanguínea deve ser realizada antes que o sangue possa ser transfundido.

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