(Ver também Visão geral da doença inflamatória intestinal Visão geral da doença inflamatória intestinal A doença inflamatória intestinal, que abrange a doença de Crohn e a colite ulcerativa, é um quadro recidivante caracterizado pela inflamação crônica em vários locais do trato gastrointestinal... leia mais .)
Fisiopatologia da colite ulcerativa
A colite ulcerativa geralmente começa no reto. Pode permanecer localizada no reto (proctite ulcerativa) ou se estender proximalmente, algumas vezes envolvendo todo o colo. Raramente, envolve todo o intestino grosso de uma só vez.
A inflamação na colite ulcerativa atinge mucosa e submucosa, existindo pequena zona fronteiriça entre tecido saudável e envolvido. Somente em casos mais graves a muscular é envolvida. Logo no início da doença, a mucosa é eritematosa, finamente granular e friável, com perda do padrão vascular normal e frequentemente áreas hemorrágicas espalhadas. Úlceras grandes da mucosa com exsudato purulento abundante caracterizam doença grave. Áreas de mucosa relativamente normal ou com mucosa inflamatória (pseudopólipos) projetam-se sobre a mucosa ulcerada. Fístulas e abscessos não ocorrem.
Colite tóxica
A colite fulminante ou tóxica ocorre quando ulcerações transmurais causam íleo e peritonite localizados. Dentro de horas ou dias, o colo perde seu tônus muscular e começa a dilatar-se.
Os termos megacolo tóxico e dilatação tóxica são desencorajados porque o estado inflamatório tóxico e suas complicações podem ocorrer sem um megacolo evidente (definido quando o diâmetro do colo transverso > 6 cm durante uma exacerbação).
A colite tóxica é uma emergência médica que costuma aparecer de modo espontâneo durante o curso da colite muito grave, mas pode ser precipitada por opioides ou fármacos antidiarreicos e anticolinérgicos. A perfuração do colo aumenta a mortalidade de maneira significativa.
Sinais e sintomas da colite ulcerativa
Tipicamente, os pacientes apresentam
Crises de diarreia com sangue de intensidade e duração variadas se alternam com intervalos assintomáticos
Em geral, uma crise começa discretamente, com urgência evacuatória crescente, discretas cólicas em hipogástrio e sangue e muco nas fezes. Alguns casos aparecem após uma infecção (p. ex., amebíase, disenteria bacilar).
Quando a ulceração restringe-se ao retossigmoide, as fezes podem estar normais ou duras e secas, mas a eliminação retal do muco com leucócitos e eritrócitos pode vir junto ou nos intervalos das evacuações. Sintomas sistêmicos estão ausentes ou são leves.
Caso as ulcerações se estendam proximalmente, as fezes tornam-se mais amolecidas e o paciente pode apresentar > 10 evacuações por dia, geralmente com cólicas intensas e tenesmo significativo, de dia e de noite. As fezes podem ser aquosas e conter muco ou com frequência consistirem inteiramente em sangue e pus.
A colite tóxica ou fulminante se apresenta com diarreia súbita e violenta, febre acima de 40° C, dor abdominal, sinais de peritonite (p. ex., descompressão brusca presente) e profunda toxemia.
Os sinais e sintomas sistêmicos, mais comuns na colite ulcerativa grave, incluem mal-estar geral, febre, anemia, anorexia e perda ponderal. Manifestações extraintestinais da doença inflamatória intestinal Manifestações extraintestinais A doença inflamatória intestinal, que abrange a doença de Crohn e a colite ulcerativa, é um quadro recidivante caracterizado pela inflamação crônica em vários locais do trato gastrointestinal... leia mais (em particular, complicações articulares e cutâneas) são mais comuns quando há sintomas sistêmicos.
Diagnóstico da colite ulcerativa
Coproculturas e microscopia (para excluir causas infecciosas)
Sigmoidoscopia com biópsia
Apresentação inicial
O diagnóstico é sugerido por sinais e sintomas típicos, em particular quando acompanhados de manifestações extraintestinais ou história de crises anteriores similares. A colite ulcerativa deve ser diferenciada da doença de Crohn Doença de Crohn A doença de Crohn é uma doença inflamatória crônica transmural que normalmente afeta o íleo distal e o cólon, mas pode ocorrer em qualquer parte do trato gastrintestinal. Os sintomas incluem... leia mais (ver tabela ) e, mais importante, de outras causas de colite aguda (p. ex., infecção; em pacientes idosos, isquemia).
Em todos os pacientes, coproculturas para patógenos entéricos Etiologia Gastroenterite é a inflamação do revestimento do estômago e dos intestinos grosso e delgado. Muitos casos são infecciosos, embora a gastroenterite possa ser secundária à ingestão de fármacos... leia mais devem ser realizadas e Entamoeba histolytica deve ser excluída pelo exame amostras frescas. Quando houver suspeita de amebíase Amebíase Amebíase é uma infecção causada por Entamoeba histolytica. É adquirida por transmissão fecal-oral. A infecção costuma ser assintomática, mas sintomas que variam de diarreia leve e disenteria... leia mais pela epidemiologia ou história de viagem recente, sorologias e biópsias devem ser obtidas. História de uso anterior de antibióticos ou hospitalização recente geram a necessidade de pesquisa imediata de toxinas de Clostridioides difficile (anteriormente Clostridium difficile). Pacientes de risco devem ser testados para HIV gonorreia, herpesvírus, clamídia e amebíase. Infecções oportunistas (p. ex., citomegalovírus, Mycobacterium avium-intracellulare) ou sarcoma de Kaposi também devem ser consideradas em pacientes imunossuprimidos. Em mulheres que utilizam anticoncepcionais orais, é possível uma colite induzida por contraceptivos; em geral, ela desaparece espontaneamente depois de interrompida a terapia hormonal. Teste de fezes para lactoferrina e calprotectina fecal pode ser benéfico na diferenciação de DII de diarreia funcional.
Sigmoidoscopia deve ser realizada, já que permite confirmação visual da colite e proporciona coleta de amostras diretamente para cultura e avaliação microscópica, assim como biópsias das áreas afetadas. Embora uma inspeção visual e biópsias possam não ser diagnósticas, porque há muita sobreposição na aparência entre diferentes tipos de colite; colites agudas, autolimitadas e infecciosas geralmente podem ser distinguidas histologicamente da colite ulcerativa idiopática crônica ou colite de Crohn. Doença perianal grave, preservação do reto, ausência de sangramento e envolvimento assimétrico ou segmentar do colo sugerem doença de Crohn em vez de colite ulcerativa. A colonoscopia não costuma ser necessária no início, mas deve ser realizada eletivamente, caso a inflamação tenha se estendido proximalmente além do alcance do retossigmoidoscópio.
Exames laboratoriais devem ser feitos para pesquisa de anemia, hipoalbuminemia e anormalidades de eletrólitos. Deve-se realizar testes hepáticos; níveis elevados de fosfatase alcalina e gamaglutamil transpeptidase sugerem possível colangite esclerosante primária. Anticorpos antineutrofílicos perinucleares são relativamente específicos (60 a 70%) para colite ulcerativa. Anticorpos anti-Saccharomyces cerevisiae são relativamente específicos para a doença de Crohn. Entretanto, esses exames não separam de maneira definitiva as 2 doenças e não são recomendados na rotina diagnóstica. Outras possíveis anormalidades laboratoriais incluem leucocitose, trombocitose e reagentes de fase aguda elevados (p. ex., velocidade de hemossedimentação, proteína C-reativa).
Radiografias não são diagnósticas, mas ocasionalmente podem mostrar anormalidades. Radiografias simples do abdome podem mostrar edema de mucosa, perda de haustrações e ausência de fezes formadas no colo enfermo; no entanto, o rendimento é baixo e eles não são recomendados rotineiramente. O enema baritado mostra alterações semelhantes, mas de modo mais claro e pode também demonstrar ulcerações, mas não deve ser realizado durante apresentação aguda. Colo rígido, encurtado com mucosa de aspecto atrófico com pseudopólipos, é geralmente observado depois de vários anos da doença. Resultados radiológicos de impressões digitais e distribuição segmentar são mais sugestivos de isquemia intestinal ou possivelmente colite de Crohn do que de colite ulcerativa.
Sintomas recorrentes
Os pacientes com doença conhecida e recorrência de sintomas típicos devem ser examinados, mas exames extensivos nem sempre são necessários. Dependendo da duração e da gravidade dos sintomas, sigmoidoscopia ou colonoscopia podem ser realizadas e o hemograma obtido. Coproculturas, pesquisa de ovos e parasitas e teste de toxinas de C. difficile devem ser realizados quando existirem aspectos atípicos para recidiva ou quando houver exacerbação depois de remissão prolongada, durante surtos de infecção, depois de exposição a antibióticos ou quando o médico suspeitar de outra doença.
Crises agudas graves
Pacientes exigem hospitalização durante episódios graves. Radiografias simples abdominais em pé e deitado devem ser obtidas; elas podem mostrar presença de megacólon ou gás intraluminal acumulado em relação a um segmento colônico longo, contínuo e paralisado — um resultado da perda de tônus muscular. Enema baritado deve ser evitado por causa do risco de perfuração, mas uma sigmoidoscopia é recomendável para avaliar a gravidade e descartar infecção. Deve-se obter hemograma completo, contagem de plaquetas, velocidade de hemossedimentação, proteína C-reativa, eletrólitos e albumina; tempo de protrombina, tempo de tromboplastina parcial, tipo sanguíneo e compatibilidade cruzada também são indicados em casos de sangramento grave.
O paciente deve ser acompanhado de perto quanto ao aparecimento de peritonite ou perfuração. A percussão sobre a loja hepática é importante, pois a perda da macicez hepática pode ser o primeiro sinal clínico de perfuração livre, em especial nos pacientes cujos sinais peritoneais estão suprimidos por altas doses de corticoides. Radiografias abdominais devem ser realizadas a cada 1 ou 2 dias para seguir a evolução da distensão colônica e detectar ar livre ou intramural; a TC é mais sensível para detectar ar extraluminal ou abscesso pericólico.
Tratamento da colite ulcerativa
Manejo dietético e loperamida (exceto em crises agudas graves) para alívio dos sintomas
Ácido 5-aminossalicílico (5-AAS)
Corticoides e outros fármacos dependendo dos sintomas e da gravidade
Antimetabólitos, agentes biológicos, um inibidor da Janus quinase ou modulador do receptor da esfingosina-1-fosfato (S1P)
Algumas vezes, cirurgia
Detalhes sobre medicamentos específicos e posologia são discutidos em Medicamentos para doença inflamatória intestinal Medicamentos para doença inflamatória intestinal Muitas classes de fármacos são úteis para doença inflamatória intestinal. Os detalhes de sua seleção e uso são discutidos para cada doença (Ver Tratamento de doença de Crohn e tratamento de... leia mais . (Ver também the American College of Gastroenterology's 2019 guidelines for management of ulcerative colitis in adults.)
Tratamento geral
Evitar frutas e vegetais crus limita o trauma à mucosa inflamada e pode aliviar os sintomas. Dieta sem leite pode ajudar, mas não deve ser mantida se nenhum benefício for notado. Indica-se loperamida, 2 mg por via oral 2 a 4 vezes ao dia para diarreia leve; doses orais mais elevadas (4 mg pela manhã e 2 mg após cada evacuação) podem ser necessárias para diarreia mais intensa. Fármacos antidiarreicos devem ser utilizados com extrema precaução nos casos mais graves, pois podem precipitar dilatação tóxica. Todos os pacientes com doença inflamatória intestinal devem ser aconselhados a ingerir quantidades adequadas de cálcio e vitamina D.
Deve-se enfatizar medidas para a manutenção de rotina da saúde Manutenção da saúde A doença inflamatória intestinal, que abrange a doença de Crohn e a colite ulcerativa, é um quadro recidivante caracterizado pela inflamação crônica em vários locais do trato gastrointestinal... leia mais (p. ex., imunizações, rstreamento de câncer).
Doença leve do lado esquerdo
Pacientes com proctite ulcerativa leve a moderada ou proctosigmoidite que não se estende proximalmente para além do colo sigmoide são tratados com enemas de 5-ASA 5-Ácido aminossalicílico (mesalamina 5-ASA) Muitas classes de fármacos são úteis para doença inflamatória intestinal. Os detalhes de sua seleção e uso são discutidos para cada doença (Ver Tratamento de doença de Crohn e tratamento de... leia mais (mesalazina) uma ou duas vezes ao dia, dependendo da gravidade. Os supositórios são eficazes na doença mais distal e são geralmente preferidos pelos pacientes. Enemas de corticoide ou budesonida são um pouco menos eficazes, mas devem ser utilizados quando o 5-AAS não funcionar ou não for tolerado. Uma vez alcançada a remissão, a dose deve ser gradualmente diminuída até os níveis de manutenção. O 5-AAS oral tem, teoricamente, mais benefícios em reduzir a probabilidade da extensão proximal da doença.
Doença moderada ou extensa
Pacientes com inflamação proximal ao colo sigmoide ou doença do colo esquerdo não responsiva a agentes tópicos devem receber um agente biológico Agentes biológicos Muitas classes de fármacos são úteis para doença inflamatória intestinal. Os detalhes de sua seleção e uso são discutidos para cada doença (Ver Tratamento de doença de Crohn e tratamento de... leia mais (infliximabe, adalimumabe, golimumabe, ustekinumabe, vedolizumabe) com ou sem um medicamento imunomodulador (azatioprina ou 6-mercaptopurina). Às vezes, altas doses de corticoides Corticoides Muitas classes de fármacos são úteis para doença inflamatória intestinal. Os detalhes de sua seleção e uso são discutidos para cada doença (Ver Tratamento de doença de Crohn e tratamento de... leia mais são adicionados para induzir a remissão em pacientes com colite ulcerativa moderada a grave. Uma combinação de imunomodulador e terapia anti-TNF Anti-TNF Muitas classes de fármacos são úteis para doença inflamatória intestinal. Os detalhes de sua seleção e uso são discutidos para cada doença (Ver Tratamento de doença de Crohn e tratamento de... leia mais é eficaz às vezes Por fim, em alguns pacientes, pode-se considerar um ensaio com um inibidor da Janus quinase (tofacitinibe ou upadacitinibe) ou um ensaio com ozanimode, um modulador do receptor de esfingosina 1-fosfato.
Doença grave
Pacientes com > 10 evacuações ao dia, taquicardia, febre ou dor abdominal forte necessitam de hospitalização para receber um agente biológico e/ou altas doses intravenosas de corticoides. Líquidos IV e transfusões de sangue são administrados de acordo com a necessidade de hidratação e correção da anemia. O paciente deve ser observado de perto quanto ao desenvolvimento de colite tóxica. A hiperalimentação parenteral às vezes é utilizada como suporte nutricional, mas não tem valor como terapia primária; os pacientes que podem tolerar alimentos devem comer.
Os pacientes que não respondam a agentes biológicos e/ou corticosteroides em 3 a 7 dias devem ser considerados para ciclosporina Ciclosporina e tacrolimo Muitas classes de fármacos são úteis para doença inflamatória intestinal. Os detalhes de sua seleção e uso são discutidos para cada doença (Ver Tratamento de doença de Crohn e tratamento de... leia mais IV ou cirurgia. Quando os pacientes não respondem a um regime de corticoides dentro de mais ou menos uma semana, muda-se tratamento para prednisona 40 mg por via oral uma vez ao dia, que pode ser gradualmente reduzida em casa, de acordo com a resposta clínica. Os pacientes que são iniciados em ciclosporina IV e respondem à terapia são mudados para a ciclosporina oral e azatioprina concomitante ou 6-mercaptopurina. A ciclosporina oral é continuada durante cerca de 3 a 4 meses, durante os quais os corticoides são diminuídos progressivamente e os níveis de ciclosporina são monitorados cuidadosamente. Alguns médicos recomendam a profilaxia contra pneumonia por Pneumocystis jirovecii Prevenção Pneumocystis jirovecii é uma causa comum de pneumonia em pacientes imunossuprimidos, especialmente naqueles infectados pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e naqueles recebendo... leia mais durante o intervalo de sobreposição do tratamento com corticoides, ciclosporina e um antimetabólito. Tacrolimo, um imunossupressor utilizado em transplantes, parece ser tão eficaz quanto a ciclosporina e pode ser considerado para uso em pacientes com colite ulcerativa grave ou refratária que não exige hospitalização. Deve-se manter níveis séricos mínimos entre 10 e 15 ng/mL (12 a 25 nmol/L).
Colite fulminante
Se houver suspeita de colite fulminante ou tóxica, o paciente deve
Interromper todos os medicamentos antidiarreicos
Não ingerir nada por via oral e inserir um tubo intestinal longo ligado à sucção intermitente
Reposição volêmica IV agressiva e de eletrólitos com cloreto de sódio a 0,9%, além de cloreto de potássio e sangue, conforme necessário
Receber altas doses de corticoides IV ou ciclosporina
Receber antibióticos (p. ex., 500 mg de metronidazol, IV a cada 8 horas e 500 mg de ciprofloxacina IV a cada 12 horas)
Talvez tomar infliximabe
Manter o paciente mudando de decúbito no leito a cada 2 a 3 horas pode ajudar a redistribuir o gás colônico e prevenir a distensão progressiva. Inserção de sonda retal maleável também pode ajudar, mas deve ser realizada com extrema cautela para evitar perfuração intestinal. Mesmo que se obtenha a descompressão de um colo dilatado, o paciente não está fora de perigo, a menos que o processo inflamatório subjacente esteja controlado; do contrário, ainda será necessária uma colectomia.
Caso as medidas clínicas não produzam melhora definitiva em 24 a 48 horas, é necessária cirurgia imediata ou o paciente poderá morrer de sepse secundária à translocação bacteriana ou mesmo perfuração.
Terapia de manutenção
Após tratamento efetivo de uma agudização, os corticoides devem ser diminuídos gradualmente de acordo com a resposta clínica, até serem descontinuados, pois são ineficazes como manutenção. Os pacientes devem permanecer recebendo 5-AAS — oral ou retal, dependendo da localização da doença—indefinidamente porque a interrupção da terapia de manutenção geralmente permite a recaída da doença. Os intervalos das doses para as preparações retais devem ser gradualmente estendidos para cada 2º ou 3º dia. Há amplas evidências de que a terapia oral e retal combinada é significativamente mais eficaz do que apenas uma única terapia.
Pacientes que não podem parar de tomar corticoides devem receber tiopurinas (azatioprina ou 6-mercaptopurina), metotrexato, agentes biológicos, inibidores da Janus quinase, o modulador do receptor de esfingosina 1-fosfato ozanimode, ou uma combinação desses medicamentos.
Pacientes que utilizaram infliximabe na terapia de indução devem continuá-lo na terapia de manutenção
Cirurgia
Aproximadamente um terço dos pacientes com colite ulcerativa extensa necessita de cirurgia. Proctocolectomia total é curativa: a expectativa e de vida é restaurada ao normal e reduz-se significativamente o risco de câncer de colo. Entretanto, alguns estudos relatam que até 25% dos pacientes subsequentemente desenvolvem inflamação na mucosa do intestino delgado consistente com doença de Crohn (1 Referências sobre o tratamento Colite ulcerativa é uma doença inflamatória ulcerativa crônica que surge na mucosa do cólon, caracterizada com mais frequência por diarreia com sangue. Sintomas extraintestinais, particularmente... leia mais , 2 Referências sobre o tratamento Colite ulcerativa é uma doença inflamatória ulcerativa crônica que surge na mucosa do cólon, caracterizada com mais frequência por diarreia com sangue. Sintomas extraintestinais, particularmente... leia mais ); isso pode ocorrer muitos anos após a cirurgia. Após uma proctocolectomia total com anastomose na bolsa ileal-anal (IPAA), ainda há pequeno risco de displasia ou câncer na zona de transição anal do manguito retal e até mesmo na bolsa ileal. Após uma proctocolectomia com ileostomia ou IPAA, a qualidade de vida melhora; entretanto, a qualidade de vida impõe novos desafios.
A colectomia emergencial é indicada para hemorragia maciça, colite tóxica fulminante ou perfuração. A colectomia subtotal com ileostomia e fechamento do retossigmoide (procedimento de Hartmann) ou fístula mucosa costuma ser o procedimento de escolha porque os pacientes em estado grave não toleram cirurgia mais extensa. O coto do retossigmoide pode ser eletivamente removido ou utilizado para anastomose ileoanal com uma bolsa. O coto retal intacto não deve ser mantido indefinidamente por causa dos riscos de ativação da doença e transformação maligna.
A cirurgia eletiva é indicada para câncer, estenoses sintomáticas, retardo de crescimento nas crianças, ou, mais comumente, doença crônica intratável, que resulta em invalidez ou dependência de corticoides. Manifestações extraintestinais associadas a colite grave (p. ex., piodermite gangrenosa) agora são mais bem controlados por tratamentos médicos e só raramente são indicadas para cirurgia.
O procedimento eletivo de escolha para pacientes com função esfincteriana normal é a proctocolectomia restaurativa com anastomose ileoanal. Esse procedimento cria um reservatório pélvico ou bolsa do íleo distal, que é conectado ao ânus. O esfíncter intacto permite a continência anal, tipicamente com 4 a 9 evacuações/dia (incluindo 1 ou 2 à noite).
Bolsite consiste em uma reação inflamatória que ocorre após proctocolectomia restauradora com IPAA+ em cerca de 50% dos pacientes. O risco de bolsite parece ser maior em pacientes com colangite esclerosante primária, em pacientes com manifestações extraintestinais pré-operatórias e, possivelmente, em pacientes pré-operatórios com títulos sorológicos altos para anticorpos antineutrófilos perinucleares e outros biomarcadores de doença inflamatória intestinal. Acredita-se que a bolsite esteja relacionada ao hipercrescimento bacteriano e é tratada com antibióticos (p. ex., quinolonas). Os probióticos podem ter ação protetora. Muitos casos de bolsite são rapidamente controlados, mas 5 a 10% podem se tornar refratários a todos os tratamentos clínicos e requerem conversão para ileostomia tradicional (Brooke). Para uma minoria dos pacientes que são idosos, têm famílias e estilos de vida bem estabelecidos, com tônus esfincteriano ruim ou não são capazes de tolerar evacuações frequentes, ou simplesmente são incapazes ou não querem enfrentar as consequências de uma bolsite frequente ou crônica, a ileostomia de Brooke continua sendo o procedimento de escolha.
Ileíte após IPAA ou ileostomia final é tradada da mesma maneira que outros tipos de DII Tratamento A doença inflamatória intestinal, que abrange a doença de Crohn e a colite ulcerativa, é um quadro recidivante caracterizado pela inflamação crônica em vários locais do trato gastrointestinal... leia mais . Procedimentos cirúrgicos são raramente necessários.
Em qualquer caso, os traumas físicos e emocionais impostos por qualquer forma de ressecção do colo devem ser identificados e o tratamento deve incluir esclarecimento do paciente e suporte psicológico, necessários antes e depois da cirurgia.
Referências sobre o tratamento
1. Hercun J, Côté-Daigneault J, Lahaie RG, et al: Crohn's disease after proctocolectomy and IPAA for ulcerative colitis. Dis Colon Rectum 64(2):217–224, 2021. doi: 10.1097/DCR.0000000000001721
2. Shamah S, Schneider J, Korelitz BI: High incidence of recurrent Crohn's disease following colectomy for ulcerative colitis revealed with long follow-up. Dig Dis Sci 63(2):446–451, 2018. doi: 10.1007/s10620-017-4873-7
Prognóstico para colite ulcerativa
Em geral, a colite ulcerativa é doença crônica com exacerbações repetidas e remissões. Em alguns pacientes, um ataque inicial torna-se fulminante com hemorragia maciça, perfuração, ou sepse e toxemia. A recuperação completa depois de um único ataque ocorre em alguns pacientes.
Os pacientes com proctite ulcerativa localizada apresentam o melhor prognóstico. Manifestações sistêmicas graves, complicações tóxicas e degeneração maligna são improváveis; a extensão tardia da doença acontece em apenas um pequeno grupo de pacientes; A cirurgia raramente é necessária e a expectativa de vida é normal. Os sintomas, entretanto, podem ser refratários e crônicos. Com mais frequência, como a colite ulcerativa extensa poder iniciar-se pelo reto e progredir proximalmente, a proctite não deve ser considerada localizada até que tenha sido observada por ≥ 6 meses. Em geral, a doença localizada que posteriormente se estende é mais grave e mais refratária à terapia.
Câncer de colo
O risco de câncer de colo Câncer colorretal O câncer colorretal é extremamente comum. Os sintomas incluem sangue nas fezes e mudança dos hábitos intestinais. Recomenda-se triagem usando um dos vários métodos para populações apropriadas... leia mais é proporcional à duração da doença e extensão acometida do colo, mas não necessariamente à gravidade clínica da doença. Alguns estudos sugerem que inflamação microscópica sustentada é um fator de risco e que o uso de ácido 5-aminossalicílico (5-AAS) para controlar a inflamação é protetor.
Vários estudos confirmaram o alto risco de câncer de colo conferido pela DII. Dados mais recentes sugerem que a prevalência do câncer de colo está diminuindo e que ela foi superestimada por pesquisas realizadas em centros de atenção terciária (hospitais de referência) (1 Referências sobre prognóstico Colite ulcerativa é uma doença inflamatória ulcerativa crônica que surge na mucosa do cólon, caracterizada com mais frequência por diarreia com sangue. Sintomas extraintestinais, particularmente... leia mais ).
Pacientes com doença inflamatória intestinal e colangite esclerosante primária apresentam maior risco de câncer a partir do momento do diagnóstico da colite.
Vigilância colonoscópica regular, preferencialmente durante a remissão, é aconselhável para pacientes com duração de doença > 8 a 10 anos (exceto aqueles com proctite isolada) ou quando há colangite esclerosante primária, caso em que a vigilância colonoscópica deve começar no momento do diagnóstico. As diretrizes (2 Referências sobre prognóstico Colite ulcerativa é uma doença inflamatória ulcerativa crônica que surge na mucosa do cólon, caracterizada com mais frequência por diarreia com sangue. Sintomas extraintestinais, particularmente... leia mais ) sugerem fazer biópsias aleatórias (realizadas a cada 10 cm ao longo do colo) ao fazer uma colonoscopia de alta definição como luz branca, mas fazer biópsias direcionadas em lesões visíveis ao utilizar a cromoendoscopia para detectar displasias. A displasia definitiva de qualquer grau dentro de uma área afetada por colite pode evoluir para neoplasia mais avançada e até mesmo câncer. Após a remoção completa por endoscopia do polipoide ressecável ou lesões displásicas não polipoides, sugere-se vigilância colonoscópica em vez de colectomia. Os pacientes com displasia que é não visível na endoscopia provavelmente devem ser encaminhados a um gastroenterologista com experiência em vigilância de DII utilizando cromoendoscopia e/ou colonoscopia de alta definição para decidir se deve ser feita uma colectomia ou vigilância colonoscópica contínua.
A melhor estratégia com relação à frequência das colonoscopias no acompanhamento não foi definida, mas algumas autoridades recomendam sua realização a cada 2 anos durante a 2ª década da doença e anualmente a partir de então.
A sobrevida a longo prazo após o diagnóstico de câncer relacionado com a colite, é de cerca de 50%, comparável à da população geral com câncer colorretal.
Referências sobre prognóstico
1. Stidham RW, Higgins PDR: Colorectal cancer in inflammatory bowel disease. Clin Colon Rectal Surg 31(3):168-178, 2018. doi: 10.1055/s-0037-1602237
2. Laine L, Kaltenbach T, Barkun A, et al: SCENIC international consensus statement on surveillance and management of dysplasia in inflammatory bowel disease. Gastroenterology 148(3):639-651.e28, 2015. doi: 10.1053/j.gastro.2015.01.031
Pontos-chave
A colite ulcerativa começa no reto e pode estender-se proximalmente de uma forma contígua sem manchas intervenientes do intestino normal.
Os sintomas são episódios intermitentes de cólicas abdominais e diarreia com sangue.
As complicações incluem colite fulminante, que pode levar à perfuração; a longo prazo, o risco de câncer de colo aumenta.
Tratar doença leve com 5-AAS por via retal e, para a doença proximal, por via oral.
Tratar a doença extensa com altas doses de corticoides, terapia imunomoduladora (p. ex., azatioprina ou 6-mercaptopurina), agentes biológicos (p. ex., adalimumabe, infliximabe, vedolizumabe), tofacitinibe, upadacitinib ou ozanimode.
Tratar a doença fulminante com altas doses de corticoides IV ou ciclosporina e antibióticos (p. ex., metronidazol, ciprofloxacino) ou infliximabe; pode ser necessária uma colectomia.
Em última análise, aproximadamente um terço dos pacientes com colite ulcerativa extensa precisam de cirurgia.
Informações adicionais
O recurso em inglês a seguir pode ser útil. Observe que este Manual não é responsável pelo conteúdo deste recurso.
American College of Gastroenterology: Guidelines for the management of ulcerative colitis in adults (2019)