Doença cardíaca durante a gravidez

PorLara A. Friel, MD, PhD, University of Texas Health Medical School at Houston, McGovern Medical School
Revisado/Corrigido: nov 2023
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A maioria das mulheres com doença cardíaca, incluindo alguns tipos de valvulopatia (por exemplo, prolapso da válvula mitral) e alguns defeitos congênitos do coração, podem dar à luz crianças saudáveis em segurança, sem nenhum efeito nocivo permanente no funcionamento do coração ou na expectativa de vida. No entanto, a mulher que tiver insuficiência cardíaca moderada ou grave antes de engravidar corre um risco considerável de ter problemas. Antes de engravidar, essa mulher deve conversar com o médico para ter certeza de que sua doença cardíaca está sendo tratada da maneira o mais eficaz possível.

A gravidez é desaconselhada para mulheres com alguns tipos de doenças cardíacas porque ela aumenta o risco de morte. Estes incluem

Se a mulher que tiver um desses distúrbios engravidar, o médico a aconselha a interromper a gravidez o mais rápido possível.

A gravidez exige que o coração trabalhe intensamente. Consequentemente, a gravidez pode piorar uma doença cardíaca ou fazer com que uma doença cardíaca cause sintomas pela primeira vez. Normalmente, o risco de morte (para a mulher ou o feto) aumenta somente quando a doença cardíaca era grave antes de a mulher engravidar. No entanto, dependendo do tipo e gravidade da doença cardíaca, é possível que surjam complicações graves. Essas complicações incluem o acúmulo de líquidos nos pulmões (edema pulmonar), arritmia cardíaca e acidente vascular cerebral (AVC).

O risco de problemas aumenta ao longo da gravidez à medida que a demanda do coração aumenta. A gestante com uma doença cardíaca pode se sentir extremamente cansada e talvez precise limitar suas atividades. Em casos raros, as mulheres com doença cardíaca são aconselhadas a realizar um aborto no início da gravidez. O risco é também aumentado durante o trabalho de parto. Após o parto, pode demorar até seis meses para que uma mulher com uma doença cardíaca grave esteja fora de perigo, dependendo do tipo de doença cardíaca.

A presença de doença cardíaca na gestante pode afetar o feto. O feto pode nascer prematuramente. As mulheres com determinados defeitos congênitos do coração têm mais propensão a ter filhos com defeitos congênitos parecidos. A ultrassonografia pode detectar quaisquer dessas deficiências antes de o feto nascer.

Uma piora repentina da doença cardíaca grave na gestante pode causar a morte do feto.

Cardiomiopatia periparto

É possível que ocorram danos às paredes do coração (miocárdio) (um quadro clínico denominado cardiomiopatia) no final da gravidez ou após o parto. Esse período é denominado de período periparto e, portanto, este distúrbio é chamado de cardiomiopatia periparto. Desconhece-se a causa.

Os seguintes fatores aumentam o risco de ter cardiomiopatia periparto:

  • Várias gestações anteriores

  • Idade a partir de 30 anos

  • Estar grávida de mais de um feto

  • Pré-eclâmpsia (um tipo de hipertensão arterial que ocorre durante a gravidez).

A cardiomiopatia periparto tende a ocorrer nas gestações seguintes, particularmente se a função cardíaca não se normalizou. Por isso, frequentemente recomenda-se às mulheres que tiveram esse distúrbio a não engravidar outra vez.

O tratamento da cardiomiopatia periparto é parecido com o tratamento da insuficiência cardíaca, exceto que não são usados inibidores da enzima de conversão da angiotensina (ECA) nem antagonistas da aldosterona (espironolactona e eplerenona).

Valvulopatias

Idealmente, as valvulopatias são diagnosticadas e tratadas antes de a mulher engravidar. Os médicos frequentemente recomendam tratamento cirúrgico para mulheres com distúrbios graves.

As válvulas mais frequentemente afetadas em gestantes são as válvulas aórtica e mitral. Os distúrbios que provocam o estreitamento anômalo de uma válvula cardíaca (estenose) são especialmente prejudiciais. A estenose da válvula mitral pode resultar no acúmulo de fluido nos pulmões (edema pulmonar) e em um ritmo cardíaco rápido e irregular (fibrilação atrial). O tratamento da fibrilação atrial em gestantes é semelhante ao administrado a outras pessoas, exceto pelo fato de que determinados medicamentos antiarrítmicos (por exemplo, a amiodarona) não são usados. As gestantes com estenose mitral são monitoradas com atenção durante toda a gravidez, uma vez que a estenose mitral pode se tornar mais grave rapidamente. Caso seja necessário, a valvuloplastia é um procedimento que pode ser realizado de maneira relativamente segura durante a gravidez.

Mulheres com estenose mitral ou aórtica grave que causa sintomas são desincentivadas a engravidar.

Mulheres com prolapso da válvula mitral normalmente toleram bem a gravidez.

Tratamento de doença cardíaca durante a gravidez

  • Evitar certos medicamentos durante a gravidez

  • Uma injeção peridural durante o trabalho de parto

Os médicos dão as seguintes orientações a gestantes com doença cardíaca:

  • Agendar check-ups regularmente

  • Evitar ganhar excesso de peso

  • Evitar o estresse

  • Descansar bastante

Caso ocorra anemia, ela será tratada imediatamente.

Alguns medicamentos utilizados para tratar doenças cardíacas não são usados durante a gravidez. Eles incluem os seguintes:

Quais outros medicamentos para o coração continuam a ser tomados durante a gravidez depende da gravidade da doença cardíaca e quais são os riscos para o feto. Por exemplo, a varfarina costuma ser evitada, porque ela pode aumentar o risco de defeitos congênitos. Contudo, ela pode ser administrada a mulheres que têm uma válvula cardíaca mecânica, porque a varfarina reduz o risco de formação de coágulos sanguíneos nestas válvulas. Esses coágulos podem ser fatais.

Caso o coração não esteja funcionando bem, é possível que a mulher receba digoxina (utilizada para tratar insuficiência cardíaca) e lhe seja recomendado repouso no leito ou que limite sua atividade física a partir da 20ª semana de gravidez.

Durante o trabalho de parto, a dor é tratada conforme necessário. Se a mulher tiver uma doença cardíaca grave, é possível que o médico injete um anestésico na parte inferior das costas, ou seja, no espaço entre a coluna e a camada exterior de tecido que reveste a medula espinhal (espaço peridural). Esse procedimento é denominado injeção peridural. Esse anestésico bloqueia a sensação na medula espinhal inferior, reduzindo a resposta ao estresse da dor e a necessidade de fazer força. A finalidade é reduzir o esforço do coração. Fazer força durante o trabalho de parto aumenta o esforço do coração, porque ele precisa trabalhar mais. Uma vez que essas mulheres não podem fazer força, talvez seja necessário usar um fórceps ou uma ventosa obstétrica para ajudar o bebê a nascer.

A anestesia peridural não deve ser utilizada em mulheres com estenose aórtica. Ao invés disso, é usada anestesia local ou, se necessário, anestesia geral.

A mulher começará a ser monitorada de perto imediatamente após o parto e examinada periodicamente por um cardiologista e, ainda, durante várias semanas depois.

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