Gases

PorJonathan Gotfried, MD, Lewis Katz School of Medicine at Temple University
Revisado/Corrigido: jan 2022
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Normalmente, há gases no trato digestivo, que podem ser expelidos pela boca (arroto) ou pelo ânus (flatulência).

Há três principais queixas relacionadas a gases:

  • Excesso de arrotos (eructação)

  • Inchaço abdominal (distensão)

  • Flatulência (conhecida coloquialmente como “gases”) em excesso

Existe uma maior probabilidade de ocorrerem arrotos logo após as refeições ou durante um período de estresse. Algumas pessoas sentem uma pressão no tórax ou no estômago imediatamente antes de arrotar, que é aliviada quando o gás é expelido.

Pessoas que reclamam de flatulência geralmente têm uma ideia equivocada da quantidade de gases que as pessoas produzem normalmente. Há grande variação na quantidade e na frequência da flatulência. As pessoas geralmente eliminam gases de 13 a 21 vezes por dia, totalizando 0,5 a 1,5 litros, e algumas pessoas o fazem com maior ou menor frequência. Os gases podem ter odor ou não.

Embora a flatulência seja inflamável (por conter hidrogênio e gás metano), isso não representa um problema rotineiro. Por exemplo, trabalhar perto de chamas não é perigoso. Porém, há casos raros de explosão por gás durante cirurgias intestinais e colonoscopias quando a cauterização elétrica é realizada em pessoas em que não houve uma limpeza completa do intestino antes do procedimento.

Antigamente, a cólica em bebês com dois a quatro meses de idade era atribuída a um excesso de gases abdominais. Atualmente, porém, a maioria dos médicos não acredita que a cólica esteja relacionada aos gases, pois os exames não indicam excesso de gás no abdômen desses bebês. A causa real da cólica permanece desconhecida.

Causas dos gases

As causas de gases variam conforme o sintoma relacionado aos gases.

Arroto

Arrotos são causados por

  • Ingestão de ar

  • Gás gerado por bebidas gaseificadas

As pessoas normalmente engolem pequenas quantidades de ar ao comer e beber. Entretanto, algumas pessoas engolem quantidades maiores de ar inconscientemente (aerofagia) repetidamente ao comerem ou fumarem e, às vezes, quando se sentem ansiosas ou nervosas. A salivação excessiva, que pode ocorrer com refluxo gastroesofágico, dentaduras mal colocadas, uso de certos medicamentos, gomas de mascar ou náusea de qualquer causa, também eleva a ingestão de ar.

A maior parte do ar engolido é liberada pela boca posteriormente, sendo que apenas uma pequena quantidade passa do estômago para o restante do sistema digestivo. A pequena quantidade de ar que passa para o intestino é, na maior parte, absorvida pela corrente sanguínea e uma quantidade muito pequena de ar é expelida na forma de flatulência.

Flato

A flatulência resulta dos gases hidrogênio, metano e dióxido de carbono produzidos pelas bactérias normalmente presentes no intestino grosso. Essas bactérias sempre produzem gases, mas pode ocorrer a produção de excesso de gás

  • Quando as pessoas consomem certos alimentos

  • Quando o trato digestivo é incapaz de absorver alimentos corretamente (síndromes da má absorção)

Os alimentos que elevam a produção de gases incluem todo carboidrato de difícil digestão (por exemplo, fibras alimentares, como as presentes em leguminosas e repolho cozidos), alguns tipos de açúcar (por exemplo, frutose), alimentos contendo lactose (por exemplo, leite) ou álcoois de açúcar (por exemplo, sorbitol) e gorduras. Por exemplo, alguns tipos de carboidratos, chamados oligossacarídeos fermentáveis, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis são coletivamente chamados FODMAPs. Os FODMAPs são mal absorvidos e rapidamente fermentados por bactérias no intestino, o que dá origem ao aumento dos gases e ao desconforto. Sorbitol, um tipo de adoçante artificial usado em alguns alimentos, medicamentos e gomas de mascar, e frutose, um tipo de açúcar encontrado em frutas, frutos silvestres e algumas plantas, podem aumentar a produção de gás. Muitas pessoas não conseguem digerir um tipo de açúcar denominado lactose (um quadro clínico denominado intolerância à lactose), que é encontrado no leite e em outros laticínios. Praticamente todas as pessoas que consomem grandes quantidades de legumes ou frutas desenvolvem certo grau de flatulência.

As síndromes da má absorção podem aumentar a produção de gases. As pessoas com deficiência de carboidratos (deficiências das enzimas que fragmentam certos açúcares), como as que têm deficiência de lactase, tendem a produzir grandes quantidades de gases quando ingerem alimentos que contêm esses açúcares. Outras síndromes de má absorção como, por exemplo, o espru tropical, a doença celíaca e a insuficiência pancreática também podem levar à produção de grandes quantidades de gases.

Entretanto, algumas pessoas podem apenas ter mais bactérias ou bactérias diferentes em seu trato digestivo, ou podem ter um distúrbio de motilidade (movimento) dos músculos em seu trato digestivo. Essas variações podem responder pelas diferenças na produção de gases. As pessoas podem registrar sua frequência de flatulência em um diário antes de serem avaliadas por um médico.

Distensão

Uma sensação de inchaço abdominal (distensão) pode ocorrer em pessoas que têm distúrbios digestivos, como esvaziamento insuficiente do estômago (gastroparesia), síndrome do intestino irritável ou outros distúrbios físicos como, por exemplo, câncer de ovário ou câncer de cólon. Muitos medicamentos com efeitos anticolinérgicos podem retardar o esvaziamento do estômago e causar distensão. Às vezes, a sensação é causada por distúrbios que não envolvem o abdômen. Por exemplo, em algumas pessoas, o único sintoma de um ataque cardíaco é a sensação de inchaço ou uma necessidade urgente de arrotar. Porém, muitas pessoas que se sentem inchadas não têm nenhum distúrbio físico.

Os médicos não sabem ao certo qual é o papel dos gases intestinais na sensação de inchaço. Além das pessoas que ingerem bebidas gaseificadas ou ar em excesso, a maioria das pessoas com sensação de distensão abdominal na verdade não têm excesso de gás em seu sistema digestivo. Porém, estudos indicam que algumas pessoas, como aquelas com síndrome do intestino irritável, são particularmente sensíveis a quantidades normais de gases. Igualmente, pessoas com distúrbios alimentares (como anorexia nervosa ou bulimia) geralmente têm uma percepção errada e ficam particularmente tensas com sintomas como a distensão abdominal. Assim, a alteração básica em pessoas com sintomas relacionados a gases pode ser um intestino extremamente sensível (intestino hipersensível). Um distúrbio de motilidade também pode contribuir para a ocorrência de sintomas.

Avaliação dos gases

A maioria dos sintomas relacionados a gases não requerem avaliação imediata por um médico. As seguintes informações podem ajudar a pessoa a decidir se a avaliação médica é necessária e a saber o que esperar durante a avaliação.

Sinais de alerta

Em pessoas com gases, certos sintomas e características são motivo de preocupação. Incluem

  • Perda de peso (não intencional)

  • Sangue nas fezes

  • Dor torácica

Quando consultar um médico

Pessoas com sensação de inchaço no tórax, especialmente se a sensação for acompanhada de dor torácica, devem consultar um médico imediatamente, pois pode se tratar de um sinal de doença cardíaca. Pessoas com sintomas relacionados a gases apresentando outros sinais de alerta, desconforto abdominal ou diarreia devem consultar um médico em até uma semana, aproximadamente. Pessoas sem nenhum desses sintomas ou sinais devem consultar um médico em algum momento, mas não se trata de algo urgente.

O que o médico faz

Primeiro, os médicos fazem perguntas sobre os sintomas e o histórico médico. Em seguida, o médico faz um exame físico. O que eles encontram durante a avaliação do histórico e o exame físico geralmente sugere uma causa para os sintomas e os exames que podem ser necessários ( see table Algumas causas e características das queixas relacionadas a gases).

Para arrotos em excesso, a avaliação do histórico enfoca a identificação da causa da ingestão de ar, especialmente causas alimentares. Para flatulência em excesso, os médicos investigam causas alimentares além de sintomas de má absorção (como diarreia e/ou fezes com gordura e odor forte).

Em pessoas com alguma queixa relacionada a gases, os médicos precisam entender a relação entre os sintomas, as refeições (horário, tipo e quantidade de alimentos) e as defecações. Os médicos perguntam às pessoas sobre alterações na frequência, cor e consistência das fezes. Os médicos também precisam saber se as pessoas perderam peso.

Em pessoas com inchaço ou flatulência, o exame físico enfoca a identificação de sinais de um distúrbio físico de base (como câncer ovariano). Os médicos realizam exames abdominais, retais e pélvicos (em mulheres).

Tabela

Exames

Os médicos normalmente não fazem exames em pessoas com queixas relacionadas a gases, a não ser que existam outros sintomas sugerindo um distúrbio específico ( see table Algumas causas e características das queixas relacionadas a gases). Por exemplo, pessoas que também têm diarreia podem precisar fazer exames para síndrome da má absorção.

Uma exceção seriam pessoas de meia-idade ou mais velhas que desenvolvem distensão abdominal persistente, particularmente aquelas que não apresentaram sintomas do sistema digestivo no passado. Para essas pessoas, é possível que os médicos façam exames para detectar câncer de ovário e/ou cólon.

Tratamento dos gases

Os médicos explicam para as pessoas com flatulência ou inchaço crônicos que o quadro clínico não é causado por outro distúrbio e que esses sintomas relacionados aos gases não são prejudiciais à saúde.

O inchaço e a eructação são difíceis de aliviar, pois geralmente são causados pela ingestão inconsciente de ar ou pelo aumento da sensibilidade a quantidades normais de gases. Se o principal problema for eructação, pode ser útil engolir menos ar, o que pode ser difícil, já que as pessoas o fazem inconscientemente. Evitar mascar gomas de mascar e comer mais devagar, em um ambiente relaxado, pode ser útil. Evitar bebidas gaseificadas é útil para algumas pessoas. Os médicos também podem recomendar que as pessoas tentem minimizar a ingestão de ar através da prática de respiração pela boca desde o diafragma e controlar totalmente qualquer doença do trato digestivo superior (como, por exemplo, úlceras pépticas).

Pessoas com excesso de flatulência devem evitar alimentos com probabilidade de causar flatos. Normalmente, as pessoas devem eliminar um alimento ou grupo de alimentos por vez. Assim, a pessoa pode começar evitando alimentos desencadeantes conhecidos e eliminando alimentos contendo FODMAPs e/ou ela pode eliminar alimentos tais como leguminosas e repolho, depois leite e laticínios, então frutas frescas e, finalmente, determinadas verduras e outros alimentos. Sorbitol e frutose devem ser consumidos apenas em quantidades limitadas. Alimentos em estado bruto (como farelos de trigo e sementes de psílio) podem ser adicionados à dieta para tentar aumentar o trânsito pelo intestino grosso. Porém, mais alimentos em estado bruto podem piorar os sintomas em algumas pessoas.

Óleos aromáticos, como, por exemplo, um preparado com óleo de menta que libera o óleo lentamente, também podem ajudar a aliviar a dor causada pelos gases.

Tratamento medicamentoso

Os medicamentos não proporcionam muito alívio. Alguns médicos tentam medicamentos anticolinérgicos (como betanecol) e simeticona, que está presente em alguns antiácidos e também está disponível isoladamente. Entretanto, há pouca evidência científica de que esses medicamentos são úteis.

Comprimidos de carvão ativado podem, às vezes, ajudar a reduzir a flatulência e seu odor desagradável. Porém, o carvão mancha a boca e as roupas. Roupas íntimas com revestimento de carvão estão disponíveis.

Probióticos, que são bactérias encontradas naturalmente no corpo e que promovem o crescimento de bactérias benignas, podem reduzir o inchaço e a flatulência ao promoverem o crescimento das bactérias normais do intestino em algumas pessoas.

É possível que algumas pessoas com indigestão (dispepsia) e sensação de plenitude na parte superior do abdômen após as refeições se beneficiem do uso de antiácidos, baixas doses de antidepressivos (como nortriptilina), ou ambos, para melhorar um intestino hipersensível.

Pontos-chave

  • Exames são feitos principalmente quando outros sintomas sugerem algum distúrbio.

  • Os médicos devem ser informados sobre sintomas de inchaço novos e persistentes em pessoas idosas.

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