Porfiria aguda intermitente

PorHerbert L. Bonkovsky, MD, Wake Forest University School of Medicine;
Sean R. Rudnick, MD, Wake Forest University School of Medicine
Revisado/Corrigido: fev 2023
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A porfiria aguda intermitente, que provoca dor abdominal e sintomas neurológicos, é a porfiria aguda mais frequente.

  • Muitas pessoas nunca apresentam sintomas.

  • Os sintomas podem incluir vômito, dor abdominal ou nas costas, fraqueza nos braços ou pernas e sintomas de saúde mental.

  • O sintoma mais comum é uma dor abdominal generalizada que dura várias horas a vários dias.

  • Os melhores exames laboratoriais são aqueles feitos em amostras de urina coletadas durante a crise.

  • É importante manter uma boa alimentação e evitar o consumo de álcool e medicamentos que desencadeiam crises.

  • As crises são tratadas com a administração de glicose e, algumas vezes, de heme.

  • A givosirana diminui o número e a gravidade das crises agudas.

As porfirias são um conjunto de doenças decorrentes de deficiências das enzimas envolvidas na síntese do heme. O heme é um composto químico que contém ferro e dá ao sangue a sua cor vermelha. O heme é um dos componentes fundamentais de várias proteínas importantes do organismo (consulte também Considerações gerais sobre as porfirias).

A porfiria aguda intermitente ocorre em pessoas de todas as etnias. Na maioria dos países, constitui a mais frequente das porfirias agudas. Outras porfirias agudas incluem

  • Porfiria variegada

  • Coproporfiria hereditária

  • A porfiria de deficiência de desidratase do ácido delta-aminolevulínico, que é extremamente rara

A porfiria variegada e a coproporfiria hereditária também podem causar sintomas na pele (cutâneos).

A porfiria aguda intermitente é decorrente da deficiência da enzima porfobilinogênio desaminase (também conhecida como hidroximetilbilano sintase), que leva ao acúmulo dos precursores de porfirina ácido delta-aminolevulínico e porfobilinogênio, inicialmente no fígado.

A porfiria aguda intermitente é herdada devido a um único gene anômalo de um dos pais. O gene normal do outro progenitor mantém a enzima deficiente em metade da concentração normal, o que é suficiente para produzir quantidades normais de heme.

A maioria das pessoas com deficiência de porfobilinogênio desaminase nunca desenvolve os sintomas. Em algumas pessoas, no entanto, alguns fatores podem desencadear os sintomas e provocar a crise. Os fatores que podem causar uma crise de porfiria aguda incluem

  • Muitos medicamentos (inclusive hormônios sexuais, barbitúricos, anticonvulsivantes e antibióticos à base de sulfonamida)

  • Alterações hormonais em mulheres (aumento da progesterona, que ocorre mensalmente nos dias após a ovulação)

  • Dieta de baixa caloria e de baixo carboidrato

  • Ingestão de álcool

  • Exposição a solventes orgânicos (por exemplo, em líquidos de limpeza a seco ou tintas)

  • Tensão emocional

  • Infecção e outras doenças

  • Cirurgia

  • Tabagismo

Normalmente, uma combinação de fatores está envolvida nas causas de uma crise. Algumas vezes, os fatores que provocam a crise não podem ser identificados.

As crises são mais comuns em mulheres do que em homens e ocorrem muito raramente antes da puberdade. Muito raramente, o distúrbio é herdado de ambos os progenitores (e, portanto, dois genes anômalos estão presentes). Nesse caso, os sintomas podem surgir na infância e incluir alterações no desenvolvimento.

Muitos medicamentos podem causar uma crise aguda de porfiria. Os seguintes sites sobre medicamentos para porfiria podem ser usados para aprender sobre o risco de um medicamento.

Sintomas da porfiria aguda intermitente

Muitas pessoas nunca apresentaram sintomas de porfiria aguda intermitente. Outras pessoas podem ter apenas algumas crises na vida toda. No entanto, algumas pessoas têm crises recorrentes. Muitas pessoas têm dor ou outros sintomas entre as crises.

Os sintomas ocorrem na forma de crises e normalmente duram alguns dias, mas ocasionalmente mais tempo. Tais crises costumam surgir, pela primeira vez, depois da puberdade. Em algumas mulheres, as crises surgem durante a segunda metade do ciclo menstrual, provavelmente desencadeadas pela elevação dos níveis de progesterona que ocorre nessa época.

O sintoma mais comum é uma dor abdominal que dura várias horas a vários dias. Essa dor pode ser tão intensa que faz com que o médico pense, erroneamente, que é necessária uma cirurgia abdominal. Outros sintomas digestivos incluem náuseas, vômitos, constipação grave ou diarreia (raramente).

Os sintomas de problemas com a saúde mental, tais como irritabilidade, inquietação, insônia, agitação, cansaço e depressão ocorrem com frequência.

Os sintomas do sistema nervoso são numerosos. Os nervos que controlam os músculos podem ser afetados e levarem à fraqueza, normalmente começando nos ombros e nos braços. A fraqueza pode progredir para praticamente todos os músculos, inclusive os envolvidos na respiração. Podem ocorrer tremores e convulsões.

Outros sintomas comuns incluem

  • Frequência cardíaca rápida

  • Pressão arterial elevada

  • Sudorese

  • Inquietação

  • Dificuldade em dormir

A maioria desses sintomas, inclusive os digestivos, é resultado dos efeitos no sistema nervoso.

Ritmo cardíaco irregular é uma complicação perigosa durante a crise.

A melhora dos sintomas pode ocorrer no prazo de alguns dias, embora a recuperação completa da fraqueza muscular grave talvez demore vários meses ou anos. Em algumas pessoas, os sintomas de menor intensidade, como fadiga, dor de cabeça, dores nas costas ou nas coxas, insônia, depressão ou ansiedade demoram a resolver. As crises raramente são fatais. No entanto, em algumas pessoas, as crises são incapacitantes.

As complicações em longo prazo da porfiria aguda intermitente podem incluir fraqueza muscular persistente, hipertensão arterial, doença renal crônica, cirrose e tumores hepáticos.

Diagnóstico da porfiria aguda intermitente

  • Exames de urina

Os graves sintomas digestivos e neurológicos da porfiria aguda intermitente assemelham-se aos sintomas de muitas outras doenças comuns. Os exames laboratoriais realizados com as amostras de urina coletadas durante a crise revelam valores elevados de dois precursores de porfirina (ácido delta-aminolevulínico e porfobilinogênio). Os valores desses precursores são muito elevados durante as crises e permanecem elevados em pessoas que têm crises repetidas.

Os precursores podem formar porfirinas, que são de cor avermelhada. Estas porfirinas tornam a urina de vermelha para castanho avermelhada. A cor é particularmente evidente após a amostra de urina ser exposta à luz e ao ar.

É possível identificar se algum familiar assintomático é portador do distúrbio ao dosar os níveis da enzima porfobilinogênio desaminase deficiente nos glóbulos vermelhos ou, com maior certeza, por meio de um teste de DNA. O diagnóstico pré-natal também é possível, mas normalmente não é necessário, pois a maioria das pessoas afetadas nunca manifesta sintomas.

Tratamento da porfiria aguda intermitente

O tratamento de crises agudas é idêntico para todos os tipos de porfiria aguda.

  • Heme administrado por via intravenosa

  • Glicose

As pessoas que sofrem de crises de porfiria aguda intermitente costumam ser internadas no hospital para tratamento dos sintomas graves.

Tratamento de crises

As pessoas com crises graves são tratadas com heme, administrado pela veia. As concentrações de ácido delta-aminolevulínico e de porfobilinogênio no sangue e na urina caem rapidamente e os sintomas melhoram, geralmente, em poucos dias. Caso o tratamento seja adiado, a recuperação levará mais tempo e algumas lesões podem ser permanentes.

A glicose administrada por via oral (ou pela veia se a pessoa estiver vomitando) também pode ser benéfica, sobretudo em pessoas cujas crises são desencadeadas por uma dieta de baixo teor calórico e de baixo teor de carboidratos, mas essas medidas são menos eficazes que a administração de heme.

A dor pode ser controlada com medicamentos (por exemplo, paracetamol ou opioides).

Náusea, vômito, ansiedade e inquietude são tratadas com medicamento do tipo fenotiazina, durante pouco tempo. A ondansetrona também pode ser administrada para náusea.

A insônia pode ser tratada com hidrato de cloral ou com doses baixas de benzodiazepínicos, mas não com barbitúricos. A sobrecarga de volume da bexiga pode ser aliviada através de drenagem com uma sonda.

O médico deve verificar se a pessoa não está tomando nenhum medicamento que desencadeia a crise e, se possível, lidar com outros fatores que possam ter contribuído para a crise.

O tratamento das convulsões é problemático, visto que muitos dos medicamentos anticonvulsivantes que costumam ser usados podem agravar uma crise. Levetiracetam é um medicamento anticonvulsivante cujo uso parece ser seguro.

Os betabloqueadores podem ser usados para tratar a frequência cardíaca acelerada e a hipertensão arterial.

Outro tratamento

Geralmente, a pessoa que apresenta evidência de lesão renal é encaminhada a um especialista em rins (nefrologista).

Uma vez que o risco de ter câncer de fígado é alto em pessoas com porfiria aguda intermitente, exames preventivos são realizados em pessoas com mais de 50 anos de idade quanto à presença de câncer hepático, no mínimo, uma vez por ano.

O transplante de fígado consegue curar a porfiria aguda intermitente. O médico cogita realizar um transplante em pessoas com baixa qualidade de vida e com risco de sofrerem dano permanente ao rim ou ao sistema nervoso devido a crises recorrentes graves. Algumas pessoas também podem precisar de um transplante renal.

Prevenção de crises agudas

Crises de porfiria aguda intermitente podem ser prevenidas

  • Ao manter uma boa alimentação, incluindo a ingestão suficiente de carboidratos

  • Ao evitar o álcool

  • Ao evitar medicamentos que possam provocar uma crise

  • Ao evitar o tabagismo

  • Ao evitar estresse físico e emocional e a exaustão

  • Ao evitar dietas radicais para perder peso rapidamente

As pessoas que têm crises em momentos previsíveis, tais como mulheres cujas crises estão relacionadas ao ciclo menstrual, podem receber heme pela veia para evitar as crises. As crises pré-menstruais em mulheres podem ser evitadas com um dos agonistas do hormônio liberador das gonadotrofinas utilizado para tratar a endometriose, embora este tratamento somente deva ser realizado por médicos que sejam especialistas no tratamento de porfiria.

A givosirana às vezes é administrada uma vez por mês por injeção sob a pele para prevenir crises agudas.

Mais informações

Os seguintes recursos em inglês podem ser úteis. Vale ressaltar que O MANUAL não é responsável pelo conteúdo desses recursos.

  1. American Porphyria Foundation: Tem como objetivo educar e dar apoio aos pacientes e às famílias afetadas por porfirias

  2. American Porphyria Foundation: Banco de dados de medicamentos seguros/inseguros: Fornece uma lista atualizada de medicamentos disponíveis nos Estados Unidos para ajudar os médicos a decidirem o que deve ser receitado a pacientes com porfirias

  3. The Drug Database for Acute Porphyrias: Fornece uma lista atualizada dos medicamentos disponíveis na Europa para ajudar os médicos a decidirem o que deve ser receitado a pacientes com porfirias

  4. A United Porphyrias Association: Oferece educação e apoio aos pacientes e seus familiares; fornece informações confiáveis para profissionais de saúde; promove e apoia pesquisas clínicas para melhorar o diagnóstico e o manejo das porfirias

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