Hemoderivados

PorRavindra Sarode, MD, The University of Texas Southwestern Medical Center
Revisado/Corrigido: fev 2022
Visão Educação para o paciente

    O sangue total pode oferecer melhor capacidade de transporte de oxigênio, expansão de volume e reposição dos fatores de coagulação, tendo sido recomendado para a perda maciça e rápida de sangue. No entanto, em razão de a terapia por meio de componente ser igualmente eficaz e ser um uso mais eficiente do sangue doado, o sangue total geralmente não está disponível nos Estados Unidos.

    Eritrócitos

    Os concentrados de eritrócitos são ordinariamente o componente de escolha para aumentar a hemoglobina. As indicações dependem do paciente. A capacidade de transporte do oxigênio pode ser adequada a baixos níveis de hemoglobina de até 7 g/dL (70 g/L) nos pacientes saudáveis, mas a transfusão pode ser indicada com níveis mais altos para os pacientes com menor reserva cardiopulmonar ou sangramento contínuo. Uma unidade de concentrado de eritrócitos aumenta a Hb em adultos médios em cerca de 1 g/dL (10 g/L), e o hematócrito (Hct) em cerca de 3%, acima do valor pré-transfusão. Quando apenas a expansão do volume é necessária, outros líquidos podem ser utilizados de modo concomitante ou separado. Em pacientes com anticorpos de múltiplos grupos sanguíneos ou com anticorpos para antígenos de eritrócitos de alta frequência, eritrócitos com fenótipos raros de antígenos são utilizados; estes são geralmente congelados para armazenamento.

    Eritrócitos lavados são livres de quase todos os traços do plasma, a maioria leucócitos e plaquetas. São, geralmente, administrados aos pacientes que apresentam reações graves ao plasma (p. ex., alergias graves, hemoglobinúria paroxística noturna, imunização de IgA). Em pacientes com IgA-imunizados, o sangue coletado dos doadores deficientes em IgA pode ser preferível para transfusão.

    Eritrócitos com depleção de leucócitos (leucorreduzido) são preparados com filtros especiais que removem 99,99% dos leucócitos. São indicados para pacientes que tiveram reações a transfusões febris não hemolíticas, para exsanguinotransfusões, para pacientes que requerem sangue negativo para citomegalovírus que não está disponível e possivelmente para prevenção da aloimunização do antígeno leucocitário humano (HLA) para ajudar a prevenir a refratariedade à transfusão plaquetária (falha para alcançar o nível alvo de plaquetas sanguíneas depois da transfusão de plaquetas).

    Plasma fresco congelado

    O plasma fresco congelado (FFP, fresh frozen plasma) é uma fonte não concentrada de todos os fatores de coagulação sem plaquetas. As indicações incluem correção do sangramento secundário a deficiências do fator de coagulação para as quais não há reposição de fator específico disponível ou a estados de deficiência multifatorial [p. ex., transfusão maciça, coagulação intravascular disseminada (CID), insuficiência hepática]. Utiliza-se PFC para a reversão urgente da varfarina somente quando o concentrado de complexo de protrombina (o CCP é a primeira escolha) não está disponível. PFC é ineficaz no tratamento do sangramento decorrente de inibidores diretos do fator Xa. FFP pode suplementar os eritrócitos quando o sangue total não estiver disponível para a exsanguinotransfusão no neonatal. Não se deve utilizar plasma fresco congelado simplesmente para expansão de volume ou correção de coagulopatia leve a moderada antes de procedimentos cirúrgicos.

    O plasma submetido a inativação de patógenos obtido por tratamento utilizando o método de detergentes e solventes está disponível para evitar a transmissão de quase todos os patógenos. Durante a pandemia de covid-19 (SARS-CoV-2), o plasma convalescente doado por uma pessoa que se recuperou totalmente dessa infecção, foi utilizado como uma opção de tratamento contra a covid-19 com sucesso variável. O plasma convalescente já foi utilizado durante epidemias de Ebola e influenza H1N1.

    Crioprecipitado

    O crioprecipitado é um concentrado preparado com plasma fresco congelado. Cada concentrado normalmente contém cerca de 80 unidades de fator VIII e de fator de von Willebrand e aproximadamente 250 mg de fibrinogênio. Ele também contém ADAMTS13 (uma enzima que é deficiente na púrpura trombocitopênica trombótica congênita) e fator XIII. Embora utilizado originalmente para a hemofilia e a doença de von Willebrand, o crioprecipitado é quase sempre utilizado como uma fonte de fibrinogênio na coagulação intravascular disseminada aguda com sangramento, no tratamento de sangramento urêmico, cirurgia cardiotorácica (cola de fibrina), emergências obstétricas, como descolamento prematuro de placenta e síndrome HELLP (hemólise, aumento das enzimas hepáticas e baixa contagem de plaquetas), e as raras deficiências de fator XIII quando não houver concentrado de fator XIII da coagulação humano disponível. Em geral, não deve ser utilizado para outras indicações. Um crioprecipitado agrupado inativado por patógenos está agora disponível e pode ser utilizado como uma fonte de fibrinogênio. Tem a vantagem de poder ser descongelado e armazenado em temperatura ambiente por até 5 dias, ao contrário do crioprecipitado padrão que precisa ser descongelado de -18 °C e ser utilizado em 4 horas.

    Leucócitos

    A transfusão de granulócitos pode ser indicada em caso de sepse em um paciente com neutropenia profunda persistente (neutrófilos < 500/mcL [0,5 × 109/L]) sem resposta aos antibióticos. Os granulócitos devem ser administrados dentro de 24 horas da coleta; todavia, testes para HIV hepatite, vírus linfotrópico da célula T humana e sífilis podem não ser completados antes da infusão. Em razão de melhor terapia de antibióticos e fármacos que estimulam a produção de granulócitos durante a quimioterapia, os granulócitos são raramente utilizados.

    Imunoglobulinas

    A imunoglobulina Rh (RhIg), administrada por via intramuscular (IM) ou intravenosa (IV), evita o desenvolvimento de anticorpos Rh maternos que possam resultar da hemorragia feto-materna. A dose padrão de RhIg IV (300 mcg) deve ser administrada a uma mãe Rh negativo imediatamente após aborto ou parto (vivo ou natimorto), a menos que o recém-nascido seja Rho(D) e Du negativo ou que o soro da mãe já contenha anti-Rho(D). Se a hemorragia feto-materna for > 30 mL, dose maior é necessária. Se houver suspeita disso, o teste de volume da hemorragia feto-materna começa com o teste de triagem de roseta, que, se positivo, é seguido por teste quantitativo (p. ex., teste de Kleihauer-Betke).

    RhIg também é utilizada para tratar trombocitopenia imunitária, quando administrada por via IV.

    Outras imunoglobulinas estão disponíveis para profilaxia pós-exposição para pacientes expostos a várias doenças infecciosas, como infecção porcitomegalovírus, hepatites A e hepatites B, sarampo, raiva, vírus sincicial respiratório, rubeola, tétano, varíola e varicela (para uso, ver em doença específica).

    Plaquetas

    São utilizados concentrados de plaquetas

    • Para evitar sangramento na trombocitopenia assintomática grave [contagem de plaquetas < 10.000/mcL (< 10 × 109/L)]

    • Para pacientes com sangramento e trombocitopenia menos grave [contagem de plaquetas < 50.000/mcL (< 50 × 109/L)]

    • Para pacientes com sangramento e disfunção plaquetária decorrente de fármacos antiplaquetários, mas com contagem normal de plaquetas

    • Para pacientes que recebem transfusão maciça que provoca trombocitopenia dilucional

    Concentrados de plaquetas também são algumas vezes utilizados antes de uma cirurgia invasiva, particularmente com circulação extracorpórea por > 2 horas (o que muitas vezes torna as plaquetas disfuncionais). Um concentrado de plaquetas aumenta a contagem de plaquetas por volta de 10.000/mcL e a hemostasia adequada é atingida com a contagem plaquetária de cerca de 10.000/mcL (10 × 109/L), em paciente sem condições que compliquem e aproximadamente 50.000/mcL (50 × 109/L) para os que passarão por cirurgia. Portanto, costuma-se utilizar concentrados de plaquetas derivados de um conjunto de 4 a 5 unidades de sangue total para adultos.

    Os concentrados de plaquetas estão sendo cada vez mais preparados por dispositivos automáticos que colhem as plaquetas (ou outras células) e retornam componentes não necessários (p. ex., eritrócitos, plasma) para o doador. Esse procedimento, chamado plaquetaférese, fornece uma quantidade suficiente de plaquetas de uma só doação (equivalente a 4 a 5 unidades de plaquetas de sangue total) para transfusão para adultos, que, por minimizar riscos infecciosos e imunogênicos, é preferível à transfusão de vários doadores.

    Alguns pacientes podem não responder às transfusões de plaquetas (a chamada refratariedade), possivelmente por sequestro esplênico, consumo de plaquetas por coagulação intravascular disseminada ou destruição das plaquetas por aloimunização de HLA ou de antígeno plaquetário específico (e destruição mediada por imunocomplexo). Se os pacientes forem refratários à transfusão, se possível testar para aloimunização. Os pacientes com destruição mediada pelo sistema imunitário podem responder a conjuntos de plaquetas de sangue total (devido à maior probabilidade de algumas unidades terem HLA compatível), plaquetas de familiares, ou plaquetas compatíveis com o sistema ABO ou HLA. A aloimunização de HLA pode ser reduzida pelo uso de transfusão de eritrócitos depletados de leucócitos e de concentrados de plaquetas depletados de leucócito.

    Plaquetas inativadas por patógenos, inativadas pelo uso de um produto químico (amotosaleno), também estão disponíveis para uso clínico.

    Outros produtos

    Hemoderivados irradiados são utilizados para prevenir doenças do enxerto-hospedeiro nos pacientes em risco.

    Muitas tentativas estão sendo feitas para criar substitutos ao sangue utilizando substâncias químicas inertes (p. ex perfluorocarbonos) ou soluções de hemoglobina para transportar e fornecer oxigênio para os tecidos. Embora esses substitutos da hemoglobina tenham sido promissores para o fornecimento de oxigênio aos tecidos durante uma emergência, vários ensaios clínicos falharam por aumento da mortalidade e da toxicidade cardiovascular adversa grave (p. ex., hipotensão). Há várias tentativas de regenerar plaquetas e eritrócitos a partir de várias fontes de células-tronco.

    Células-tronco hematopoiéticas autólogas ou alogênicas podem ser transfundidas como forma de reconstituir a função hematopoiética (particularmente a função imunitária) emnos pacientes submetidos a tratamento mieloablativo ou mielotóxico.

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