Quedas em idosos

PorRichard G. Stefanacci, DO, MGH, MBA, Thomas Jefferson University, Jefferson College of Population Health;
Jayne R. Wilkinson, MD, MSCE, University of Pennsylvania, Perelman School of Medicine
Revisado/Corrigido: nov 2023
Visão Educação para o paciente

Define-se queda como um evento que ocorre quando uma pessoa inadvertidamente cai ao chão ou outro nível mais baixo; às vezes, uma parte do corpo colide contra um objeto que interrompe a queda. Normalmente, os eventos causados por distúrbios agudos (p. ex., convulsões, acidente vascular encefálico) ou grandes riscos ambientais (p. ex., ser atingido por um objeto em movimento) não são considerados quedas.

Em pessoas com ≥ 65 anos, as quedas são a principal causa de morte relacionada com lesões e a sétima principal causa de todas as mortes (1).

Nos Estados Unidos, cerca de 14 milhões (aproximadamente 28%) dos idosos com ≥ 65 anos declaram experimentar uma queda cada ano, totalizando cerca de 36 milhões de quedas por ano, de acordo com o Centers for Disease Control and Prevention (CDC [2]). Nem todas as quedas resultam em lesão, mas cerca de 37% das pessoas que experimentam quedas relatam uma lesão que exigiu tratamento de saúde ou que restringiu suas atividades por pelo menos um dia, resultando em cerca de 8 milhões de lesões por queda a cada ano (3).

As quedas ameaçam a independência dos idosos e causam uma cascata de problemas individuais e socioeconômicos. Contudo, os médicos muitas vezes desconhecem as quedas em indivíduos que não apresentam lesões porque normalmente a história e o exame físico de rotina não incluem avaliação específica para quedas. Muitos idosos se tornam relutantes em relatar uma queda porque a atribuem ao processo de envelhecimento ou por temer posterior restrição de suas atividades ou serem institucionalizados. É necessário que os médicos sejam notificados das quedas para a prevenção de episódios semelhantes futuros. Quando as quedas não são relatadas e as medidas preventivas não são instituídas, os pacientes estão em risco de uma nova queda, o que impõe uma carga significativa sobre o sistema de saúde. Espera-se que essa carga aumente, dado o crescimento projetado de envelhecimento da população.

Referências

  1. 1. Burns E, Kakara R: Deaths from falls among persons aged ≥ 65 years — United States, 2007–2016. MMWR Morb Mortal Wkly Rep 67 (18):509–514, 2018. doi: 10.15585/mmwr.mm6718a1

  2. 2. CDC : Older Adult Falls Data. Acessado em 18/10/23.

  3. 3. Moreland B, Kakara R, Henry A: Trends in nonfatal falls and fall-related injuries among adults aged ≥ 65 years — United States, 2012–2018. MMWR Morb Mortal Wkly 69 (27):875–881, 2020.doi: 10.15585/mmwr.mm6927a5

Etiologia das quedas

O preditor de queda mais consistente é uma queda anterior. Contudo, as quedas em idosos raramente têm uma única causa ou fator de risco. É causada geralmente por complexa interação entre os seguintes fatores:

  • Fatores intrínsecos (declínio relacionado com a idade da função, distúrbios e efeitos adversos de medicamentos)

  • Fatores extrínsecos (riscos ambientais)

  • Fatores situacionais (relacionados à atividade específica ou às circunstâncias de uma atividade — por exemplo, apressar-se para ir o banheiro no meio da noite)

Fatores intrínsecos

Alterações relacionadas à idade podem comprometer os sistemas envolvidos na manutenção do equilíbrio e da estabilidade (p. ex., ao permanecer em pé, andar ou sentar-se) e aumentam o risco de quedas. Acuidade visual, sensibilidade ao contraste, percepção de profundidade e adaptação ao escuro declinam. Perda ou distúrbios sensoriais e disfunção cerebelar podem diminuir os reflexos posturais e prejudicar o equilíbrio. As alterações dos padrões de ativação muscular e a capacidade de gerar força muscular e velocidade suficientes podem prejudicar a capacidade de manter ou recuperar o equilíbrio em resposta a perturbações (p. ex., pisar em superfície irregular, colisão). Na verdade, fraqueza muscular de qualquer tipo é um importante preditor de quedas. À medida que o comprometimento cognitivo aumenta com a idade, também aumenta o risco de quedas, em parte porque os idosos com comprometimento cognitivo podem não se lembrar de tomar as medidas de segurança que reduzem as quedas.

Doenças crônicas e agudas (ver tabela Algumas doenças que contribuem para o risco de quedas) e uso de medicamentos (ver tabela Alguns medicamentos que contribuem para o risco de quedas) são os principais fatores de risco para quedas. O risco de quedas aumenta com o número de medicamentos utilizados. Várias classes de medicamentos aumentam o risco, mas os medicamentos psicoativos são mais comumente relatados como aumentando o risco de quedas e de lesões relacionadas a quedas.

O risco de queda traumática que resulta em fratura é aumentado por

  • Osteoporose e alterações relacionadas com a idade na qualidade óssea, que aumentam a fragilidade óssea

  • Perda de músculo (sarcopenia), que reduz as respostas protetoras às perturbações

Fatores extrínsecos

Os fatores ambientais podem aumentar o risco de quedas independentemente, ou de modo mais importante, interagindo com fatores intrínsecos. O risco é maior quando o ambiente exige maior controle postural e mobilidade (p. ex., ao caminhar sobre uma superfície escorregadia) e quando o ambiente não é familiar (p. ex., quando se muda para uma nova casa).

Fatores situacionais

Certas atividades ou decisões podem aumentar o risco de quedas e lesões relacionadas. Exemplos são

  • Andar enquanto fala

  • Distrair-se com múltiplas tarefas e depois não perceber um risco ambiental (p. ex., um meio-fio ou um degrau)

  • Apressar-se para ir ao banheiro (especialmente à noite, quando não estão totalmente despertos ou quando a iluminação pode ser inadequada)

  • Correr para atender o telefone

A demência pode exacerbar muitas dessas situações perigosas que levam a quedas. O prejuízo na cognição, no julgamento e na percepção do risco podem fazer com que os idosos se distraiam, se apressem e não percebam os riscos ambientais, aumentando significativamente o risco de quedas.

Complicações

Cair, principalmente várias vezes, aumenta o risco de lesões, hospitalização e morte, em idosos que estão fragilizados e com comorbidades preexistentes (p. ex., osteoporose) e déficits nas atividades da vida diária (p. ex., incontinência). As complicações a longo prazo podem incluir redução da função física, medo de cair e institucionalização.

A cada ano, cerca de 36 milhões de quedas são relatadas em idosos, resultando em mais de 32.000 mortes; a cada ano, as unidades de pronto-atendimento tratam aproximadamente 3 milhões de idosos por lesões decorrentes de quedas. A maioria das quedas não causa danos graves, mas cerca de 20% causam lesões graves, como fraturas ou traumatismo cranioencefálico. A cada ano, pelo menos 300.000 idosos são hospitalizados por fraturas do quadril, que em mais de 95% dos casos resultam de quedas. As mulheres tendem a experimentar mais quedas do que os homens; cerca de 75% de todas as fraturas de quadril ocorrem em mulheres (1).

Cerca da metade dos indivíduos idosos que caem não pode se levantar sem ajuda (2). Permanecer no chão por > 2 horas após a queda aumenta o risco de desidratação, lesões de pressão, rabdomiólise, hipotermia e pneumonia.

A função e a qualidade de vida podem deteriorar-se drasticamente após uma queda; até 60% dos idosos não recuperam o nível anterior de mobilidade (3). Após a queda, o adulto mais velho pode ter medo de cair novamente e a mobilidade, às vezes, é reduzida por falta de confiança. Algumas pessoas podem evitar certas atividades (p. ex., compras limpeza,) devido a esse medo. A diminuição da atividade pode aumentar a rigidez articular e fraqueza, reduzindo ainda mais a mobilidade.

Tabela
Tabela

Referências sobre etiologia

  1. 1. Centers for Disease Control and Prevention (CDC): Keep on Your Feet—Preventing Older Adult Falls. Acessado em 18/10/23.

  2. 2. Gurley RJ, Lum N, Sande M, et al: Persons found in their homes helpless or dead. N Engl J Med 334 (26), 1710–1716, 1996, doi.org/10.1056/nejm199606273342606

  3. 3. Haslam-Larmer L, Donnelly C, Auais M, et al: Early mobility after fragility hip fracture: a mixed methods embedded case study. BMC Geriatr 21 (1):181, 2021. doi: 10.1186/s12877-021-02083-3

Avaliação das quedas

  • Avaliação clínica

  • Teste de desempenho

  • Às vezes, testes laboratoriais

Após o tratamento das lesões agudas, a avaliação deve buscar identificar os fatores de risco e as intervenções adequadas, diminuindo assim o risco de quedas futuras e lesões relacionadas a quedas (1).

Algumas quedas são prontamente identificadas devido a lesão óbvia relacionada à queda ou referente a uma possível lesão. Entretanto, como os idosos frequentemente não relatam as quedas, eles devem ser questionados sobre eventos de quedas ou de mobilidade a cada visita. Os médicos também devem perguntar sobre quedas anteriores, bem como condições, medicamentos e fatores situacionais que aumentam o risco de quedas.

Os pacientes que relatam uma única queda devem ser avaliados quanto a possíveis problemas de equilíbrio e de marcha utilizando o teste básico de levantar e andar (2). Para o teste, os indivíduos são observados quando se levantam de uma poltrona-padrão, andam 3 m em linha reta, viram, andam de volta para a poltrona-padrão e sentam-se. A observação pode detectar fraqueza dos membros inferiores, desequilíbrio em pé ou sentado ou instabilidade da marcha. Às vezes, o teste é cronometrado. Um tempo > 12 segundos indica aumento significativo do risco de quedas.

Os pacientes que necessitam de avaliação mais completa dos fatores de risco de quedas incluem

  • Aqueles que têm dificuldade durante o teste de levantar e andar

  • Aqueles que relatam ter tido múltiplas quedas

  • Aqueles que estão sendo avaliados após uma queda recente (após serem identificadas e tratadas as lesões agudas)

História e exame físico

Quando uma avaliação mais completa dos fatores de risco de queda é necessária, o foco está na identificação dos fatores intrínsecos, extrínsecos e situacionais que podem ser reduzidos com intervenções direcionadas a eles. Contudo, pode ser impossível eliminar todos os riscos de quedas futuras.

Os pacientes são solicitados a responder um questionário aberto sobre a queda ou quedas mais recentes, seguido de perguntas mais específicas sobre quando e onde ocorreu a queda e o que estavam fazendo. Para as testemunhas, são feitas as mesmas perguntas. Os pacientes devem ser questionados se tiveram sintomas premonitórios ou associados (p. ex., palpitação, falta de ar, dor no peito, vertigens, atordoamento) e se perderam os sentidos. Os pacientes também devem ser questionados se todos os fatores extrínsecos óbvios ou situacionais podem ter sido envolvidos. A história deve ainda incluir perguntas sobre problemas médicos retrospectivos e atuais, prescrição de medicamentos e uso de medicamentos de venda livre, além de uso de álcool ou medicamentos psicoativos. Os pacientes devem ser questionados se foram capazes de se levantar sem ajuda depois de cair e se ocorreram lesões; o objetivo é reduzir o risco de complicações decorrentes de quedas futuras.

O exame físico deve ser abrangente o suficiente para excluir causas óbvias intrínsecas de quedas. Se a queda ocorreu recentemente, a temperatura deve ser medida para determinar se a febre representou um fator. A frequência cardíaca e o ritmo cardíaco devem ser avaliados para identificar bradicardia, taquicardia de repouso ou ritmos irregulares. Deve-se aferir a pressão arterial com os pacientes em decúbito dorsal e após 1 a 3 minutos em pé para excluir possível hipotensão ortostática. A ausculta pode detectar vários tipos de doenças cardíacas valvares. A acuidade visual deve ser avaliada com o paciente utilizando suas lentes corretivas habituais, se necessário. As anormalidades na acuidade visual devem desencadear exame visual mais detalhado por optometrista ou oftalmologista. Pescoço, coluna e extremidades (especialmente pernas e pés) devem ser avaliados com relação a fraqueza, deformidades, dor e limitação na amplitude de movimento.

Um exame neurológico deve começar com um exame do estado mental para verificar se há comprometimento cognitivo. O exame neurológico também inclui testes de função motora (incluindo força e tônus muscular e amplitude de movimento), sensação (incluindo propriocepção), coordenação (incluindo função cerebelar), equilíbrio estacionário e marcha. O controle postural básico e os sistemas proprioceptivo e vestibular são avaliados com o teste de Romberg (em que o indivíduo permanece em pé com os pés unidos e olhos tanto abertos quanto fechados). Os testes para estabelecer a função de equilíbrio de alto nível incluem a postura em somente umo membro inferior e a marcha tandem com um pé na frente do outro na mesma linha. Caso os pacientes possam ficar apoiados em um só membro inferior por 10 segundos com os olhos abertos e manter uma precisão de 3 m de marcha tandem, é provável que o deficit de controle postural intrínseco seja mínimo. Os médicos devem avaliar a função vestibular posicional (p. ex., com a manobra de Dix-Hallpike — ver Nistagmo).

Exames de desempenho

A avaliação de mobilidade orientada ao desempenho ou o teste de levantar e andar pode identificar problemas de equilíbrio e de estabilidade durante a marcha e outros movimentos que podem indicar aumento do risco de quedas. Esses testes são especialmente úteis se o paciente tiveram dificuldade de fazer o teste básico get up and go.

O teste Performance-Oriented Assessment of Mobility (Avaliação da mobilidade voltada ao desempenho) inclui uma pontuação quantitativa de vários aspectos do equilíbrio e da marcha e leva cerca de 10 a 15 minutos para ser aplicado. Baixas classificações prevêem maior risco de quedas (ver tabela Avaliação da mobilidade orientada ao desempenho).

Exames laboratoriais

Não existe uma avaliação laboratorial diagnóstica padrão para determinar a causa exata de uma queda. O teste deve basear-se na anamnese e resultados do exame e ajuda a descartar várias causas: Os testes incluem

  • Hemograma completo (HC) para anemia ou leucocitose

  • Medição da glicemia para hipoglicemia ou hiperglicemia

  • Medição de eletrólitos para desidratação

Exames como eletrocardiografia (ECG), monitoramento cardíaco ambulatorial e ecocardiografia são recomendados apenas quando houver suspeita de causa cardíaca. A massagem carotídea sob condições controladas (acesso IV e monitoramento cardíaco) tem sido proposta para determinar a hipersensibilidade da carótida e, finalmente, os pacientes que podem responder ao tratamento com marca-passo. Recomenda-se a realização de radiografias da coluna vertebral e tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM) da cabeça quando a história e o exame físico detectarem novas anomalias neurológicas.

Referências sobre avaliação

  1. 1. U.S. Preventive Services Task Force (USPSTF): Final Recommendation Statement: Falls Prevention in Community-Dwelling Older Adults: Interventions. Acessado em 18/10/23.

  2. 2. Podsiadlo D, Richardson S: The timed "Up & Go": A test of basic functional mobility for frail elderly persons. J Am Geriatr Soc 39 (2), 142–148, 1991. https://doi.org/10.1111/j.1532-5415.1991.tb01616.x

Prevenção de quedas

O foco dever ser a prevenção ou diminuição do número de futuras quedas e de lesões relacionadas a quedas e, ao mesmo tempo, manter o máximo possível das funções e independência do paciente. No exame clínico periódico ou na consulta preventiva de saúde, deve-se perguntar aos pacientes sobre quedas no último ano e dificuldades com o equilíbrio ou a deambulação (1).

Pacientes que relatam uma única queda e não têm problemas de equilíbrio e marcha no teste de levantar e andar ou em teste similar devem receber informações gerais sobre a redução do risco de quedas. Isso deve incluir a maneira de utilizar os medicamentos de maneira segura e a diminuição dos riscos ambientais (ver tabela Lista de verificação para avaliação domiciliar).

Pacientes que relatam mais de uma queda ou um problema com equilíbrio ou marcha devem passar por uma avaliação para quedas a fim de identificar os fatores de risco e as oportunidades para reduzir o risco.

Tabela

Fisioterapia e exercícios

Os pacientes que caíram mais de 1 vez ou tiveram problemas nos testes iniciais de equilíbrio e de marcha devem ser encaminhados à fisioterapia ou a um programa de exercícios. A fisioterapia ou os programas de exercício podem ser realizados em casa, se os pacientes tiverem dificuldade de locomoção.

Os fisioterapeutas personalizam programas de exercícios para melhorar o equilíbrio e a marcha e para corrigir problemas específicos e condições subjacentes que contribuem para o risco de queda (por exemplo, doença de Parkinson [2]).

Os programas de exercícios mais gerais realizados nas unidades de saúde ou na comunidade podem também melhorar o equilíbrio e a marcha. Por exemplo, o tai chi chuan pode ser eficaz e realizado sozinho ou em grupos. Os programas de exercícios mais eficazes para reduzir o risco de queda são aqueles

  • Adaptados ao deficit do paciente

  • Fornecidos por um profissional treinado

  • Têm um componente de desafio de equilíbrio suficiente

  • Prestados a longo prazo (p. ex., ≥ 4 meses)

Muitos centros para idosos, ACMs ou academias oferecem aulas de ginástica em grupo, gratuitas ou de baixo custo, sob medida para idosos, e essas aulas podem ajudar na acessibilidade e adesão. Os ganhos resultantes de despesas mais baixas relacionadas a quedas excedem os custos desses programas (3).

Dispositivos de assistência

Alguns indivíduos se beneficiam do uso de dispositivos de apoio (p. ex., bengala, andador). A bengala pode ser adequada para pacientes com comprometimento mínimo da musculatura unilateral ou da articulação, mas os andadores, especialmente os com rodas, são mais apropriados aos indivíduos com risco aumentado de quedas atribuível à fraqueza bilateral das pernas ou coordenação prejudicada (os andadores com rodas podem ser perigosos para indivíduos que não conseguem se controlar adequadamente). Os fisioterapeutas podem auxiliar no ajuste ou no tamanho dos dispositivos e ensinar os indivíduos a usá-los.

Tratamento medicamentoso

Deve-se interromper os medicamentos que podem aumentar o risco de quedas ou ajustá-los à menor dose efetiva (ver tabela Alguns medicamentos que contribuem para o risco de quedas). Deve-se avaliar nos pacientes osteoporose, se diagnosticada, o tratamento é reduzir o risco de quedas futuras.

Caso qualquer outro distúrbio específico seja identificado como fator de risco, as intervenções direcionadas serão obrigatórias. Por exemplo, os medicamentos e a fisioterapia podem reduzir o risco em pacientes com doença de Parkinson. O manejo da dor, fisioterapia e talvez cirurgia de substituição articular podem diminuir o risco nos indivíduos com artrite. Uma mudança para lentes apropriadas (lentes unifocais, em vez de bifocais ou trifocais) ou cirurgia, principalmente para remoção de cataratas, pode auxiliar os indivíduos com deficiência visual.

Embora dados anteriores não apoiem o uso de suplementação de vitamina D para prevenção de quedas, os resultados da maior meta-análise de ensaios randomizados sugerem que o uso de suplementação de vitamina D pode reduzir significativamente a incidência de quedas (4, 5).

Controle ambiental e situacional

A correção dos riscos ambientais na residência pode diminuir o risco de quedas (ver tabela Lista de verificação para avaliação domiciliar). Os riscos ambientais que comumente aumentam o risco de quedas (p. ex., tapetes decorativos, iluminação inadequada, ausência de barras de apoio e corrimãos, móveis instáveis, desordem) devem ser mitigados ou eliminados (6).

Os pacientes também devem ser aconselhados a reduzir o risco decorrente de fatores situacionais. Por exemplo, o calçado deve ser sem salto, ter algum apoio no tornozelo e ser firme, com entressolas antiderrapantes. Muitos indivíduos com distúrbio crônico de mobilidade (p. ex., causado por artrite grave ou paresia) se beneficiam de estratégias médicas, reabilitativas e ambientais combinadas. As adaptações da cadeira de rodas (p. ex., apoios para os pés removíveis para reduzir os tropeços durante as transferências, barras antiderrapantes para evitar tombamento para trás), cintos e assentos removíveis e encosto podem prevenir as quedas em pacientes com pouco equilíbrio para se sentar ou fraqueza grave quando estão sentados ou na transferência.

Em geral, restrições podem provocar mais quedas e outras complicações e não devem ser utilizadas. A vigilância de um cuidador ou acompanhante é mais eficaz. Os detectores de movimento podem ser utilizados, mas um cuidador deve estar presente para responder prontamente ao alarme disparado.

Protetores de quadril (enchimento costurado em roupas íntimas especiais) mostraram reduzir as fraturas de quadril nos pacientes de alto risco em casas de repouso, mas são menos eficazes em idosos que vivem em comunidade. Além disso, muitos pacientes relutam em utilizar os protetores indefinidamente. O piso compatível (p. ex., borracha presa) pode auxiliar a dissipar a força do impacto, mas um piso muito complacente (p. ex., espuma macia) pode desestabilizar o indivíduo.

Os pacientes também devem ser ensinados a lidar com situações de quedas sem poder se levantar quando estão sozinhos. Algumas técnicas úteis incluem virar-se do decúbito dorsal para o decúbito ventral, ficando de quatro, engatinhando para uma superfície de apoio forte e se levantar. As seguintes medidas podem diminuir o tempo no chão após uma queda:

  • Ter contato frequente com familiares ou amigos

  • Um telefone que pode ser alcançado a partir do chão

  • Umalarme remoto

  • Um dispositivo de alerta vestível

Tecnologias mais modernas (p. ex., smartwatches, sistemas móveis de alerta médico, sensores de movimento em casa) podem detectar automaticamente uma queda e enviar um pedido de ajuda. Alto-falantes ativados por voz e sistemas de câmeras de inteligência artificial (IA) podem ser utilizados para monitorar idosos e alertar os cuidadores sobre possíveis quedas. A combinação de contato humano, dispositivos vestíveis e monitoramento em casa pode otimizar a probabilidade de uma resposta oportuna a uma queda.

Referências sobre prevenção

  1. 1. U.S. Preventive Services Task Force (USPSTF): Final Recommendation Statement: Falls Prevention in Community-Dwelling Older Adults: Interventions. Acessado em 08/10/23.

  2. 2. Allen NE, Sherrington C, Paul SS, Canning CG: Balance and falls in Parkinson's disease: A meta-analysis of the effect of exercise and motor training. Mov Disord 26 (9),1605–1615, 2011. doi.org/10.1002/mds.23790

  3. 3. Sherrington C, Fairhall N, Wallbank G, et al: Exercise for preventing falls in older people living in the community: an abridged Cochrane systematic review. Br J Sports Med 54 (15):885–891, 2020. doi: 10.1136/bjsports-2019-101512. Epub 2019 Dec 2. PMID: 31792067.

  4. 4. Thanapluetiwong S, Chewcharat A, Takkavatakarn K, et al: Vitamin D supplement on prevention of fall and fracture: A meta-analysis of randomized controlled trials. Medicine (Baltimore) 99 (34):e21506, 2020. doi: 10.1097/MD.0000000000021506. PMID: 32846760; PMCID: PMC7447507.

  5. 5, U.S. Preventive Services Task Force (USPSTF): Interventions to Prevent Falls in Community-Dwelling Older Adults. JAMA 319 (16):1696–1704, 2018. doi:10.1001/jama.2018.3097

  6. 6. Gill T, Williams CS, Robison JT, Tinetti ME: A population-based study of environmental hazards in the homes of older persons. Am J Public Health, 89 (4), 553–556, 1999. doi.org/10.2105/ajph.89.4.553

Pontos-chave

  • A cada ano, nos Estados Unidos, cerca de um em cada quatro idosos com ≥ 65 anos declara uma queda por ano, totalizando cerca de 14 milhões de quedas.

  • Nem todas as quedas resultam em lesão, mas cerca de 37% dos adultos que experimentam uma queda relatam uma lesão que exigiu tratamento de saúde ou restrição em suas atividades por pelo menos um dia.

  • As causas são multifatoriais e incluem declínio funcional relacionado com a idade (p. ex., visão reduzida, tempo de reação mais lento, fraqueza muscular), doenças crônicas que prejudicam o equilíbrio e a mobilidade (p. ex., doença de Parkinson, artrite, demência), efeitos adversos de medicamentos e riscos ambientais.

  • Usar ferramentas validadas, como o teste Timed Up and Go, para determinar a necessidade de uma avaliação mais completa dos fatores intrínsecos, extrínsecos e situacionais predisponentes.

  • Na medida do possível, otimizar o tratamento de comorbidades e condições contribuintes, modificar ou eliminar medicamentos causadores e corrigir riscos ambientais.

  • Enfatizar a necessidade de eliminar os riscos ambientais que comumente aumentam o risco de quedas (p. ex., tapetes decorativos, iluminação inadequada, ausência de barras de apoio e corrimãos, móveis instáveis, desordem).

  • Usar intervenções multifatoriais para pacientes que já tiveram quedas mais de uma vez ou que têm problemas em iniciar a marcha ou déficit de equilíbrio; as intervenções incluem encaminhamento para fisioterapia e programas de exercícios, que são mais eficazes quando adaptados e mantidos por ≥ 3 meses.

  • Doenças de alto risco, como a doença de Parkinson, muitas vezes exigem tratamento direcionado (p. ex., fisioterapia, dispositivos de assistência) para reduzir o risco de quedas.

  • Ensinar aos pacientes técnicas para levantar-se após uma queda, especialmente quando estão sozinhos, e a importância de ter um telefone ou dispositivo de alerta de emergência acessível enquanto no chão.

Informações adicionais

Os recursos em inglês a seguir podem ser úteis. Observe que este Manual não é responsável pelo conteúdo desses recursos.

  1. Cochrane: Interventions for preventing falls in older people living in the community: Podcast, transcrição e artigo completo podem ser acessados neste site; os efeitos destas intervenções também são avaliados.

  2. American Family Physician: prevenção de quedas em idosos: este artigo discute quais são as estratégias preventivas para diversas populações de idosos (p. ex., idosos que vivem na comunidade, idosos que já tiveram quedas). Fornece um algoritmo para avaliação do risco de quedas e intervenções em idosos e links para informações ao paciente.

  3. Centers for Disease Control and Prevention: STEADI (Stopping Elderly Accidents, Deaths, & Injuries): Este site inclui materiais para profissionais de saúde para ajudá-los a rastrear, avaliar e intervir a fim de reduzir o risco de queda, oferecendo aos idosos intervenções adaptadas às suas necessidades.

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