
Na sua coletiva de imprensa no domingo, 29 de março, o presidente Trump voltou atrás em seu objetivo anterior de relaxar as restrições e voltar ao trabalho depois da Páscoa (12 de abril). Ele disse que as diretrizes de distanciamento social da Casa Branca de evitar viagens não essenciais, não ir para o trabalho, não comer em bares e restaurantes e não se reunir em grupos de mais de 10 pessoas serão estendidas até 30 de abril e talvez até junho.
As diretrizes para ficar em casa foram instituídas em nível estadual nos EUA, a começar pela Califórnia, em 19 de março e, depois de alguns dias, em mais da metade dos estados e na Nação Navajo, com a adesão de muitas cidades e municípios em 13 estados adicionais. No entanto, até o momento, 11 estados não têm diretrizes para ficar em casa. O resultado é uma mistura desigual de diretrizes locais e estaduais para “ficar em casa” ou que é “mais seguro em casa”, mas de acordo com o New York Times (https://www.nytimes.com/interactive/2020/us/coronavirus-stay-at-home-order.html), pelo menos, 229 milhões de pessoas (quase 70% da população) em 26 estados, 66 municípios, 14 cidades e um território foram incentivadas a permanecer em casa.
À medida que continuamos a restringir significativamente as atividades comerciais e pessoais em todo o mundo, o público geral e políticos eleitos começaram, naturalmente, a se perguntar por quanto tempo estas restrições devem continuar. Muitas opiniões tem sido verbalizadas, muitas vezes mais com base no desejo individual de retomar a vida normal do que em evidências e raciocínio epidemiológico sólido. No entanto, o relaxamento prematuro das restrições seria desastroso. Então, em quais informações DEVEMOS fundamentar as decisões de controle de infecções?
Segundo o bom senso, é razoável relaxar as restrições em uma determinada área quando tal relaxamento não irá aumentar o número de casos. Esse seria o caso quando existe uma combinação dos seguintes:
Ter poucas ou nenhuma pessoa com infecção transmissível é o componente mais óbvio. Embora a meta de NENHUM caso seja teoricamente ideal, ela não é realista em um nível prático. Um possível padrão recente (29/03/20) foi publicado pelo Dr. Scott Gottlieb e colegas e pelo American Enterprise Institute (https://www.aei.org/research-products/report/national-coronavirus-response-a-road-map-to-reopening/) sugerindo vários fatores, incluindo ter um período de 14 dias de declínio diário no número de casos; hospitais locais poderem tratar com segurança todos os pacientes que necessitarem de hospitalização sem recorrer aos padrões de assistência usados em crises; e o estado ter a capacidade de testar todas as pessoas com sintomas da COVID-19 e conduzir o monitoramento ativo de todos os casos confirmados e seus contatos. No entanto, qualquer que seja o critério mais importante, é necessário entender que a incidência de infecção transmissível diferente de zero em uma região com um número significativo de pessoas suscetíveis significa que a região continua em risco de ter o aumento geométrico de casos que ocorrem quando a replicação viral não está restrita por medidas de saúde pública.
Igualmente essencial para o relaxamento seguro das medidas de distanciamento aplicadas pela saúde pública é a necessidade de
O controle do movimento é particularmente desafiador nos EUA, porque as discussões de planejamento atuais se baseiam em fronteiras administrativas artificiais de cidades, municípios e estados, em vez das regiões naturais, pelas quais viajamos e interagimos conforme determinado pelas nossas redes sociais e comerciais. A interconexão normalmente estreita entre comunidades ou cidades vizinhas e seus subúrbios significa que seria particularmente desafiador aplicar e monitorar o relaxamento em uma, mas não na outra comunidade ou cidade. É provável que um planejamento que defina uma região levando em conta os padrões normais de tráfego humano dentro de uma região seja mais seguro e bem-sucedido.
Como haverá uma incidência de casos diferente de zero em qualquer área com restrições relaxadas e como uma interdição completa (voluntária ou não) de todo o tráfego entre áreas de risco maior e menor não é provável, a taxa identificada de casos e a taxa de transmissão dentro de uma área considerada de “baixo risco” é apenas um instantâneo no tempo que deve ser constantemente reavaliado pela vigilância contínua.
Assim, tendo visto o disposto acima, fica claro que o relaxamento do distanciamento social e a reabertura da atividade comercial normal não podem ser feitas de forma segura sem antes fazer o seguinte
No caso de testes generalizados não serem realizados na área e as decisões serem tomadas com base nos resultados dos testes atuais altamente seletivos de certos pacientes sintomáticos, os potenciais transmissores assintomáticos e com poucos sintomas permanecerão não identificados e a transmissão rápida da doença provavelmente retornará quando uma área for incorretamente designada como de baixo risco.
Para lidar com os casos inevitáveis que CONTINUAREM a surgir em uma área de baixo risco, os testes devem continuar a ser feitos extensiva e continuamente, de modo que pessoas infectadas possam ser identificadas e adequadamente isoladas e seus contatos extensivamente rastreados, testados e isolados, se forem positivos ou colocados em quarentena se forem negativos.
Portanto, para o relaxamento seguro das precauções de distanciamento social generalizado dentro de uma área, precisamos
Testes rápidos de ponto de atendimento são importantes porque é menos provável que o isolamento autoimposto tenha adesão quando houver apenas suposição de possível doença em vez de um diagnóstico baseado em testes, e porque a identificação e o rastreamento de contatos podem começar imediatamente sem ter que rastrear um paciente dias depois. Alguns países tiveram sucesso usando aplicativos para monitorar e se comunicar com casos positivos.
Além disso, o teste de anticorpos de pessoas já infectadas pelo vírus combinado a dados confiáveis sobre a concentração de anticorpos que oferece proteção, fornecerá a garantia de que os pacientes estão em baixo risco e podem retornar à atividade pública, especialmente auxiliando no atendimento a pacientes.
Se essas coisas não puderem ser feitas, é provável que o relaxamento das precauções de contato reinicie ou piore um surto. Se os casos continuarem a ocorrer ou se não for possível reduzir, significativamente, o contato com áreas de transmissão ativa, as precauções precisarão ser restabelecidas.
Esta abordagem parece ser semelhante ao método usado na China e na Coreia do Sul para controlar sua epidemia. Contudo, extrapolações podem ser difíceis devido às diferenças na estrutura do governo, bem como em diferenças políticas e sociais. Além disso, o polimorfismo genético do receptor da ECA2, que é o ponto de entrada para o novo coronavírus, possivelmente causa diferenças na suscetibilidade, sintomas e resultados da COVID‑19.
No caso de adultos com mais de 60 anos de idade, aqueles com quadros clínicos subjacentes e outros com risco elevado de COVID‑19, medidas de distanciamento físico e limitações em encontros podem precisar ser mantidas até que medicamentos ou vacinas se tornem disponíveis.