Poliomielite

(poliomielite; paralisia infantil)

PorBrenda L. Tesini, MD, University of Rochester School of Medicine and Dentistry
Revisado/Corrigido: jun 2023
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Fatos rápidos

A poliomielite é uma infecção por enterovírus altamente contagiosa, por vezes fatal, que afeta os nervos e pode causar fraqueza muscular permanente, paralisia e outros sintomas.

  • A poliomielite é causada por um vírus e geralmente se dissemina pelo consumo de água ou alimentos contaminados ou ao tocar uma superfície contaminada e depois tocar a boca.

  • Muitas pessoas que foram infectadas não apresentam sintomas, e a maioria das outras apresenta somente sintomas leves.

  • Os sintomas incluem febre, dor de cabeça, rigidez do pescoço e dores musculares profundas, sem mencionar ocasionais fraqueza e paralisia.

  • O diagnóstico se baseia nos sintomas e nos resultados de uma cultura de fezes.

  • Não existe tratamento para curar a poliomielite.

  • Algumas crianças se recuperam completamente, enquanto outras ficam com fraqueza permanente.

  • Vacinação rotineira pode prevenir a infecção.

A poliomielite é causada pelo poliovírus, um enterovírus que se dissemina ao engolir água ou alimentos contaminados com fezes de uma pessoa infectada ou ao tocar uma superfície contaminada e depois tocar a boca. Às vezes o poliovírus é disseminado pela saliva de uma pessoa infectada ou pelas gotículas expelidas quando uma pessoa infectada espirra ou tosse. As pessoas se infectam ao inalar gotículas transportadas pelo ar ou tocam em alguma coisa contaminada com a saliva ou gotículas infectadas.

A infecção geralmente começa no intestino. A infecção se dissemina então para partes do cérebro e da medula espinhal que controlam os músculos.

No início do século XX, a poliomielite era uma doença amplamente disseminada pelos Estados Unidos e outros locais. Atualmente, devido à vacinação extensiva, os surtos de poliomielite praticamente desapareceram. O último caso de infecção pelo poliovírus selvagem (natural) nos Estados Unidos ocorreu em 1979. O hemisfério ocidental foi considerado livre da poliomielite em 1994. Há um programa de erradicação global da poliomielite em desenvolvimento, mas ainda ocorrem casos de infecção pelo poliovírus selvagem no Paquistão e no Afeganistão e eles foram relatados pela última vez na Nigéria em 2018.

Além do poliovírus do tipo selvagem, muito raramente (cerca de 1 em 2,4 milhões de doses) o poliovírus vivo na vacina oral sofre mutação. O vírus com mutação da vacina pode ser transmitido da pessoa que tomou a vacina para pessoas não vacinadas, continuando a sofrer mutações e, potencialmente, causando pólio. Em alguns países, o vírus com mutação da vacina foi praticamente a única causa de poliomielite, por isso, a maioria desses países (incluindo os Estados Unidos) interromperam o uso da vacina oral contra pólio. No entanto, alguns países ainda usam a vacina oral contra poliomielite porque, com ela, é possível vacinar um número maior de pessoas. Dessa forma, também há casos de poliomielite em países que usam a vacina oral viva e nos quais há muitas pessoas que não foram imunizadas (o que permite maior disseminação do vírus). Mais recentemente, foi relatada infecção por poliovírus decorrente da vacina na República Democrática do Congo e em outras áreas da África. A imunização generalizada pode deter a disseminação de ambos os tipos de surtos de poliomielite, e os viajantes para certos países podem ter que apresentar comprovação da vacinação adequada.

Nos Estados Unidos, um caso de poliomielite derivada da vacina foi identificado em uma pessoa não vacinada que a adquiriu no estado de Nova York em julho de 2022. Não foram identificados outros casos nos Estados Unidos, mas a vigilância de águas residuais detectou o vírus em amostras em vários condados de Nova York, indicando transmissão local (consulte também Departamento de Saúde do Estado de Nova York: Vigilância de águas residuais).

Pessoas não imunizadas de todas as idades são suscetíveis à poliomielite. No passado, os surtos de poliomielite ocorriam principalmente nas crianças e nos adolescentes porque muitas das pessoas mais idosas já tinham sido expostas ao vírus e desenvolvido imunidade.

Sintomas de poliomielite

A maioria das infecções por poliomielite não causa nenhum sintoma. Somente cerca de 25% a 30% das pessoas infectadas desenvolvem algum sintoma.

As infecções por poliomielite que causam sintomas são classificadas como

  • Poliomielite abortiva (leve)

  • Poliomielite não paralítica (séria)

  • Poliomielite paralítica (grave)

Poliomielite abortiva

Nesta forma leve de poliomielite, a maioria das pessoas apresenta sintomas semelhantes à gripe, como febre, cefaleia leve, dor de garganta, vômito e sensação de indisposição generalizada (mal-estar). Esses sintomas se desenvolvem três a cinco dias após a exposição ao vírus.

Poliomielite não paralítica

Cerca de 4% das pessoas com infecção por poliovírus têm essa forma grave da poliomielite. Em geral, elas desenvolvem rigidez da nuca e/ou das costas e cefaleia (meningite asséptica) vários dias após os sintomas gripais da poliomielite abortiva. Esses sintomas duram de dois a dez dias. As pessoas não desenvolvem paralisia.

Poliomielite paralítica

Menos de 1% das pessoas com infecção pelo poliovírus desenvolvem essa forma grave da poliomielite. Além da meningite asséptica, as pessoas que têm essa forma também desenvolvem paralisia.

Os sintomas, que normalmente surgem de 7 a 21 dias após a infecção, incluem febre, dor de cabeça intensa, rigidez do pescoço e das costas e dor muscular profunda. Às vezes, áreas da pele desenvolvem sensações estranhas, como alfinetadas e sensibilidade incomuns à dor.

Dependendo de quais partes do cérebro e da medula espinhal forem afetadas, a doença pode não progredir mais ou pode haver desenvolvimento de fraqueza ou paralisia em certos músculos. Normalmente, a paralisia afeta os músculos dos braços e das pernas, tornando-os flácidos e incapazes de contrair (chamado paralisia flácida).

A pessoa pode ter dificuldade para engolir e pode engasgar com saliva, alimentos ou líquidos. Ao engolir, os líquidos às vezes passam para o nariz e a voz pode apresentar um tom anasalado. A parte do cérebro responsável pela respiração é ocasionalmente afetada, o que causa fraqueza ou paralisia nos músculos do tórax. Algumas pessoas ficam completamente incapazes de respirar.

Diagnóstico de poliomielite

  • Testes em uma amostra de fezes ou secreções da garganta

  • Exames de sangue

  • Uma punção lombar

A poliomielite abortiva lembra outras infecções virais e normalmente não é diagnosticada, a menos que ocorra durante uma epidemia de poliomielite.

Suspeita-se de poliomielite não paralítica em pessoas que apresentam sintomas gripais e rigidez da nuca e/ou das costas.

Suspeita-se de poliomielite paralítica em pessoas que apresentam paralisia ou fraqueza dos músculos ou dos membros.

O diagnóstico de poliomielite não paralítica ou poliomielite paralítica é confirmado por identificação do poliovírus em uma amostra de fezes ou de esfregaço da garganta e pela detecção de níveis elevados de anticorpos contra o vírus no sangue.

Os médicos também costumam fazer uma punção na coluna vertebral (punção lombar) para investigar se há outros distúrbios que afetam o cérebro e/ou a medula espinhal e testar o líquido espinhal para detectar o poliovírus.

Tratamento de poliomielite

  • Repouso

  • Medicamentos para aliviar a dor e diminuir a febre

Não existe tratamento para curar a poliomielite (embora algumas pessoas se recuperem completamente). Os medicamentos antivirais disponíveis não afetam a evolução da doença.

Os tratamentos incluem repouso, analgésicos e medicamentos para reduzir a febre.

Pode ser necessário recorrer a um ventilador (aparelho que ajuda a fazer entrar e sair dos pulmões) se os músculos usados na respiração estiverem enfraquecidos. Muitas vezes, a necessidade de um ventilador é temporária.

Prognóstico de poliomielite

Pessoas que têm poliomielite abortiva ou poliomielite não paralítica se recuperam totalmente.

Cerca de dois terços das pessoas que têm poliomielite paralítica sofrem alguma fraqueza permanente e algumas (cerca de 4% a 6%) morrem, dependendo de quais nervos e músculos forem afetados. A taxa de morte é mais alta (certa de 10% a 20%) em algumas pessoas nas quais a poliomielite afeta os nervos que controlam a pressão arterial e a respiração.

Algumas pessoas, mesmo aquelas que parecem ter se recuperado completamente, desenvolvem um retorno ou uma piora da fraqueza muscular anos ou décadas após um ataque de poliomielite (consulte Síndrome pós-poliomielite).

Prevenção de poliomielite

A vacina contra a poliomielite está incluída entre as imunizações de rotina da infância (consulte Centros de Controle e Prevenção de Doenças: Vacinação de rotina contra a poliomielite. A vacina é eficaz em mais de 95% das crianças.

Há dois tipos de vacina disponíveis mundialmente:

  • Uma vacina com poliovírus inativado (vacina de Salk) aplicada por injeção

  • Uma vacina com poliovírus vivo (vacina Sabin) tomada por boca (oral)

A vacina oral viva é uma cepa do vírus da poliomielite enfraquecido que não causa doença. A vacina oral oferece melhor imunidade em uma população, pois durante um tempo as pessoas eliminam o vírus da vacina nas fezes e, assim, outras pessoas em sua comunidade também podem ser expostas à vacina. No entanto, como o vírus da vacina passa de pessoa para pessoa, em casos muito raros ele pode sofrer uma mutação para uma forma do vírus que causa doenças e, assim, causar 1 caso de poliomielite para cada 2,4 milhões de doses administradas. Uma vez que a poliomielite foi erradicada nos Estados Unidos, os médicos recomendam somente a vacina de poliovírus inativada injetada para as crianças deste país. A vacina oral não está mais disponível nos Estados Unidos, mas é usada em outras partes do mundo.

Uma primeira vacinação de pessoas com mais de 18 anos não é rotineiramente recomendada porque o risco de se adquirir poliomielite como adulto é extremamente baixo nos Estados Unidos. Como a poliomielite ainda existe em certas áreas, os adultos que nunca foram vacinados ou que não receberam todas as doses recomendadas e estão viajando para uma área em que a poliomielite ainda representa um risco para a saúde devem receber a série completa de três doses de vacina injetada. O ideal é que as pessoas recebam duas doses, com quatro a oito semanas de intervalo entre uma e outra, antes de viajarem. As que tiverem sido completamente vacinadas devem, ainda assim, receber uma dose da vacina injetada. Os departamentos de saúde locais e estaduais dispõem de informações sobre quais áreas têm poliomielite, assim como os Centros de Controle e Prevenção de Doenças.

Residentes de Nova York em áreas com detecção repetida do poliovírus podem ter um risco maior de infecção e devem seguir as recomendações de vacinação atualizadas do Departamento de Saúde do Estado de Nova York (consulte Departamento de Saúde do Estado de Nova York: Vacina contra a poliomielite).

A imunização generalizada pode deter a disseminação de ambos os tipos de surtos de poliomielite, e os viajantes para certos países podem ter que apresentar comprovação da vacinação adequada.

Mais informações

  1. Os seguintes recursos em inglês podem ser úteis. Vale ressaltar que O MANUAL não é responsável pelo conteúdo deste recurso.

  2. Centros de Controle e Prevenção de Doenças: O que é poliomielite?: informações gerais sobre a poliomielite e orientações para viajantes

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