Reanimação cardiopulmonar (RCP) em lactentes e crianças

PorShira A. Schlesinger, MD, MPH, Harbor-UCLA Medical Center
Revisado/Corrigido: abr 2023
Visão Educação para o paciente

Não obstante o uso de reanimação cardiopulmonar (RCP), as taxas de mortalidade para parada cardíaca fora do hospital são ~90% para lactentes e crianças. As taxas de mortalidade por parada cardíaca intra-hospitalar em lactentes e crianças são de cerca de 65%. A taxa de mortalidade é 20 a 25% para parada respiratória isoladamente. Frequentemente, o resultado neurológico é fortemente comprometido.

Os protocolos de reanimação pediátrica diferem entre lactentes e crianças. Diretrizes para lactentes se aplicam àqueles < 1 ano e utilizam-se protocolos infantis a partir de 1 ano até um peso de 55 kg ou a presença de sinais de puberdade (definida como aparecimento das mamas em mulheres e pelos axilares em homens). Aplicam-se os protocolos de reanimação para adultos a crianças pós-púberes ou crianças com peso > 55 kg. Cerca de 50 a 65% das crianças que necessitam de reanimação cardiopulmonar (RCP) têm < 1 ano de idade; destas, a maioria tem < 6 meses.

A reanimação neonatal utilizada no período perinatal imediato é discutido em outras partes. Cerca de 6% dos neonatos necessitam de reanimação no momento do parto; a incidência aumenta significantemente se o peso ao nascer é < 1.500 g.

Diretrizes padronizadas para resultados devem ser seguidas ao se relatarem resultados de RCP em crianças; p. ex., a Escala de Categorias de Resultados de Pittsburgh (Pittsburgh Outcome Categories Scale) reflete os desempenhos cerebral e geral (ver tabela Escala de categorias de desempenho cerebral pediátrico).

Tabela

Standards and guidelines for CPR from the American Heart association Seguem-se os padrões e as diretrizes para RCP da American Heart Association (ver tabela Técnicas de RCP para crianças e lactentes para profissionais de saúde). Para o protocolo após um lactente ou criança ter sofrido colapso com possível parada cardíaca, ver figura Atendimento cardíaco emergencial pediátrico abrangente.

Tabela

Após a RCP ter sido iniciada, realizam-se desfibrilação e a identificação do ritmo cardíaco subjacente.

Atendimento cardíaco emergencial pediátrico abrangente

*Se um número adequado de pessoal treinado estiver disponível, avaliação do paciente, RCP e ativação do sistema de resposta a emergências devem ocorrer simultaneamente.

Com base no Algoritmo Abrangente de Atendimento Cardíaco de Emergência da American Heart Association.

Principais diferenças entre RCP pediátrica e adulta

Pré-parada

Bradicardia em criança em angústia é sinal de parada cardíaca iminente Neonatos, lactentes e crianças pequenas têm maior probabilidade de desenvolver bradicardia causada por hipoxemia; crianças mais velhas inicialmente tendem a ter taquicardia. Lactente ou criança com frequência cardíaca < 60/min e sinais de perfusão precária que não se eleva com suporte respiratório devem receber compressões cardíacas (ver figura Compressão torácica). Bradicardia secundária a bloqueio cardíaco é incomum.

Compressões torácicas

Durante compressões torácicas em lactentes e crianças (abaixo da idade da puberdade ou < 55 kg), a profundidade de compressão do tórax é um terço do diâmetro anteroposterior. Isso é de cerca de 4 a 5 cm. Em adolescentes ou crianças > 55 kg, a profundidade de compressão recomendada é a mesma que em adultos, isto é, 5 cm a 6 cm (ver também Compressões torácicas em adultos).

O método de compressão torácica também é diferente em lactentes e crianças e é ilustrado abaixo. A taxa de compressão em lactentes e crianças é semelhante à dos adultos e de 100 a 120 compressões/min.

Compressão torácica em lactentes e crianças

A: quando 2 socorristas estão presentes, colocação dos polegares lado a lado para compressão torácica é preferível para neonatos e lactentes pequenos cujo tórax possa ser circundado. Os polegares devem ser sobrepostos no caso de neonatos muito pequenos.

B: socorristas únicos podem utilizar 2 dedos nas compressões em lactentes. Os dedos devem ser mantidos na posição ereta durante a compressão. Para neonatos, essa técnica resultará em uma posição baixa demais, isto é, sobre o processo xifoide ou abaixo dele; a posição correta é imediatamente abaixo da linha dos mamilos.

C: posição da mão para compressão torácica em criança.

(Adapted from American Heart Association: Standards and guidelines for CPR. Journal of the American Medical Association 268:2251–2281,1992. Copyright 1992, American Medical Association.)

Fármacos

Após oxigenação e ventilação adequadas, a adrenalina é o fármaco de escolha (ver Fármacos de primeira linha) e deve ser administrada o mais rápido possível após o estabelecimento do acesso intravenoso (IV) ou intraósseo (IO). A dose de adrenalina é 0,01 mg/kg IV que pode ser repetida a cada 3 a 5 minutos. As diretrizes atuais aconselham a inserção imediata de OI e a administração de adrenalina para ritmos não chocáveis, já que evidências recentes indicam que a restauração da circulação espontânea (RCE) e a taxa de sobrevivência em crianças estão correlacionadas com a velocidade em que é recebida a primeira dose de adrenalina.

Pode-se administrar um bolus de 5 mg/kg de amiodarona se a desfibrilação não for bem-sucedida após a adrenalina. Pode-se repetir até 2 vezes para fibrilação ventricular refratária (VF) ou taquicardia ventricular (TV) sem pulso. Se a amiodarona não estiver disponível, pode-se administrar lidocaína em uma dose de ataque de 1 mg/kg IV seguida por uma infusão de manutenção de 20 a 50 mcg/kg/min. Não demonstrou-se que a amiodarona ou lidocaína melhoram a sobrevida seguida por alta hospitalar.

Pressão arterial

A pressão arterial (PA) deve ser mensurada com um manguito de tamanho adequado, mas monitoramento de PA direto invasivo é obrigatório em crianças fortemente comprometidas.

Devido à PA variar com a idade, uma diretriz fácil para lembrar os limites inferiores da normalidade para a pressão sistólica (< 5º percentil) por idade é:

  • < 1 mês: 60 mmHg

  • 1 mês a 1 ano: 70 mmHg

  • > 1 ano: 70 + (2 × idade em anos)

Assim, em uma criança de 5 anos, a hipotensão seria definida por uma PA < 80 mmHg (70 + [2 × 5]). Tem importância significativa as crianças manterem a PA durante mais tempo, em virtude de mecanismos compensatórios mais fortes (frequência cardíaca aumentada, resistência vascular sistêmica aumentada). Ocorrendo hipotensão, a parada cardiorrespiratória pode se seguir rapidamente. Todos os esforços devem ser feitos para iniciar o tratamento quando sinais de choque compensatórios (p. ex., frequência cardíaca aumentada, extremidades frias, preenchimento capilar > 2 s, pulsos periféricos fracos) estiverem presentes antes do desenvolvimento de hipotensão.

Equipamento e ambiente

Tamanho do equipamento, dosagem do fármaco e parâmetros de RCP variam de acordo com a idade e o peso do paciente (ver tabelas Técnicas de RCP para profissionais de saúde, Fármacos para reanimação em lactentes e crianças e Guia para a reanimação pediátrica). O equipamento tem tamanho variável e contém pás de desfibrilador ou eletrodos, máscaras, ambus, tubos respiratórias, lâminas de laringoscópio, tubos endotraqueais e catéteres de sucção. O peso deve ser mensurado, não estimado; alternativamente, podem ser utilizadas fitas métricas comercialmente disponíveis, calibradas para fornecer um peso padrão do paciente com base na sua altura. Algumas fitas são impressas com a dose recomendada de fármacos e o tamanho do equipamento para cada peso. As dosagens devem ser arredondadas para baixo; p. ex., uma criança de 2 ½ anos deve receber a dose de uma criança de 2 anos.

Tabela
Tabela

Controle da temperatura

A suscetibilidade a perda de calor é maior em lactentes e crianças, devido a uma grande superfície em relação à massa corpórea e à menor quantidade de tecido subcutâneo. Um ambiente térmico externo neutro é crucial durante RCP e pós-reanimação. Hipotermia com temperatura central < 35° C dificulta a reanimação.

Para crianças comatosas reanimadas após parada cardíaca intra-hospitalar e extra-hospitalar, as diretrizes recentes da American Heart Association e American Association of Pediatrics recomendam hipotermia terapêutica (32 a 36 °C) ou normotermia (36 a 37,5 °C; 1, 2). A febre deve ser tratada agressivamente.

Vias respiratórias e ventilação

A anatomia das vias respiratórias superiores é diferente em crianças. A cabeça é grande; face, mandíbula e narinas são pequenas; e o pescoço é relativamente curto. A língua é grande em relação à boca; a laringe é mais alta no pescoço e é angulada mais anteriormente. A epiglote é longa e a porção mais estreita da traqueia é inferior às pregas vocais no anel da cartilagem cricoide, permitindo o uso de tubos endotraqueais sem manguito. Em crianças mais novas, uma lâmina de laringoscópio reta geralmente permite melhor visualização das pregas vocais do que uma lâmina curva, porque a laringe é mais anterior e a epiglote é mais frouxa e redundante. Evidências atuais disponíveis não corroboram haver melhores desfechos em pacientes que receberam intervenções avançadas de vias respiratórias em comparação com a ventilação com ambu em lactentes e crianças durante uma parada cardíaca fora do hospital.

Se nenhuma via respiratória avançada está estabelecida em lactentes e crianças submetidos à reanimação, a relação recomendada de compressão:ventilação é 30:2 se um único socorrista estiver presente e 15:2 se houver mais de um socorrista. Essa recomendação se contrapõe àquela para adultos em que a relação compressão/ventilação sempre é 30:2 e é independente do número de socorristas.

Com uma via respiratória avançada implantada, as diretrizes do 2020 International Liaison Committee on Resuscitation (ILCOR) para a reanimação na parada cardíaca pediátrica aconselham uma frequência de ventilação de 20 a 30 respirações por minuto (com a frequência mais rápida em lactentes — 2). Contudo, essa recomendação revisada baseia-se em um estudo com pacientes hospitalizados e permanece controversa no atendimento pré-hospitalar. Muitos pesquisadores de cuidados pré-hospitalares pediátricos continuam aconselhando uma frequência de ventilação de 10 respirações por minuto.

Desfibrilação

Em assístole, atropina e marca-passo não são utilizados.

A fibrilação ventricular (FV) e a taquicardia ventricular (TV) sem pulso ocorrem em cerca de 15 a 20% das paradas cardíacas pediátricas. Vasopressina não é indicada. Quando usa-se desfibrilação, a dose absoluta de energia é inferior à dos adultos; a forma de onda pode ser bifásica (preferida) ou monofásica. Independentemente da forma de onda, a dose de energia recomendada é de 2 joules/kg para o primeiro choque, aumentando até 4 joules/kg para tentativas adicionais (se necessário — ver Desfibrilação em adultos). A dose máxima recomendada é 10 joules/kg ou a dose máxima para adultos (200 joules para desfibrilador bifásico e 360 joules para desfibrilador monofásico).

Desfibriladores externos automáticos (DEAs) com cabos adultos podem ser utilizados para crianças, mas um DEA com cabos pediátricos (choque bifásico máximo de 50 joules) é preferido para pacientes pediátricos até 8 anos de idade. As diretrizes atuais recomendam desfibrilação manual se possível para pacientes pediátricos, mas pode-se utilizar um DEA (com ou sem cabos pediátricos) se um desfibrilador manual não estiver imediatamente disponível (2). Para colocação das pás, ver Desfibrilação em adultos.

Referências sobre o tratamento

  1. 1. Granfeldt A, Holmberg MJ, Nolan JP, Soar J, Andersen LW; International Liaison Committee on Resuscitation (ILCOR) Advanced Life Support Task Force: Targeted temperature management in adult cardiac arrest: Systematic review and meta-analysis. Resuscitation 167:160–172, 2021. doi:10.1016/j.resuscitation.2021.08.040

  2. 2. Maconochie IK, Aickin R, Hazinski MF, et al: Pediatric Life Support: 2020 International Consensus on Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care Science With Treatment Recommendations. Resuscitation 156:A120–A155, 2020. doi:10.1016/j.resuscitation.2020.09.013

Informações adicionais

O recurso em inglês a seguir pode ser útil. Observe que este Manual não é responsável pelo conteúdo deste recurso.

  1. American Heart Association 2020 CPR and ECC Guidelines: essas diretrizes para reanimação cardiopulmonar (RCP) e cuidados cardiovasculares de emergência (CCE) baseiam-se nas revisões mais recentes da literatura científica, protocolos e instruções sobre reanimação.

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