Herniação do cérebro

PorKenneth Maiese, MD, Rutgers University
Revisado/Corrigido: mai 2022
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A herniação do cérebro ocorre quando a pressão dentro do crânio (pressão intracraniana) aumenta, fazendo o cérebro ser empurrado para o lado e para baixo através de pequenas aberturas normais nas camadas de tecido relativamente rígidas que dividem o cérebro em compartimentos. Herniação do cérebro é uma emergência médica.

  • A herniação do cérebro pode ocorrer quando um tumor cerebral, sangramento no cérebro, outra massa ou um distúrbio (como insuficiência hepática ou renal) aumenta intensamente a pressão dentro do crânio.

  • Os sintomas variam dependendo de qual parte do cérebro está sendo comprimida e pode incluir respiração anômala, contrações musculares anormais, problemas oculares, função mental comprometida e coma.

  • Para diagnosticar herniação do cérebro é realizada uma tomografia computadorizada ou ressonância magnética.

  • Os médicos tratam a causa, se possível, e adotam medidas para auxiliar a respiração (como ventilação mecânica) e para reduzir o aumento da pressão dentro do crânio.

Uma grande massa, como um tumor cerebral, um acúmulo de sangue (hematoma) ou inchaço pode empurrar o cérebro contra as camadas de tecido relativamente rígidas que dividem o cérebro em compartimentos. Como resultado, o tecido cerebral pode ser lesionado. Se a pressão for exercida em áreas do cérebro que controlam a consciência, pode ocorrer estupor ou coma. Se a pressão for suficientemente alta, o cérebro pode ser forçado através de pequenas aberturas nesses divisores. Esta doença com risco à vida é chamada de hérnia cerebral. A hérnia pode provocar dano ao tecido cerebral, tornando ainda pior uma situação já terrível.

Existem dois tipos comuns de herniação. Eles são designados pela estrutura através da qual o cérebro é empurrado:

  • Herniação transtentorial: a parte superior do cérebro (telencéfalo) é empurrada através da incisura tentorial que divide o telencéfalo das partes inferiores do cérebro (cerebelo e tronco cerebral). Nas pessoas com esse tipo de herniação, a consciência é reduzida. Além disso, o lado do corpo oposto ao tumor pode ficar paralisado. A pupila do olho no lado da herniação pode se alargar (dilatar) e pode não se estreitar (contrair) em resposta à luz intensa.

  • Herniação das amígdalas: uma massa (tumor ou sangramento) na parte inferior do cérebro empurra a parte mais baixa do cerebelo (as amígdalas cerebelares) pelo orifício situado na base do crânio (o foramen magnum). Consequentemente, o tronco cerebral, que controla a respiração, o ritmo cardíaco e a pressão arterial, fica comprimido e funciona inadequadamente.

Herniação cerebral: O cérebro sob pressão

O sangramento ou inchaço no cérebro pode aumentar a pressão dentro do crânio. A pressão pode forçar cérebro para o lado e para baixo no crânio através de pequenas aberturas nas camadas de tecido relativamente rígidas que dividem o cérebro em compartimentos. O resultado é a herniação do cérebro. Esses divisores são extensões da camada externa de tecido que cobre o cérebro (a dura-máter). A herniação comprime o tecido cerebral, danificando-o.

A herniação do cérebro resulta de distúrbios que podem causar um aumento da pressão dentro do crânio. Incluem

  • Massas no cérebro, tais como tumores cerebrais, áreas de inchaço (edema), um acúmulo de sangue (hematoma) ou uma bolsa de pus (abscesso)

  • Inchaço generalizado causado por insuficiência hepática ou renal

  • Aumento da pressão nas veias que transportam o sangue para fora do cérebro (como as veias jugulares)

  • Bloqueios de líquido cefalorraquidiano (líquido que passa pelos tecidos que recobrem o cérebro e a medula espinhal e preenche os espaços dentro do cérebro)

O aumento da pressão nas veias que transportam o sangue do cérebro pode resultar de insuficiência cardíaca, obstruções nas veias ou trombose do seio venoso (um coágulo de sangue nas grandes veias que drenam sangue do cérebro).

Sintomas de herniação cerebral

As pessoas com herniação do cérebro podem ter sintomas do distúrbio que está causando o problema. Elas também podem apresentar vários sintomas, dependendo de qual parte do cérebro está sendo comprimida. Estes sintomas incluem

  • Um padrão de respiração anormal

  • Contrações musculares não intencionais (involuntárias): Por exemplo, a cabeça pode ficar inclinada para trás com os braços e as pernas estendidas, uma posição chamada rigidez descerebrada. Ou os braços podem ficar flexionados com ambas as pernas estendidas – uma posição chamada rigidez de decorticação. Ou todo o corpo pode ficar relaxado.

  • Problemas oculares: uma ou ambas as pupilas dos olhos podem se expandir (dilatar) e podem não se estreitar (contrair) em resposta à luz. Ou as pupilas podem ficar pequenas. Os olhos podem não se mover ou podem mover-se de maneira anormal.

  • Comprometimento do estado de consciência, incluindo estupor e coma

Outros sintomas podem incluir náuseas, vômitos, rigidez do pescoço, dor de cabeça e aumento da sonolência.

Se não diagnosticada e tratada imediatamente, a herniação pode ter consequências catastróficas, como paralisia, ritmos cardíacos anormais e dificuldade em respirar. A respiração pode parar (insuficiência respiratória) e o coração pode parar de bombear (parada cardíaca), causando a morte.

Diagnóstico de herniação cerebral

  • Exames de diagnóstico por imagem

Herniação do cérebro é uma emergência. Identificá-la de imediato é crucial para possibilitar o tratamento que salve a vida.

Os médicos geralmente sabem se o estado de consciência está comprometido com base na observação e em um exame físico, com foco no sistema nervoso (denominado exame neurológico). Os achados podem sugerir que a pressão dentro do crânio (pressão intracraniana) está aumentada antes que a herniação ocorra. Se os médicos suspeitarem que ela está aumentada, eles realizam uma tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM) imediatamente para verificar possíveis causas, incluindo inchaço, sangramento, uma anormalidade estrutural ou uma massa no cérebro (como um tumor, um acúmulo de sangue ou um abscesso). Se os resultados dos exames indicarem aumento de pressão, os médicos podem fazer um pequeno orifício no crânio e inserir um dispositivo em um dos espaços cheios de líquido (ventrículos) no cérebro. Esse dispositivo é utilizado para reduzir a pressão e monitorá-la durante o tratamento.

A TC ou RM também pode mostrar a herniação do cérebro e confirmar o diagnóstico.

Tratamento de herniação cerebral

  • Medidas para ajudar as pessoas a respirar

  • Tratamento da causa

  • Medidas para reduzir o aumento da pressão dentro do crânio

O tratamento imediato de herniação do cérebro é crucial. Se uma pessoa estiver rapidamente se tornando menos alerta e mais difícil de despertar, o tratamento imediato é necessário, frequentemente antes que a causa possa ser diagnosticada.

O tratamento é semelhante ao tratamento de coma. A causa de herniação do cérebro é tratada, quando possível.

Tratamento imediato

As primeiras etapas do tratamento, algumas vezes realizadas pela equipe médica de emergência, são verificar (e, se necessário, tratar):

  • Se as vias aéreas estão abertas

  • Se a respiração está adequada

  • Se o pulso, pressão arterial e frequência cardíaca estão normais (para certificar-se que o sangue está chegando ao cérebro)

As pessoas são tratadas primeiramente em um pronto-atendimento e, em seguida, internadas em unidade de cuidados intensivos do hospital. Em ambos os lugares, os enfermeiros podem monitorar a frequência cardíaca, pressão arterial, temperatura e nível de oxigênio no sangue. Quaisquer anormalidades nessas medidas são imediatamente corrigidas para evitar mais danos ao cérebro. Com frequência, administra-se oxigênio imediatamente, e um tubo é inserido em uma veia (acesso intravenoso) de modo que os medicamentos ou açúcar (glicose) possam ser administrados rapidamente.

Se as pessoas apresentarem temperatura corporal muito elevada ou muito baixa, são tomadas medidas para resfriá-las (tratamento de insolação) ou aquecê-las (tratamento de hipotermia). Quaisquer outras doenças (como doenças cardíacas e pulmonares), se presentes, são tratadas.

Tratamento para controlar a respiração

Se os médicos suspeitarem que a pressão dentro do crânio aumentou, uma sonda endotraqueal é inserida pela boca para que a ventilação mecânica possa ser usada, para garantir que uma quantidade suficiente de dióxido de carbono seja exalada e para manter níveis adequados de oxigênio no sangue. A maioria das pessoas com herniação do cérebro precisa de um ventilador mecânico para respirar por elas. A ventilação mecânica é também utilizada para diminuir rapidamente o aumento da pressão dentro do crânio.

A sonda endotraqueal é inserida pela boca até a traqueia, o que é chamado intubação endotraqueal. O oxigênio é fornecido diretamente para os pulmões através do tubo. O tubo também impede que as pessoas inalem o conteúdo do estômago depois de vomitar. Antes de inserir o tubo, os médicos podem borrifar a garganta da pessoa com um spray anestésico ou administrar um medicamento à pessoa para evitar que os músculos se contraiam involuntariamente (um medicamento paralisante). Em seguida, a sonda é conectada a um ventilador mecânico.

A ventilação mecânica pode causar agitação, e esta pode ser tratada com um sedativo.

Tratamento do aumento da pressão dentro do crânio

Se a pressão dentro do crânio (pressão intracraniana) estiver alta, podem ser tomadas as seguintes medidas para diminuí-la:

  • A cabeceira da cama pode ser elevada.

  • A ventilação mecânica é usada para fazer com que as pessoas respirem de forma mais rápida (chamada hiperventilação). Respirar mais rapidamente retira dióxido de carbono dos pulmões e reduz o nível de dióxido de carbono no sangue. Consequentemente, os vasos sanguíneos na parte não danificada do cérebro se estreitam e menos sangue chega ao cérebro. Essa medida reduz a pressão dentro do crânio rapidamente, porém temporariamente, e interrompe temporariamente a herniação. O efeito benéfico da hiperventilação dura cerca de 30 minutos. Os médicos usam esse tempo para dar início a tratamentos que possam interromper a herniação, como medicamentos e procedimentos cirúrgicos que demandam mais tempo.

  • Diuréticos ou outros medicamentos podem ser utilizados para reduzir os líquidos no cérebro e no resto do corpo. Diuréticos ajudam a eliminar o líquido em excesso fazendo com que os rins excretem mais sódio e água na urina.

  • Um sedativo pode ser administrado para controlar o excesso de contrações musculares involuntárias ou a agitação causada por ventilação mecânica. Esses problemas podem aumentar a pressão dentro do crânio.

  • A pressão arterial é reduzida se estiver muito alta.

  • Às vezes, os médicos inserem um dreno (derivação) nos ventrículos do cérebro para drenar o líquido cefalorraquidiano. Retirar o excesso de líquido pode ajudar a diminuir a pressão dentro do crânio.

Se a pressão estiver aumentada devido a um tumor cerebral ou abscesso, corticosteroides, como a dexametasona, podem ajudar a reduzir a pressão. No entanto, os corticosteroides não são utilizados quando o aumento da pressão for causado por outros problemas, como sangramento dentro do cérebro ou acidente vascular cerebral, porque os corticosteroides podem piorar esses quadros.

Se outras medidas não funcionarem, pode-se tentar as seguintes:

  • Quando houver aumento da pressão dentro do crânio após um traumatismo craniano ou parada cardíaca, pode-se tentar medidas para reduzir a temperatura corporal. Essas medidas podem ajudar algumas pessoas que tiveram parada cardíaca. No entanto, essa medida é controversa.

  • Pentobarbital (um barbitúrico) pode ser utilizado para reduzir o fluxo de sangue para o cérebro e a atividade cerebral. Esse tratamento pode melhorar o prognóstico para algumas pessoas. Entretanto, ele não é benéfico para todas as pessoas, e traz efeitos colaterais, como hipotensão arterial e arritmias cardíacas.

  • Pode-se proceder a uma intervenção cirúrgica para abrir o crânio (craniectomia), abrindo espaço para o cérebro inchado e, assim, reduzindo a pressão sobre ele. Esse tratamento pode prevenir a morte, mas pode não melhorar a capacidade de uma pessoa de recuperar suas funções.

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