A abordagem dos pacientes com sintomas neurológicos ocorre em etapas de uma forma denominada método neurológico, que consiste no seguinte:
Identificação da localização anatômica da lesão ou lesões que causam sintomas neurológicos
Identificação da fisiopatologia envolvida
Geração um diagnóstico diferencial
Seleção de exames específicos, apropriados
Identificar a anatomia e a fisiopatologia da lesão pela obtenção cuidadosa da história e um exame neurológico preciso reduz significativamente o diagnóstico diferencial e, portanto, o número de exames necessário. A história é importante para identificar o local provável da disfunção neurológica, e o exame neurológico é utilizado para corroborar a localização suspeita. Essa abordagem não deve ser substituída por solicitação reflexa de TC, RM e outros testes laboratoriais; fazer isso pode levar a erros e custos desnecessários.
Para identificar a localização anatômica, o examinador considera questões como
Todos os sinais e sintomas são referentes a uma única lesão no sistema nervoso ou a múltiplas lesões?
O sistema nervoso central ou periférico está envolvido ou ambos estão envolvidos?
As partes específicas do sistema nervoso a serem consideradas incluem o córtex cerebral, substância branca cortical, gânglios da base, tálamo, cerebelo, tronco encefálico, medula espinal, plexo braquial ou lombossacral, nervos periféricos, junção neuromuscular e músculo.
Depois que a localização da lesão é identificada, categorias de causas fisiopatológicas são consideradas; estas incluem as que se originam primariamente no sistema nervoso e as que se originam em outras partes do corpo e afetam secundariamente o sistema nervoso (p. ex., vascular, infeccioso, imunomediado). As categorias gerais das causas de doenças neurológicas incluem:
Vascular
Infecciosa
Neoplásica
Degenerativa
Traumática
Tóxico-metabólica
Congênito
Imunomediada
Quando aplicado de maneira apropriada, o método neurológico fornece uma abordagem ordenada até para os casos mais complexos, e os médicos têm menos probabilidade de ser enganados por mimetismos neurológicos — p. ex., quando os sintomas de um acidente vascular encefálico agudo são, na verdade, decorrentes de um tumor encefálico ou quando uma paralisia ascendente rápida, sugestiva de síndrome de Guillan-Barré, é na verdade devida à compressão da medula espinal.
História
A história é a parte mais importante da avaliação neurológica. Os pacientes devem ficar à vontade e contar sua história com as próprias palavras. Em geral, o médico pode verificar rapidamente se uma história é fiel ou se um membro da família deve ser entrevistado em vez do paciente.
A história da doença atual deve incluir perguntar ao paciente sobre o seguinte:
A qualidade, intensidade, distribuição, duração e frequência de cada sintoma (as questões devem ser específicas)
A duração dos sintomas para diferenciar entre condições agudas, subagudas e crônicas (incluindo congênitas)
As circunstâncias que agravam e atenuam o sintoma
A eficácia dos tratamentos anteriores
A ordem na qual os sintomas ocorrem para ajudar a identificar a causa
Sintomas não diretamente relacionados ao sistema nervoso, que sugerem uma condição generalizada ou sistêmica
Deficiências específicas, descritas quantitativamente (p. ex., caminhar no máximo 7,6 metros antes de precisar parar para descansar) e seus efeitos na rotina diária do paciente.
A história clínica e a revisão completa dos sistemas são fundamentais, pois complicações neurológicas são comuns em outros distúrbios, em especial transtorno por uso de álcool, diabetes, câncer, distúrbios vasculares e infecção por HIV.
A história familiar é importante porque enxaqueca e muitos distúrbios metabólicos, musculares, nervosos e neurodegenerativos são hereditários.
A história social, ocupacional e de viagens fornece informações sobre infecções incomuns e exposição a toxinas e parasitas.
Às vezes, os sinais e sintomas neurológicos são funcionais, refletindo um distúrbio psiquiátrico. Normalmente, esses sinais e sintomas não condizem com as regras da anatomia e da fisiologia e o paciente pode estar deprimido ou incomumente amedrontado. Algumas vezes, entretanto, distúrbios funcionais e físicos coexistem, e diferenciá-los pode ser um grande desafio.
Exame e testes físicos
Exame físico para avaliar todos os sistemas do corpo é feito, mas o foco é o sistema nervoso (exame neurológico). O exame neurológico, discutido em detalhes em outras partes deste Manual, discute o seguinte:
Em muitas situações, um exame cerebrovascular também é feito.
Testes diagnósticos podem ser necessários para confirmar um diagnóstico ou excluir outros distúrbios possíveis.