As pessoas esperam que os médicos usem tratamentos que funcionem bem e parem de usar os que não funcionam. No entanto, normalmente é difícil para os médicos e outros cientistas dizer qual tratamento funciona. Fazer essa distinção faz parte da ciência da medicina A ciência da medicina Os médicos tratam pessoas há milhares de anos. A primeira descrição escrita de um tratamento médico é do Egito antigo e tem mais de 3.500 anos. Mesmo antes disso, os curandeiros e xamãs provavelmente... leia mais e, geralmente, engloba o estudo dos efeitos dos tratamentos em estudos clínicos.
Os estudos clínicos são experimentos criados para descobrir se uma intervenção é segura e eficaz e se os possíveis benefícios da intervenção superam os riscos. A intervenção é, com frequência, um fármaco, mas pode ser um dispositivo, como um marca-passo ou stent, ou uma ferramenta de diagnóstico, como um exame de sangue. A participação em um estudo clínico é uma opção para muitas pessoas com doenças sérias, especialmente quando não há bons tratamentos disponíveis. Os estudos clínicos também podem examinar se algum tratamento pode ajudar a prevenir distúrbios (por exemplo, doença arterial coronariana, câncer, doença de Alzheimer). Milhares de estudos clínicos são realizados todos os anos e podem ocorrer em vários locais, incluindo universidades, hospitais, clínicas, clínicas particulares e locais de pesquisa clínica profissional. Alguns estudos clínicos também usam telefone e a internet para comunicação e relatos.
As pessoas que realizam estudos clínicos são chamadas de pesquisadores ou investigadores clínicos. Os investigadores costumam ser médicos, mas podem ser outros profissionais de saúde, que são pagos pelos Institutos Nacionais de Saúde (National Institutes of Health, NIH) ou por uma empresa farmacêutica, de biotecnologia ou de dispositivos médicos para realizar os estudos. É possível que investigadores também realizem estudos clínicos com o apoio de organizações profissionais como, por exemplo, a Associação Americana de Diabetes (American Diabetes Association) ou a Associação Americana do Coração (American Heart Association). Os investigadores seguem um protocolo detalhado (lista de instruções) que dita quem pode ser escolhido para participar do estudo, quais intervenções serão realizadas ou usadas, com que frequência os participantes serão avaliados e como os dados serão coletados. Milhares de pessoas normalmente participam de estudos clínicos para cada nova intervenção, antes que ela se torne disponível para o público geral.
Tipos de estudos clínicos
O desenho do estudo clínico pode ser complicado, mas costuma obedecer aos princípios descritos em A ciência da medicina Como escolher o desenho de um estudo clínico Os médicos tratam pessoas há milhares de anos. A primeira descrição escrita de um tratamento médico é do Egito antigo e tem mais de 3.500 anos. Mesmo antes disso, os curandeiros e xamãs provavelmente... leia mais .
Todas as intervenções precisam ser aprovadas pela Agência de Controle de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA), antes de poderem ser receitadas ou utilizadas (consulte: FDA: processo de desenvolvimento de medicamentos). O objetivo da FDA é permitir que uma intervenção seja disponibilizada para o público geral somente depois de se ter provado que ela é segura e eficaz em estudos clínicos cuidadosamente preparados. A FDA exige três fases de estudos clínicos, antes de conceder aprovação. Uma quarta fase opcional costuma ser realizada após a aprovação de uma intervenção.
Os estudos de fase I avaliam a segurança de uma intervenção, mas não sua utilidade no tratamento de uma doença. Um estudo de fase I é a primeira vez que uma intervenção é usada em pessoas. Testes são realizados em um pequeno número de pessoas saudáveis para aprender como a intervenção age em humanos, incluindo os efeitos colaterais e quais doses do medicamento são seguras. Como os estudos de fase I envolvem pessoas saudáveis, os participantes não recebem qualquer benefício médico direto, mas sua contribuição para a saúde das outras pessoas é significativa. Esses participantes recebem compensação monetária, sendo que a quantia depende do tempo despendido e da natureza do medicamento ou procedimento sendo testado.
Os estudos de fase II são realizados, se a intervenção parecer segura em um estudo de fase I. Em estudos de fase II, a intervenção é pesquisada em um grupo maior de pessoas que têm a doença que a intervenção deve tratar. Os estudos de fase II ajudam os pesquisadores a determinar se a intervenção é segura para pessoas doentes e oferecem uma determinação inicial da eficácia da intervenção. Se a intervenção for um medicamento, os estudos de fase II ajudam os pesquisadores a determinar qual dose pode ser adequada.
Os estudos de fase III são realizados, se a segurança ainda for satisfatória na fase II e a intervenção parecer eficaz. Em estudos de fase III, a intervenção é administrada ou pesquisada em um grupo grande de pessoas que têm a doença sendo estudada. Na fase III, a nova intervenção é geralmente comparada ao tratamento padrão, a um placebo ou aos dois.
O processo abrangendo desde a descoberta inicial de um medicamento até ele receber aprovação para comercialização demora, em média, dez anos. Aproximadamente sete anos desse período são dedicados ao processo de pesquisa clínica. Muitos medicamentos, dispositivos médicos e ferramentas de diagnóstico nunca concluem todas as três fases. Outros concluem as três fases, mas não são aprovados para uso, pois falham na eficácia, na segurança ou nos dois.
Os estudos de fase IV são realizados para avaliar intervenções que já foram aprovadas para uso. Um tipo de estudo de fase IV é feito para comparar duas ou mais intervenções aprovadas ou para testar uma intervenção aprovada em uma doença para a qual não houve aprovação. Não são necessárias três fases quando uma intervenção é pesquisada para tratar uma nova doença, porém o desenho do estudo clínico é semelhante.
A vigilância pós-comercialização é outro tipo de estudo de fase IV, que é realizado depois que o medicamento ou dispositivo foi aprovado e está em amplo uso no público geral. Esse estudo usa informações de registros médicos sobre saúde e laudos dos médicos para identificar todos os efeitos colaterais que não foram detectados nas primeiras três fases dos estudos clínicos. A vigilância pós-comercialização é especialmente importante na detecção de efeitos colaterais que são raros (e que, portanto, podem não aparecer em um estudo de fase III) ou que ocorrem principalmente em um grupo específico de pessoas, como gestantes ou pessoas de determinada origem étnica que podem não ter participado dos estudos originais. Se novos efeitos colaterais forem identificados e forem sérios, o uso do medicamento ou do dispositivo pode ser restrito, ou o medicamento ou o dispositivo pode ainda ser removido do mercado.
A experiência de participação em estudos clínicos
As pessoas têm motivos diferentes para querer participar em estudos clínicos. Algumas pessoas querem tratamentos mais novos, que esperam que sejam mais eficazes que o padrão atual de tratamento. Outras participam por vontade de contribuir para a ciência ou para receber dinheiro. Outras ainda podem querer acesso a medicamentos e cuidados médicos gratuitos.
Simplesmente querer participar de um estudo clínico não é o suficiente. Só as pessoas que se qualificam para um estudo específico podem participar. Cada estudo clínico tem critérios específicos que determinam as características que a pessoa deve ter para participar dele, como o tipo e o estágio do câncer, um determinado nível mínimo de colesterol ou de pressão arterial, uma faixa de idade específica (entre 40 e 65, por exemplo) ou a ausência de gestação ou de determinadas doenças. É possível que os participantes precisem passar por um processo de triagem abrangente envolvendo exames de sangue e outros procedimentos médicos para garantir que eles atendem aos critérios para participar do estudo e que os participantes sejam distribuídos aleatoriamente Comparação de maçãs com maçãs de maneira bem-sucedida.
Encontrar um estudo clínico
Algumas vezes, o médico de uma pessoa recomenda a participação em um estudo clínico. Essa recomendação é particularmente comum para pessoas com câncer.
Os anúncios de recrutamento para estudos clínicos são publicados rotineiramente on-line, na maioria dos principais jornais e em muitas estações de rádio locais. Alguns jornais e boletins informativos locais agora publicam seções semanais exclusivas à listagem de estudos clínicos. Alguns estudos são divulgados através de mensagens de espera telefônica, cartazes publicitários ou sites de mídia social. Muitas comunidades têm um ou mais centros de pesquisa para os quais os consumidores podem ligar diretamente para obter informações ou para entrar em uma lista de mala direta. Quase todos os estudos clínicos estão listados em www.clinicaltrials.gov, um site patrocinado pelos Institutos Nacionais de Saúde (National Institutes of Health, NIH). Alguns sites ajudam a encontrar as pessoas certas para estudos específicos. Por exemplo, os NIH possuem um registro na Internet chamado Research Match, que as pessoas podem usar para se conectar com pesquisadores que buscam participantes para seus estudos. CenterWatch é outro serviço que contém milhares de estudos que estão atualmente incluindo pessoas.
Durante o estudo clínico
Algumas pessoas acham entediante participar em um estudo, especialmente se ele durar vários meses ou precisar de visitas frequentes ao centro de pesquisa ou de exames de sangue frequentes. Alguns protocolos de estudo requerem que os participantes telefonem regularmente para a enfermeira do estudo para informar sintomas ou que mantenham um diário médico em casa como uma condição para permanecer no estudo.
Alguns estudos são prorrogados, cancelados pela organização patrocinadora ou até mesmo interrompidos precocemente depois de terem sido iniciados, pois determinados participantes não passam bem com o tratamento experimental. Atrasos ou cancelamentos podem ser muito decepcionantes para as pessoas que o tratamento beneficia. Além disso, depois que um estudo clínico termina, pode ser que os participantes não tenham mais acesso ao tratamento experimental que estava oferecendo um benefício real. Alguns estudos são interrompidos antecipadamente quando houver evidência conclusiva de que a intervenção que está sendo estudada é eficaz e segura.
Riscos e benefícios da participação em estudos clínicos
Decidir se deve participar ou não de um estudo clínico é uma decisão importante e complicada. Os riscos e benefícios devem ser cuidadosamente considerados.
Riscos da participação em estudos clínicos
Primeiro, os participantes deverão saber que não têm garantias de receber o novo tratamento e que podem receber placebo ou tratamento mais antigo.
Um medicamento de estudo tem efeitos colaterais e causa reações ruins que variam de dores de cabeça e sonolência a dificuldades para respirar ou, em casos muito raros, até a morte. Embora os pesquisadores tentem avisar os participantes sobre todos os efeitos colaterais conhecidos, problemas não esperados e não antecipados podem aparecer.
O tratamento experimental pode não funcionar tão bem quanto pretendido, possivelmente nem mesmo tão bem quanto o tratamento padrão.
Benefícios da participação em estudos clínicos
Há também alguns benefícios muito reais da participação em um estudo clínico. Se um tratamento funcionar como esperado, os participantes poderão ter um resultado melhor que com outros tratamentos normalmente disponíveis para eles. Em alguns casos, houve participantes que foram até curados.
Os voluntários normalmente recebem excelente tratamento que, de outra maneira, custaria milhares de dólares. Como os participantes são tão bem monitorados, eles tendem a aprender muito sobre sua saúde geral e qualquer problema de saúde subjacente. Algumas vezes, há uma oportunidade de criar uma amizade com outros participantes, o que pode ser particularmente bem-vindo por pessoas com doenças raras ou incomuns. No mínimo, os participantes de um estudo clínico podem estar certos de que estarão ajudando no avanço da ciência médica e da saúde pública.
Problemas e garantias em estudos clínicos
Em pouquíssimas situações, os investigadores encarregados de pesquisas e estudos clínicos agiram de maneira não ética. Um exemplo particularmente vergonhoso é conhecido como os experimentos de Tuskegee. Realizado em Tuskegee, Alabama, entre 1932 e 1972, esse estudo inscreveu cerca de 400 meeiros pobres, negros e, na maioria, analfabetos, que tinham sífilis Sífilis A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível causada pela bactéria Treponema pallidum. A sífilis pode ocorrer nos três estágios de sintomas, separados por períodos de aparente boa... leia mais . Esses participantes não sabiam que tinham sífilis e, apesar da ampla disponibilidade da penicilina, um tratamento eficaz, os investigadores de Tuskegee retiveram a penicilina e as informações sobre a penicilina simplesmente para continuar o estudo de como a doença progredia. Os participantes também não podiam ter acesso a programas de tratamento da sífilis que estavam disponíveis para outras pessoas na área. Como resultado dessa terrível falta de ética e confiança, várias medidas de segurança foram colocadas em prática. A criação de comitês de ética em pesquisa e o conceito do consentimento livre e esclarecido estão incluídos nessas medidas de segurança.
Comitês de Ética em Pesquisa
Os Comitês de Ética em Pesquisa (CEPs) são comitês específicos de cada instituição médica que participa de estudos clínicos. O comitê precisa incluir, pelo menos, um membro de uma área não científica e, no mínimo, um membro que não tenha afiliação com a instituição em que a pesquisa está sendo realizada. Os CEPs analisam todos os estudos clínicos propostos que envolvem humanos. A finalidade desses comitês é garantir que os estudos clínicos sejam realizados de maneira ética e evitar quaisquer riscos não razoáveis associados ao desenho do estudo. Apenas os estudos clínicos que foram aprovados pelo CEP de uma instituição podem continuar a ser realizados nessa instituição.
É possível que o CEP de cada instituição examine e aprove os estudos independentemente de outros CEPs. Alternativamente, quando várias instituições participam de um estudo, a FDA permite que um CEP central, que fará a avaliação daquele estudo, seja utilizado. A utilização de um CEP central consegue fazer com que uma grande quantidade de atividades duplicadas realizadas por comitês separados seja eliminada, além de garantir que um conjunto consistente de proteções e exigências seja utilizado por todos os centros do estudo. O CEP central de um estudo pode ser o CEP individual em um dos centros de estudo ou um CEP particular independente. Mesmo assim, os CEPs centrais precisam cumprir com todas as exigências locais em cada um dos centros participantes.
Consentimento livre e esclarecido
O Consentimento livre e esclarecido significa que uma pessoa recebe todas as informações necessárias para tomar uma decisão bem informada e com os esclarecimentos suficientes para participar de um estudo clínico. As informações deverão descrever todos os aspectos do estudo, desde sua finalidade a uma declaração sobre quem paga pelos cuidados médicos para tratar qualquer lesão relacionada à pesquisa. Os documentos de consentimento livre e esclarecido tendem a ser longos (em alguns casos, têm dezenas de páginas), são técnicos e difíceis de ler. No entanto, é essencial que os participantes leiam os documentos com cuidado.
Os participantes deverão levar os documentos do consentimento livre e esclarecido para casa, lê-los várias vezes e discuti-los com o médico pessoal e os familiares. O médico pode ajudar a esclarecer alguns dos riscos da participação. Os familiares e amigos precisam estar envolvidos, particularmente se forem fornecer transporte para o centro de pesquisa. Depois de analisar os documentos do consentimento livre e esclarecido com cuidado, os participantes deverão devolvê-los para o investigador e para o coordenador do estudo e fazer quaisquer outras perguntas necessárias.
Comitês e grupos de segurança e monitoramento de dados
Em muitos estudos clínicos de grande porte, um grupo de especialistas que não estão envolvidos no estudo e que não recebem nenhum benefício pessoal relacionado ao resultado do estudo se reúnem para formar um comitê de segurança e monitoramento de dados. O comitê recebe em intervalos regulares informações do estudo cujo caráter cego foi removido para poder monitorar a segurança e a eficácia do tratamento. Esse grupo pode recomendar a interrupção do estudo se os resultados sugerirem que os riscos para participantes do estudo são maiores que o esperado.
Direitos dos participantes
A proteção da segurança e dos direitos dos participantes do estudo clínico é uma tarefa compartilhada por vários órgãos governamentais e também dos Comitês de Ética em Pesquisa. No entanto, em grande parte, os participantes, com a ajuda de seu médico, da família e dos amigos, deverão desempenhar um papel ativo na sua própria proteção. A Declaração de direitos do participante do estudo clínico pode ajudar as pessoas a entender como proteger seus direitos durante a participação.
Sair de um estudo clínico
Os participantes do estudo clínico sempre podem desistir de um estudo, se ele se provar desconfortável ou muito inconveniente. Além disso, um investigador e coordenador de estudo vigilantes insistirão que os participantes saiam, se houver alterações na sua saúde, como uma reação alérgica ou fortemente negativa, relacionada à intervenção do estudo, que tornem o estudo arriscado demais para que eles possam continuar. Os investigadores podem também interromper um estudo se os participantes de um dos grupos parecerem apresentar resultados muito positivos ou muito negativos comparados aos participantes do outro grupo. Por exemplo, se a intervenção do estudo estiver demonstrando ser muito eficaz, é possível que o estudo seja interrompido para que todos os participantes possam receber a intervenção e o benefício. Se a intervenção do estudo estiver demonstrando ser ineficaz ou prejudicial, é possível que o estudo seja interrompido para que nenhum outro participante seja prejudicado.
Mais informações
Os seguintes recursos em inglês podem ser úteis. Vale ressaltar que O MANUAL não é responsável pelo conteúdo desses recursos.
The Center for Information and Study on Clinical Research Participation (CISCRP): Informações para o público, pacientes e outras partes interessadas no processo de pesquisa clínica relacionado às campanhas de divulgação à mídia e de conscientização do CISCRP, além de eventos educativos ao vivo; programas de apreciação de voluntários de estudo; comitês de aconselhamento ao paciente e pesquisa personalizada, avaliando as jornadas de saúde do paciente e as experiências dos voluntários no estudo e resumos dos resultados de estudos clínicos em linguagem simples
National Institutes of Health: Estudos de pesquisa clínica e você: Informações para pacientes e profissionais de saúde sobre estudos clínicos e como encontrar estudos adequados
Uma relação de estudos clínicos se encontra disponível em: